Parque Dois Irmãos reabre com novas espécies

Fechado desde 17 de março de 2020, espaço retorna com novo Plano Diretor e limite de público diário, recebendo até três mil pessoas

por Vitória Silva qua, 13/10/2021 - 14:44

Após um ano e sete meses fechado, o Parque Estadual de Dois Irmãos, no Grande Recife, reabriu para o público na manhã desta quarta-feira (13), a partir das 9h. A reabertura representa a primeira fase de testes com a recepção aos visitantes após a presença da pandemia, e para isso, o equipamento receberá até três mil visitas diárias, no máximo, de quarta a domingo, com exceção de feriados.

Nesse primeiro momento, o público pode passear desde a entrada até o açude, e caminhar pelas alamedas onde se encontram as aves, o serpentário, diversos répteis e pequenos mamíferos. Estão presentes nos recintos animais como a jaguatirica, tamanduá-bandeira, guaxinim, furão, jacarés, iguanas, jibóias e até cobras exóticas, como a píton albina.

A partir do açude, o caminho que segue para as áreas mais a fundo, onde ficavam as onças e leões, está interditado e proibido ao público. É possível levar o próprio alimento; ainda não há pontos de venda dentro do parque, mas há comércio nas limitações do bairro. Há área de piquenique e parque infantil abertos às margens do açude.

De acordo com o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti, o parque não abriu durante o Dia de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro, também Dia das Crianças), para conseguir cumprir as medidas de retomada com maior fidelidade.

“A pandemia nos condicionou a fazer um processo de abertura aos poucos. Nesse primeiro momento, você pode visitar o Parque Dois Irmãos, mas a gente vai ter uma limitação de três mil pessoas. Pode ser até estranho o parque não abrir no dia de feriado (12 de outubro), é justamente porque são nesses dias que existe o maior fluxo de pessoas, mas diante da pandemia é necessário que a gente tenha um cuidado especial com o número de pessoas, para garantir o distanciamento, o uso de máscara. O álcool nós vamos proporcionar pra você quando você estiver andando aqui”, explica Bertotti.

Segundo o secretário, os recintos foram qualificados, além das áreas de convivência para o público, e novos espaços para os animais. As preguiças agora tomam banho ao ar livre, assim como répteis tomam banho de sol durante a manhã e poderão ter contato com o público, quando possível. As adaptações fora dos recintos condizem com a necessidade de saúde das espécies e são acompanhadas por especialistas.

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O zoológico recepcionou o público, pela primeira vez, na ausência de três queridos animais, que juntos somavam décadas de convivência no Recife: o leão Léo, que morreu de câncer em janeiro deste ano, aos 21 anos; e os irmãos Zé Colmeia e Ursula, dupla de ursos pardos, que há 18 anos viviam nos recintos pernambucanos. Zé morreu por insuficiência respiratória, em maio, aos 22 anos. Úrsula foi transferida para a Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos (ASERG). O espaço tem ambientação mais próxima à realidade do habitat natural da espécie, como, por exemplo, uma variação de temperatura entre 9ºC e 16ºC.

Segundo o secretário, o Dois Irmãos não mais irá adotar animais da fauna estrangeira, como os leões africanos e os ursos pardos, por uma alteração no Plano Diretor e novas perspectivas diante da saúde e proteção animal. A direção também acredita que o equipamento tem potencial para aproximar mais as espécies nacionais do público local.

“Nós não receberemos mais esses animais que não são da nossa falta nativa. A gente vai manter alguns que não são, porque não tem sentido, por exemplo, o chimpanzé, que é africano, voltar para a África. Mas o Plano Diretor do Parque Dois Irmãos, que foi trabalhado nesses dois anos, anunciado, inclusive, durante a pandemia, prevê que a gente vá, à medida que esses animais maiores e exóticos, não estejam mais presentes, abrindo espaço desses recintos para receber outros animais da nossa forma nativa que não tem ainda aqui”, continua o secretário.

Bertotti explica ainda que, “em outros tempos”, a vocação do parque era a de trazer animais exóticos para a exibição, mas que a nova diretriz é, não apenas uma tendência mundial, como uma perspectiva mais moderna sobre a preservação e reprodução desta fauna, objetivos esses que fazem parte da missão do Dois Irmãos.

