Pandemia causa impactos na educação infantil

No Dia Nacional da Educação Infantil, vice-diretora de escola e pedagoga destacam os principais desafios do ensino remoto e possíveis impactos no desenvolvimento das crianças

por Alfredo Carvalho qua, 25/08/2021 - 18:50
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O Dia Nacional da Educação Infantil celebrado hoje (25) visa conscientizar sobre a importância de uma das primeiras etapas do processo de ensino e aprendizado. A data é uma homenagem ao nascimento da médica pediatra e sanitarista brasileira Zilda Arns (1934-2010), conhecida por dedicar sua vida a trabalhos de auxílio a crianças.

Durante a pandemia do Covid-19, a educação infantil, assim como diversos outros segmentos da sociedade também enfrentou desafios. Segundo a vice-diretora da Escola Estadual Professor Máximo Ribeiro Nunes, de São Paulo, Alessandra Kehdi Cipullo, as aulas remotas trouxeram impactos negativos na rotina dos alunos, cujas conseqências se refletem no retorno presencial.

As medidas de prevenção ao coronavírus ainda não possibilitam um retorno presencial com a máxima capacidade, por conta disso, a retomada ocorre para 50% dos estudantes, que se alternam nas escolas a cada semana. Diante desta realidade, Alessandra ressalta que muitas crianças se sentem perdidas.

“Estamos sentindo uma dificuldade imensa nos alunos de segundo ano, já que foram os que iniciaram a primeira série pouco antes da pandemia”, aponta a vice-diretora, e complementa que após ficarem em casa por mais de um ano, sem a necessidade de limites e regras, eles retornam e precisam cumprir com as obrigações escolares. Essa mudança de paradigma enfrentada pelas crianças é, segundo a professora, um dos principais desafios.

Alessandra pontua que o número de alunos da escola que possuem equipamentos necessários para assistir as aulas remotas é mínimo, muitos não possuíam computador pessoal e diversos estudantes utilizavam os celulares dos pais para poderem acompanhar os ensinamentos.

A vice-diretora explica que em aproximadamente 700 crianças, o acesso diário às aulas apontadas pelo sistema da escola alcançava uma média de 300 estudantes. "Tínhamos mais de 100 crianças sem acesso que vinham à escola para pegar apostilas, as quais continham questões bem simples, apenas para que pudessem fazer sozinhos e garantir que não esquecessem o que é escola”, comenta Alessandra.

Apesar de todas as medidas tomadas para garantir que o processo de ensino e aprendizado seguisse, a pedagoga, docente e coordenadora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Guarulhos (UNG), Vanessa Angélica Patrício, relata que os danos sofridos na educação de crianças e jovens foram grandes e inevitáveis, tanto no desenvolvimento intelectual, quanto no físico.

Para a pedagoga, os problemas vão desde acesso limitado e precário à internet, dificuldades de concentração no ambiente caseiro a uma infraestrutura que garanta melhor aproveitamento das aulas remotas. “Nesse sentido, no pós-pandemia, faz-se necessário refletir e analisar por meio de diagnósticos do que foi assimilado e bem apreendido à reposição de conteúdo, para preencher as possíveis lacunas de aprendizagem, sem sobrecarregar demais os alunos”, define Vanessa.

De acordo com Vanessa, a educação infantil necessita de interação, troca de experiência e de algumas brincadeiras que ajudam no desenvolvimento de certas habilidades. “É preciso criar um ambiente favorável, manter uma rotina leve e saudável com momentos reservados às crianças estarem focadas nas tarefas da escola e também do lazer, limitando o tempo da criança em frente às telas dos celulares, tablets e computadores”, afirma.

Vanessa lembra que as aulas remotas têm como intuito manter o vínculo da criança com a escola, professores e colegas de turma, uma vez que as atividades precisam ser planejadas de acordo com o desenvolvimento do estudante.

Em um cenário de isolamento social, as tarefas também precisam ser acessíveis aos pais, que poderão mediar tarefas como rotinas de leitura, produção escrita, atividades corporais por meio de jogos e brincadeiras. “Mesmo em casa é possível e primordial garantir um processo contínuo de aprendizagem, que respeite o ritmo e tempo de cada criança”, explica Vanessa.

Embora possam auxiliar no aprendizado dos filhos, Vanessa frisa que os pais não precisam assumir o papel dos professores. “Cada família possui suas dificuldades, por isso, dicas práticas ajudam a enfrentar este contexto fora do normal, como estimular a criança ou jovem durante seus estudos, o que requer que se estabeleça uma rotina em casa, entre estudos e lazer, sem cobranças excessivas, essencial para o bem-estar e a saúde mental da família”, recomenda.

Os momentos de descontração, segundo a pedagoga, também podem se tornar espaços para brincar e aprender. No cenário pandêmico, Vanessa confirma a importância da parceria entre a escola e os pais, que garanta resultados positivos no processo de educação. “A proximidade entre ambas as partes, reuniões periódicas, compartilhamento de informações são ótimas formas para que a família atue como mediadora e facilitadora neste processo”, finaliza.

 

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