Amigos de ciclista atropelado por caminhão se despedem

Caio César, de 23 anos, era apaixonado por bicicleta e estava retornando de um 'pedal' quando foi atropelado na BR-232

por Elaine Guimarães qua, 08/02/2023 - 20:55
Júlio Gomes/LeiaJáImagens Caio César Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Na noite da última terça-feira (7), Caio César, de 23 anos, saiu para pedalar como de costume. Nesse dia, ele foi do bairro do Engenho do Meio, Zona Oeste do Recife, onde morava, em direção à Arena de Pernambuco, em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana. No retorno do pedal, em um trecho da BR-232, próximo ao Atacado dos Presentes, Caio foi arrastado por um caminhão e faleceu no local.

“Por volta das 21h58, eu recebi uma ligação de um amigo comum, meu e de Caio. Ele falou 'olha, uma pessoa passou lá pela BR e viu uma pessoa que ela acredita que seja Caio, que deve ter sido atropelado. Eu acho que ele morreu'. Peguei minha moto e fui ver se realmente era meu amigo que estava lá”, relatou um amigo do jovem, que preferiu não se identificar.

Ao LeiaJá, ele conta que ao chegar ao local do acidente já identificou a bicicleta de Caio. “Comecei a juntar os pontos que poderia ser ele. Vi o corpo dele no chão e vi a carreta lá. Não estava muito claro como aconteceu tudo. Vi o corpo dele em baixo da carreta e percebi que alguém já tinha mexido na bicicleta. Eu não sei se fizeram a perícia, porque não pude acompanhar até o final."

Na versão do motorista da carreta, de acordo com o amigo de Caio, a vítima teria se desequilibrado e caído, o que é contestado. “Pelo que eu conheço Caio, isso não é impossível, mas é improvável. Apesar da via estar danificada”. À reportagem, ele disse que o condutor permaneceu no local, assim como a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Segundo informações enviadas pela PRF ao LeiaJá, o acidente aconteceu por volta das 21h10 no km 9,4 da BR-232 em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana, sentido Recife. “Pelos vestígios verificados no local, um ciclista transitava em desvio, quando perdeu o controle da bicicleta e caiu entre os eixos de um caminhão. O motorista do caminhão realizou o teste do bafômetro e o resultado foi normal”, afirmou a PRF. A Polícia Civil vai investigar o caso.

Bicicleta de Caio após o acidente. Foto: Divulgação/PRF

Apaixonado por "pedal"

Nesta quarta-feira (8), o corpo de Caio foi velado no Cemitério da Várzea, na Cidade Universitária. Além da famíla, amigos do trabalho, entregadores de aplicativo - função que ele exerceu por um tempo -, colegas do 'Recife Bike Polo', do Hip Hop, entre outros. “Caio conseguiu juntar várias tribos. Eu nem sabia que ele conhecia esse povo todo”, falou a irmã, Nathália Moura. Todas as falas sobre o jovem se tornavam repetitivas. “Ótima pessoa”, “alegre”, “trabalhador”, “sempre disposto a ajudar”, “amava pedalar”.

Tais declarações foram expressas por familiares e amigos de Caio à reportagem. “Ele era uma pessoa que tinha paixão por viver e que não media esforços para ajudar. Muito inteligente e com muitos sonhos pela frente”, comentou Angêlo Campo, que trabalhava com o jovem na Distribuidora Jatto. Anderson Roberto, que é entregador de aplicativo e era amigo de Caio há três anos, mencionou que os dois tinham o costume de pedalar juntos. “A gente já foi para Carpina, Porto de Galinhas. Ele era louco por bicicleta, pedalar, andar, fazer as manobras dele, sair”, disse.

A paixão de Caio César por bicicleta, de acordo com a irmã, começou ainda na infância. “Por volta dos 6, 7 anos ele já era louco por bicicleta. Tudo ele fazia de bicicleta. O pai dele até perguntou uma vez por que ele não comprava o carro e a resposta era sempre a mesma: com a minha bicicleta, eu vou para qualquer lugar. O carro tem muitos gastos, gasolina, IPVA”, lembrou.

Nathália conta que a notícia do falecimento do irmão chegou horas após o acidente. A informação foi a mesma dada pela PRF. Ela acredita que o motorista não teve a intenção e que ele estava “desnorteado”.

Cidade hostil para os ciclistas

Gerson Rodrigues (camisa preta) e Adelson Silvestre (regata amarela). Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

"Foi na BR em um lugar que não tem câmeras. Na ocasião, o motorista relatou assim: o boy caiu e eu passei por cima, com essas palavras, não mostrou nenhum tipo de sentimento. Ficou por isso mesmo. O trecho que ele [Caio] estava, a gente sabe que ali está ruim. A gente vê diversos comentários negativos sobre esse trecho", contou Gerson Rodrigues, do Recife Bike Polo, grupo que Caio integrava.. 

Ele critica o montante gasto para a restauração e duplicação da BR232 para estrutura de carro, alegando que não há planejamento para uma ciclofaixa. "Naquele local ali é previsto, no Plano Diretor Cicloviário, que é para ter uma 'ciclo' ali, e não tem nada. Então, se essa 'ciclo' existisse, como foi prometida, não teria acontecido isso com Caio", expôs.

Adelson Silvestre, que trabalha fazendo entregas de bicicleta, desabafa que a realidade de quem usa o transporte na cidade é marcada por hostilidade nas vias. "Essa é a realidade que todos nós entregadores passamos. Não temos segurança. Muitas vezes somos obrigados a deixar as nossas bicicletas do lado de fora dos prédios. Nos arriscamos por 12, 13 horas, madrugada e a empresa não está nem aí. Não tem seguro, nada. Hoje, poderia ser minha mãe aqui chorando."

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