Com tamanha variedade de produtos comercializados no centro do Recife, tornou-se comum passar pelas ruas da capital pernambucana e encontrar algum vendedor tentando chamar a atenção dos clientes. Se virando como podem, eles misturam criatividade com inovação para atrair os olhares e conquistar o bolso de quem está passando, fazendo assim o seu próprio "marketing informal".
Na Rua das Calçadas, por exemplo, no bairro de São José, o comerciante de balões Samuel Carvalho resolveu não só ficar chamando a clientela, como também aproveitou para fazer brincadeiras e rimas. Com pandeiro, microfone e muita alegria, ele vai criando músicas que acabam por si só conquistando a atenção de quem passa pelo local. "Eu vendo balões há mais de nove anos. É sempre de segunda a sábado, das 8h às 18h, sem parar. Mas só de algum tempo para cá resolvi inovar e acrescentar o pandeiro e o microfone nas minhas chamadas", comenta. Três balões são vendidos por R$ 10.
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Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens
Segundo ele, para trabalhar com o público, é preciso muita dedicação e animação. "Tem que ter a criatividade para fazer as rimas. Aqui a gente se vira de todo jeito para consegui fazer com que as pessoas prestem atenção no produto que estamos vendendo", explica Samuel.
A procura pelos produtos é tão grande e a apresentação do empreendedor chama tanta atenção, que os clientes acabam parando no meio do caminho para levar pelo menos um balão. "Aqui eu vendo diversos tipos de balões, tem mais dos desenhos infantis e sempre tento fazer o melhor preço para que possa vender tudo durante o dia. Até porque, é daqui que eu levo o sustento para minha família", desabafa o ambulante.
Há 15 anos trabalhando como palhaço, Josuel Francisco da Silva também viu nas ruas uma oportunidade para divulgar o seu trabalho. O artista de 47 anos trabalha em dois horários para manter a sua agenda cheia. "Durante o dia eu venho para as ruas do centro fazer o 'boca a boca', entregar panfletos e alegrar as pessoas. Já a noite, normalmente, estou trabalhando com recreação em festas, fazendo apresentações", comenta.
Sempre caracterizado, com um sorriso e muita alegria, ele conta que a divulgação contribui tanto para o seu trabalho que a agenda dos próximos meses já está lotada. "Depois que comecei a divulgar o meu trabalho também nas ruas, aumentou a procura pelo meu serviço. Hoje minha agenda está lotadíssima até novembro. Tenho trabalhado até durante a semana", conta Josuel.
Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens
"Eu já nem sou conhecido por aqui pelo meu nome, mas se você perguntar onde trabalha o Palhaço Cacareco, a maioria das pessoas vai saber te responder. Aqui na Rua das Calçadas eu sou o único que trabalho caracterizado. Esse é o meu diferencial", comenta.
Ainda segundo o animador de festas infantis, você não pode pegar um panfleto e jogar na mão do cliente, tem que explicar o serviço que está sendo oferecido para conseguir chamar a atenção. "As pessoas acham que podem sair por aí entregando panfletos sem falar nada com o público e não é nada disso. Você precisa ser gentil, falar sobre aquilo que você está entregando, se não, a pessoa vai jogar fora. É preciso atrair a atenção de quem está passando e eu já me caracterizo também por isso", aconselha o palhaço.
Além da sua própria propaganda, Josuel também faz divulgações para outras lojas da redondeza. "Esse é o meu trabalho, divulgar os serviços de outras empresas e também os meus serviços. Não me arrependo de nada! É um trabalho cansativo, mas que me traz alegria".
A graça de quem faz do rosto a sua marca
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A Rua São Pedro, também no bairro de São José, hoje é bastante famosa entre os pernambucanos por possuir uma enorme quantidade de amoladores de alicate, serviço feito por R$ 5. Atualmente, mais de dez profissionais disputam um espaço nas calçadas do local para receber a clientela. O que impressiona nesses comerciantes é a maneira que eles optaram para chamar atenção para o seu negócio.
Além dos alicates, grande parte dos empreendedores que trabalham nessa rua também amola outras ferramentas, como facas, tesouras, serras e serrotes. Só no local, são mais de cinco amoladores que usam suas fotos nos banners como a marca do seu trabalho.
"Quem passa por aqui se admira com a quantidade de banners com as fotos da gente. A maioria dos meus colegas resolveu usar o próprio perfil para fazer a divulgação do seu trabalho, inclusive eu", explica Ronaldo Souza, um dos amoladores. "Geralmente o cliente vem e já procura a gente pela foto. Muitas pessoas vêm uma vez e não conhecem mais o lugar, aí com a foto, a identificação é melhor", reforça.
Segundo os amoladores que trabalham no local, o primeiro a ter a ideia foi Ricardo Brito da Paixão, 33 anos. Conhecido como Kaka amolador e por trabalhar sem camisa, o comerciante explica que a ideia surgiu porque ele gosta muito de tirar foto, achou a imagem bonita e resolveu fazer, mas não sabia a proporção que ia ganhar. "Hoje eu sou famoso aqui na rua, todo mundo me conhece. No começo algumas pessoas perturbavam porque além da foto, minha pose é engraçada. Mas hoje, todo mundo quer fazer igual, quer copiar", brinca Ricardo.
Fora Ronaldo e Ricardo, ainda há os irmãos Alexandro e Rostandy, que também resolveram entrar na ideia dos colegas e colocaram uma foto no banner. O sucesso da ideia foi tão grande que se espalhou para os cartões de visitas. "A gente achou incrível e percebeu que as pessoas acabam criando mais confiança com a pessoa por estar vendo a sua foto ali, aí fomos e colocamos também", comenta um deles.
Assim como Samuel e Josuel, Ricardo conta um pouco mais de como surgiu a ideia de divulgar o seu trabalho. Confira:
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