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O Exército israelense travou batalhas ferozes neste domingo (10) com milicianos do Hamas na Faixa de Gaza e intensificou os seus ataques aéreos no estreito território, forçando centenas de milhares de pessoas a se aglomerarem em áreas cada vez menores.

Os Estados Unidos, que vetaram uma resolução da ONU a favor de um cessar-fogo em Gaza, aprovaram "urgentemente" a venda a Israel de cerca de 14 mil obuses para os tanques Merkava, utilizados na ofensiva contra o Hamas.

O movimento islamista, que governa Gaza, disse neste domingo que Israel lançou uma série de "ataques muito violentos" contra a cidade de Khan Yunis, no sul, e a estrada que liga essa cidade a Rafah, perto da fronteira com o Egito.

Segundo ambos os lados, os combates entre soldados e milicianos palestinos concentram-se principalmente na região de Khan Yunis, em Jabaliya (norte) e na cidade de Gaza (norte).

O Hamas continuou disparando foguetes contra Israel, mas o Exército afirma que a grande maioria foi interceptada pelo seu sistema antimíssil.

Pelo menos 17.700 pessoas, a maioria mulheres e menores de 18 anos, foram mortas por ataques israelenses em dois meses de combates no pequeno território, de acordo com os últimos números do Ministério da Saúde governado pelo Hamas.

Israel prometeu erradicar o Hamas após os ataques sem precedentes de 7 de outubro, quando os milicianos do grupo cruzaram a fronteira e mataram cerca de 1.200 pessoas e sequestraram cerca de 240, segundo as autoridades israelenses.

Cerca de 137 reféns permanecem em Gaza, disse Israel no sábado.

Grupos de ajuda alertaram sobre a situação humanitária em Gaza, devido às doenças e à fome. "Não é apenas uma catástrofe, é apocalíptico", disse Bushra Khalidi, da Oxfam.

- Consequências "irreversíveis" -

O chefe militar de Israel, Herzi Halevi, apelou às suas forças para "pressionarem com mais força".

Imagens publicadas nas redes sociais no sábado mostram a bandeira israelense hasteada na "Praça Palestina", no centro da cidade de Gaza.

O assessor de segurança nacional, Tzachi Hanegbi, disse à televisão israelense que 7.000 "terroristas" morreram, sem especificar a origem do número.

O Exército israelense afirmou que 93 de seus soldados morreram na campanha.

Diante dessa situação, o secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou a "paralisia" das Nações Unidas diante da guerra e alertou que "a situação evolui rapidamente para uma catástrofe" que poderia ter consequências "irreversíveis para os palestinos" e para a região.

O Catar, principal mediador do conflito, afirmou que os esforços "continuam" para obter uma nova trégua e libertar mais reféns detidos em Gaza.

No final de novembro, um acordo de pausa de uma semana permitiu a libertação de 105 pessoas sequestradas em 7 de outubro em troca de 240 prisioneiros palestinos.

"Prefiro que os meus filhos sejam libertados através de negociações e não através de ações militares, porque temo que o exército os mate", disse Yechi Yehud à AFP durante uma manifestação em Tel Aviv para exigir a libertação dos reféns.

- Impacto "catastrófico" -

A intensificação dos combates terrestres e dos ataques aéreos em Gaza suscita receios crescentes na população civil, que tenta desesperadamente se proteger.

Quase 1,9 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados, quase um milhão deles crianças, segundo a agência da ONU para a infância.

"Agora eles estão sendo empurrados cada vez mais para o sul, para lugares minúsculos e superlotados, sem água, comida ou proteção, com risco crescente de infecções respiratórias", alertou Adele Khodr, da Unicef.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que "o impacto do conflito na saúde é catastrófico".

Grande parte dos deslocados, impedidos de sair do território, transformaram Rafah em um grande acampamento.

Mais ao norte, na cidade de Gaza, um jornalista da AFP disse que milhares de pessoas se abrigavam em tendas improvisadas entre as paredes desabadas do hospital Al Shifa, que parou de funcionar e foi parcialmente destruído após um ataque israelense em novembro.

"Não importa para onde vamos, a morte nos persegue", disse à AFP Suheil Abu Dalfa, de 56 anos, cuja casa foi atingida por um projétil, que feriu seu filho.

- Deslocamento para o Egito -

O diretor da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, denunciou em um artigo publicado no sábado no Los Angeles Times o deslocamento forçado de moradores de Gaza para o Egito.

"Se continuarmos neste caminho (…), Gaza deixará de ser uma terra para os palestinos", escreveu ele. Israel rejeitou a acusação, afirmando que "simplesmente não é verdade" que exista um plano para deslocar a população.

O conflito em Gaza também agravou os receios de uma conflagração regional.

Na Cisjordânia ocupada, mais de 260 palestinos foram mortos em confrontos com soldados ou colonos israelenses, segundo a Autoridade Palestina.

O Exército israelense afirmou que dois soldados foram feridos por foguetes disparados do sul do Líbano em direção ao norte de Israel. A aviação respondeu com ataques contra "alvos terroristas do Hezbollah", um movimento libanês.

No Mar Vermelho, uma fragata francesa derrubou dois drones procedentes de regiões do Iêmen controladas pelos rebeldes houthis, aliados do Hamas, que ameaçam interromper o tráfego nesta rota marítima estratégica.

Milhares de motoristas e passageiros dos transportes públicos do Reino Unido tiveram, nesta segunda-feira (12), os seus deslocamentos interrompidos devido ao gelo e à neve, principalmente na região de Londres, onde vários aeroportos tiveram que fechar temporariamente as suas pistas.

O aeroporto de Stansted, localizado ao norte da capital britânica e usado principalmente pela companhia aérea de baixo custo Ryanair, fechou suas pistas na noite de domingo (11) enquanto limpava a neve e alertou para atrasos e cancelamentos.

No seu site, muitos voos programados para a manhã de segunda-feira permanecem cancelados, mas as pistas já estão "abertas e totalmente operacionais", informou o aeroporto em nota enviada à AFP, especificando que "alguns voos podem sofrer atrasos" devido às condições meteorológicas.

A Ryanair também informou no Twitter que "devido às fortes nevascas no Reino Unido, as pistas dos aeroportos de Stansted e Gatwick (sul de Londres) foram temporariamente fechadas durante a noite, interrompendo todos os voos programados".

Nas redes sociais, dezenas de passageiros presos nos aeroportos da capital britânica publicaram vídeos que mostravam as pistas cobertas de neve e aviões impossibilitados de decolar.

Segundo a BBC, no domingo mais de 50 voos também foram cancelados no aeroporto de Heathrow, o maior da capital, devido à névoa.

Na manhã desta segunda-feira, o tráfego ainda estava fortemente interrompido nas principais estradas de Londres, com intensos engarrafamentos devido à neve e ao gelo.

Na noite de domingo, alguns motoristas ficaram presos em seus veículos por várias horas, surpreendidos pela nevasca, pelo gelo e pela névoa, principalmente em Sussex, ao sul de Londres, onde a polícia aconselhou a "só viajar se for necessário".

Os passageiros ferroviários também enfrentaram atrasos e cancelamentos significativos na manhã desta segunda-feira, com algumas linhas do metrô de Londres interrompidas ou com atrasos.

O Reino Unido sofre com uma onda de frio particularmente intensa há vários dias, com temperaturas caindo para -10°C em algumas áreas, embora a agência meteorológica MET tenha afirmado que essas temperaturas "não são incomuns para esta época do ano".

a MET emitiu alertas amarelos para neve, névoa e geada em várias áreas, especialmente no sul da Inglaterra e no norte da Escócia.

