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Sobre os tons predominantemente cinzas do setor de oncologia do Hospital Oswaldo Cruz, no bairro de Santo Amaro, na área central do Recife, as roupas coloridas, extravagantes e fora dos padrões de vestimenta de três jovens se destoam. As estudantes de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE), Maria Eduarda Bizarro, 19, Thatyana Maranhão, 24, e Lia Schmitt, 21, são três dos 25 discentes do curso que participam do projeto “Entrelaçados”, que promove a chamada “palhaçoterapia” em setores hospitalares.
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Pelos corredores das recepções do setor de oncologia, o Portal LeiaJá acompanhou o que, na prática, é o projeto de extensão em palhaçoterapia da UPE. Com brincadeiras entre si e com os pacientes que esperam atendimento, as palhaças “colorem” o ambiente onde circulam. Os olhares curiosos observam as três jovens que caminham, em tom de brincadeira, pela unidade hospitalar.
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Os ‘Palhaçopacientes’
A contribuição da palhaçoterapia para a vida de quem aguarda nos leitos e nas filas de espera de hospitais vai além do que os olhos podem enxergar. Diagnosticada com um câncer de mama em 2013, a dona de casa Maria José da Silva, de 62 anos, lembrava-se dos tempos de juventude e da persistência em continuar a seguir uma vida feliz. “Vendo as meninas aqui, eu me lembrei do que eu faço. Eu sou cirandeira, brinco, faço festa e gosto dessa animação”, conta a paciente.
Maria José ainda diz que a participação das “palhaças” na recepção é uma forma de tirar o peso da doença. “Os palhaços chegam aqui e veem os ‘doentinhos’ todos tristes, então eles vêm conversar e fazer uma graça. Imagine... A pessoa doente, triste, se anima e fica pensando, refletindo: ‘tem muita gente pior do que eu’”, diz a senhora.
Acompanhando a mãe, dona Conceição, em uma consulta, Judite da Silva, 59, veio de São Paulo para o Recife em busca de tratamento médico e aprova o projeto. “Elas trazem alegria para as pessoas que estão doente! Quando eu vejo a cena dos pacientes sorrindo, por conta delas, fico muito feliz por elas estarem transmitindo felicidade para os doentes”, relata.
Benefícios
Coordenadora do projeto Entrelaçados, a médica Patrícia Moura explica que os benefícios trazidos pela Palhaçoterapia vão além do alívio do momento de tensão nos hospitais. “Pesquisas mostram que esse tipo de projeto proporciona vários benefícios, como para a condição respiratória, ou até mesmo para o estresse que existe entre os enfermeiros e médicos do local que recebe o serviço”, afirma.
Uma pesquisa realizada por universidades federais brasileiras para a revista digital argentina EFDeportes, com crianças internadas em hospitais, identificou que atividades lúdicas com caracterização de palhaços contribuem para amenizar o sofrimento dos pequenos. De acordo com os dados, 57,5% das crianças que fizeram parte do estudo identificaram melhoras na dor. A pesquisa utilizou a escala de Wong-Baker Faces Pain Scale.
Em 2005, o estudo “Clown Doctors as a Treatment for Preoperative Anxiety in Children: A Randomized, Prospective Study” observou os níveis de ansiedade em crianças que iriam fazer cirurgia. O resultado da pesquisa concluiu que a presença de palhaços durante a aplicação da anestesia reduzia os níveis de estresse tanto da criança quanto da família.
Como funciona
Originária dos Estados Unidos e com fortalecimento após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, a palhaçoterapia (ou clowntherapy) tem a função de auxiliar no tratamento de pessoas que frequentam hospitais. “A Clown Therapy foi desenvolvida como uma ação para melhorar o ambiente hospitalar, que é muito pesado e difícil muitas vezes”, comenta a coordenadora do projeto Entrelaçados, Patrícia Moura.
O projeto de extensão Entrelaçados existe desde 2008 e funciona como uma formação artística para os alunos de medicina da UPE atuarem como palhaços em hospitais. “A gente trabalha tanto vendo que isso é um benefício para quem está recebendo a ação como também para os alunos”, explica Patrícia.
Os 25 estudantes que fazem parte da equipe de palhaços da UPE atuam, diariamente, nos leitos e recepções do Hospital Oswaldo Cruz, dentro do campus Santo Amaro na Universidade. Os discentes trabalham fora do horário de aulas teóricas, por se tratar de um projeto de extensão, e percorrem os corredores hospitalares com o objetivo de levar alegria aos pacientes e acompanhantes. Diariamente, segundo informações dadas pela coordenação do Entrelaçados, em média, 30 leitos são atendidos.
Os alunos praticam a extensão em grupos e todos os dias, um trio diferente é formado para incorporar a atuação de palhaço. Os estudantes se juntam levando em consideração o período acadêmico: o aluno de um período inicial visita os pacientes ao lado de universitários mais próximos da formação.
Para Patrícia Moura, o projeto de extensão é uma forma de substituir, em suas medidas, a ausência de disciplinas específicas no curso de medicina da UPE. “A Faculdade de Ciências Médicas não tem no currículo uma disciplina que fale sobre comunicação com o paciente, e o projeto traz essa parte da troca de informações, como também procura trabalhar a humanização”, declara.
Formação
Além do claro benefício do projeto para os pacientes, a palhaçoterapia também pode trazer benefícios para a formação do graduando. Aline Gomes, aluna do oitavo período do curso de medicina da UPE, concorda que o projeto traz algo essencial para o futuro médico: a humanização. “Eu acredito que participar de qualquer trabalho de humanização dentro da universidade vai ser melhor para o profissional médico, porque a gente vivencia diversos momentos de toque, de sentir, de querer estar presente ao lado do paciente”, conta a estudante.
Porém, para ingressar na palhaçoterapia é necessário um processo de admissão. O universitário é submetido a uma seleção artística, bem como investe em um curso de clown coordenado por um instrutor artístico. Só depois desses procedimentos ele está apto para iniciar a extensão. Os grupos do projeto recebem novos integrantes todos os anos.
A estudante Aline Gomes ainda explica que o processo de ingresso é composto por três etapas. Primeiro, o estudante realiza uma entrevista, em que envia material de intenção na participação, seja através de carta, áudio, vídeo ou até mesmo mensagem de texto, explicando o porquê do interesse em atuar no projeto. “Na segunda parte, que é a entrevista, cerca de 30 pessoas são selecionadas para a ‘vivência’, que é onde a gente passa um dia inteiro fazendo atividades, jogos, se conhecendo melhor. A partir daí, são selecionadas aproximadamente 25 pessoas para a oficina [curso de clown], que é a terceira etapa”, explica.
Aline também explica que os estudantes, assim como ela, podem ocupar outras atividades do projeto, como no setor administrativo. Também é possível alternar o tempo de realização do projeto. “No primeiro ano, atuamos em duplas ou trios dentro dos hospitais. No segundo ano, como o tempo de atuação da palhaçoterapia é equivalente ao número de atividades acadêmicas que a gente vai recebendo na faculdade, as atuações da extensão são diminuídas pela metade”, diz a universitária.
Verba
As verbas recebidas pelo projeto são oriundas de editais exclusivos para extensão, promovidos pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo a coordenação do Entrelaçados, há dois anos o projeto não recebe verbas para novas bolsas. “Ficamos vivendo de doações dos próprios alunos e de outros estudantes que já participaram do projeto e que hoje já são médicos, porque precisamos comprar maquiagem e alugar local para realização das nossas atividades, bem como necessitamos auxiliar alguns alunos que não têm condições financeiras de pagar pela oficina de orientação artística”, finaliza a estudante.
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