Policial militar algema homem negro a moto em movimento

Prática fere protocolo da corporação e ultrapassa deveres do agente, podendo ser interpretada como tortura e análoga à escravidão

por Vitória Silva qua, 01/12/2021 - 13:24
Reprodução/Instagram Policial militar algema homem negro a moto após abordagem Reprodução/Instagram

Em vídeo que circula nas redes sociais e já é apurado por autoridades policiais de São Paulo, um homem negro aparece algemado a uma moto da Polícia Militar, enquanto o agente que realizou a abordagem acelera e faz o suspeito acompanhá-lo correndo. O flagra foi registrado à luz do dia, na tarde dessa terça-feira (30), na avenida Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello, zona leste da capital paulista. Nas imagens que viralizaram, os espectadores até dão risada do episódio que pode ser interpretado como prática análoga à escravidão e tortura.  

 

Na gravação, é possível ver o homem correndo com dificuldade atrás do veículo em movimento. Os autores do vídeo, filmado dentro de um carro, dão risada e um deles debocha: "Olha, algemou e está andando igual a um escravo. Vai roubar mais agora?", questiona.  

Na manhã desta quarta-feira (1º), a Ouvidoria das polícias do Estado de São Paulo formalizou um pedido de apuração do caso à PM, e afirma reconhecer a atitude como o tipo de “humilhação e constrangimento” aos quais negros escravizados foram submetidos. Após tomar conhecimento das imagens, a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) informou ter afastado o policial e determinado a instauração de um inquérito. 

Segundo reportagem da TV Globo, o preso estava em uma moto e colidiu contra uma ambulância ao tentar escapar da abordagem policial. Com ele, a PM afirmou ter apreendido 12 tabletes de maconha. A investigação também está sendo acompanhada pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pelo Grupo Tortura Nunca Mais. 

Em nota, a PM-SP confirmou a instauração de um inquérito policial militar para apurar o caso e o afastamento do agente envolvido na ação. "A Polícia Militar repudia tal ato e reafirma o seu compromisso de proteger as pessoas, combater o crime e respeitar as leis, sendo implacável contra pontuais desvios de conduta", informou um dos trechos da nota. 

A Ouvidoria das polícias de São Paulo diz tratar o caso como prioridade. "Esse tipo de situação não pode voltar a acontecer em São Paulo, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo." 

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