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Com 25 anos de aplicação, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que terá provas nos dias 5 e 12 de novembro, tem transformado o acesso às instituições de ensino superior e também os cursinhos preparatórios do país.. Alguns desses cursinhos passaram a se preocupar com a adaptação para receber alunos indígenas e quilombolas. .

Um desses cursinhos é o Colmeia, concebido na Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Limeira, interior de São Paulo, em 2010. No final do ano passado, a iniciativa, idealizada pela professora Josely Rimoli, conseguiu ser elevada de patamar e se tornou um programa da universidade, o que pressupõe maior apoio institucional.

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O Colmeia tem aulas à noite e incorporou a modalidade online em 2019. São 17 professores, entre graduandos e pós-graduandos da Unicamp, que dão aulas de linguagem, exatas, biologia e ciências humanas.

Em entrevista concedida à Agência Brasil, a Josely Rimoli destacou que a atuação da equipe do cursinho pré-vestibular não deve parar no ensino, e sim se estender ao acompanhamento do aluno aprovado quando ingressa no ensino superior. O objetivo do Colmeia, portanto, é oferecer o suporte necessário e garantir que o estudante está se integrando bem na comunidade acadêmica e, mais, que tem condições de se manter até o final do curso, inclusive financeiramente. Assim, pode-se dizer que pensa na efetividade de ações de permanência estudantil.

Além disso, para falar de igual para igual, respeitando o chamado "lugar de fala", reivindicado por pessoas que fazem parte de grupos minorizados, como os indígenas e quilombolas, o Colmeia permite que os alunos conversem com alguém de perfil parecido, na hora de receber orientações e acolhimento, algo a que dedicam um dia da semana. Um estudante indígena dialoga com um instrutor também indígena, mesmo cuidado com que se trata a parcela quilombola das turmas, formadas, ainda, por adolescentes da Fundação Casa, mulheres e ribeirinhos.

Ensino básico e acesso à internet

Josely pontua que as falhas deixadas pelas escolas em que os alunos do cursinho estudaram vêm, com frequência, à tona, como ocorreria com qualquer estudante, independentemente de se pertencem ou não a grupos minorizados. Por isso, a equipe de professores entendeu que era preciso ajudá-los a fixar os conteúdos em vésperas de provas.

"A gente compreende que é importante dar acesso, contribuir para que acessem o ensino superior. É um direito à educação. E, uma vez que entraram [na instituição de ensino], precisam ter apoio à permanência", declara a coordenadora do Colmeia, que também é responsável pela acolhida de candidatos indígenas que passam no vestibular da Unicamp.

Josely conta que um levantamento organizado pelo programa recentemente revelou que 83% dos alunos inscritos estudam pelo celular, o que faz com que a atenção se volte para o acesso à internet, geralmente obtida por meio de pacotes de dados e que se esgota rapidamente, à medida que vão assistindo às aulas. "Um quilombola do Vale do Ribeira atravessava o rio, à noite, em uma canoa, sozinho, para pegar sinal. É uma batalha por vez ou várias ao mesmo tempo", diz a professora universitária.

Pertencimento

No caso do curso Jenipapo Urucum, da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí), as estudantes que assistem às aulas e são mulheres e meninas indígenas, muitas vezes, até mesmo o aparelho celular é compartilhado com outros membros de suas famílias, não sendo de uso exclusivo delas, o que marca mais um grau de dificuldade de acesso. Como as alunas não podem prescindir dos aparelhos eletrônicos, as organizadoras do cursinho se mantêm constantemente mobilizadas para conseguir doações de tablets, computadores e celulares.

Conforme verificou o Instituto Semesp, o contingente de estudantes indígenas, no ano de 2021, era de pouco mais de 46 mil pessoas, o equivalente a 0,5% do total de alunos do ensino superior, proporção que ainda pode melhorar. A entidade também descobriu que o gênero feminino predomina entre os alunos indígenas, correspondendo a 55,6%.

Aluna do Jenipapo Urucum, a jovem Suziany Kanindé, de 18 anos, vive na zona rural de Aratuba (CE) e estuda em uma escola indígena. Ela descobriu o cursinho através de seu pai, que viu um post de divulgação no Instagram.

Suziany planeja estudar psicologia em Fortaleza, tanto por se identificar com a área como por ver que há uma lacuna de profissionais desse campo no atendimento ao seu povo, conciliando, assim, os estudos com a vontade de manter intacto ao máximo o convívio com os familiares. Como vantagem do caráter singular do cursinho indígena, ela cita a oportunidade de conhecer o modo de viver de outros povos originários.

"São diferentes povos, de todo o Brasil. Então, é uma chance de conhecer outras pessoas, cultura, tradições", observa ela, que utiliza um tablet para ver as aulas, ministradas à noite, no contraturno da escola, e já reconhece avanços no desempenho em língua portuguesa e ciências da natureza, com o auxílio dos professores do cursinho, que são indígenas e não indígenas.

Perguntada sobre como espera que seja sua adaptação na universidade, Suziany exterioriza certa apreensão. "A gente conversa, dentro do cursinho, sobre a realidade dentro da universidade. No cursinho, a gente está entre a gente. Já na universidade, é outra realidade. A gente encontra uma série de dificuldades, quando vai para fora, sai da zona de conforto", afirma ela, que também atua no Museu Indígena Kanindé.

Política de cotas

A jovem pataxó hã-hã-hãe Narrary Lucília, de 18 anos, também foi aluna do Jenipapo Urucum e chegou até ele pela sua mãe, que é monitora do cursinho, além de ter sido aluna, em outro momento. Para Narrary, que agora reduziu a frequência às aulas, depois de começar a cursar nutrição em uma faculdade particular, com bolsa integral, também é fundamental a sensação de pertencimento que a turma gera. "A maioria das pessoas que está nas universidades não é indígena. Acho esse projeto muito bonito. Algum professor, às vezes, inicia a aula colocando um vídeo de algum ritual, as alunas se juntam e, quando há duas de um mesmo povo, cantavam juntas. E conhecer também as culturas das meninas", afirma.

Para Narrary, um dos fatores em que o governo acertaria, em termos de ampliação da presença de indígenas no ensino superior, seria a aposta no ensino básico, junto com políticas afirmativas, ou seja, cotas que permitam um maior acesso a eles. "As escolas indígenas são muito precárias. Às vezes, há poucos indígenas fazendo a prova do Enem porque não se sentem capazes. O ensino na aldeia não é tão bom assim e acaba que muitas pessoas achavam que os indígenas eram atrasados. Por causa disso, acabam sem querer estudar, por não se sentirem capazes. É por isso que não têm tanta representatividade [nas instituições de ensino superior]", resume ela.