No domingo, quatro crianças foram resgatadas com parada cardíaca e hospitalizadas em estado crítico depois que caíram em um lago congelado em Solihull, oeste da Inglaterra. Segundo testemunhas, elas estavam brincando no gelo e caíram na água.

Um acidente envolvendo um jato executivo neste domingo, 9, afetou a operação do Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo. Até o início da noite desta segunda-feira, 296 voos tinham sido cancelados, com repercussão sobre centenas de passageiros que embarcariam no local.

Chamou a atenção de especialistas uma suposta demora para a retirada da aeronave da pista depois do incidente, que foi causado por um pneu estourado. O que a administração do aeroporto destacou foi a necessidade de protocolos de segurança serem seguidos integralmente.

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Entenda a seguir detalhes da questão.

Por que a retirada do avião em Congonhas demorou tanto?

O Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) dispõe que o operador da aeronave deve contar com um plano previamente elaborado para essas situações, o Plano de Emergência em Aeródromo (Plem), que inclui os equipamentos adequados para cada tipo de situação.

A retirada do avião deve ocorrer somente após a liberação do órgão responsável pela investigação de acidentes e incidentes aeronáuticos, atrelado ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

"Existe um plano minucioso a ser seguido, com a chegada de equipamentos e equipes específicas, comunicação e liberação de autoridades que investigam incidentes aeronáuticos, para garantir que tudo seja feito com a máxima segurança e sem prejudicar a obrigatoriedade legal de investigação do incidente", explica Larissa Regina Paganelli, que integra a Comissão de Direito Aeronáutico da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção São Paulo (OAB SP).

Além dos trâmites regulatórios, existem as questões técnicas que podem contribuir para essa demora. É frequente, por exemplo, que uma companhia aérea mantenha os equipamentos em uma determinada cidade, o que faz com que eles tenham que ser levados até o local do incidente, em qualquer aeroporto do Brasil.

No caso do incidente do fim de semana, que envolve um avião pequeno operado por uma empresa que não é do ramo da aviação, pesa a necessidade dos recursos certos para a remoção.

"Naturalmente, esse operador deve ter contratado uma oficina, porque ele não tem o recurso material para tirar esse avião. Como isso também é um alto custo, nem sempre você tem um ativo imobilizado para isso, também não são todas as oficinas que têm os equipamentos necessários", esclarece o consultor aeronáutico Roberto Peterka.

Entre esses equipamentos necessários, estão macacos hidráulicos capazes de levantar a aeronave e rodas e pneus para substituir os que foram danificados. Com os reparos feitos, é preciso então rebocar o avião de volta para o hangar, onde ficam as aeronaves em manutenção ou preparação para os próximos voos.

Não é possível fazer como é feito com carros, que são içados e colocados em cima do guincho que os leva embora. "Usar, por exemplo, outro avião para suspender ele seria bem mais difícil e poderia ‘ferir’ o avião muito mais, porque você coloca uma ‘cinta’ e, dependendo como colocar, você esmaga a cabine", ressalta Peterka.

De quem é a responsabilidade pela remoção da aeronave como no caso de Congonhas?

Quem deve arcar com os custos da retirada do avião é o operador da aeronave, que não é necessariamente o seu dono, mas quem está sendo responsável por operá-la. As companhias aéreas brasileiras, por exemplo, são operadoras de aviões de propriedade de outras empresas, e portanto responsáveis em casos de eventuais incidentes.

O aeroporto não tem essa responsabilidade. Mas, de acordo com o consultor aeronáutico, pode assumir a remoção e cobrar por ela se o operador não tiver condições de realizá-la, a depender do caso.

O seguro cobre esse tipo de incidente aéreo?

A advogada Larissa Regina Paganelli explica que seguros de Cobertura de Casco e de Responsabilidade Civil do Explorador ou Transportador Aéreo (Reta), em sua maioria, preveem a cobertura para este tipo de incidente. Também existem seguros adicionais que se contratados dão cobertura mais exclusiva de peças específicas e serviços realizados em solo.

O incidente significa que o Aeroporto de Congonhas não é seguro?

De acordo com Roberto Peterka, o ocorrido não teve relação com a estrutura do aeroporto: "A segurança que tem o Aeroporto de Congonhas é a segurança de qualquer aeroporto do mundo situado no centro de uma cidade", afirma.

Na semana passada, foi anunciado que o Aeroporto de Congonhas pode ser certificado para voos internacionais da aviação geral ainda este ano. A Infraero informou que o local é "homologado e certificado para operar voos domésticos dentro dos parâmetros legais exigidos pela Agência Nacional de Aviação Civil. Para voos internacionais, o processo de homologação está em fase de análise pela agência".

Em junho, foram concluídas no local as instalações do sistema Engineered Material Arresting System (Emas) na cabeceira 35 da pista principal. O sistema cria áreas de escape com blocos de concreto que se deformam com o peso de uma aeronave, fazendo com que ela desacelere. Em incidentes com aviões de pequeno porte como o PP-MIX, o Emas não seria de muita utilidade, mas o consultor ressalta que trata-se de um item importante de segurança.

De acordo com a Infraero, nos últimos três anos, o aeroporto passou pela recuperação total da pista principal de pousos e decolagens, incluindo a aplicação de uma Camada Porosa de Atrito (CPA) que precedeu a instalação do Emas; a revitalização do pátio de aeronaves; a reforma e adequação das pistas de taxiamento; novo balizamento noturno da pista; recuperação de toda sinalização de pistas e pátios e construção de taludes nas cabeceiras da pista.

Entregue a um soldado estrangeiro, Sohail Ahmadi desapareceu em 19 de agosto, em meio ao caos da retirada de Cabul. Na semana passada, o bebê se reuniu com sua família, após cinco meses de separação.

Então com dois meses de idade, Sohail foi entregue pelo pai a um soldado, que olhava de cima uma multidão aterrorizada com a chegada dos talibãs ao poder, depois de tomarem a capital afegã.

Assim, pai e criança se separaram.

Apesar de suas intensas buscas, foi impossível para Mirza Ali Ahmadi recuperar seu bebê. Foi um taxista, Hamid Safi, que o encontrou, chorando e abandonado no chão do aeroporto.

"Procurei a família dele", conta o jovem, de 29 anos, que foi ao aeroporto deixar seu irmão, que seria retirado do país. "Então, liguei para minha mulher, que me disse para levar o bebê para casa".

O casal diz ter procurado, sem sucesso, os pais da criança. Deram-lhe o nome de Mohamad Abed e começaram a criá-lo.

"Se não tivéssemos encontrado sua família, teríamos protegido e criado ele como nosso próprio filho", explica Hamid Safi.

Durante três dias, o verdadeiro pai de Sohail procurou seu filho no aeroporto lotado. Desesperado, este ex-agente de segurança da embaixada dos Estados Unidos partiu com a esposa e quatro filhos para este país.

Em agosto, o aeroporto de Cabul foi tomado por afegãos ansiosos para deixar a cidade junto com as últimas tropas ocidentais, após 20 anos de guerra.

Vários afegãos temiam o retorno dos islamistas ao poder, lembrando-se do cruel regime dos anos 1990, ou temendo represálias contra colaboradores do governo anterior, ou das forças estrangeiras.

