Bolsonaro é sondado para cúpula da Covid criada por Biden
Apesar de não estar vacinado e possuir uma agenda de saúde controversa, Bolsonaro entra no radar pelo potencial brasileiro na produção de vacinas
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pretende criar, nos próximos dias, uma cúpula que coordenará posições e ações de grandes países sobre a pandemia e a vacinação contra a Covid-19. O Brasil, segundo fontes no Itamaraty, está no radar do democrata para integrar o grande grupo, apesar de um histórico tenso com relação ao negacionismo científico e contra medidas sanitárias acordadas cientificamente em todo o mundo. A informação foi confirmada à coluna de Jamil Chade, por membros do Ministério, que disseram que consultas foram realizadas por americanos sobre a participação do governo brasileiro.
Na Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, porém, não há confirmação sobre a presença do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que até hoje não se vacinou. O objetivo de Biden é aproveitar a Assembleia Geral da ONU, que ocorre na semana que vem, para fechar de uma maneira paralela um compromisso global de governos para que haja uma maior distribuição de vacinas e um aumento de produção. Já está confirmada a presença do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que poderá anunciar durante o evento a retomada de exportações de vacinas da Índia.
O país asiático era a grande aposta de fornecimento de doses pelo mundo. Mas, diante de um avanço importante da covid-19 em suas cidades, as autoridades indianas optaram por impedir as exportações de doses em abril de 2021. A medida ampliou o desabastecimento mundial e aprofundou a crise entre países ricos e países em desenvolvimento. Hoje, a OMS insiste que o "apartheid de vacinas" é uma realidade. Enquanto o continente africano conta com apenas 2% das 5,7 bilhões de doses administradas, começa a sobrar vacina nos países ricos.
No caso brasileiro, a OMS considera que o país tem o potencial de ser um dos futuros pilares da exportação de doses, a partir de 2022 e principalmente para a América Latina, região que também sofre com o desabastecimento. Em sua única entrevista exclusiva a um jornal brasileiro, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, insistiu há duas semanas que a solução para a pandemia passa por ampliar a produção de vacinas e "compartilhar mais". Nessa estratégia, uma das apostas é garantir uma maior produção de doses no Brasil, inclusive para iniciar exportações e fornecimento para a região latino-americana.
"O Brasil pode ajudar a si mesmo e ajudar muitos países", disse. "O Brasil tem a capacidade e estamos falando com Fiocruz e Butantan, além de trabalhar com o Ministério da Saúde", explicou. Depois de falar com o UOL, Tedros subiu ao palco de um evento internacional e, em seu discurso para líderes, citou a conversa com a reportagem do UOL. "Acabei de conversar com um jornalista brasileiro e a mesma pergunta volta. Quando vai terminar a pandemia? Quando o mundo escolher acabar com ela. Está em nossa mão", completou.