Os cursinhos populares ligados à Universidade de São Paulo (USP) estão com inscrições abertas para aulas no segundo semestre. A iniciativa é de estudantes de diversos cursos da universidade e são voltados para alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica que querem se preparar para vestibulares e para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As aulas são gratuitas ou com preços acessíveis e há oportunidades na capital e em Ribeirão Preto.

Na capital paulista, o Cursinho Popular da Poli-USP, da Escola Politécnica, está com inscrições abertas até o dia 29 de junho, com uma taxa de R$ 15. Os candidatos devem se inscrever no site do cursinho e a seleção dos inscritos é feita por meio de prova e entrevista. Os aprovados pagam uma taxa única de matrícula no valor de R$ 100. Não há mensalidades. 

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Cursinho Popular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) está com vagas abertas para a modalidade de ouvinte na turma presencial, que funciona de segunda a sexta, das 14h às 19h20, na própria faculdade. As inscrições podem ser feitas por meio de um formulário até o dia 27 de junho. Este cursinho foi criado em 2015 com a proposta de democratizar o acesso ao Ensino Superior.

Os estudantes da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) também organizam um curso preparatório para o vestibular e o Enem. Estão abertas vagas em turmas de Ciclo Básico, “para alunos desde o segundo ano do ensino médio até pessoas que querem voltar a estudar”, aponta o informe do grupo. A taxa de inscrição custa R$ 28 e seleção também envolve prova e entrevista. Mais informações estão disponíveis no Manual do Candidato.

As inscrições para o Cursinho Popular Arcadas, da Faculdade de Direito da USP, estão abertas até o dia 15 de julho por meio de formulário on-line. A taxa de inscrição é R$ 22,50. Na primeira fase da seleção, os interessados devem apresentar uma redação. Na fase seguinte, será feita uma entrevista. São oferecidas 120 vagas. 

Em Ribeirão Preto, o cursinho também é organizado pelos estudantes da Faculdade de Direito. As inscrições estão abertas até o dia 4 de julho. O funcionamento é gratuito com apoio de entidades parceiras que doam materiais didáticos. Para o segundo semestre de 2022, estão disponíveis 14 vagas. 

Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, a iniciativa foi batizada de Cursinho Popular Clarice Lispector. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 3 de julho por formulário on-line. A seleção dos candidatos, após o preenchimento do formulário, se dará com a participação em uma aula inaugural e utilizando critérios como cotas raciais e sociais, alunos de escola pública, situação socioeconômica e ex-alunos do cursinho.

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A rede de cursinhos populares “Para Romper Silêncios” nasceu da ideia de democratizar a educação, principalmente para os jovens residentes de bairros periféricos de Belém, como Terra Firme, Cabanagem, Barreiro e Icoaraci, e que não possuem acesso ao preparo educacional de qualidade para entrar em uma universidade. É nesse sentido que o projeto procura por professores voluntários para o corpo docente do cursinho.

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A Rede, idealizada no projeto de campanha da vereadora Beatriz Caminha (PT), foi pensada para amenizar as desigualdades nos ambientes periféricos, e fornecer a educação para estudantes de baixa renda que desejem ingressar na universidade – espaço que, hoje, ainda é considerado elitizado.

A coordenadora do projeto, Carla Lima, destaca a importância do cursinho gratuito em um ambiente de violência e desamparo: “Sabemos que muitos jovens de periferia estão inseridos em ambientes de violência; assim, nosso principal foco é mostrar o quanto a educação pode ser transformadora e mudar realidades”.

A base educacional utilizada é a de Paulo Freire, priorizando o senso crítico e a ideia de conhecimento em todos os espaços e pessoas, além de buscar um aluno participativo e que exponha sua realidade em sala de aula.

“Saber que contribuo de alguma forma para a capacitação desses estudantes é o incentivo para me dedicar cada dia mais a esse projeto voluntário. Desde o início eu abracei a ideia de um cursinho popular de qualidade, gratuito e acessível para os alunos da periferia da nossa cidade, e ver o cursinho tomando forma e formando essa rede de apoio para os alunos é muito satisfatório”, conta a professora e coordenadora da disciplina Biologia Anna Luiza Santos.

A importância do projeto na vida dos jovens é inegável, mas o impacto acontece em toda a equipe, seja no âmbito profissional, seja no aspecto pessoal, segundo a professora. “Esse projeto me permitiu enxergar a educação de uma maneira mais humanizada. Ao pensar na necessidade dos alunos e nas suas rotinas que muitas vezes não possibilitam que se dediquem de forma integral aos estudos, aprendi a me adaptar e me reinventar de acordo com a necessidade dos estudantes. Fazer parte desse projeto tão especial me engrandece como profissional da educação, mas acima de tudo como ser humano”, relata Anna Luiza.

A estudante Joelma Oliveira conta que entrar no cursinho a fez ter esperança em alcançar seus objetivos. “O cursinho me deu esperança de poder entrar na faculdade, visto que é gratuito e os professores são excelentes. Eu poderei ter a expectativa de entrar no ensino superior”, conta a vestibulanda.

Joelma esclarece também que as ferramentas utilizadas pelo projeto ajudam no processo de estudo: “A rede me proporciona suporte para fazer a prova do Enem de forma segura por meio de videoaulas, material impresso, aulas on-line, aulas gravadas no YouTube e suporte no Google sala de aula”.

A rede de cursinhos populares procura por professores que lecionem as disciplinas de Física, Matemática, Sociologia e Letras (Língua Portuguesa, Redação e Literatura). Podem se voluntariar universitários das licenciaturas ou professores já graduados. Para se participar, basta entrar em contato pelo telefone (91) 8227-0901 ou pelo e-mail rdcp.pararompersilencios@gmail.com

Para alunos interessados em participar do cursinho, as inscrições devem ser feitas pelo link disponível no Instagram do curso (www.instagram.com/redecursinhospopulares) ou pelo telefone (91) 8417-4682.

Por Roberta Cartágenes.

 

A Rede de Cursinhos Populares Para Romper Silêncios está com inscrições abertas para professores voluntários que possam lecionar as disciplinas de Física, Matemática, Sociologia e Língua Portuguesa. As vagas podem ser preenchidas por alunos da graduação ou por graduados nas áreas de habilitação das licenciaturas. Para ser professor voluntário basta entrar em contato pelo telefone (91) 8227-0901 ou pelo e-mail rdcp.pararompersilencios@gmail.com.