- 'Como sua mãe' -

Somente na semana passada a família de Sohail conseguiu encontrar o bebê em Cabul, com a ajuda das redes sociais e da polícia.

O menino foi entregue ao avô, uma separação dolorosa para o casal Safi e suas três filhas.

"Me sentia responsável por ele, como se fosse sua mãe", afirma Fatimah Safi, de 27 anos. "Ele tinha o hábito de acordar durante a noite (...) Agora, quando eu acordo, ele não está lá, e isso me faz chorar", desabafa.

"Sou mãe. Entendo que nem sempre estará conosco e que precisa dos pais", continua a mulher.

Seu marido admite que "foi muito difícil" devolver o bebê.

No domingo, o avô de Sohail, Mirza Mohamad Qasemi, convidou a família Safi para sua casa em Cabul para compartilhar alguns momentos com o menino.

"Cuidaram dele durante cinco meses e estavam muito apegados a ele", disse o avô à AFP, acrescentando que, de início, os Safi relutaram em devolver o bebê.

Qasemi, que também procurou seu neto, agora diz estar animado com a ideia de que Sohail possa se reunir com seus pais nos Estados Unidos. Eles entraram em contato com as autoridades americanas, mas o procedimento será longo.

"Foi difícil para minha filha. Ela chorava e não comia nada", relata o pai, enxugando as lágrimas, enquanto observa Sohail dormindo nos braços de Fatimah.

Até Sohail se reunir com seus pais, sua tia cuidará dele.

Ao telefone, o pai não escondeu a alegria: "Ficamos muito tristes nos últimos cinco meses (...) Mas quando encontramos nosso bebê. Estamos felizes, porque Deus nos devolveu nosso filho".

A China acusou, nesta terça-feira (17), Washington de "deixar um caos terrível" no Afeganistão, depois que o Talibã tomou o controle do país, o que provocou a saída caótica de trabalhadores e aliados americanos.

Pequim destacou sua disposição a cooperar com os talibãs após a retirada dos Estados Unidos, a qual estimulou um rápido avanço desses islamitas de linha radical em todo o país, cuja população presenciou como tomaram a capital Cabul no domingo.

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Diante das críticas pela desorganizada retirada das tropas americanas depois de 20 anos de intervenção militar, o presidente Joe Biden defendeu a retirada na segunda-feira e culpou as forças afegãs que, segundo ele, "não estavam dispostas a lutarem sozinhas".

No entanto, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse nesta terça-feira que Washington deixou "um caos terrível de distúrbios, divisão e famílias desfeitas" no Afeganistão.

"A força e o papel dos Estados Unidos é a destruição e não a construção", enfatizou Hua.

A China compartilha uma fronteira acidentada de 76 quilômetros com o Afeganistão.

Pequim temeu durante muito tempo que o vizinho se tornasse um ponto de refúgio para os separatistas minoritários uigures na sensível região fronteiriça de Xinjiang.

Porém, uma delegação talibã de alto nível se reuniu com o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, em Tianjin no mês passado, e prometeu que o Afeganistão não seria usado como base para os militares.

Em troca, a China ofereceu apoio econômico e investimento para a reconstrução do Afeganistão.

Hua disse na segunda-feira que a China está pronta para continuar as relações "amigáveis e cooperativas" com o Afeganistão, agora controlado pelos talibãs.

Nesta terça-feira, Pequim pediu ao novo regime afegão para "fazer uma ruptura limpa com as forças internacionais" e "evitar que o Afeganistão se transforme novamente em um ponto de encontro para terroristas e extremistas".

Biden prometeu uma retirada completa das tropas americanas até o fim de agosto, o que marca o fim de duas décadas de guerra.

As tropas de Washington, no entanto, saíram comovidas devido ao rápido colapso do governo afegão e ao avanço arrebatador dos talibãs.

A China criticou repetidamente a apressada retirada dos Estados Unidos do Afeganistão, que considera um fracasso de liderança.

A ponto de completar 100 dias desde o golpe de Estado militar, Mianmar continua em um cenário de caos, com uma revolta popular reprimida de maneira extremamente violenta, uma economia paralisada por uma greve geral e combates intensos entre o exército e grupos insurgentes.

"É uma guerra civil (...) o exército perdeu toda a confiança da população", resume o analista Khin Zaw Win.

Na madrugada de 1 de fevereiro, os generais birmaneses derrubaram o governo de Aung San Suu Kyi e encerraram de forma abrupta um período democrático de 10 anos.

Na terça-feira, o golpe de Estado completará 100 dias. A junta militar estabeleceu um cerco judicial à vencedora do Nobel da Paz de 1991.

Sob prisão domiciliar na capital, Naypyidaw, a ex-governante civil, de 75 anos, é objeto de várias acusações e não tem permissão para encontrar seus advogados.

Um de seus advogados, Khin Maung Zaw, afirmou à AFP que ela comparecerá pessoalmente pela primeira vez a um tribunal em 24 de maio.

De acordo com Zaw, Suu Kyi parece estar "com boa saúde", mas ele ainda não pôde se reunir com sua cliente.

"Não temos certeza de que a polícia nos permitirá falar com ela em particular antes da audiência", lamentou.

A ex-líder de governo foi acusada seis vezes desde sua detenção. As acusações incluem descumprimento de restrições pela pandemia, importação ilegal de walkie-talkies, incitação à desordem pública e violação de uma lei de segredos de Estado da época colonial.

Ela permanece à margem da agitação e da violência no país, tanto nas grandes cidades como na área rural.

Os protestos são liderados por uma juventude sedenta por liberdade e adepta das redes sociais e das novas tecnologias.

E milhares de grevistas continuam bloqueando grande parte do país: bancos, hospitais, portos e prédios públicos.

- Quase 800 mortos -

Ao menos 780 civis morreram nos últimos três meses, segundo a Associação de Ajuda aos Presos Políticos (AAPP).

O exército alega que o balanço é bem menor e atribui a violência aos "agitadores que cometem atos de terrorismo".

As detenções não param de aumentar no país.

Mais de 3.800 pessoas estão detidas, muitas delas em locais não revelados, segundo a AAPP, que denuncia violência contra as mulheres, execuções extrajudiciais e torturas - como no caso do poeta Khet Thi, detido no sábado e morto sob custódia 24 horas depois.

"As pessoas vivem com medo e estão desesperadas (...) algumas pensam em cometer suicídio", comenta a freira Ann Rose Nu Twang.

Esta religiosa se tornou o símbolo de resistência quando, durante um protesto reprimido com violência no início de março, se ajoelhou diante dos militares, com os braços cruzados, suplicando que "não atirassem".

Agora trabalha em uma clínica do estado de Kachin (norte) atendendo a opositores feridos que "sacrificam a vida por seu futuro".

- "Do lado certo da história" -

Apesar da violência, a mobilização continua. "Queremos estar do lado certo da história", afirma um dissidente.

Para manter a pressão sobre a junta militar e evitar ao máximo as represálias, os birmaneses organizam manifestações relâmpago, com menos pessoas, uma tática que apresenta resultados, pois a repressão foi menor nos últimos dias.

A resistência também se organiza politicamente.

Milhares de opositores se refugiaram em territórios controlados por grupos rebeldes, no norte e leste do país, e deputados depostos, que passaram à clandestinidade, formaram um "governo de união nacional".

No momento, o grupo tem dificuldades para exercer grande influência. O desejo de estabelecer um "exército federal" antijunta reunindo dissidentes e combatentes rebeldes não entusiasma as muitas facções étnicas do país.

