Medo e incerteza marcam pós-incêndio nas palafitas do Pina

Fogo destruiu barracos onde moravam cerca de 45 famílias no Beco do Sururu, na Zona Sul do Recife. Saiba como ajudar os moradores

por Vitória Silva sab, 07/05/2022 - 18:15

Quase 24 horas após o incêndio que tirou o lar de cerca de 45 famílias no Beco do Sururu, comunidade de palafitas no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife, o cenário ainda é de muita dor, incerteza e trabalho incessante em meio à fuligem. O incidente, de causas ainda desconhecidas, produziu chamas que puderam ser vistas de diversos pontos da capital. Apesar de não ter feito vítimas, o incêndio expôs a situação de vulnerabilidade na qual vive aquela população, constituída majoritariamente de pescadores e trabalhadores informais ou autônomos.

Neste sábado (7), o LeiaJá foi ao Beco para acompanhar como a situação tem sido controlada. Sem energia elétrica até às 15h, a população mostrou-se preocupada com a chegada da noite, pois a região é de viaduto e bastante escura, além da dificuldade que tem sido cozinhar para a grande quantidade de pessoas. Por volta das 15h30, uma equipe da Neoenergia Pernambuco (Celpe) chegou ao local para tentar restabelecer o serviço.

Ao todo, cerca de 140 barracos são registrados e mapeados pela Prefeitura do Recife e por movimentos sociais. Os moradores relatam que alguns dos barracos não são cadastrados, ainda que seus donos morem na comunidade há muito tempo; enquanto moradores de outras comunidades têm chegado ao Beco do Sururu, na tentativa de conseguir algum possível benefício dedicado às vítimas do incêndio, o que gera conflitos desde a noite de sexta-feira (6).

Porém, uma coisa é certa: quem perdeu tudo, sabe que perdeu tudo e não tem nem noção de por onde recomeçar. É o caso de Francisco Júnior da Silva, de 59 anos, pescador e morador da comunidade desde os 17 anos.

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Francisco toma ansiolíticos e antirreumáticos diariamente. Ao conversar com nossa reportagem, relatou que deixa os remédios e as receitas médicas na casa de uma amiga, com medo de perdê-las. Até este sábado (7), a Prefeitura do Recife não havia enviado equipe médica para auxiliar os moradores do Beco que tomam remédios controlados e que perderam suas receitas em meio ao fogo. 

"Eu dormi ali [embaixo no viaduto que dá acesso ao RioMar]. Pegou fogo em tudo, estou só com essa roupa aqui, do corpo. Estou com essa roupa há três dias. Do lado tem um negócio que cobre, a chuva não pega lá; não só sou eu, o pessoal todo 'tá' indo dormir lá. Só não perdi meus documentos porque eles vivem comigo", disse Francisco ao LeiaJá

A situação dele é a mesma de Eliane Silva, de 55 anos, e Isaías Silva, de 62 anos. Os dois vivem da pesca no rio Capibaribe. Eliane não perdeu a casa, mas perdeu os dois barracos, ambos registrados, quais utilizava como ponto comercial e de reserva para seus mariscos. A marisqueira vendia os pescados no próprio bar, que foi destruído pelo fogo. 

"Eu tenho minha carteirinha de marisqueira. Construí os meus barracos com o dinheiro que fazia trabalhando aqui. Graças a Deus o fogo não levou minha casa, mas levou a casa da minha mãe, que vai passar o Dia das Mães na casa da minha irmã, sem saber para o que vai voltar aqui. A gente não sabe se vai ter energia mais tarde, se vai conseguir cozinhar. Não sei como vou trabalhar. Está difícil", disse a moradora. 

O senhor Isaías também é pescador, apesar de não estar mais apto à prática por problemas reumáticos e ortopédicos. No entanto, não consegue a aprovação do auxílio-doença nem na necessidade de uma aposentadoria e, assim, segue precisando fazer da maré o seu sustento. "Tem sido assim. Só fazem perguntas e perguntas, e ninguém resolve nada. Estou aqui porque estou aguardando. Preciso de material ou de dinheiro para reconstruir isso aí", acrescenta Isaías, que hoje irá dormir na casa da amiga Eliane. 

Como ajudar

Dois projetos pré-existentes no Beco do Sururu tem intensificado a mão de obra para dar conta de assistir todas as famílias; trabalho de diminuição do impacto da vulnerabilidade social nas comunidades do Pina, que já enfrenta desafios diários independente da existência de incidentes como o dessa sexta-feira (6).

O projeto Mãos Solidárias, que coordena a cozinha solidária do Beco, por iniciativa de movimentos populares como o dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), e o projeto Amigos de Pirrita, têm espaços de arrecadação no Pina e no Centro do Recife. Saiba onde encontrá-los e como ajudar:

Doação de mantimentos

*Pratos feitos ou alimentos para preparo (não perecíveis), roupas, material de higiene pessoal e doméstica, materiais de construção, colchões, travesseiros e cobertores

- Bar da Fava, rua Dirceu Velloso Toscano de Brito, nº 172, Pina;

- Armazém do Campo do Recife, avenida Martins de Barros, nº 395, Santo Antônio;

- Cozinha Solidária, Beco do Sururu, Pina - Acessos pelas avenidas República do Líbano e República Árabe Unida, e também pela Ponte Governador Paulo Guerra (a pé).

Doação em dinheiro

Pix Amigos de Pirrita: 81984783501 (chave Pix e também o contato do WhatsApp) 

Contatos

Pedro Pirrita (vídeo abaixo), diretor do Amigos de Pirrita: 81 9 84783501

Bruna Eduarda Ribeiro, do Amigos de Pirrita: 81 9 8530-8121

Cozinha Solidária: 81 9 8182-9197

Instagram: Mãos Solidárias, Amigos de Pirrita

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