Com aulas gratuitas, o projeto pretende preparar jovens das periferias de Belém, como Terra Firme, Cabanagem, Barreiro e Icoaraci, para os exames de vestibular a partir de uma base curricular construída por meio da Educação Popular de Paulo Freire, fomentando o senso crítico, o conhecimento científico, a cultura e a inclusão social. As aulas serão realizadas em formato virtual nesse momento de pandemia, para garantir a proteção dos alunos e professores.

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O projeto nasceu em 2019, a partir do Movimento Popular de Juventude em Disparada do Estado do Pará, mas foi em 2020 que alcançou voos mais altos. A Rede de Cursinhos Populares Para Romper Silêncios é uma plataforma para conectar pessoas e ideias por meio da mobilização de setores, que é o primeiro passo para ações concretas e amplas de transformação da sociedade.

Por Rodrigo Souza.

Diante da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o segmento da educação, assim como muitos outros, teve que se adaptar repentinamente a uma nova realidade de execução de suas tarefas. O ensino remoto foi imposto em respeito à recomendação de distanciamento social, a fim de evitar a disseminação da doença. Mas, e para o ano de 2021? Qual será o modelo de ensino que está sendo planejado pelos cursinhos pré-vestibulares? Presencial, híbirido ou remoto?

Fernandinho Beltrão, proprietário da Academia Fernadinho Beltrão, sediada no Recife, conta, ao LeiaJá, que sobre o planejamento para o ano de 2021 do preparatório, a instituição informou já no mês de julho deste ano que no ano seguinte, não haverá atividades presenciais. “No mês de julho, nós já anunciamos que em 2021 não haverá nenhuma atividade presencial de sala de aula ou secretaria na Academia. Na Academia, tudo será remoto. Nenhuma atividade pedagógica será realizada na Academia. Então, desde julho que nós estamos com todo planejamento. Então, a gente decidiu que independente de vacina, independente de remédio, 2021 todo será remoto, para que a gente possa planejar. Porque aula presencial pode e deve ter 45 minutos a uma hora e meia, aula on-line pode e deve ter de 15 a 20 minutos, é bem diferente. É bem diferente fazer aulas menores em maior quantidade do que aulas maiores em menor quantidade”, revela o professor de biologia.

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“Segunda coisa, as aulas presenciais pressupõem uma ideia que tem que levar em conta transporte público, tem que levar em conta cantina, tem que levar em conta temperatura da sala”, pondera Beltrão. Fernandinho diz que, pelo fato de a Academia já trabalhar com aulas ao vivo, eles não foram afetados; tratou-se de uma questão de adaptação. “Na Academia, a gente já faz todas as aulas transmitidas ao vivo há seis anos, por isso que a pandemia não pegou a gente. Era a pandemia chegando e a gente 10 quilômetros na frente. Nós estamos hoje a 300 quilômetros de dianteira, porque a gente já tinha isso. A gente já caminhava nesse sentido fazia muito tempo. Desde 1999, quando ainda se usava VHS, a gente já tinha aulas todas em vídeo. Então, assim, para este ano não foi difícil, foi adaptação. Para o ano que vem, aí a gente precisa ter planejamento, não dá para planejar vai e vem, não faz sentido. As provas têm que ser provas que durem de 45 minutos a uma hora. Não dá para o aluno eletronicamente, para treino, fazer prova desse jeito aí. Por outro lado, você pode fazer muito mais", relata.

"Por exemplo, em 2021, o planejamento da gente – e vai ser executado – é fazer mais ou menos 20 simulados por semana. Todos os dias têm simulado. Então, o aluno pode ter uma, duas ou três provas por dia. Ele faz se quiser. Por exemplo, ele vai ter 36 aulas na segunda-feira, 36 na terça, 36 na quarta, 36 na quinta. São aulas pequenas com temas previamente conhecidos. O aluno conhece os temas das aulas do ano inteiro de cada professor", continua Fernando Beltrão.

Já o proprietário do Espaço Conexão Cursos e pré-Enem, Everaldo Chaves, conta que o planejamento para o ano de 2021 se volta à modalidade híbrida. “Nós estamos planejando o ano de 2021 com a possibilidade de iniciarmos o ano letivo com aulas presenciais ou a depender da gravidade, do crescimento da pandemia, a gente iniciar o ano com aulas remotas. Então, na realidade, o planejamento ele está sendo híbrido, a gente está tendo que imaginar o ano presencialmente ou remotamente até a vacina ser aplicada em larga escala”, diz.

O gestor do Colégio e Curso Especial, Ozias Fonteles, conta que o planejamento para o ano de 2021 do pré-vestibular começou neste mês de novembro, mas que ainda há dúvidas quanto à procura por este tipo de curso. “Iniciamos o planejamento e a formatação, a precificação e a estruturação do planejamento agora em novembro, mas ainda com muitas dúvidas e interrogações a respeito de como vai ser o interesse, a procura por determinado tipo de curso. Então, nós optamos aqui a ofertar os dois modelos, o presencial e o remoto, visto que por experiências feitas nas semanas anteriores com os professores, o híbrido gera muitas dificuldades no momento da aula. Porque o híbrido tanto o professor tem que atender aos alunos que estão no momento na sala como os que estão em casa, da mesma forma. Isso aí requer operador, requer tempo para as perguntas tanto para quem está em casa como para quem está na sala de aula. Então, o modelo ainda não está funcionando redondo, vamos dizer assim", conta.

De acordo com Fernandinho, alguns resultados positivos - como economia de custos, principalmente por parte de alunos menos favorecidos economicamente - foram importantes na decisão de optar pela modalidade totalmente remota em 2021. “Na verdade, desde maio para junho, a gente resolveu que este ano (2020) a gente não voltaria e no ano que vem também não. Primeiro, pelos resultados, que a gente começou a perceber que estava havendo um grande avanço, inclusive nos alunos mais excluídos, que passaram a economizar transporte, roupa e lanches. Muito mais vantajoso para este grupo. Os meninos do interior, de outras cidades... Tudo isso fez com que a gente partisse para decidir 2021 totalmente on-line, totalmente não presencial. Todas as aulas são ao vivo, sempre. E não com presença de alunos”, assegura.

