'A luta de Chico Mendes nunca esteve tão atual'
Declaração é do historiador Michel Chaves sobre o ativista ambiental
Se estivesse vivo, Chico Mendes provavelmente estaria decepcionado com a situação das grandes cidades brasileiras. A deflagração do meio ambiente e o descaso dos governos com a questão da sustentabilidade seriam repudiados pelo ex-líder seringueiro. No próximo domingo (22), completa-se 25 anos da morte do ativista ambiental, como muitos na história, seu legado não é tão reconhecido pela sociedade.
Francisco Alves Mendes Filho foi morto na porta de sua casa, em Xapuri, no Acre, no dia 22 de dezembro de 1988. O crime foi cometido pelo fazendeiro Darly Alves da Silva e o seu filho Darci, acusado de ter disparado. Ao todo, os dois só passaram nove anos na prisão.
Nascido em dezembro do ano de 1944, Chico Mendes ganhou a vida extraindo látex das seringueiras da floresta amazônica. Por ser pobre e analfabeto, ele não teve outra opção a não ser entrar para o mesmo ofício do seu pai – até a década de setenta as escolas não existiam na região. Por conta disso, ele só começou a ter contato com a leitura aos vinte anos de idade. Na história, há relatos que o futuro líder seringueiro, aprendeu a ler por incentivo de comunistas que participavam das movimentações políticas do País.
Engajado nas ideias sócio-comunistas, Chico Mendes atuou na luta pela posse de terra contra os latifundiários da Região Norte. Ele chegou a sofrer ameaças de morte. A perseguição ao líder seringueiro ocorreu no contexto da ditadura militar. Acabou sendo preso e torturado. Na época, sua causa não teve tanta adesão dos pequenos agricultores, que eram ameaçados pelos fazendeiros locais.
“A trajetória de Chico Mendes é de suma importância para a região Norte e para o restante do País. Não só como sindicalista e seringueiro, foi ativista da preservação/difusão da Amazônia (coisa óbvia por seringueiro e ter consciência sobre seu trabalho). No meio político, representativo, foi vereador (MDB) e fundador do PT, na qual foi dirigente. Além da preservação da natureza, havia a luta por justiça social que culmina até hoje como uma grande escola para se organizarmos socialmente”, explicou o historiador Michel Chaves.
Em 1985, Chico Mendes liderou um movimento que ficou conhecido internacionalmente. No Encontro Nacional dos Seringueiros, sua luta ficou sendo mais conhecida pelo mundo, principalmente depois da ideia de se unir aos índios através da proposta chamada “União dos Povos da Floresta”.
“Não é fácil se contrapor e colocar um caminho alternativo, mas o Chico fez isso, vinculando-se a conceitos que estão atuais hoje, no outro século. Os que pensavam em acabar ou enfraquecer a sua causa, terminaram, de certa forma, produzindo um efeito contrário”, ressaltou o historiador.