O Maestro Forró há muito tempo chama atenção e conquista públicos com sua interpretação enérgica, gestos largos e figurino chamativo ao reger sua Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, além, claro, da qualidade musical de seus trabalhos. Personagem definitivo criado pelo músico Francisco Amâncio da Silva, Forró já rodou o mundo acompanhando diversos grupos e artistas e conheceu diversas culturas e musicalidades, trazendo para seu universo esse conhecimento.
As viagens e a constatação das similaridades culturais entre lugares tão distantes e diferentes como Brasil, Turquia ou Macedônia, transformaram-se em uma ideia: fazer um programa televisivo visitando diferentes países e descobrindo, in loco, as semelhanças entre suas culturas e musicalidades.
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Neste sábado (4), Maestro Forró embarca com sua equipe para a Europa, com o objetivo de gravar dez episódios do programa Andante, que será exibido pela TV Universitária. Ele conversou com o Portal LeiaJá e falou sobre o projeto. Confira:
A ideia de Andante surgiu em viagens que você fez e nas quais encontrou similaridades entre a musicalidade de outros países e a brasileira. Quando e para onde foram essas viagens?
Comecei a viajar em meados da década de 1990, quase todos os anos regularmente, com vários artistas diferentes, como o Maracatu Nação Pernambuco, DJ Dolores, Mundo Livre S/A. Foram ao todo 38 países viajando como músico, arranjador ou diretor musical com outros grupos. Na verdade, o programa Andante é o que o personagem Maestro Forró já faz, em tudo ele fala do princípio da interação das linguagens. É constatar que o mundo todo é muito parecido culturalmente, e as pessoas fazem o “favor” de rotular, separar as coisas.
Eu identifiquei, em várias viagens que fiz com outros grupos, várias características em comum. Por exemplo, na Turquia, a voz do alto falante que convoca os religiosos muçulmanos para seus cultos parece muito com o aboio nordestino. Na Macedônia, no Leste Europeu, a formação das orquestras parece muito com a formação das orquestras pernambucanas. O mundo todo tem muita coisa em comum.
E por quais países o programa vai passar?
Bulgária, Romênia e Turquia. Vamos fazer algumas cidades do interior destes países. Nossa produtora chegou antes para fazer a pré-produção. Vai ter, claro, alguns grupos já combinados, mas também terão as pessoas com quem a gente vai topar, principalmente nos mercados públicos. A gente não vai interagir apenas com a música, com o som, vamos interagir também com a culinária dos lugares. E o mercado público é onde tem soldado, cachorro, advogado, tudo junto, e todo mundo, de certa forma, igualitariamente. A gente vai se jogar de cabeça na cultura desses locais, partindo sempre do princípio de que estamos levando a Bomba do Hemetério para o mundo e o mundo para a Bomba do Hemetério, misturar isso e tirar uma nova informação.
Quantas pessoas fazem parte da equipe do Andante?
São quatro pessoas. Eu, como apresentador e músico que vai interagir com os outros músicos de lá; o diretor Alessandro Guedes, que dirigiu o DVD da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério; o diretor de fotografia e cinegrafista Çarungaua e a produtora executiva Anamaria Lima. É uma verdadeira equipe de guerrilha.
E são ao todo dez episódios...
Isso, dez episódios, valendo salientar que o primeiro já foi gravado na Bomba do Hemetério com algumas personalidades artísticas de lá, como Zé Amâncio do Coco. Estivemos na sede da Gigante do Samba... Só na Bomba a gente poderia gravar uns 20 episódios e ainda era pouco, porque o bairro é muito rico.
E que similaridades você identifica entre culturas e musicalidades tão diferentes?
Estou considerando a cultura uma coisa só. Nós é que criamos um padrão de sistematizar, rotular, separar e selecionar coisas, mas tudo se parece muito com tudo no mundo. A música da Turquia e da Macedônia, por exemplo, tem um ritmo que parece muito com o coco de roda. Tudo de lá tem coisas que lembram coisas de cá e tudo daqui tem o que lembra coisas de lá.
Por exemplo, tudo o que a gente tem hoje no Brasil de cultura, teatro, dança ou música, tem a ver, direta ou indiretamente, com as danças circulares, que chegaram do Oriente para a Europa e da Europa para o Brasil, onde transformaram-se em coco de roda, quadrilha. O mundo todo, de certa forma, é muito parecido culturalmente falando.
E o que você espera que o Andante cause nos espectadores recifenses?
Eu torço para que as pessoas curtam, gostem e identifiquem – ou não – coisas em comum. O principal objetivo do programa é o entretenimento, não só para as pessoas do Recife, pois queremos ampliar a exibição do programa. Não estamos preocupados em necessariamente causar um impacto, não é um programa jornalístico, é um diário de viagem do Maestro Forró, que vai interagir, se doar, se abrir para se comunicar com essas culturas e levar ao espectador essas experiências.
Eu vou levar comigo uma zabumba, um trompete, um pandeiro, meu corpo e minha voz e vou interagir com eles em busca daquelas características em comum. E eu espero que não haja uma unanimidade, que cada segmento de pessoas tenha uma interpretação diferente, mas que achem massa essa coisa de se comunicar através das artes com religiões diferentes, com pessoas de hábitos diferentes.
Espero que as pessoas gostem, que uma criança, um velho, um adulto se vejam ali. O personagem Maestro Forró sempre trabalha misturando várias informações e essas informações criadas através da mistura geram outras informações recheadas de vários aspectos: tradição, inovação, contemporaneidade. Isso é muito consciente, preparado, estudado, mas também bem espontâneo e comunicativo.