Muitos desconfiam da Liga Nacional para a Democracia (LND) de Aung San Suu Kyi, partido em que predominam os bamar, grupo étnico majoritário budista.

Porém, indignados com o banho de sangue contra os civis, os insurgentes pegaram em armas.

A União Nacional Karen (KNU), com milhares de homens na região leste do país, ataca bases militares e o exército responde com bombardeios aéreos, pela primeira vez em mais de 20 anos nesta área do país.

Também acontecem confrontos e ataques aéreos intensos no estado de Kachin, onde os rebeldes derrubaram um helicóptero do exército na semana passada.

A violência deixou dezenas de milhares de deslocados civis, segundo a ONU.

- A pobreza dispara -

Quanto tempo o país, um dos mais pobres da Ásia, resistirá?

Com a pandemia e a crise política, metade da população pode ficar abaixo do limite da pobreza em 2022, um retrocesso de 16 anos, advertiu o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

E o Banco Mundial prevê uma contração de 10% da economia em 2021, depois de um crescimento de quase 7% em 2019.

O caos econômico e político não abala os generais, que ignoram as condenações internacionais e as sanções decretadas por Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido.

Mais de 200 ONGs pediram ao Conselho de Segurança da ONU que aprove um embargo internacional sobre a venda de armas, mas China e Rússia, aliados tradicionais dos militares birmaneses, são veemente contrários.

A China disse nesta quinta-feira (7) que espera um "retorno à ordem" nos Estados Unidos após cenas de caos no Capitólio, enquanto estabeleceu um paralelo entre a situação em Washington e os protestos pró-democracia em Hong Kong.

A ex-colônia britânica foi abalada em 2019 por um movimento de protesto contra o controle de Pequim. As manifestações, em grande parte pacíficas em seus estágios iniciais, tornaram-se violentas, com militantes invadindo o Legco, o parlamento local.

Comentando sobre a intrusão de apoiadores do presidente Donald Trump no Capitólio e o caos que se seguiu na quarta-feira, uma porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse que as cenas eram "familiares" aos acontecimentos em Hong Kong.

Desta vez, porém, "a reação de algumas pessoas nos Estados Unidos, incluindo alguns meios de comunicação, é completamente diferente", afirmou Hua.

"No momento em que descreveram os manifestantes violentos em Hong Kong, que palavras eles usaram? (...) 'um bom espetáculo'", disse a porta-voz.

No Twitter, que está bloqueado na China, o jornal nacionalista Global Times adotou o mesmo argumento, com fotos das invasões ao Capitólio e ao Legco.

O veículo em inglês apontou que os manifestantes de Hong Kong haviam sido descritos como "heróis" por Nancy Pelosi, a presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos.

"Resta saber se dirá o mesmo sobre a situação no Capitólio", disse o jornal.

O Global Times ataca regularmente em seus editoriais a democracia "ao estilo ocidental" e defende o "modelo" autoritário chinês que considera mais eficaz.

Os eventos em Washington foram muito comentados online e totalizaram mais de 570 milhões de visualizações na plataforma Weibo.

"O que aconteceu no [parlamento local] de Hong Kong está se repetindo no Capitólio dos Estados Unidos", comentou um internauta.

Os protestos em Hong Kong foram sufocados no início de 2020 pelo confinamento ligado à Covid-19 e depois pela entrada em vigor de uma nova lei de "segurança nacional" acusada de amordaçar as liberdades no território.

O chefe da diplomacia americana Mike Pompeo acusou nesta terça-feira (15) a Rússia de "ameaçar a estabilidade do Mediterrâneo" e de "semear o caos" nos países da região.

Em um comunicado, o secretário de Estado respondeu ao seu homólogo russo, Serguei Lavrov, "que acusou os Estados Unidos de fazer jogos políticos" na região. "O senhor Lavrov está claramente equivocado e tenta reescrever a história", disse.

"Na verdade, Estados Unidos trabalha de forma produtiva com os sócios regionais e apoia os processos políticos da ONU na Líbia", afirmou Pompeo em sua conta oficial no Twitter.

"Rússia, por sua vez, mina a política interna dos países do Mediterrâneo, apoia o ditador brutal da Síria [Bashar Al-Assad, ndlr] e alimenta o conflito na Líbia por meio de grupos aliados", acrescentou.

E ampliou no comunicado: "A Rússia continua ameaçando a estabilidade do Mediterrâneo usando várias técnicas para propagar desinformação, prejudicar a soberania nacional e semear o caos, os conflitos e a divisão nos países da região", acrescentou.

Pompeo denunciou o comportamento de Moscou na Líbia, Grécia e Síria, no mesmo dia em que o presidente russo Vladimir Putin parabenizou o democrata Joe Biden por sua vitória contra Donald Trump nas eleições de novembro.

O magnata republicano nunca conseguiu cumprir de fato sua promessa de melhorar as relações com Moscou ao tropeçar desde o início nas acusações da suposta interferência russa em sua vitória de 2016 e com a hostilidade da classe política dos Estados Unidos contra o Kremlin.

Vladimir Putin aguardou mais de um mês para felicitar Joe Biden por sua vitória eleitoral.

"Por mim, estou pronto para uma colaboração e para estabelecer contatos com você", disse Putin nesta terça-feira em um telegrama, de acordo com o Kremlin.

Na Alemanha, onde os casos de Covid-19 registram forte aumento, também cresce a indignação depois que as autoridades regionais decidiram impor restrições aos turistas nacionais procedentes de "zonas de risco" no país.

Acusados de provocar uma grande confusão entre os alemães antes das férias de outono (hemisfério norte, primavera no Brasil), finalmente alguns estados decidiram flexibilizar as restrições. As férias começaram em outubro e devem prosseguir até o início de novembro.

Os 16 estados federais, que têm competência na área de Saúde, são livres para fixar as próprias restrições, sem que o governo federal de Angela Merkel possa interferir na questão.

Muitas regiões, especialmente as menos populosas, exigiram testes de menos de 48 horas e, em alguns casos, períodos de quarentena aos viajantes de zonas do país consideradas "de risco", ou seja, que registram a cada dia pelo menos 50 novas infecções para cada 100.000 habitantes.

Caso as condições não sejam cumpridas, os visitantes não podem se hospedar em hotéis ou apartamentos turísticos, como os oferecidos pela plataforma Airbnb.

Mas o número de "zonas de risco" é cada vez maior e a Alemanha registrou na quinta-feira um recorde absoluto de novos contágios, com 6.638 casos de coronavírus em 24 horas.

Na Renânia do Norte-Westfalia, estado mais populoso, um habitante a cada quatro, ou seja quase quatro milhões de pessoas, vive em uma zona de risco. Berlim e seus quase 3,7 milhões de habitantes também estão afetados, assim como Stuttgart, Frankfurt, Munique ou Bremen.

O governo pediu aos alemães que passem as férias no país e não no exterior, mas agora estão presos pela situação e muitos não entendem como as normas de saúde permitem viagens pela Europa ou ao continente asiático, mas não que visitem a costa do Mar Báltico ou Brandemburgo, o estado que circunda a capital, eminentemente rural.

As visitas familiares estão autorizadas na maioria dos estados.

O país ampliou na quinta-feira a lista de zonas "de risco", incluindo a região de fronteira com a França, além de áreas próximas a Itália e Polônia.