Everaldo Chaves, por sua vez, acredita que o ensino híbrido será adotado pelos cursinhos no próximo ano e que tanto docentes quanto discentes viram que é possível aprender de forma remota. “Acredito que a tendência é ensino híbrido, eu acho que a pandemia, ela trouxe mudanças e quebras de paradigmas para a educação. Tanto os professores quanto os alunos perceberam que é possível, sim, aprender remotamente. Então, eu acredito que os cursos presenciais, eles vão ficar cada vez mais otimizados, buscando suporte no ensino remoto”, avalia.

Quando perguntado se os alunos foram consultados a respeito do modelo a ser adotado em 2021 e qual é a modalidade mais aceita pelos estudantes, Fernandinho afirma que tanto os alunos como seus pais são ouvidos na Academia e que o modelo remoto é o mais aceito pelos estudantes. “Os alunos e os pais dos alunos são sempre muito ouvidos na Academia, todos os pais e todos os alunos têm acesso a todos os WhatsApp de todos os diretores. A gente conversa demais, justamente percebendo dos alunos que eles precisavam de ajuda. Ajuda é planejamento. Por exemplo, neste ano, nós não demos férias no mês de abril, que quase todos os colégios do Brasil deram. Também não demos em julho, também não vamos dar em dezembro nem janeiro, porque tem que cumprir o planejamento. É o jeito. É assim que funciona. Então sim (sobre o modelo remoto ser o que os alunos mais preferem), todos eles, é unanimidade", explica o docente de biologia.

Everaldo conta que, quando consultados  - em cenário de pandemia - acerca da modalidade de ensino a ser adotada no próximo ano - a maioria dos estudantes optou pelo ensino remoto. “Eles foram consultados. Em momento de pandemia, sem sombra de dúvidas, ensino remoto 70% dos alunos optaram. É tanto que agora eu voltei com ensino presencial e nem 10% dos alunos compareceram às aulas presenciais. A maioria preferiu se manter no remoto. Mas em um cenário normal, sem pandemia, o ensino presencial, ele ainda prevalece em meio aos estudantes de ensino médio, sobretudo os alunos mais novos”, explica.

Por meio de consulta para saber qual o modelo de ensino os alunos prefeririam estudar no próximo ano, Ozias conta que metade dos seus estudantes quer voltar ao ensino presencial, enquanto a outra metade prefere continuar no modelo remoto. “Fizemos uma pesquisa aqui através do Google Formulários e 50% já querem voltar ao modelo presencial e 50% ainda estão receosos e gostariam de continuar no modelo a distância (EaD). Mas tudo isso também deixando claro que o aluno ele precisa do contato da tutoria, do tira dúvidas e com a continuidade de simulados, aulões e essa tutoria on-line”, comenta Ozias. 

Em relação à sua expectativa quanto ao modelo de ensino a ser adotado no próximo ano pelo cursinho, Fernandinho conta que espera que os resultados sejam superiores aos que o cursinho sempre obteve. “A expectativa é que os resultados sejam muito, mas muito melhores do que o que a gente sempre teve. A gente sempre teve resultado bom. A Academia é não só mais antiga, mas o maior cursinho da cidade e a gente tem tido resultados fantásticos, mas a tendência é que seja melhor, é que ele abra um espaço de resultados nacionais. Agora, a gente sim pode fazer preparação como estamos fazendo preparação para a Universidade Estadual do Ceará (UECE), para a Universidade de Pernambuco (UPE), para a Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), para a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade Estadual Paulista (UNESP), a Universidade Estadual de Londrina (UEL), para a Universidade de São Paulo (USP). Ou seja, a gente consegue abrir um leque muito maior, porque faz um planejamento para ela. Então assim, a aceitação dos estudantes foi impressionante, foi muito melhor do que a gente poderia imaginar e os resultados, a expectativa é de uma coisa grandiosa, é de uma coisa muito boa. Avalie que o aluno não vai precisar perder oito, dez, doze horas por semana de transporte para os cursinhos. Ou o povo do interior, não precisa gastar dinheiro alugando apartamento em Recife. Fique em casa, agora sim é fique em casa. Ele vai gastar com a internet de qualidade em casa, com construir um estudiozinho para ele em casa”, finaliza.

Sobre sua expectativa no que diz respeito ao modelo de ensino a ser adotado no próximo ano no pré-vestibular, Everaldo afirma ser positiva. “Expectativa é, sem sombra de dúvidas, boa, porque a pandemia nos obrigou a conhecer outras ferramentas de ensino que nós professores e alunos percebemos que surtem efeito, então isso vai acabar otimizando muito a sala de aula, o ensino presencial. Por exemplo, meu curso tem três horas e meia, mas a partir do ano que vem vai ter duas horas presenciais, essa uma hora e meia, ela vai ser jogada para o ensino remoto. Então dá para otimizar o ensino presencial”, analisa.

Sobre a sua expectativa sobre o modelo de ensino de 2021, Ozias diz: “Minha expectativa em relação ao modelo é que 50% dos alunos vão optar pelo presencial e 50% vão optar em continuar pelo EaD, até por questões de preço também. Vamos dizer assim, o EaD hoje, ele está 50% mais barato do que o curso presencial. Agora, alguns cursos de ponta vão apenas adotar o modelo totalmente a distância, outros cursos vão adotar o híbrido. Mas eu acredito que o modelo misto, presencial ao mesmo tempo e on-line, acredito que possa, a gente possa estar atendendo melhor à expectativa dos alunos”.

A respeito dos modelos de ensino que podem vir a ser adotados pelos cursinhos pré-vestibulares em 2021, o professor de redação Diogo Xavier, que leciona no Squadrão Aula Show, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, diz que o ensino remoto é o modelo que ele acha mais adequado, considerando o cenário atual de pandemia. “Acredito que é mais viável investir no remoto, com algumas atividades híbridas, como monitorias e simulados presenciais para os que optarem pela modalidade, e remotos para quem não puder ou quiser. Ainda há risco de lockdown, de nova onda de contaminação, portanto começar as aulas mesmo de forma híbrida e depois ter que mudar a modalidade seria mais estressante para o fera. Eu acredito ser melhor já começar o preparo se acostumando com a forma remota”, pondera.

