RMR: Homem sobrevive a atentado e polícia busca suspeitos

Familiares acreditam que crime foi cometido por vigilantes de uma empresa privada e que teriam confundido vítima com alguém que tentava roubar cabeças de gado

por Vitória Silva qua, 19/04/2023 - 18:13
Cortesia José Ricardo Alves, de 38 anos, alvejado em propriedade privada em São Lourenço da Mata Cortesia

Um homem de 38 anos foi vítima de uma tentativa de homicídio em uma área rural próxima a Matriz da Luz, em São Lourenço da Mata, no Grande Recife, no último dia 9 de abril. José Ricardo Alves, que é morador da região, foi baleado no rosto e na perna e chegou a ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Restauração, na área central da capital pernambucana, mas foi transferido para a enfermaria da unidade e seguia estável até o momento desta publicação. 

A Polícia Civil de Pernambuco abriu um inquérito para apurar o caso e está aceitando informações, com garantia de sigilo absoluto (mais instruções ao fim da reportagem). A família acredita que José Ricardo foi alvejado por vigilantes armados, que protegiam uma propriedade privada na região e que teriam confundido José com alguém tentando roubar cabeças de gado. 

O crime aconteceu em Chã de Aruá, parte do Engenho Pixaó, no distrito de Nossa Senhora da Luz. De acordo com a vítima, a propriedade é antiga e pertence à Usina Petribu, do ramo açucareiro. Em contato com o LeiaJá, a empresa negou ter conhecimento do caso. Saiba mais abaixo. 

O que diz a família da vítima? 

Segundo Gilsa, irmã de José Ricardo, o homem tinha saído para orar, por volta das 16h do domingo, 9 de abril, e seguiu para uma parte mais alta da vila Matriz da Luz. José é evangélico e frequenta uma igreja local há anos, mas tinha o hábito de fazer orações em locais isolados, por questões religiosas. No dia do crime, vigilantes, que estavam em ronda rotineira nas imediações, confundiram José com um ladrão de gado, no momento em que a vítima deixava o local. 

"Conversei com ele e ele me contou que estava orando e esses dois vigilantes da usina pararam ele para perguntar o que ele estava fazendo. Ele disse 'estou orando pela gente', mas os seguranças não acataram e disseram [sic] 'vamo ali' e arrastaram o meu irmão para um canavial. Eles diziam o tempo todo que o meu irmão era ladrão de boi", relatou Gilsa. José Ricardo Alves foi atingido na boca e na perna; a bala disparada contra o rosto do homem ficou alojada no nariz.  

Segundo José, ele precisou prender a respiração e fingir que estava morto para não ser mais alvejado. O homem teria conseguido “se arrastar” até um sítio próximo, onde pediu ajuda. Como a família é conhecida na região, a esposa de Ricardo foi localizada e o acompanhou ao hospital mais próximo. 

O homem foi admitido na Upinha de Matriz da Luz e depois, no Hospital e Maternidade Petronila Campos, onde foi intubado de imediato, por causa da hemorragia. Ainda no dia 9 de abril, foi transferido para a Restauração e ficou na UTI do hospital por uma semana, até a noite de 16 de abril. O HR confirmou a entrada do paciente e o estado de saúde informado no início da publicação.  

O que diz a Polícia Civil? 

Em nota, a PC-PE informou que “registrou no dia 09.04, através da 18ª Força Tarefa de Homicídios da região Metropolitana Norte, a ocorrência de tentativa de homicídio, no parque Capibaribe, município de São Lourenço da Mata. A vítima, um homem de 38 anos, foi ferido por disparos de arma de fogo, socorrido para uma unidade hospitalar na região, e posteriormente, transferido para um hospital na capital devido a sua complexidade. Um inquérito policial foi instaurado e qualquer informação sobre esta ocorrência, poderá ser repassada para a ouvidoria da SDS, com garantia de sigilo absoluto”. 

A ouvidoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, através dos números 0800-081-5001 e (81) 9.9488-3455. As investigações seguem em andamento até o esclarecimento do crime. 

O LeiaJá ouviu uma fonte policial que acompanha o caso e presta suporte à família. De acordo com o agente, o inquérito está “adiantado” e já foram ouvidas algumas testemunhas e possíveis envolvidos, além da vítima. Até a última sexta-feira (14), foram ouvidos José Ricardo; um homem que prestou socorro a José Ricardo; e a esposa da vítima. Dois vigilantes que trabalhavam na região onde o crime ocorreu, em 9 de abril, foram intimados na segunda-feira (17) e foram na terça-feira (18). 

A Polícia Civil solicitou a uma empresa com propriedades na região que entregasse uma lista com o nome dos vigilantes em escala no dia 9 de abril, além da autorização para a realização do trabalho sob porte de arma de fogo, de acordo com a resolução da Polícia Federal. Foi entregue às autoridades uma lista constando 62 profissionais de segurança e, a partir dela, foram identificados dois homens trabalhando próximo à propriedade onde José Ricardo foi alvejado.  

Como o inquérito segue aberto, a polícia não pode tecer mais comentários sobre o caso, para não atrapalhar as investigações. Assim, ainda não é possível confirmar a empresa contratante dos vigilantes. 

Resposta da Usina Petribu 

O LeiaJá buscou o setor jurídico e agrícola da Usina Petribu para obter mais informações sobre uma possível ocorrência no último dia 9 de abril, em uma propriedade privada de Matriz da Luz, em São Lourenço da Mata. O contato foi realizado por ligação telefônica e também pelo WhatsApp. A empresa negou ter conhecimento de qualquer ocorrência grave ou de cunho policial que tenha acontecido em propriedade Petribu nos últimos meses. O grupo também disse não ter sido notificado sobre o caso. 

Foram contatados Luiz Jatobá, engenheiro agrônomo da área de Produção da Usina Petribu, para informar se a propriedade Chã de Aruá, parte do Engenho Pixaó, pertence à empresa; e também Gilka Gouveia, advogada e porta-voz do setor jurídico. Nenhum dos representantes quis informar se a área está sob posse da empresa. O espaço segue aberto. 

 

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