Tópicos | ABC Brasil

O ciclo de alta da Selic tende a ser menor por ter começado antes do esperado, surpreendendo parte do mercado, avaliou o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, em entrevista ma quinta-feira (30), ao Broadcast ao Vivo, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Segundo ele, o Banco Central acertou ao elevar a taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de quarta-feira, 29, quando isso não estava precificado, já que assim a decisão tem um impacto maior.

"Se você está precisando adquirir credibilidade, a única forma de mexer com o mercado nesse sentido é surpreendê-lo. Se você fizer tudo dentro do script, não altera as expectativas", diz. "O BC não precisa avisar tudo o que vai fazer; surpresa ajuda a reconstruir credibilidade."

##RECOMENDA##

Outro fator que indica que o ciclo de aperto monetário pode ser menor do que o esperado é o comunicado do BC após a reunião em que elevou a taxa, no qual ele diz que "considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016".

A votação apertada, com cinco votos favoráveis ao aumento e três que queriam manutenção da taxa Selic, também colabora com essa visão de que o ciclo pode ser menor, com um aumento total de 1,0 ponto porcentual, segundo Leal. "O tamanho do ciclo vai depender dos desdobramentos do mercado internacional, da pressão do câmbio, da política fiscal e da pressão dos preços administrados", diz.

Segundo ele, a ata da reunião, que será divulgada na próxima quinta-feira, pode trazer informações importantes sobre o futuro da política monetária. Leal também diz que o BC talvez tenha ajudado o governo, já que as primeiras sinalizações da presidente Dilma Rousseff (PT) após sua reeleição é de uma maior responsabilidade com a política fiscal e uma política monetária mais ajustada.

O resultado do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de março, de 1,48%, veio abaixo do esperado, avaliou o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal. Apesar de ter sido o maior da série desde julho de 2012, quando marcou 1,52%, o economista destacou que o IGP-M, divulgado no fim de março, havia subido 1,67%. Nesta comparação, portanto, o IGP-DI já perdeu um pouco de força. "Quando olhamos essa sequência, (a taxa) já mostra desaceleração em relação ao IGP-M, que foi o teto", analisou Leal. "A tendência dos IGPs é desacelerar ainda mais", acrescentou.

A principal contribuição para esse movimento virá dos preços agropecuários. Depois de subirem 5,58% no IGP-DI de março, Leal acredita que o próximo indicador trará uma taxa entre 3% e 3,5% para os produtos desta origem.

##RECOMENDA##

A grande preocupação, contudo, é com as influências repassadas aos preços no consumidor. Segundo ele, a alta de bovinos e aves no atacado deve começar a aparecer com mais força no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), dentro dos IGPs, bem como no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE e considerado a inflação oficial do País. Isso porque soja e milho, principais matérias-primas das rações, estão subindo fortemente no atacado. "As rações são mais da metade do custo das aves. Isso é preocupante", justificou Leal.

Segundo ele, a alta dos in natura, apesar de intensa, tem um ciclo mais curto e "devolvem" mais rapidamente as taxas elevadas. "No caso dos bovinos, demora mais tempo, e isso é uma das coisas que já vai pressionar o IPCA de março e de abril", disse o economista.

Leal espera uma taxa de 0,85% no IPCA de março. Em abril, a inflação dificilmente ficará abaixo de 0,70%, acrescentou. "A alimentação deve vir na casa dos 1,5% nos dois meses", disse. No caso dos IGPs, a desaceleração será ajudada ainda pela queda nos preços do minério de ferro, na esteira das expectativas de crescimento menor da China. Apesar disso, o IPC deve continuar acelerando em abril, estimou Leal.

Os dados da produção industrial de janeiro vieram melhores do que o esperado pela economista Mariana Hauer, do Banco ABC Brasil, mas continuam indicando volatilidade do setor e não chegam a animá-la. Segundo ela, os números foram inflados em grande parte pela produção de caminhões. "Foi um pouco melhor, praticamente em função da produção de caminhões, o que ajudou a inflar bens de capital", afirmou ao Broadcast, serviço de informações da Agência Estado.

Segundo a economista, o avanço de 10% da produção de bens de capital, na margem, e de 2,5% na comparação com janeiro de 2013, reflete os estímulos do governo concedidos à produção de caminhões. "Também é um reflexo do que ocorreu antes, da queda passada", explicou, ao se referir à retração de 3,50% da produção industrial em dezembro e que hoje foi revisada para declínio de 3,7% pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

##RECOMENDA##

A alta de 2,9% da produção industrial, na margem, veio mais intensa do que a esperada pelo Banco ABC Brasil, que previa crescimento de 2,6%. Na comparação com janeiro de 2013, a queda de 2,4% foi menos expressiva do que o recuo de 3,4% previsto pelo banco. O resultado da produção da indústria em janeiro em relação a dezembro, com ajuste sazonal, ficou dentro do intervalo das expectativas dos analistas na pesquisa do AE Projeções (de 1,00% a 3,20%, com mediana de 2,50%). O dado no confronto com janeiro de 2013 também veio conforme o esperado pelo mercado, cujas previsões eram de baixa de 1,20% a 5,00%, e mediana negativa de 3,40%.

Mariana diz ainda que os efeitos do fim dos incentivos a bens duráveis já começam a ser mais perceptíveis. Segundo o IBGE, a categoria de bens de consumo duráveis subiu 3,8% ante dezembro, mas caiu 5,4% em relação a janeiro de 2013. "Na comparação interanual, trata-se da quarta queda consecutiva. Foi influenciada basicamente pela queda da produção de automóveis e de linha branca", disse.