Já o professor de literatura Talles Ribeiro, que já atuou nos Caras de Pau do Vestibular e no Curso Nobre, acredita que essa não será uma escolha dos cursinhos e que as coisas ficarão sujeitas ao desenvolvimento da pandemia. No entanto, ele acredita que o ensino híbrido será o modelo mais adequado. “Acredito que isso não será uma escolha dos cursinhos. Nem dos professores, nem dos alunos. Tudo vai ficar a cargo de como a pandemia se desenvolverá. Mas acredito que o sistema híbrido deverá ser a melhor solução. O ensino presencial é insubstituível com a mesma qualidade”, diz Ribeiro.

Diogo Xavier e Talles Ribeiro indicam, ainda, quais são os benefícios e desafios de cada tipo de ensino adotado. “De todas as modalidades, acredito que para a maioria dos alunos o rendimento é melhor na forma presencial, a interação é mais frequente, é mais fácil manter o foco. O ensino híbrido, da forma como algumas escolas estão adotando, com a transmissão on-line da aula dada em sala, fisicamente, acredito ser um paliativo, não vejo como tão produtivo. Isso porque dividir a atenção entre os alunos que estão presentes fisicamente e os que acompanham por conferência torna a aula menos fluída, mais trabalhosa. Mas, em um contexto pós-pandemia, um ensino híbrido em que as aulas sejam parte presenciais e parte remotas ou gravadas, ambas para todos os alunos, pode potencializar o rendimento e até ajudar a sanar dificuldades. Já a modalidade remota, com um trabalho desde o início do ano letivo ou do preparo para o vestibular, e orientações a respeito de disciplina, planejamento, autonomia, pode ser adotada, mesmo após a pandemia, como uma modalidade para os alunos que optarem estudar integralmente em casa. É flexível, segue a realidade do estudante e tem muito potencial”, explica Xavier.

“O desafio para o presencial é a própria pandemia. O medo, o desgaste emocional. Tudo isso influenciará no rendimento dos alunos e professores. Já no híbrido, acredito que a maior dificuldade seja a adaptação. É confuso para o aluno entender quando, como e por que deve-se ir presencialmente ou ficar em casa. Porém, o remoto acredito que é o que carrega consigo mais desafios. Primeiro, por causa do acesso. O senso comum diz que todos os jovens hoje em dia são 'ligados' na internet, no mundo digital... Mas não é bem assim, durante a quarentena mais rígida ficou evidente a dificuldade que muitos alunos têm em usar as ferramentas digitais. Ademais é sabido que a internet não chega a todos e quando chega, não chega com a mesma qualidade”, acrescenta Ribeiro.

Entre os modelos presencial, híbrido ou remoto, o que permite melhor interação e rendimento dos alunos é o presencial, na opinião de Diogo: “Acredito que a modalidade presencial é mais interativa que as demais. Vivemos uma época multiconectada, em que estamos ligados simultaneamente a vários aparelhos e aplicativos. Em casa, muitas vezes o aluno ouve a aula enquanto olha as redes sociais, ou lava os pratos, por exemplo. Nessa situação, poucos interagem. Na sala de aula, fisicamente, é mais fácil haver a interação. Mas acredito que, com  orientação e autodisciplina dos estudantes, é possível tornar o ensino remoto ainda mais interativo e produtivo”. 

Os pré-vestibulares, cursos preparatórios que oferecem conteúdos para candidatos quem almejam ingressar em faculdades e que enfrentarão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), também poderão retornar às aulas presenciais. O Governo de Pernambuco autorizou, nesta segunda-feira (21), a retomada gradual das atividades na educação básica, a partir do dia 6 de outubro.

Ao LeiaJá, a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco informou que haverá limitação de alunos por sala nos cursinhos preparatórios. Esse quantitativo, porém, deverá ser anunciado oficialmente até 5 de outubro, além de outras diretrizes de segurança. No Estado, as aulas presenciais estão suspensas desde 18 de março em razão do novo coronavírus.

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Caberá aos preparatórios, assim como as escolas públicas e privadas, seguirem os protocolos de saúde, como o distanciamento de 1,5 a 2 metros, uso contínuo de máscaras, lavagem das mãos, limpeza dos espaços dos estabelecimentos educacionais, monitoramento dos sintomas e a utilização correta de álcool em gel. Também é obrigatória a medição de temperatura, além da organização fixa de grupo de estudantes em atividades pedagógicas.

De acordo com o Governo do Estado, alunos do terceiro ano do ensino médio, acima dos 15 anos, serão os primeiros a voltar às unidades de ensino no dia 6 de outubro. Posteriormente, em 13 de outubro, o retorno contará com estudantes do segundo ano. Depois, no dia 20 do mesmo mês, retornarão os alunos do primeiro ano, EJA, ensino médio técnico concomitante e ensino médio técnico subsequente.

“De todas as decisões difíceis que precisamos tomar, desde o início da pandemia, o retorno às escolas foi a maior delas. Mesmo com indicadores da Covid-19 em queda consolidada desde o final de maio, só agora, com a média móvel de casos e óbitos, além das solicitações de leitos de UTI, no patamar equivalente ao do início de abril, autorizamos a retomada de aulas presenciais no ensino médio”, comentou o governador de Pernambuco Paulo Câmara, conforme informações da assessoria de imprensa do Estado.

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Há três anos, quando conversou com o jornal O Estado de S.Paulo, pela primeira vez, Caroline Santos tinha acabado de deixar o emprego em um escritório de advocacia para mudar de vida: o dinheiro que juntou, com sacrifício, iria permitir a dedicação exclusiva à preparação para o concurso para uma vaga de procuradora pública. Com recursos suficientes para se manter por dois anos, ela abraçou uma rotina de até 12 horas diárias de estudo.

Com a queda no número de concursos desde a crise, no entanto, ela teve de voltar há quatro meses para o setor privado. Hoje, ganha o mesmo salário de quatro anos atrás. "Comecei a fazer uma pós-graduação, para me destacar. Não me arrependo de ter largado tudo para prestar concursos, é um sonho que não abandonei, mas que ficou guardado em um cantinho."

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As medidas de austeridade dos últimos quatro anos colocaram a folha de pagamento dos servidores na mira do governo e fizeram minguar o número de concurso, adiando os planos de muitos brasileiros que buscavam uma carreira no Estado.

Em menos de uma década, o número de contratações de servidores federais caiu para quase um sexto do que era. Se em 2010, foram admitidos 296 mil servidores, em 2018 (o dado mais recente), foram 50,7 mil, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), da Secretaria do Trabalho, compilados pela consultoria LCA.

O economista Cosmo Donato, da LCA, lembra que em 2010 a conjuntura fiscal permitia a maior reposição do funcionalismo. "A orientação era de expansão da máquina pública, não por acaso, foi ano recorde de contratações. De lá para cá, não só o espaço fiscal continua restritivo, como estruturalmente o quadro exige uma reformulação do funcionalismo."