A chanceler Angela Merkel e os líderes dos 16 estados regionais se reuniram durante várias horas, mas não alcançaram um acordo sobre uma regra nacional comum. A chefe de Governo não escondeu a frustração e se declarou "insatisfeita" com a situação.

À espera de uma eventual solução, a Saxônia retirou a proibição de alojamento, admitindo que não era "proporcional". La Sarre (sudoeste) também suprimiu a obrigação de um teste negativo de menos de 48 horas.

Turistas de uma localidade "de risco" da Renânia do Norte-Westfalia conseguiram que um tribunal administrativo revogasse a proibição de alojamento imposta pelo estado de Baden-Wurtemberg, onde haviam reservado as férias.

O tribunal alegou que o estado não conseguiu apresentar provas de que os hotéis e pensões foram "motores" de infecção.

Os governantes das áreas de "risco" denunciaram que as medidas de proibição foram concebidas com relutância.

"Temos centenas de milhares de pessoas que a cada dia viajam, ida e volta, entre Brandeburgo e Berlim, se encontram em lojas, nos transportes, no trabalho... E um berlinense não está autorizado a passar dois dias em Spreewald (uma reserva natural de Brandeburgo). Tudo isso não faz nenhum sentido", declarou o prefeito de Berlim, Michael Müller (social-democrata).

Além disso, as regras podem afetar ainda mais a economia hoteleira e dos restaurantes, muito abalada pelas restrições impostas em março e pela obrigatoriedade de fechar à noite, ordenada nos últimos dias nas grandes cidades.

O descontentamento também atingiu os laboratórios e os consultórios médicos, que enfrentam os pedidos de testes de diagnóstico dos turistas.

"Há famílias que desejam sair de férias e pedem testes rápidos. Mas não temos a capacidade", advertiu Ulrich Weigeldt, presidente da associação de clínicos gerais.

Ao ver feridos ensanguentados caídos nas ruas e enchendo os hospitais de Beirute, o cirurgião Antoine Qurban, machucado na cabeça, teve a impressão de reviver as cenas apocalípticas de seus anos no Afeganistão.

O sexagenário tomava café com um amigo nesta terça-feira (4), quando foi lançado a 20 metros de distância pela onda expansiva das explosões que destruíram o porto de Beirute e arredores. Ao receberem mais de 100 mortos e 4 mil feridos, os hospitais da cidade ficaram rapidamente saturados.

Com a cabeça sangrando, Qurban buscou atendimento em vários locais, até que um desconhecido o transportou de moto até o hospital Geitawi, onde cenas "apocalípticas" o aguardavam. "Vi feridos ensanguentados na beira de estradas e caídos no chão no pátio do hospital. Um médico suturou minha ferida quando eu estava sentado na rua, e depois de horas de espera", contou.

"Lembrei do que me acostumei a ver anos atrás, durante minhas missões humanitárias no Afeganistão", descreveu o médico. Na manhã de hoje, quando ele realizou exames no Hôtel-Dieu de Beirute, presenciou uma situação caótica. Nos corredores, viam-se mães preocupadas com crianças feridas. Aparentando estar perdido, um idoso procurava a mulher, que havia sido transferida para outro centro médico.

Os celulares não param de tocar. A cada conversa, vozes anônimas em meio à multidão repetem a mesma história. "Sobreviveu por milagre", diz uma mulher. Angustiado com as chamadas incessantes, um ferido passa o telefone para a irmã: "Não consigo falar."

- Anunciar as mortes -

Apenas o Hôtel-Dieu recebeu durante a noite 300 feridos e 13 mortos, segundo seu diretor médico, George Dabar. "Durante a guerra civil, fazia minha residência aqui. Nunca vi cenas como a de ontem", contou à AFP o médico, instalado em frente ao seu computador. "É difícil dizer a um pai que tenta salvar a filha que ela já morreu."

Para os hospitais libaneses, já afetados pela crise econômica e a pandemia do novo coronavírus, o drama de ontem representa uma catástrofe. Em outros dois centros médicos, cinco enfermeiras morreram enquanto trabalhavam, com a queda do teto e o impacto de estilhaços.

"As equipes médicas estão esgotadas com tudo o que acontece no país e o coronavírus. Mas frente à crise de ontem, a solidariedade é excepcional", assinalou Dabar.

- 'Hospital ferido' -

Localizado próximo ao porto, o Hospital das irmãs do Rosário está fora de serviço, após ser devastado pelas explosões, assim como o hospital Saint-George, onde a noite foi infernal. O prédio, de vários andares, é apenas uma estrutura de cimento vazia, com tetos destruídos, que deixam à mostra a fiação elétrica.

Por todo lado, há vidros quebrados e escombros. As portas dos elevadores estão retorcidas. Quatro enfermeiras morreram no local. Até o amanhecer, funcionários trabalharam para transferir os pacientes, entre eles 20 com Covid-19. Hoje, os últimos instrumentos e equipamentos médicos eram removidos dos escombros.

"Não há nada mais difícil do que esvaziar um hospital cheio de pacientes quando, ao mesmo tempo, chegam feridos", disse à AFP o diretor Eid Azar. "Somos um hospital ferido."

Enfermeiras descreveram sua noite terrível, durante a qual o jardim e o pátio se tornaram um hospital de campanha para receber pacientes perdidos, obrigados a abandonar os leitos que ocupavam. Porque os elevadores não funcionavam, eles foram obrigados a descer vários andares de escada. "Temos que suturar os ferimentos dos pacientes e atendê-los com a lanterna dos nossos celulares", contou a enfermeira Lara Daher.

<p>Nesta segunda-feira (01), o cientista político Adriano Oliveira fala em seu podcast sobre a população ainda não ter acordado para a gravidade da crise política, que pode gerar uma grave crise econômica. De acordo com Adriano Oliveira, para justificar a intervenção das forças armadas, o Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), deseja o caos, demonstrando isso através de seus atos.&nbsp;</p><p>Segundo o cientista político, o país precisa de estabilidade para conseguir a recuperação da crise econômica. Oliveira ressalta ainda que a COVID-19 pegou todos os governos do mundo de surpresa, inclusive o brasileiro; e, por não aceitar ações das instituições no combate ao novo coronavírus, Jair Bolsonaro vem a cada dia provocando crises políticas.</p><p>Logo, Oliveira alerta que se a crise política não for amenizada, ela causará um forte impacto na economia brasileira e o país não conseguirá sair dela. O cientista destaca ainda que os militares precisam se posicionar se apoiam ou não o presidente. E que, em defesa da democracia, é preciso um grande pacto nacional, com a participação de todas as instituições.&nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp;</div><div>O podcast de Adriano Oliveira tem duas edições, nas segundas e nas sextas-feiras. Além disso, também é apresentado em formato de vídeo, toda terça-feira, a partir das 15h, na fanpage do LeiaJá.</p><p>Confira esta análise a seguir:</div><div>&nbsp;</div> <iframe width="350" height="50" src="https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/5fbc59e8b8b00ec07528... scrolling="no" frameborder="0"></iframe>

A região nordeste, que historicamente sofre com a seca e a pobreza extrema, emerge como a próxima zona de crise da pandemia do novo coronavírus no Brasil.

À medida que o vírus se expande pelo território brasileiro, que agora é o segundo país com o maior número de casos no mundo, a região mais pobre do Brasil é fortemente atingida pela Covid-19, tanto pelo avanço da doença quanto pelas medidas drásticas para tentar contê-la.

