Historiadores buscam conhecer as origens humanas

Para comemorar o Dia do Historiador, profissionais da área explicam sobre a importância da profissão, os caminhos para ingressar na área e os desafios do ofício

por Alfredo Carvalho qua, 18/08/2021 - 18:39
Wikimedia/Emoke Denes Esqueleto de um Australopithecus sediba, exposto no Museu de História Natural de Londres, Inglaterra. Wikimedia/Emoke Denes

Amanhã (19), é comemorado o Dia do Historiador, que visa celebrar o profissional responsável por desvendar e compreender o passado de antigos povos, suas culturas e seus modos de vida. A data foi instituída em 17 de dezembro de 2009, pelo Decreto de Lei nº 12.130, como uma homenagem ao nascimento do historiador pernambucano Joaquim Nabuco (1849-1910).

De acordo com a Educadora Popular e Coordenadora de Núcleo da União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (Uneafro), licenciada em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pós graduada em Gestão Escolar pela Universidade de São Paulo (USP), Arlene dos Santos Ramos, os historiadores e historiadoras são responsáveis por questionar a zona de conforto, ao qual a sociedade costuma permanecer em momentos de crise. “O esquecimento acaba virando uma grande rota de fuga”, comenta.

Arlene pontua que a evolução humana não ocorre se o silêncio for predominante. “Muito menos se a zona de conforto é preservada, por isso o profissional da História deve sempre incomodar a sociedade, levando-a à reflexão, pensamento crítico, olhar observador e ações coerentes”, aponta.

Na visão do historiador e contista da cidade de Guarulhos (SP) Elton Soares de Oliveira, o principal papel de um historiador é garantir que as gerações do presente conheçam o passado e lembrar às gerações mais velhas os acontecimentos que elas tentam esquecer. Segundo ele, a história tem a função de fazer uma relação entre o presente, passado e projetar aquilo que poderá ocorrer no futuro.

Para Soares, o registro histórico precisa ser realizado todos os dias, mas atualmente, os conflitos gerados pela sociedade, tentam esconder os acontecimentos da história. “O historiador tem a função de trazer a história em sua totalidade”, afirma.

O contista explica que o tempo é o objeto de estudo da história e, neste processo, é preciso compreender o período em que existe uma ruptura ou permanência. “O momento que rompe pode ser abrupto, ou pode ser um período de longa duração. As revoluções podem ser consideradas roturas abruptas, mas, elas também vêm de um processo de longo amadurecimento e possuem seus momentos de explosão, em que se inicia uma nova fase”, descreve Soares.

Outro ponto que Soares destaca na profissão é a particularidade de diferentes países. “A história geral é muito falha, pois no fundo, ela é uma história ocidental. Não temos uma totalidade que inclui realidades de outros países”, aponta. Mesmo na história ocidental cristã, que possui presença expressiva na cultura brasileira é, segundo o historiador, incompleta, pois possui aspectos de uma história geral, mas não envolve elementos regionais ou locais.

Soares lembra que é preciso compreender as diferenças entre aparência e essência, que serão identificadas pelo método de investigação histórico. Além disso, a história também deve ser analisada a partir da compreensão do presente, da análise do passado e da projeção do que pode ocorrer no futuro. “As histórias são feitas por pessoas, às vezes existem tendências, mas devido a possíveis variantes, elas nem sempre se confirmam”, sinaliza.

 Campos de Atuação

Segundo Soares, um historiador pode atuar na realização de pesquisas, com turistas pedagógicos (visita a museus ou demais localidades turísticas) e também na escrita de livros.

Arlene indica que historiadoras e historiadores podem agir na área da educação, como professores em centros culturais, acervos e casas de cultura; mas, ela também destaca a importância do profissional ser um agente no campo dos direitos humanos. “Atuar na luta antirracista, no combate ao machismo, misoginia, homofobia, transfobia e a todo tipo de violência, independente de qual seja o nosso local de trabalho”, defende a educadora.

Aos que desejam ingressar na profissão de historiador, Soares recomenda estar aberto para conhecer todas as concepções de história e compreender tudo o que ela narra. “Primeiro, é necessário gostar de ler; segundo, é preciso gostar de tomar café, porque quando se lê dá sono, afinal, ninguém é de ferro”, brinca. Também é importante gostar de dialogar, ouvir outras pessoas, fazer relações com os momentos do passado, presente e como isso pode ser projetado no futuro.

Arlene aconselha a ter força, persistência e amizades, pois segundo ela, a profissão não é fácil e não recebe o devido valor. “Somos constantemente perseguidas e perseguidos. Em muitos momentos precisamos agir como camaleões para que possamos nos inserir no mercado, ter a esperança de ver nossa CLT assinada e o salário na conta”, relata.

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