Sem concursos novos, o funcionalismo deixou de ser reposto e, por enquanto, não há autorização para que sejam feitos concursos federais este ano de carreiras civis, apenas militares. Segundo o Ministério da Economia, 22 mil servidores federais devem se aposentar este ano. Até 2022, a previsão é de que cerca de 60 mil deixem o serviço público.

Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo apontou que a equipe econômica decidiu travar seleções de servidores até que a proposta do governo de reforma administrativa passe no Congresso. No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Executivo não poderia ser "irresponsável" e abrir concursos "desnecessários".

Retrato

Capital informal dos concurseiros, Brasília é um retrato das mudanças recentes no mercado de seleção para novos servidores. "Há pouco mais de cinco anos, dava para esbarrar em um cursinho preparatório a cada meia hora de caminhada. Só que muitos alunos se cansaram de esperar pelo edital que nunca vinha e metade das escolas fechou", conta o professor aposentado de matemática André Santos.

Para João Adilberto Xavier, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Cursos Livres do Distrito Federal, que também representa os cursinhos, não há dúvida de que empresários do setor estão sentindo a falta de novos concursos. Ele, no entanto, avalia que o setor sabe que, mais cedo ou mais tarde, as seleções voltarão.

"Faz parte do jogo. O empresário entende que o País está em um processo muito complicado de recuperação econômica e é preciso arrumar a casa. O Estado precisa voltar a ter musculatura para repor as suas peças", avalia Xavier.

Ele ressalta que quem sonha com uma vaga no serviço público deve entender que a tecnologia está transformando também as carreiras de Estado e que as mudanças de gratificação propostas na reforma administrativa serão positivas, se atraírem novos servidores que realmente queiram fazer a diferença no setor público.

'No ano passado,quase fui aprovada'

Sem perspectiva de novas seleções para as carreiras civis federais e com o destaque que a ala fardada vem ganhando no governo, a procura por cursinhos preparatórios voltados a concursos militares aumentou no primeiro ano de governo Bolsonaro.

Maria Gabriela Souza, 18 anos, tenta uma vaga na Academia da Força Aérea (AFA) desde os 15 anos e sabe que a concorrência aumentou. "Não tenho militares na família, mas desde pequena comecei a pesquisar a trajetória de mulheres que seguiram nas Forças Armadas."

Ela conta que no ano passado não foi aprovada por pouco e que este ano vai reforçar os estudos de matemática. "Quando a gente é aprovado, passa por um curso de formação que dura quatro anos. Como há limite de idade para se tornar oficial, se até os 21 anos não conseguir, minha segunda opção é estudar direito e ser Policial Militar."

Segundo coordenadores de escolas preparatórias especializadas ouvidos pelo Estado, a busca por turmas voltadas para seleções da Aeronáutica, Marinha e Exército aumentou 30%, entre 2018 e 2019.

Aos 19 anos, Giovani da Costa faz cursinho há três anos também para tentar uma vaga na AFA. "No ano passado, só não passei por nervosismo."

Para André Barbosa, diretor do Curso de Seleção Magister, de Brasília, com o desemprego alto e a falta de seleções para servidores civis, é natural que a procura pelas carreiras militares tenha aumentado. "Temos hoje 15 turmas preparatórias para colégios militares e para as carreiras nas Forças Armadas."

Ele conta que as seleções para o Exército são as que atraem mais pessoas, pela maior quantidade de vagas. "Muita gente passou a considerar as carreiras militares, mas acaba se assustando quando tem de enfrentar provas mais específicas, com questões de matemática e física. A parte boa é que, depois de formado, em algumas carreiras é possível ganhar remunerações iniciais de até R$ 8 mil."

Receita Federal

Ao defender a reforma administrativa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o governo gastava 90% da receita com salários e era obrigado a dar aumentos. "O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade, aposentadoria generosa... o hospedeiro está morrendo, o cara (servidor) virou um parasita", disse durante um evento, causando polêmica.

"Parasita, talvez, na cúpula dos Poderes. Mas nem todo funcionário público age assim", diz o engenheiro Alberto Camargo, de 47 anos. Trabalhando por conta própria há duas décadas, ele decidiu começar a estudar este ano para concursos. "O mercado privado vai ficando mais difícil a partir de uma certa idade. Tem meses em que eu não consigo trabalho."

Ele, que estuda cerca de quatro horas por dia enquanto espera a volta dos concursos federais, planeja se candidatar a qualquer vaga que pague pelo menos R$ 5 mil por mês, para pagar os estudos do filho. "Topo o que vier, mas queria tentar entrar na Receita Federal."

Há cinco anos sem seleções e com salários de até R$ 20 mil, a Receita Federal é o sonho da maioria que tenta uma vaga, conta a coordenadora pedagógica da Central de Concursos, Silene Rocha.

Sem concursos federais, no cursinho preparatório, que tem 1.800 alunos, a procura passou a ser por vagas municipais e estaduais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Faltando pouco mais de três meses para aplicação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nos dias 3 e 10 de novembro, é comum que os alunos tenham dúvidas sobre como guiar os estudos no clima de reta final. Um das perguntas que podem aparecer nesse período diz respeito ao tipo de estudo que o fera deve se dedicar: cursinhos pré-vestibulares, que abrangem todas as disciplinas, ou isoladas, que focam em apenas uma disciplina, de escolha do estudante? 

Para ajudar os feras a escolher a melhor opção, de acordo com seu perfil, o professor de história Everaldo Chaves, a convite do LeiaJá, dá dicas de como manter o foco. Para o educador, é importante levar em consideração o conhecimento prévio do aluno, aquilo que ele já estudou. “É importante levar em consideração, também, que, na maioria das vezes, fazer isoladas demanda mais tempo e recursos financeiros.”, diz. 

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De acordo com Everaldo, os cursinhos pré-vestibulares, que englobam todas as disciplinas do Enem, são os mais indicados para quem está começando a estudar agora ou para alunos que precisam de orientação. “Muitas vezes, o aluno sabe o conteúdo, sabe a parte teórica, mas não sabe como aplicar na resolução das questões do Enem”, finaliza Chaves. 

