Sentimento patriota diminui entre os pernambucanos

Cientista político aponta descrença na política como principal fator de repulsa ao patriotismo

por Elaine Ventura dom, 07/09/2014 - 06:08
Victor Soares/LeiaJáImagens/Arquivo Militares desfilam em Pernambuco Victor Soares/LeiaJáImagens/Arquivo

O tradicional desfile de sete de setembro é um marco cívico de patriotismo, mas os pernambucanos têm deixado de comparecer ao evento ano a ano. Vestir as cores da bandeira brasileira, levar bandeirinhas e os filhos pequenos para assitir ao desfile não é uma prática mais tão comum como costumava ser. Cientistas políticos não veem isso como um fato isolado, pois em várias cidades brasileiras tiveram o número de pessoas que prestigiam o desfile reduzido.  

De acordo com o especialista Maurício Romão, a tradição brasileira de comemorar o dia da Independência está perdendo o significado, pois a população deixou de estimular o sentimento patriota. Outra questão abordada por Romão foi o fato do dia ser celebrado com um desfile militar, diferente dos Estados Unidos, que faz da data uma grande festa. “Antigamente o sentimento patriota estava presente nas casas, nas escolas. Mas a questão cultural tem mudado essa realidade. Outro fator que tem afastado a população dos desfiles é a forma como o dia é celebrado. Nos EUA, por exemplo, o dia da Pátria é marcado com uma grande festa e não com um desfile militar. Isso representa que no Brasil ainda prevalece a época do regime militar. Talvez se fosse um evento mais festivo, a presença da população seria fortalecida”, afirmou Romão. 

A descrença na política também tem estimulado a rejeição dos brasileiros em relação a eventos patriotas. A dona de casa Ana Lúcia do Nascimento declarou que costumava participar das festividades, mas diante dos inúmeros escândalos de corrupção ela ‘não vê mais sentido’ em celebrar a independência do Brasil, pois considera que a população está aprisionada aos atos dos políticos corruptos. “Eu fazia questão de assistir ao desfile de 7 de setembro. Acordava cedo, vestia blusa com uma das cores da bandeira e sempre estava acompanhada da família. Mas hoje, a gente vai celebrar o que? O país conquistou uma independência simbólica, porque estamos acorrentados a corrupção e aos péssimos serviços públicos. Então é desnecessário perder tempo com algo que será lembrado um único dia, se não somos lembrados e nem valorizados diariamente. Para mim é um dia comum”, pontuou a dona de casa. 

Segundo o cientista político, Hely Ferreira, o patriotismo de hoje é revelado apenas diante de eventos esportivos, como a copa do mundo. O cientista revela que a população ‘chora’ quando se depara com a eliminação da seleção brasileira na copa, mas não sofre com os problemas diários enfrentados pelo Brasil. “Podemos dizer que o sentimento patriota só é aflorado diante de mundiais. E não é um fato isolado, pois os eventos esportivos mexem com a rotina não só das pessoas, mas do país. E por que isso não acontece no dia da independência? Porque deixamos de acreditar que é necessário comemorar a data. Muitas pessoas choraram quando o Brasil foi eliminado na copa, mas não fazem isso quando se deparam com a dura realidade brasileira, com as emergências hospitalares lotadas, por exemplo”, criticou.  

Mas nem todo mundo pensa que a Independência do Brasil não deve ser festejada. O comerciário Alexandre Santos costuma prestigiar o desfile de 7 de Setembro. Ele defende que a data é um marco histórico e não deve perder o seu valor e ser relacionada à política. “O Brasil se tornou independente e isso deve ser celebrado. Eu comemoro assistindo ao desfile. Não vejo ligação política, pois são contextos diferentes. Domingo estarei lá, em mais um desfile”, concluiu Alexandre. 

O desfile para celebrar o dia da Independência do Brasil será realizado no próximo domingo, na Avenida Marechal Mascarenhas de Morais, na Imbiribeira, Zona Sul do Recife. O evento começa às 8h da manhã e conta com a participação de 4 mil estudantes, além de militares aposentados e da ativa das Forças Armadas.

A organização do evento estima que 10 mil pessoas assistam ao desfile cívico-militar. Ao longo do percurso haverá 9 postos de atendimentos médico, 11 ambulâncias   e 30 profissionais de saúde prestando assistência durante o evento. As autoridades terão visão privilegiada do desfile. O palanque das autoridades será montado em frente ao Ginásio de Esportes Geraldo de Magalhães Melo, o Geraldão.

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