Família aguarda dois corpos serem encontrados em Milagres

Ainda há cerca de seis a oito corpos desaparecidos na comunidade

por Alice Albuquerque seg, 30/05/2022 - 21:26
Julio Gomes/LeiaJá Imagens Desabamento em Milagres, no Ibura, atingiu cerca de 10 casas Julio Gomes/LeiaJá Imagens

As fortes chuvas na Região Metropolitana do Recife do último fim de semana ocasionou vários desastres, como a queda de barreiras que vitimou várias pessoas. Em Milagres, no Ibura, Zona Sul do Recife, uma família espera encontrar o corpo de dona Tereza Raimundo Bezerra, de 84 anos, e do seu neto, Ulysses Bezerra, de 22 anos, que estão soterrados desde a manhã do último sábado (28) com a queda da barreira.

Aguardando qualquer sinal para que a mãe possa ter um velório e um enterro que represente a "mãe guerreira" que dona Tereza foi, Adriana Bezerra, moradora de Coqueiral, está no Ibura desde o ocorrido. "A minha mãe e meu sobrinho estão desaparecidos, e por conta de três minutos o meu irmão que tinha saído de casa também não está. Ele saiu e quando olhou para trás já estava tudo desabando. A minha mãe ia fazer o café da manhã", disse à reportagem dLeiaJá nesta segunda-feira (30)

De acordo com Adriana, já foram encontrados o RG, cartão do SUS e um outro pertence da mãe. "E uma correntinha que vieram me entregar para ver se eu identificava. É dela a correntinha [disse, olhando para uma foto em que a mãe estava com a mesma corrente]. Não tenho palavras, é muita dor. No começo dá esperança de que sobreviva, há esperança, mas devido às consequências que estamos vendo, a gente tem que aceitar a realidade. Eu só quero que encontre o corpo da minha mãe para que ela tenha um enterro decente e um velório como o ser humano bonito que a minha mãe foi, e guerreira. São dias de angústia e desespero, porque são dois seres humanos, e as outras famílias. A minha mãe é a minha mãe. Aquela dor. Ela estava com toda a saúde do mundo, minha mãe foi uma mulher guerreira, não tinha um problema de saúde que não fosse normal", expressou. 

Neto de dona Tereza e primo de Ulysses, Richardson, de 26 anos, estava ajudando os militares do Corpo de Bombeiros e do Exército a encontrar os corpos. "A casa da minha avó foi levada pela avalanche que acabou destruindo tudo aqui. Estou aqui desde sábado. Quando recebemos a notícia eu vim pra cá ajudar os Bombeiros e o pessoal que está se movendo para tentar localizar os corpos. Estamos auxiliando aqui, junto com os bombeiros daqui e de outros estados. Acredito que se não encontrar hoje, no máximo, amanhã vão encontrar o corpo do meu primo, da minha avó e dos outros familiares que estão aí também", disse. 

Andreia Bezerra é sobrinha de dona Tereza e contou à reportagem que está aguardando os corpos dos familiares perdidos junto com a família. "Até agora não nenhum foi encontrado, mas estamos tendo toda assistência. A filha dela [de dona Tereza], Adriana, e as filhas dela [de Adriana] estão aqui comigo aguardando. Eu vim hoje, mas a minha prima e a filha estão desde ontem aqui, e o meu primo que mora com ela está desde sábado. Ele [o primo], tinha acabado de sair de casa e em três minutos desceu todo o barro, aí não deu tempo de fazer nada. É tristeza. Muita dor. Foi muita chuva. É muito barro e muita areia lá dentro. Está todo mundo ajudando a família como voluntário, mas tudo o mais rápido possível para que encontre hoje, não só o corpo dela, mas todos. Outras pessoas que estão com parentes soterrados também estão sofrendo", afirmou. 

Trabalho do Corpo de Bombeiros

O Cel do Corpo de Bombeiros Robson Roberto e diretor de Operações da Região Metropolitana do Recife explicou que a região de Milagres teve cerca de 10 casas desabadas. "Desde então o Corpo de Bombeiros se fez presente no local, não só de Pernambuco, mas também da Paraíba e da Bahia. A maior dificuldade aqui é o acesso. O volume de massa a ser retirado é grande, apesar de termos voluntários que estão ajudando muito, inclusive com fornecimento de água e alimentação. Temos também um binômio, como a gente chama, que é a composição do militar com o cão, e já fez alguns indicativos que acredito que estejamos próximos de encontrar possíveis pessoas".  

O indicativo é de seis a oito pessoas ainda desaparecidas no local, sendo quatro crianças. "A gente precisa resgatar e o bombeiro só sai quando acabar. A trégua da chuva ajuda muito e tenho certeza que vai ajudar bastante com essa retroescavadeira, eles estão tentando abrir mais acessos porque o trabalho é braçal, volumoso, que tem que ser feito no braço e é muito demorado, mas assim que essa retroescavadeira conseguir fazer esse avanço, vamos ter ainda mais sucesso na operação", afirmou Robson Roberto

Nenhum corpo havia sido encontrado até a saída da reportagem do LeiaJá do local. 

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