O nordeste tem o segundo maior número de casos e mortes do Brasil, depois do rico sudeste, onde o surto começou. Para as 7,7 milhões de pessoas da região que vivem com menos de R$ 10 por dia, lidar com uma pandemia já seria muito difícil até no melhor dos momentos.

Acrescenta-se a esse cenário a alteração no cotidiano por causa do confinamento, como a interrupção da merenda escolar para crianças em situação de fome e do abastecimento de água para os que não têm o que beber.

"Eu nunca vi, em 26 anos tantas pessoas com medo, tantas pessoas passando fome porque parou tudo. Só que a fome não para", diz Alcione Albanesi, fundadora da ONG Amigos do Bem. A organização é responsável por distribuir comida, água e artigos de higiene para famílias que vivem no sertão.

Medidas preventivas como o enxágue das mãos são teóricas em um local em que na prática a maioria das pessoas sequer têm água para matar a sede. Os que adoecem geralmente conseguem ir de charrete à cidade mais próxima ou passam várias horas em transportes públicos até conseguir chegar ao hospital.

No hospital, é comum a falta de materiais básicos para atendê-los, até mesmo cobertores para os leitos, segundo o relato de Albanesi.

- Migrantes se tornaram vetores -

A pandemia tem avançado rapidamente na região, se espalhando das capitais para o interior. No início de abril, o Nordeste tinha 17,6% dos casos de coronavírus do país e atualmente reúne 33,7% deles.

Até o momento, os nove estados da região registraram mais de 147.000 casos e quase 8.000 mortes da Covid-19, entre os mais de 26.000 contabilizados no país.

Isso possivelmente foi ocasionado pelo retorno de migrantes que antes tinham deixado a região para trabalhar no Sudeste, e com a pandemia perderam os empregos no setor do comércio e indústria na região mais rica e populosa do país.

Ao voltarem para casa devido ao desemprego, muitos desses trabalhadores acabam levando o vírus com eles.

"Daqui de São Paulo mesmo sai todo dia ônibus, van, carro particular. Quem controla quando essas pessoas que chegam lá no interior? Ninguém. Elas não são nem vistas, saem e chegam de madrugada", contou um motorista em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

- Pobreza e política -

No nordeste vivem 57 milhões dos 210 milhões de habitantes do país, e a região tem o maior número de pessoas vivendo em condições de extrema pobreza.

É considerado, no entanto, um reduto da esquerda. É a única região do país que não teve votação expressiva para Jair Bolsonaro nas últimas eleições.

À medida que o coronavírus começou a se espalhar pelo Brasil, os governadores do nordeste criaram um comitê de resposta à crise na saúde, presidido por um dos cientistas mais famosos do país, o neurocientista Miguel Nicolelis.

"O nordeste não conseguiu muita ajuda do governo federal por causa do seu posicionamento político", afirmou Nicolelis à AFP.

O comitê, então, criou estratégias próprias para combater o vírus, como equipes de emergência de saúde e canais telefônicos para identificar casos suspeitos.

O cientista compara esse trabalho a "estar no meio da tempestade sem uma capa de chuva", já que muitos hospitais da região estão à beira do colapso.

De acordo com o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, sete hospitais de campanha seriam abertos no estado de Pernambuco. No entanto, há dificuldade para conseguir profissionais da saúde, já que no momento 471 dos médicos e enfermeiros estão afastados se tratando da doença.

Com o colapso se aproximando a cada dia, "o nível de estresse é altíssimo", afirmou.

No podcast desta segunda (20), o cientista político Adriano Oliveira avalia as ações que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve no último final de semana, quando, no sábado, se posicionou contrário ao STF; e, no domingo, participou de um protesto em que se pedia intervenção militar, a volta do AI-5, além da negação ao STF e ao Congresso Nacional. Durante o seu discurso no protesto, inclusive, Bolsonaro bradou que não quer fazer qualquer tipo de acordo, sem deixar claro ao que especificamente fazia relação, dando a entender que não está aberto a diálogo.

Adriano não vê essas atitudes com surpresa, uma vez que já avaliou em podcast e artigo passados a preferência de Bolsonaro pelo caos. Com o caos, os erros do governo dele seriam encobertos e ele seria visto como uma liderança no meio do conflito. Para o cientista, o que Bolsonaro quer é um exercício de poder ilimitado, sem diálogo com as outras instituições da sociedade - por isso a participação dele em um ato que pede um novo golpe militar.

Frente a toda essa situação, Adriano questiona: qual a posição dos militares? Militares esses que apoiaram a eleição do presidente e tem muitos cargos em seu governo. Eles apoiam a defesa de um golpe? São favoráveis aos pedidos de volta do AI-5? São contrários ao STF e ao Congresso Nacional? Ou acreditam que o trabalho dos governadores é o mais assertivo perante toda a crise gerada pelo novo coronavírus? De qualquer forma, o país se encontra em uma confusão, sem um norte para o enfrentamento da Covid-19.

O podcast de Adriano Oliveira tem duas edições, nas segundas e nas sextas-feiras. Além disso, também é apresentado em formato de vídeo, toda terça-feira, a partir das 15h, na fanpage do LeiaJá.

Confira mais uma análise a seguir:

 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (25) que o Brasil arrisca "sair da normalidade democrática" por causa de um eventual "caos" provocado pela paralisação da economia em função da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Após ter feito um pronunciamento que vai na contramão do que é defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por governos mundo afora, o presidente da República voltou a defender que o comércio seja reaberto para evitar uma crise financeira.

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"Se a economia colapsar, não vai ter dinheiro para pagar servidor público, o caos está aí, na nossa cara. Podemos ter os mais variados problemas no Brasil, como saques em supermercados, e o vírus vai continuar entre nós, vamos ficar com o caos e o vírus", disse Bolsonaro em conversa com jornalistas em Brasília.

Estima-se que mais de 2,5 bilhões de pessoas, um terço da população mundial, estejam submetidas a restrições de circulação por causa da pandemia de coronavírus. Desde governos autoritários, como a China, até democracias estabelecidas, como Itália, Espanha, Reino Unido, Alemanha e Argentina, adotaram o confinamento como principal estratégia de combate.

Para Bolsonaro, no entanto, é preciso "botar esse povo para trabalhar, preservar os idosos e aqueles com problemas de saúde, mas nada além disso". "Caso contrario, o que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil. Todos nós pagaremos um preço que levará anos para ser pago, se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês tanto defendem, ninguém sabe o que pode acontecer no Brasil", declarou.

Em seguida, ao ser questionado pela imprensa, foi mais específico: "O caos faz com que a esquerda aproveite o momento para chegar ao poder. Não é da minha parte, pode ficar tranquilo". Segundo Bolsonaro, a diretriz do governo é a de promover o "isolamento vertical", ou seja, apenas dos grupos de risco, como idosos ou imunossuprimidos.

No entanto já há inúmeros relatos de como a Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, pode acometer pacientes mais jovens de forma grave. O primeiro homem vítima de transmissão interna na Itália, um maratonista de 38 anos, ficou um mês internado, incluindo 18 dias na UTI, para conseguir se curar.

Até o momento, a pandemia já contaminou mais de 430 mil pessoas no mundo, sendo 80 mil apenas nos últimos dois dias, de acordo com a Universidade John Hopkins, dos EUA, e deixou cerca de 20 mil mortos.

Da Ansa

Compilação de imagens de dois hospitais da capital da Espanha mostram pacientes com coronavírus tossindo e em condições precárias.

Os locais mostrados são os hospitais Infanta Leonor e Severo Ochoa de Leganés, ambos em Madri.

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Desde doentes sentados em cadeiras com aparelhos respiratórios até infectados pelo coronavírus no chão dos corredores, sendo que o hospital Severo Ochoa está com lotação três vezes maior que sua capacidade, publicou o portal El Mundo.

"Tem gente sem cama, sentada em cadeiras de plástico faz mais de 30 horas [...] Vi uma pessoa no chão entre duas cadeiras", declarou à mídia o líder sindicalista Javier García.

O vídeo, feito pelos corredores de ambos os hospitais, foi publicado no YouTube.

Situação 'desumana'

A mídia também visitou o Hospital 12 de Octubre, também em Madri.

"Necessitamos de ajuda, isto é desumano [...] Não sei se as autoridades sabem o que está passando nos hospitais. Faz muito tempo que estamos indo para trás. Estamos em uma situação em que a demanda supera os recursos e, por isso, peço a intervenção dos militares, que têm experiência nestes temas", declarou um médico da unidade hospitalar.

Enquanto isso, o governo espanhol soma esforços para criar novos pontos de atendimento às vítimas do coronavírus no país.

Estes estão sendo preparados em hotéis, tais como o Marriott Auditorium e o Ayre Gran Hotel Cólon.

Propagação muito rápida

Hoje (24), o El País noticiou que a pandemia tem se espalhado pela Espanha mais rápido do que na Itália.

Nas últimas 24 horas mais 462 mortes foram registradas, elevando o número total de vítimas fatais para 2.182.

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Da Sputnik Brasil

"Aqui temos tomilho, manjericão, cúrcuma, três tipos de menta, lavanda e logo teremos morangos", conta com orgulho Lia, no estoque botânico surpreendente da "favela verde" Vila Nova Esperança, situada nas proximidades da conturbada megalópole brasileira.

Diante da grande horta, essa mulher de 57 anos dá instruções a um menino que carrega um carrinho repleto da fértil terra vermelha, na qual cresce mamão, banana, bougainville em cor fúcsia e hortênsias rosas.

"Também temos muitas plantas medicinais", diz Lia, eleita líder comunitária há 10 anos. Nesse horto ecológico também existe uma importante estufa, com uma série de plantas em vasos e uma composteira.

A "favela verde" reutiliza tudo e se baseia nos princípios da permacultura. Localizada a uma hora do Centro da maior cidade brasileira, a comunidade fica em um morro rodeado de mata atlântica, e busca respeitar o meio ambiente, ser autossuficiente e compartilhar.

É o diferencial de um lugar que se parece muito com as outras 1.650 favelas que existem na grande São Paulo, com ruas esburacadas, casas por terminar e sofás e sacolas de plástico espalhadas pelo entorno.

A Vila Nova Esperança já recebeu vários prêmios por sua proposta ecológica. Nessa comunidade de 3 mil moradores, "Lia, a esperança" - como também é conhecida a líder - construiu o projeto dos seus sonhos.

- "Preservar a natureza" -

Registrada na identidade como Maria de Lourdes Andrade de Souza, mas chamada pelos mais próximos como "Lia", ela não hesita em pegar com as próprias mãos a terra usada para a construção de uma pequena brinquedoteca para as crianças. A massa, formada de uma mescla de argila e cimento, substitui os tijolos.

"Essa construção é sustentável e mais barata. Conserva a natureza", explica a mulher, de rosto radiante e com pequenas manchas do material terroso. Em 2003, "quando cheguei aqui, não tinha nada", lembra a líder do projeto.

"Hoje temos um circo-teatro, uma biblioteca para trazer cultura aos moradores, uma cozinha comunitária, um lago no qual as crianças podem mergulhar. E essa horta que não para de crescer".

Rodrigo Calisto, um engenheiro civil que trabalha com Lia, mostra um poço construído com pedras na qual será instalado um tanque de tilápias, que por sua vez ajudarão a controlar a população de mosquitos comendo-os.

É uma ideia para combater a dengue, explica o jovem voluntário que mobilizou cerca de 30 pessoas para trabalhar na favela. Empilhando grandes sacos de laranja cheios de terra, constroem muros de contenção para evitar os recorrentes deslizamentos durante o período das chuvas.

"É um problema geral no Brasil, porque a maior parte das comunidades estão nos morros", explica Calisto. Esse engenheiro também ajudou a instalar um sistema para aproveitamento das águas pluviais.

- "Educar os moradores" -

"Para mim é uma alegria que a natureza nos ensine como viver. Não precisamos ir à universidade", explica Lia. Porém, o caminho percorrido por essa ex-florista da Bahia não foi uma jornada fácil.

Chegou a essa favela em 2003, fugindo de um marido violento. Ainda faltavam muitas coisas na comunidade, como eletricidade, mas rapidamente entrou em contato com as autoridades locais.

"Em 2006, descobri que existia um processo para expulsar as famílias" do local, acusadas de degradar o lugar, considerada uma área de proteção ambiental.

Cinco anos depois, a comunidade resistiu a "mais de 30 policiais armados que chegaram para expulsar todo mundo usando a força e gás de pimenta", conta Lia.

"O pessoal da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) me ofereceu dinheiro para sair daqui", lembra. Posteriormente, Lia quis trazer "educação ambiental" aos seus vizinhos e "ensinar aos moradores a cultivar os próprios alimentos".

Mas o que a Vila Nova Esperança enfrenta agora é a falta de recursos, já que um em cada cinco moradores está desempregado. A prefeitura concedia uma bolsa "no valor de R$ 1.050 por mês para remunerar um trabalho de seis horas, mas logo ela será cortada", conta Lia. "Se esse valor acabar vai ser difícil, mas não vamos deixar de trabalhar", diz Lia, que se entristece com a falta de entusiasmo de alguns moradores vizinhos em relação ao projeto.

Alguns, no entanto, estão completamente comprometidos com a causa, como Everaldo Casimiro Santos, que construiu a brinquedoteca sob o sol escaldante. "É bom trabalhar para melhorar este lugar", assegura.

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A madrugada e a manhã inteiras de chuva forte provocaram o caos em Belém, mais uma vez, nesta segunda-feira (9). O temporal começou por volta de 1h, se estendeu até às 7h e só diminuiu por volta de 10h. No sábado (7), a chuva também causou transtornos.

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Canais e rios transbordaram e várias ruas do centro, da periferia e de municípios da Região Metropolitana, principalmente Ananindeua e Marituba, ficaram alagadas. O trânsito parou e muita gente não conseguiu sair de casa para o trabalho ou para a escola.

Importantes vias de acesso ao centro da capital paraense, as avenidas Júlio Cesar (aeroporto), Duque de Caxias, João Paulo II, Conselheiro Furtado e a rua dos Mundurucus registram muitos pontos de alagamento. Moradores das áreas baixas da cidade, nos bairros do Marco, Terra Firme e Cremação, estão isolados.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), até às 13h do último sábado houve um registro acumulado de 138 milímetros de chuva, o equivalente a pouco mais de um quarto do esperado para todo o mês de março, que deve ultrapassar os 500 milímetros.

A Marinha do Brasil informou que entre os dias 7 e 14 de março a maré alta poderia ocasionar alagamentos em Belém, caso coincidisse com a chuva. Para esta segunda-feira, o horário previsto para ocorrência de maré alta é às 11h19 (3,4m) e 23h36 (3,6m - risco altíssimo).

Por Antonio Pimentel

O jogo deste domingo (8) entre Cruzeiro e Palmeiras, no Mineirão, teve outros resultados negativos além do rebaixamento do time celeste. O maior deles foi o rastro de destruição deixado após o término da partida no estádio, na Pampulha.

Vândalos destruíram as instalações do estádio, além de causarem confusão e tumulto na arquibancada no final do jogo arremessando cadeiras e objetos. Pelo menos 15 torcedores do Cruzeiro foram encaminhados à emergência. Como responsável pelo evento, o time celeste terá que arcar com os prejuízos causados pela sua torcida.

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No Twitter, o perfil oficial do estádio se pronunciou sobre o ocorrido e lamentou. "Por aqui trabalhamos duro para receber bem a todos. Infelizmente, o vandalismo tomou conta e, com tristeza, mostro o resultado fora de campo"; e finalizou dizendo: "torcemos por um 2020 diferente".

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A Itália sofre nesta sexta-feira (25) com uma greve geral nos sistemas de transporte, convocada por sindicados de base. A paralisação, apoiada pelas entidades CUB (Confederação Unitária de Base) e SGB (Sindicato Geral de Base), envolve as empresas públicas e privada de transporte na Itália, de trem, ônibus, metrô, bondes, navios, rodovias e aeroportos.

Funcionários da companhia aérea Alitalia e da Ferrovie dello Stato aderiram à greve. De acordo com fontes locais, a Alitalia cancelou 240 voos nacionais e internacionais. Apenas os voos previstos entre 7h e 10 locais, e 18h às 21h foram confirmados.

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Devido à greve, muitos italianos decidiram se locomover de carro nesta sexta-feira provocando tráfego intenso e filas enormes pelas capitais. A capital do país, Roma, é onde o clima de tensão é mais elevado, pois a paralisação deve durar 24 horas e envolve outras entidades e temas sensíveis ao governo, como a gestão do lixo municipal. Roma está com a linha C do metrô fechada, e com a linha A operando com restrições. 

Linhas de ônibus também foram afetadas, com cancelamentos e reduções de veículos. "Uma minoria de sindicalistas tenta fazer três milhões de habitantes como reféns: trabalhadores, mães e pais que diariamente acompanham os filhos na escola. A maioria da população está cansada das greves injustificadas", criticou, em uma postagem no Twitter, a prefeita romana Virginia Raggi, do partido Movimento 5 Estrelas (M5S).

Por sua vez, o líder da legenda nacionalista Liga Norte, Matteo Salvini, que rompeu em agosto sua aliança com o M5S no governo italiano, demonstrou apoio à paralisação. "A maioria dos cidadãos está cansada de uma prefeita incapaz de resolver qualquer problema", atacou. Várias cidades da Itália enfrentam problemas no transporte devido à greve, como Turim, Bolonha e Florença. Em Bari, no sul do país, cerca de 35 voos foram cancelados e há atrasos nos trens regionais.

Na capital da Campânia, Nápoles, três linhas de ônibus não estão operando hoje, assim como a linha 1 do metrô e o funicular. Os sindicatos de base exigem aumento de salário, redução de funções durante o expediente, o fim da reforma trabalhista chamada de Jobs Act" e da "Lei Fornero", que altera a previdência no país. 

Da Ansa

A violência mergulhou Quito no caos neste sábado (12). Manifestantes atearam fogo a um prédio público e atacaram veículos de comunicação, o que levou o governo a impor toque de recolher na capital no contexto de um protesto de indígenas contra ajustes econômicos.

O novo dia de manifestações em repúdio às medidas pactuadas com o FMI se degradou rapidamente. Nos arredores da Assembleia Nacional, indígenas ergueram barricadas com troncos e escudos de madeira e enfrentaram com pedras e pirotecnia a Polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogênio.

Grupos de encapuzados atacaram a sede da Controladoria, que ficou envolta em chamas. O presidente Lenín Moreno impôs o toque de recolher e ordenou a militarização desta cidade de 2,7 milhões de habitantes. A medida drástica, que proíbe a circulação em Quito e arredores, começou a vigorar às 15h locais (17h de Brasília). Nenhuma autoridade informou sobre sua vigência.

"Dispus ao Comando Conjunto das Forças Armadas, imediatamente, tomar as medidas e operações que sejam necessárias", destacou o presidente em breve pronunciamento à Nação.

Antes do cair da noite, as forças de segurança ainda se esforçavam para impor a ordem em alguns pontos da cidade, onde grupos de pessoas desafiavam o toque de recolher.

O caos se espalhou no mesmo dia em que o movimento indígena aceitou dialogar com o governo, em busca de uma saída para a crise severa que explodiu há 11 dias.

Moreno acompanha a situação da cidade portuária de Guayaquil, aonde transferiu a sede de governo após decretar o estado de exceção nacional em 3 de outubro e mobilizar as Forças Armadas em uma tentativa de conter o descontentamento social.

Desde então, morreram seis civis e foram registrados 2.100 feridos e detidos, segundo a Defensoria do Povo.

Os protestos também mantêm interrompido o trasporte de petróleo - a maior fonte de divisas - pelo principal oleoduto do país por causa da ocupação de poços na Amazônia.

- "Não deixem que nos matem" -

Amparado no estado de exceção, que a princípio permite restringir alguns direitos por 30 dias, o governo já tinha determinado um toque de recolher ao redor dos edifícios públicos da capital.

As pessoas que esvaziaram pouco a pouco as ruas exigiam o fim da repressão oficial.

"Onde estão as mães e os pais dos policiais? Por que deixam que nos matem?", clamou, chorando, a indígena Nancy Quinyupani.

A imprensa também foi alvo de violência. Manifestantes atacaram as instalações da Teleamazonas e do jornal El Comercio. O canal, que se mantém no ar, retirou 25 funcionários sem reportar nenhuma vítima.

"Por cerca de meia hora, fomos atacados, começaram a apedrejar, forçar as portas e depois a lançar bombas incendiárias", contou no ar Milton Pérez, jornalista e apresentador da Teleamazonas.

O El Comercio, principal jornal de Quito, denunciou no Twitter que sua sede tinha sido atacada "por um grupo de desconhecidos", sem dar maiores detalhes.

O movimento indígena, que lidera o protesto contra os ajustes que encareceram em até 123% o preço dos combustíveis, negou que seus militantes estejam envolvidos nos ataques aos prédios ou à emissora.

- Diálogo incipiente -

"Vamos restabelecer a ordem em todo o Equador", prometeu Moreno após agradecer a decisão dos povos originários de se sentar para dialogar frente à frente, embora não tenha revelado nem quando, nem onde começarão as conversas.

A Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), que a princípio tinha refutado a oferta, informou ter decidido finalmente "participar" de um encontro com o presidente depois de "um processo de consulta com as comunidades".

No poder desde 2017, o governante enfrenta sua maior crise devido às reforças que acordou com o FMI para aliviar o pesado déficit fiscal que atribui aos gastos excessivos, o endividamento e a corrupção do governo de seu antecessor e ex-aliado Rafael Correa.

Além do fim dos subsídios, as medidas preveem cortar direitos de funcionários públicos. Os indígenas, que representam 25% dos 17,3 milhões de equatorianos, são o setor mais castigado pela pobreza e em sua maioria trabalham no campo.

Com a liberação dos preços dos combustíveis, precisam pagar mais para transportar seus produtos, ao mesmo tempo em que temem uma inflação generalizada.

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