Pessoas pretas ainda sofrem trabalho análogo à escravidão

O racismo também faz parte do trabalho análogo à escravidão

sex, 13/05/2022 - 19:13

Mesmo 134 anos após a promulgação da Lei Áurea, comemorados nesta sexta-feira (13), os negros ainda são 84% dos resgatados em trabalho análogo à escravidão no Brasil.Neste ano, 500 trabalhadores já foram resgatados pela Auditoria Fiscal do Trabalho em condição análogas à escravidão. Do total, 84% se autodeclaram pretos ou pardos, e 57% nasceram no Nordeste.

A maioria dos resgatados trabalhava no cultivo de cana-de-açúcar (299), em produção de carvão vegetal (54), cultivo de alho (25), e a criação de bovinos para corte (23). Minas Gerais foi o estado com mais ações de combate à prática. A promulgação da Lei tão importante para as pessoas pretas com a liberação dos escravos, as coisas ainda não mudaram muito para elas. 

Além disso, uma pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 72% das pessoas já dizem ter presenciado situações de racismo no transporte público no dia a dia, e 39% foram vítimas do crime. 

Um exemplo recente de resgate é o caso de Madalena Santiago da Silva, mulher resgataada em 2021 depois de passar 54 anos trabalhando em condições análogas à escravidão. A ex-patroa, Sônia Seixas Leal, informou que não pagava o salário porque a considerava como irmã. Madalena sofreu maus-tratos durante todos esses anos, além de acumular dívidas feitas pela patroa. 

Dentre os milhares de casos que acontecem no Brasil diariamente, o de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, que foi espancado até a morte por dois seguranças do Carrefour, em Porto Alegre, é um dos casos que chocou.

João Alberto foi espancado por dois homens brancos na véspera do Dia da Consciência Negra, em 2020. O caso foi filmado por testemunhas que estavam no local. 

No Maranhão, um rapaz foi agredido dentro do próprio carro, na frente de casa, em Açailândia. O obrigaram a sair do carro e o espancaram com chutes, pisões e tapas. "Foi aqui que eu achei que iria morrer. É no momento que ele sobe em cima de mim, junto com ela, com os joelhos. Ali é sufocante, porque ela manda ele me imobilizar, pisando no meu pescoço. Eu me senti sem ar", relatou Gabriel da Silva, vítima da agressão racista. 

Em 2019, um adolescente de 17 anos foi vítima de tortura com um chicote por cerca de 40 minutos em uma sala de um supermercado na Zona Sul de São Paulo. 

O jovem teve que ficar nu e com a boca amordaçada enquanto era golpeado com chicotadas. O motivo para o crime foi por ele ter furtado quatro barras de chocolate do estabelecimento. 

Também em São Paulo, uma mulher foi condenada pela Justiça por discriminação e racismo por conta de uma publicação no Facebook. Na ocasião, a mulher fez um comentário racista em uma foto publicada por outra mulher amamentando. Em resposta, a acusada afirmou "cara, na boa, isso é uma falta de respeito, safadeza. Fica mostrando as 'tetas' para macho na rua. Não merece respeito mesmo. Olha a cor também né'. O caso ocorreu em 2018 mas foi concluído em 2022. 

Uma garota de 7 anos também foi vítima de racismo em Criciúma, Sul catarinense, em março deste ano. Após a mãe publicar um vídeo da filha, recebeu a mensagem "desculpa aí, mas vi uma macaca se coçando". 

Um homem negro de 37 anos teve os pés, pulsos e pescoço acorrentado por um médico em Goiás. Em vídeo divulgado pelo próprio médico acusado, ele diz "aí ó, falei para estudar, ele não quer. Ele vai ficar na minha senzala".

 

 

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