A economista afirmou que, apesar de os números terem ficado um pouco melhores do que o previsto e a produção de bens de capital ter avançado, é preciso cautela. "Se a alta em bens de capital fosse disseminada, ficaria feliz, mas a indústria segue volátil. É preciso avaliar os próximos dados da indústria. O crescimento dos outros setores não chegou a apagar as quedas passadas", concluiu.

A nova alta de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic, anunciada na quarta-feira, 28, pelo Comitê de Política Monetária (Copom), mostra que o objetivo do Banco Central neste momento é aumentar a credibilidade e atuar no canal da previsibilidade, afirmou nesta quinta-feira, 29, o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal. "Tanto a fala do Tombini na última semana quanto os leilões e o comunicado do Copom, igual ao da última reunião, apontam para certa previsibilidade", comentou Leal. Para o economista, "já há uma situação de incerteza no mercado" e por isso o BC não deseja gerar mais volatilidade.

A ata da reunião de quarta-feira, 28, segundo Leal, deve trazer o mesmo tom da última divulgada. "Não deve ter surpresas. Ele deve se mostrar atento à questão do impacto do câmbio sobre a inflação." Com o aumento da credibilidade, o Banco Central tenta minimizar o efeito da alta do dólar para a inflação, explica.

##RECOMENDA##

Leal espera uma alta de 0,5 ponto porcentual da Selic na próxima reunião do Copom, a menos que o quadro mude por conta de fatores como uma possível piora na situação da Síria e mudanças na atuação do Fed.

A economista do Banco ABC Brasil Mariana Hauer disse que o mercado de trabalho seguirá pressionando a inflação. "Essa pressão vai continuar enquanto o mercado de trabalho estiver aquecido", afirmou ela, ao analisar a taxa de desemprego, que subiu de 5,7% em março para 5,8% em abril, segundo informou nesta quinta-feira, 23, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é a menor para um mês de abril desde o início da série histórica, em março de 2002.

Mariana disse que o cenário do mercado de trabalho permanece estável. "Por enquanto, não podemos falar em qualquer tendência." Ela afirmou que uma mudança desse quadro não deve ocorrer tão cedo. Por isso, a economista, que não havia fechado os cálculos para a projeção de maio, adiantou que o cenário "não deve mudar muito".

##RECOMENDA##

Segundo o IBGE, o rendimento médio real dos trabalhadores registrou baixa de 0,2% em abril ante março. Mariana disse que essa queda na margem já era esperada "porque o mercado de trabalho se estabilizou, a taxa de desemprego parou de cair". Segundo ela, o rendimento médio real, mesmo quando se analisado por setores ou regiões, permanece estável.

O conteúdo da ata do Copom divulgada nesta quinta-feira, 25, pelo Banco Central configura uma combinação do teor do comunicado que se seguiu ao término da reunião do colegiado na quarta-feira da semana passada e do discurso feito pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva.

Na palestra promovida pelo banco JP Morgan, durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington, na semana passada, o diretor justificou o seu voto contrário à elevação da Selic com o argumento de que teria votado contra mais por uma questão de timing do que por diagnóstico.

##RECOMENDA##

A elevação da Selic em 0,25 ponto porcentual, de 7,25% para 7,50% ao ano, se deu sob um placar de seis votos a favor da alta e dois pela manutenção. Além de Awazu, o outro diretor que foi voto vencido no Copom foi o de Política Monetária, Aldo Mendes.

Segundo Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, o encadeamento dos parágrafos 28 e 29 da ata representa a síntese da combinação do comunicado com a fala de Awazu. No tópico 28, de acordo com o economista, está o comunicado e, no seguinte, a formalização do discurso do diretor de Assuntos Internacionais do BC.

A ata, segundo o economista, dá a entender que o a elevação da Selic na semana passada é o início de um ciclo de aperto monetário, mas que o BC não se compromete com este ciclo. "Alta de juro é consenso no Copom, mas o BC não se compromete com uma nova elevação", diz.

Para ele, a ata deixa a questão tão em aberto que credencia o BC até a não aumentar mais a Selic. "Antigamente quando o BC indicava um início de ciclo, ele se comprometia com ele. Agora ele não se compromete e deixa a porta aberta para até mesmo não se elevar mais a Selic", completa.

Ao recuar 2,5% em fevereiro na comparação com janeiro, a produção industrial desfaz a tendência de recuperação da atividade no setor que começava a se desenhar em janeiro, avaliou a economista Mariana Hauer, do banco ABC Brasil.

Da análise que fez dos dados da produção industrial de fevereiro, divulgada nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mariana consegue ver apenas no segmento de bens de capital alguma tendência de recuperação.

##RECOMENDA##

"Mas os outros dados vieram muito fracos e não foram só os de carros, não", observa a economista, ao se referir à queda de 9,1% da produção de veículos na passagem de janeiro para fevereiro, segundo o IBGE, e de 17,9%, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Além disso, ressalta Mariana, a produção de bens intermediários caiu 1,3% em fevereiro ante janeiro por causa da queda de 5,8% no refino de petróleo e produção de álcool. A indústria da extrativa mineral, de acordo com o IBGE, caiu 7% em janeiro e 1,9% agora em fevereiro.

Outro dado de produção que não agradou a economista do ABC Brasil foi a média móvel trimestral da produção industrial, que fechou estável em relação a janeiro. Para ela, do ponto de vista de impacto na formação do indicador de PIB no primeiro trimestre, esta é uma variável ruim.

Por enquanto, o Departamento Econômico do ABC Brasil trabalha com uma projeção de 1% de crescimento da economia de janeiro a março, mas esta previsão, de acordo com Mariana, poderá ser revisada para baixo. "Só estamos esperando o IBC-Br e os dados de vendas do varejo para ver se vamos manter ou não a nossa projeção", diz a economista.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando