Iraque busca antídoto para uso de drogas sintéticas

País limítrofe com Irã, Síria e Arábia Saudita, o Iraque é há muito tempo um país de trânsito de drogas, mas nos últimos anos o consumo disparou

seg, 31/07/2023 - 09:58

Durante sete anos, Mohamed, de 23 anos, ingeriu cerca de dez comprimidos de captagon diariamente e agora quer se livrar de um vício que pode levá-lo à morte, ou a uma prisão no Iraque, que trava uma guerra às drogas.

País limítrofe com Irã, Síria e Arábia Saudita, o Iraque é há muito tempo um país de trânsito de drogas, mas nos últimos anos o consumo disparou.

Para remediar esta situação, o governo concentra sua atenção nos dependentes químicos e abriu três centros de reabilitação em al-Anbar (oeste), Kirkuk (norte) e Najaf (centro), nos quais são alojados dependentes químicos que foram presos, para separá-los dos traficantes na prisão. Uma experiência que as autoridades querem estender a outras províncias.

Os narcóticos mais comuns são a metanfetamina, que chega do Afeganistão, ou do Irã, e o captagon, um tipo de anfetamina, produzido em escala industrial na Síria e que cruza a fronteira com o Iraque para inundar as monarquias ricas do Golfo - principalmente a Arábia Saudita, o maior mercado consumidor.

Inaugurado em abril, em Bagdá, o Centro de Reabilitação Social Al-Canal é uma clínica do Ministério da Saúde que recebe atualmente cerca de 40 dependentes que chegaram por iniciativa própria. Um deles é Mohamed, que toma entre "dez e 12" comprimidos de captagon diariamente, conta ele sob um pseudônimo.

A droga "deixa você dinâmico, te dá energia e te mantém acordado", disse à AFP este rapaz de Al-Anbar, uma província desértica no oeste do Iraque, na fronteira com a Síria.

Segundo ele, "está por todo lado", já que um comprimido custa dois dólares (9,40 reais na cotação atual).

Mohamed passou duas semanas no Centro, voltou para casa e depois retornou ao centro com medo de cair novamente em tentação, porque o captagon "te leva à prisão ou à morte", diz este funcionário de uma mercearia.

- "Flagelo" -

O centro tem uma seção para homens, e outra, para mulheres. As internações duram cerca de um mês e os pacientes recebem apoio psicológico. Quando recebem alta, retornam semanalmente para um acompanhamento de seis meses.

"Recebemos todas as idades", disse o diretor do Centro, Abdel Karim Sadeq Karim, embora a maioria de seus pacientes esteja na casa dos 20 anos e consuma principalmente metanfetamina. "Desde a primeira dose, há dependência", afirmou.

"É um flagelo que destrói totalmente o indivíduo", confirmou seu vice-diretor, Ali Abdallah, acrescentando que o uso de drogas aumentou depois de 2016.

De fato, as forças de segurança iraquianas anunciam prisões quase diariamente. Entre outubro de 2022 e junho de 2023, mais de 10.000 pessoas foram detidas por "crimes relacionados a entorpecentes: traficantes, transportadores, revendedores, ou consumidores", disse à AFP o porta-voz da Direção de Narcóticos e Entorpecentes, Hussein al-Tamimi.

Este órgão apreendeu 10 milhões de comprimidos de captagon e 500 quilos de entorpecentes, dos quais cerca de 385 quilos eram de metanfetamina.

O sucesso das operações se deve ao aumento da cooperação regional, à coleta de informações e à Inteligência.

- Mercado promissor? -

Segundo dados oficiais, compilados pela AFP, pelo menos 110 milhões de comprimidos de captagon foram apreendidos no Oriente Médio em 2023.

O Iraque se tornou uma importante zona de trânsito de captagon, porque a vizinha Jordânia, outro país de trânsito, reforçou suas fronteiras e não hesita em abrir fogo contra os traficantes, disse à AFP um diplomata ocidental em Bagdá.

Sendo assim, para financiar os direitos de passagem, os traficantes revendem a droga em território iraquiano e, com isso, reforçam o consumo local.

"Potencialmente, isso pode representar um verdadeiro mercado, se houver expansão econômica e aumento do poder de compra", disse uma fonte anônima, que destacou o alto percentual de jovens em uma população de 43 milhões de habitantes.

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