Papa Francisco reduz autonomia do Opus Dei
O Opus Dei havia sido elevado em 1982 pelo papa João Paulo II à categoria de prelazia pessoal, ou seja, uma parte da Igreja estruturada de modo hierárquico, com um prelado, sacerdotes e diáconos
As reformas divulgadas na sexta-feira, 5, pelo papa Francisco que reduzem a autonomia e a independência formal da congregação Opus Dei pretendem agir também sobre polos de concentração de poder dentro da Igreja Católica e promover integração entre grupos diferentes nas dioceses. Essa é a análise de estudiosos sobre o documento papal Ad carisma tuendum (Para tutelar o carisma).
O Opus Dei havia sido elevado em 1982 pelo papa João Paulo II à categoria de prelazia pessoal, ou seja, uma parte da Igreja estruturada de modo hierárquico, com um prelado (dirigente), sacerdotes e diáconos. Esse privilégio, único no mundo, equiparava a congregação a uma diocese, embora ela não tivesse um território específico. O papa mudou o status do prelado, que não será mais distinguido com o cargo de bispo e não poderá usar anel ou veste episcopal. A partir de agora, seu título será "protonotário apostólico supernumerário".
Pelo documento, a medida pretende que a forma de governo do Opus Dei seja "baseada mais no carisma do que na autoridade hierárquica". Carisma pode ser entendido como o próprio espírito e o DNA da instituição, que deve estar acima dos cargos formais.
Reação
Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), observa que as mudanças sobre o Opus Dei fazem parte de um processo para aumentar a colegialidade e diminuir a influência dos polos de concentração de poder. "Dentro dessa lógica, as mudanças retiram do prelado a posição de bispo, o que leva à necessidade de uma integração maior da organização como um todo com os bispos diocesanos", afirma o professor.
Essa é a mesma avaliação de Rodrigo Coppe, professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da PUC Minas. "É uma tentativa de tirar autonomia do grupo."
Neto observa, no entanto, que a maior dificuldade dentro das dioceses não é de ordem formal, mas sim de capacidade de articulação de grupos diferentes. "Em geral, os participantes e simpatizantes do Opus Dei já vivem uma integração com suas dioceses. Onde as dioceses têm essa capacidade de articulação, o Opus Dei já se mostra integrado. Onde as dioceses não têm essa capacidade, a mudança formal terá pouco efeito prático."
Além da mudança no status do prelado, o Opus Dei passará a se reportar ao Dicastério para o Clero, divisão administrativa da Cúria Romana que analisa temas relacionados a padres e diáconos e supervisiona a educação religiosa dos católicos. A instituição também deverá apresentar um relatório anual sobre o "desenvolvimento de seu trabalho apostólico". Até agora, a Obra, como também é conhecido o Opus Dei, só tinha de entregar um documento semelhante a cada cinco anos à Congregação para os Bispos, órgão do Vaticano a que estava vinculado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.