“O zoológico tem essa vocação de conservação. Por exemplo, em Pernambuco há uma lista de espécies ameaçadas de extinção. Aqui a gente faz a reprodução dessas espécies. A lógica é reproduzir e garantir a preservação da nossa fauna nativa. E tem um outro detalhe: é preciso fazer muitas adaptações ao recinto para tentar dar uma ambiência para um um animal exótico, que seja similar ao dele. Isso requer um grande investimento e nunca vai ser o que ele realmente teria”, conclui.

No total, 29 novas espécies chegaram ao Parque Dois Irmãos e logo devem ser realocadas, gradualmente, aos recintos próximos do público. Segundo Carol Priscila, bióloga do parque, os novos animais chegaram em duas levas, há menos de dois meses, e ainda estão em quarentena. “Esses animais precisam de uma quarentena de 40 dias, com cuidados e observações específicas. Nem todos são nacionais, como é o caso da águia chilena. A primeira leva chegou há cerca de um mês e meio, e a segunda chegou na semana passada”, diz Priscila.

Na primeira viagem, chegaram iguanas, furões, tamanduás-mirim, quatis, tucanos e serpentes. Na segunda, o parque recebeu uma águia chilena, gaviões carijó, timbus e arribaçãs. Até o momento, não há previsão de novas chegadas.

Na ordem: Brivaldo (31), Davi (3), Naara (29) e Ana (2), aproveitam reabertura do Parque Dois Irmãos, no Recife. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens.

Famílias aproveitam o parque no pós-feriado

Com movimentação tranquila, o Parque Dois Irmãos reabriu sem aglomerações e com público ainda tímido durante a manhã. A maior parte dos visitantes era composta por famílias acompanhando crianças pequenas, muitas visitando o parque pela primeira vez e até mesmo tendo vivido seus meses iniciais já durante a pandemia. É o caso da família de Naara Henrique, de 29 anos, que visitou o Dois Irmãos junto ao marido Brivaldo Júnior, de 31 anos; e aos filhos, Ana, de dois anos, e Davi, de três. “Não fizemos nenhum plano de Dia das Crianças e vir ao parque já era um plano há um tempo. Ele (Davi) está aprendendo os animais na escola e ficou encantado com o papagaio”, explica a mãe.

“Gostei da coruja ‘do olhão’, dos papagaios, das araras que são ‘cheias de colorido’ que nem um unicórnio. Eu gosto muito dos animais, na escola eu ganhei um chapéu de jacaré”, diz Davi, que estava ansioso para ver no parque os bichos vistos na escola. Um deles, reconheceu logo na entrada: “o que anda devagar, o bicho preguiça”.

A família de Miguel, de dois anos, também teve uma experiência parecida. O menino aproveitou a experiência junto ao avô, José Cavalcanti, de 70 anos, e à mãe, Socorro Rodrigues, de 38 anos. Socorro explica que Miguel ainda não foi à escola, mas está em uma fase de atenção às cores, gostando de animais como araras e papagaios. Foi a primeira visita do menino a um zoológico.

“Temos evitado programas na rua. À medida que posso, saio com ele, para ele se distrair um pouco, socializar, porque ele passa por uma fase meio difícil e sente falta de sair. Ele fica muito ansioso confinado do apartamento. Sempre que posso, vou à praia com ele, correr, andar de bicicleta”, diz a mãe.

É possível visitar o parque de quarta a domingo, das 9h às 15h, exceto feriados. A venda de ingressos encerra às 14h. A entrada inteira custa R$ 5,00 e a meia-entrada, R$ 2,50. O acesso é gratuito para crianças com até cinco anos de idade, ou até um metro de altura. É obrigatório o uso da máscara de proteção, higienização das mãos com álcool em gel e distanciamento social.

Parque Dois Irmãos

Administrado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas/PE), é composto por uma importante reserva de Mata Atlântica e pelo Zoológico do Recife. De acordo com a Semas, o reencontro do público com o zoológico será marcado por uma nova perspectiva sobre o Parque, uma vez que o local se tornou uma instituição conservacionista voltada aos cuidados com a biodiversidade nativa.

Segundo o responsável pela pasta do Meio Ambiente, o equipamento passou por uma série de serviços de manutenção, como jardinagem, paisagismo, melhorias estruturais em mais de 30 recintos, pintura, instalação de novos bancos, reforma dos banheiros, entre outras iniciativas.

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