'Queimada' no PT, qual será o futuro de Marília Arraes?
A tensão com o próprio partido foi agravada após a vitória avulsa na Segunda Secretaria da Câmara. O cientista político e professor universitário, Arthur Leandro, analisou os critérios que podem indicar o destino da parlamentar
Como quem nada contra a maré, a deputada federal Marília Arraes se movimenta em busca de protagonismo dentro do PT, no entanto quase todas suas jogadas para conquistar visibilidade são contidas pelo partido. A relação frágil ficou ainda mais delicada após a eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, a qual a pernambucana foi chamada de 'traidora' ao lançar candidatura avulsa e sair vitoriosa. Com o destino incerto, o cientista político e professor universitário, Arthur Leandro, analisou os critérios que podem definir uma eventual troca de legenda da parlamentar.
O estudioso lembra que a tradicionalismo do PT valoriza os representantes que construíram carreira dentro da estrutura partidária e Marília é originária do PSB. Integrante da ala jovem dos socialistas, além do desalinho com a antiga sigla, a saída ganhou forma com a frustração de ser preterida pela candidatura do ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB).
Já no PT, a tensão com as lideranças estaduais se agravou quando foi impedida de ser a concorrente do governador Paulo Câmara (PSB), na disputa pela reeleição no comando do Palácio do Campo das Princesas. A interferência do senador Humberto Costa (PT) seria uma das razões. "O PT tem como uma de suas marcas a orientação partidária. Não é um partido em que os quadros possam se lançar com independência e o partido no estado tem a influência direta do senador Humberto Costa, que tem sido uma figura de choque com Marília", indicou Leandro.
Sustentada por si só, a derrota para João Campos (PSB) na disputa pela Prefeitura do Recife fez com que a parlamentar se aproximasse de figuras locais até então 'opostas' do ponto de vista ideológico. Para o especialista, o apoio do ex-senador Armando Monteiro (ex-PTB) e dos prefeitos de Jaboatão e Caruaru, Anderson Ferreira (PL) e Raquel Lyra (PSDB) mostra certa habilidade política. "Mostra que a capacidade de articulação de Marília extrapola seu local político originário, o que faz muito sentido. Afinal, você não faz aliança com seus correligionários, você faz alianças com lideranças políticas de campos distintos. Então Marilia se mostra versátil", aponta.
Mas qual seria o futuro de Marília com uma possível saída do PT após tantos desconfortos? Para avaliar o destino da congressista, Arthur Leandro destaca sua atuação em pautas ‘identitárias’ e considera que ela seja "um quadro no campo da centro-esquerda, com possibilidade de sucesso, ou de algum protagonismo, no campo da chamada esquerda 'comportamental'". Desse modo, a parceria com o companheiro de chapa, o candidato a vice prefeito João Arnaldo (PSOL), pode ser realinhada.
"Marilia é um quadro político que fala claramente das questões relativas aos direitos das mulheres, a questão racial. Então, isso faz com que ela tenha um diálogo junto com o PSOL, que é um partido identificado com essas pautas e, inclusive apoiou Marília nas eleições de 2020", reforça. Além de projetar maior apoio do PSOL, o cientista lembra que ela pode surgir como aposta de um partido de centro, com uma conotação “mais social democrática”, como o PSDB, que sofre em Pernambuco com a carência de figuras de expressão.
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