Para o professor de matemática Ricardinho, o fera também pode fazer isoladas nas disciplinas com maior peso no curso desejado. “Em contrapartida, se o fera consegue administrar o tempo, ele pode também fazer o cursinho pré-vestibular tradicional”, acrescenta. O professor também recomenda a resolução de questões, já que, segundo ele, as provas do Exame tendem a tomar como referência questões de exames anteriores. 

O professor de química Berg Figueiredo considera que um curso intensivo pode ser uma escolha mais pontual. “Os cursos intensivos têm como característica a resolução de questões, que é de extrema importância nessa etapa”, diz o professor, se referindo à reta final para a prova.

Segundo o professor de biologia André Luiz, fazer isoladas das disciplinas que têm mais dificuldade pode ser mais eficiente. André conta que o fera não pode deixar de responder questões de edições passadas para se acostumar com o ritmo da prova e modo que o enunciado é apresentado.

O professor Fred Fonseca, que leciona inglês, acredita que, para quem está começando a estudar agora, o cursinho pré-vestibular tradicional pode ser a melhor opção. Ainda de acordo com Fred, nos casos em que o aluno tem muita dificuldade em alguma disciplina, é recomendado fazer isoladas. “Eu sou a favor do cursinho tradicional e as isoladas somente para as disciplinas em que haja dificuldade por parte do candidato”, concluiu o professor.

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Eles já ajudaram milhares de jovens a ingressar na universidade dos sonhos. São inspirações, fontes de conhecimento e dignos de respeito. Aprenderam a se dividir entre as salas de aula e os caminhos do empreendedorismo. Apostaram na educação por satisfação pessoal, por acreditar em um país melhor no futuro, e dentro do próprio espaço assinaram uma metodologia não só de estudo, mas de vida. Disciplina, liberdade, sonhos, inclusão social e aprendizado. Os professores que montaram cursinhos por acreditar em uma forma diferente de passar o conhecimento também tiveram de reiventar a profissão e empreender. Conheça a história de três professores pernambucanos que acreditaram na educação e montaram verdadeiros "impérios" de preparatórios para o ensino superior.

Fernando Beltrão, 54, conhecido popularmente pelos vestibulandos pernambucanos como "Fernandinho", coleciona aprovações nos principais vestibulares do país. Em sua conta, já são mais de dez mil alunos graduados em medicina, sua especialidade, durante a trajetória de quase 40 anos trabalhando no ramo da educação. Professor desde os 17 anos, Fernandinho precisou enfrentar obstáculos, barreiras e muitos desafios para realizar os três principais sonhos, os quais sempre elencou como meta de vida. Em primeiro lugar, ajudar a família financeiramente e em outros patamares, se tornar médico para cuidar das pessoas e conhecer o máximo de países e culturas diferentes. “Eu nunca conheci um garoto que olhava para o mapa como eu. Passava os meus dedos para marcar os países que um dia iria. Era fascinante”, relembrou.

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Fernando nasceu na cidade de Catende, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, a 142 quilômetros do Recife e durante a adolescência, os estudos sempre estiveram em primeiro lugar, apesar das dificuldades pela falta de dinheiro. A família era grande, seis filhos, e financeiramente viviam no limite. A mãe, professora de escolas públicas nos anos 1950 e o pai ocupava o cargo de carteiro na cidade e posteriormente se formou em contabilidade. “Em casa, eu sempre estive envolto no ambiente da leitura e do aprendizado. Meu pai logo após se tornar contador, virou professor do curso de contabilidade. Meus familiares valorizaram muito o estudo, tanto que dos seis filhos todos quiseram estudar em diferentes graduações”, contou Fernandinho.

 “Em menos de dois meses, eu já estava certo de que queria fazer isso pelo resto da minha vida e eu só tinha 17 anos”. - Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImanges 

O sonho de ser médico foi algo que Fernando Beltrão sempre manteve como uma possibilidade real, mas a graduação se afastava aos poucos porque a família não conseguiria manter o garoto na cidade grande para estudar, nem pagar uma faculdade particular, que na época era "coisa de gente bacana". Estudou somente em escolas públicas de Catende e após terminar o ensino médio teve de enfrentar mais uma barreira. “Na época, fui obrigado a fazer o curso médio de contabilidade porque o governo da época, parecido com o atual, entendia que impor determinadas profissões fazia de conta que as pessoas estariam prontas para o mercado de trabalho. Mas, eu não tinha nenhum interesse nisso porque queria ser médico e não tinha ninguém que me ajudasse naquele momento. Então, fui e fiz”.

Os seus sonhos eram distantes, mas ele se agarrava na sensação de que um dia os realizaria. Aos 17, 18 anos, não se lembra bem, ele veio à capital pernambucana prestar o primeiro vestibular para medicina. “Levei pau, ponto de corte e não passei”, resumiu. Para fortalecer os estudos e focar no futuro, Fernandinho decidiu se arriscar na cidade grande e veio morar no Recife para estudar em cursinhos e se preparar melhor. Procurou um bolsa de estudos e foi recusado em 28 instituições ao todo. Ele se lembra bem. A 29ª o aceitou e como quase um presente de mãe para filho lhe deu uma bolsa integral. “Estudei de graça nos anos de 1980. Morei de favor, me virava para comer e dava aulas particulares para conseguir algum trocado”.

Passou vários meses se preparando para a prova e no fim do ano, Fernando prestou vestibular novamente. Desta vez, passou em medicina na Universidade de Pernambuco (UPE), onde atualmente é professor de Anatomia, há quase 30 anos. “Não passei com nenhum destaque, fui penúltimo lugar. Mas entrei de modo honrado”, relatou.

 “Na época, a faculdade era particular e para mim era caro e impossível pagar. Eu consegui de presente de uma pessoa com muito dinheiro e ela me deu uma quantia para pagar a matrícula. Lá dentro, fui em busca de bolsas de estudo e e assim me mantendo. Dentro da universidade já estabelecido, eu decidi trabalhar porque eu precisava viver na cidade e não era barato. Entre as opções possíveis, dar aulas particulares foi o que me despertou mais interesse. Apareceu uma chance para ser professor de biologia em um cursinho no centro do Recife. Era um estabelecimento voltado para estudantes de baixa renda. Passei no teste e consegui a vaga”, disse.

 “Em menos de dois meses, eu já estava certo de que queria fazer isso pelo resto da minha vida e eu só tinha 17 anos”.

