Tubarão: Cemit ganha reforço da UFPE no estudo dos ataques
"Deveríamos montar um super oceanário para mostrar esses animais, estudá-los e ser uma atração turística", projeta vice-reitor Moacyr Araújo
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) recebeu o convite oficial para integrar o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e já está tomando medidas em curto, médio e longo prazos para ajudar o Estado a lidar com os incidentes envolvendo tubarões nas praias da Região Metropolitana do Recife (RMR).
Na última sexta-feira (24), uma reunião foi realizada no Centro de Estudos e Ensaios em Risco e Modelagem Ambiental (Ceerma), no Campus Recife da UFPE, com o objetivo de reunir os diversos grupos da Universidade que têm ligação com o tema. A participação de diferentes áreas de conhecimento, como Antropologia, Engenharia Cartográfica, Oceanografia, Zoologia, entre outras, é crucial para entender melhor os incidentes com tubarões e desenvolver estratégias eficazes para reduzir os riscos para a população.
O Cemit é um órgão que tem como objetivo monitorar e desenvolver estratégias para lidar com os incidentes relacionados aos tubarões no litoral pernambucano. É é um colegiado, que existe desde 2004, composto pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Secretaria de Ciência e Tecnologia e Inovação (SCTI) e Secretaria de Defesa Social (SDS), todos na qualidade de membros efetivos.
Além desses membros, também participam do comitê, na qualidade de convidados, as seguintes instituições: UFPE, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade de Pernambuco (UPE), prefeituras, dentre outros.
O vice-reitor Moacyr Araújo, docente do Departamento de Oceanografia, destacou a importância da educação ambiental e de conviver com os tubarões, respeitando o seu habitat natural.
“Não existe ex-lugar de ataque de tubarão. Uma vez que existe ataque naquele determinado lugar, ele nunca deixou de existir, isso em todo lugar do mundo. O que nos leva a ter a percepção de que nós precisamos conviver com isso. A coincidência de fatores [que causam os ataques] pode até ser minimizada pela ação do homem. Por isso que, se existe uma baía, em qualquer lugar do mundo, onde sempre teve ataque, sempre teve e sempre vai ter. Assim como sempre teve ataque e sempre vai ter na costa da Região Metropolitana do Recife. Em vez de lutar contra o fator natural de termos tubarões, deveríamos montar um super oceanário pra mostrar esses animais, estudá-los e ser uma atração turística muito legal. Assim, poderíamos difundir como são belos, interessantes os tubarões e o que podemos fazer para conviver com eles”, disse.
Para a professora Tereza Araújo, também do Departamento de Oceanografia, e coordenadora das ações da UFPE relacionadas ao Cemit, a primeira e mais urgente questão é também a da educação ambiental, pois a população precisa se conscientizar que não pode entrar nas águas das praias da RMR.
“A primeira e urgente é a questão da educação ambiental. Temos que divulgar, divulgar e divulgar, usando a linguagem correta (baseada na ciência), e que a população entenda (popularização da ciência). Essa parte já está acontecendo, participamos de reuniões que estão sendo encabeçadas pela CPRH [Agência Estadual do Meio Ambiente] e Semas [Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Governo de Pernambuco] e ações de conscientização já começaram a ser implementadas nas praias”, afirmou.
AÇÕES
Entre as ações que a UFPE está tomando em curto prazo estão a integração ao Cemit, ajudar nas ações de educação ambiental por meio do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) e do Projeto EducaOcean, e contribuir com a Popularização da Ciência, também por meio deste último projeto citado.
No médio prazo, a Universidade pretende montar um grupo de trabalho envolvendo diversas áreas de conhecimento (Oceanografia, Cartografia, Biologia, Geologia, Modelagem de Ecossistemas, Tomada de Decisão, Políticas Púbicas, Educação Ambiental, Saúde, Comportamento Humano ligado à Exposição a Riscos etc.); completar o mapeamento do relevo da plataforma continental interna da RMR – principalmente na lacuna que existe na região entre a praia de Itapuama e o Porto de Suape –; e realizar pesquisas para entender a questão trófica da área, padrão das correntes, temperatura, salinidade etc.
Também objetiva implementar Unidades de Conservação (UCs) com seus planos de manejo aprovados nos estuários da RMR, visto que os mesmos são berçários da cadeia alimentar dos tubarões; entender a questão dos estoques pesqueiros, como evoluíram nos últimos tempos; e desenvolver metodologias para que se conviva com a presença dos tubarões na área.
Já no longo prazo, a UFPE planeja mapear o relevo de toda a plataforma continental de Pernambuco; implementar UCs com planos de manejo aprovados nos demais estuários do estado; desenvolver modelos com dados oceanográficos para analisar padrões de correntes na área, se houve mudanças ao longo do tempo (nos parâmetros oceanográficos); e realizar pesquisas sobre a produtividade primária, que possam ter causado mudanças nos peixes que servem de alimentação para os tubarões.
Além disso, a instituição objetiva desenvolver estudos sobre o comportamento dos tubarões, fazendo conexão com o padrão global do comportamento dos mesmos e investigar possíveis mudanças ao longo do tempo. Para isso, parcerias com outras instituições nacionais, como a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e internacionais, que tenham expertise no assunto, serão fundamentais.
Da assessoria da UFPE