Fernando Beltrão ajuda a potencializar a colocação de alunos nos principais processos seletivos do Brasil. - Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImanges

 Beltrão terminou a universidade, abriu consultório médico, mas se encontrou profissionalmente na arte de lecionar. Passou no concurso público para ser professor da mesma universidade em que se graduou. “Era impossível manter tudo ao mesmo tempo, tive que dar prioridade ao que me fazia mais feliz”, disse. Em 1987, um ano após se formar, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) anunciou a criação da segunda fase do vestibular, uma espécie de prova específica para as disciplinas. “Quando eu descobri isso, pensei que poderia aproveitar da melhor forma possível, sendo professor de biologia. Eu sabia que essa prova seria pesada e daria muito trabalho para os alunos”, explicou.

De olho no preparo mais denso e na nova metodologia da prova de vestibular, Fernandinho, em 1988, abriu matrículas no curso de biologia, especificamente para a segunda fase, em que alunos da área de saúde seriam o público-alvo. “Eu era médico e muitos professores de biologia não eram. Eu tinha estudado, meu espaço estava montado e em dois anos, o meu curso já era grande e conhecido”,  afirmou.

 Para ele, empreender é oferecer no presente mas visando o futuro. “É entender que existem coisas para ser ditas que o jovem precisa escutar. Antigamente, era a segunda fase da federal e Recife virou o paraíso dos professores bons e empreendedores. Atualmente, aposto muito na tela de celular porque acredito que isso é futuro e todas as minhas aulas já podem ser vistas pelo telefone, de casa ou de qualquer outro local com acesso à internet”, frisou.

 Fernandinho ensinou em colégios, cursinhos menores e outros até famosos. Mas, há 30 anos, decidiu investir na sua marca. Sua especialidade são alunos que sonham em um dia serem médicos, também. Ao longo dos anos o curso foi se modificando e se moldando ao mercado, com o fim da segunda fase dos vestibulares e a implementação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como prova que levaria o aluno à universidade.

“Eu não concordei com o Enem, no início. Achava alvo predador e pensava que não era democratizar a educação. Era dar vagas para alunos de classe média em todo país, que poderiam facilmente se mudar para onde fossem aprovados. Mas, eu precisava entrar com os três pés no Enem porque esse era o método e o fiz. Entendi a metodologia para ensinar aos meus alunos e hoje eles aprendem e se preparam para isso. Tenho alunos hoje desde o nono ano que já se preparam para o vestibular”.

Alunos estudam no pátio da Academia de Estudos Fernandinho Beltrão. Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImanges

A Academia de Estudos Fernandinho Beltrão, localizada no bairro da Madalena, no Recife, possui atualmente 1500 alunos, 25 professores, 15 monitores, quatro salas de aula e seis salas de estudo, além do pátio de estudos. Todas as sextas-feiras os alunos devem fazer o simulado semanal. São 180 questões inéditas, como é cobrado no Enem.

“Tenho que exaurí-los porque esse é o modelo do Enem. Aqui, ninguém escolhe onde senta na sala de aula, não pode atender celular e nem ir ao banheiro. O aluno não pode atrapalhar o fluxo de aulas. E se quiser ir ao banheiro pode sair, mas não volta. A aula é um momento de comunicação e tem que ter o seu valor. Temos um pátio grande só de dúvidas, o mesmo professor que dá aula presta o atendimento. Também temos vários monitores para ajudar os alunos. Se o aluno não fizer as tarefas de casa não adianta de nada. É mais importante praticar o do que assistir a minha aula. É necessário fazer isso porque funciona e eu sei disso porque estou no ramo há mais de 30 anos”, pontuou.

No site de Fernandinho, a equipe garante que o método inovador provocou o crescimento. "O curso foi crescendo. Primeiro, se tornou uma Central de Matérias Isoladas, que lançou grandes nomes da nossa educação. Rapidamente, ao oferecer todas as matérias, a central tomou a forma de Centro de Estudos. Hoje, temos o orgulho de sermos uma Academia de Estudos, nome que traduz de forma mais fiel a transformação que acontece aqui, todos os dias. Somos uma estrutura 100% voltada para o conhecimento e para o aprendizado".

 “Hoje, o curso tem matérias isoladas de todas as disciplinas e plataforma digital porque a web é o futuro e o presente. Isso pode até custar caro agora, mas quando isso virar lei no futuro, eu já vou ter essa metodologia faz tempo. Enxergar primeiro é o mais importante para ser empreendedor. As aulas aqui são de segunda-feira a quinta. Entre uma aula e outra todas têm recreio para um respiro de 15 minutos”, complementou.

 Sem esquecer da origem e da falta de oportunidades que teve de vencer, Fernandinho garante bolsas de estudos para alunos mais pobres. “Aqui no curso não são os melhores que estudam de graça. Pelo contrário, os fracos têm oportunidade. Quanto pior o aluno, mais eu quero ele aqui. Se eu conseguir fazer por ele alguma coisa eu ganho. A vitória tem muito a ver com isso. Eu sei da minha caminhada e como eu só precisava de uma oportunidade. Analiso o conjunto de fatores do aluno que precisa mais. É fácil convencê-lo de que ele tem que ser o protagonista. O fraco vale ouro pra mim”, frisou.

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   Matuta, mãe solteira e graduada em uma faculdade particular

 Fernanda Pessoa, 38, nasceu na cidade de Arcoverde, no Sertão pernambucano, distante 256 quilômetros da capital pernambucana. Nome conhecido entre os estudantes que pretendem prestar vestibular na capital pernambucana, a professora de português é dona de um dos cursos mais grandiosos e famosos do Recife. Em 2018, ela soma mais de 4 mil alunos, cem funcionários e muitos aprovados nos vestibulares do Brasil.

 A competência é acompanhada pelo sucesso e a alta procura por vagas no curso todos os anos. Mas, a trajetória de Fernanda como professora, líder e empreendedora não foi das mais fáceis. Portas fechadas, desconfiança, preconceito e muitas decisões arriscadas. “Eu digo sempre que não nasci professora, me tornei”, disse.

Durante a adolescência se dividiu entre o Recife e a terra natal. Na época, seu maior sonho era ser médica, desejo comum nas cidades do interior nordestino, em que a carência da assistência hospitalar é um dos principais problemas estruturais da região. “Meu sonho era ir para África ajudar as pessoas, mas a minha família era muito humilde. Minha mãe era dona de casa e meu pai professor de escola pública”, contou Fernanda.

Em 2018, ela soma mais de 4 mil alunos, cem funcionários e muitos aprovados nos vestibulares do Brasil. - Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

 Os planos de exercer a medicina foram adiados ao longo da adolescência. Aos 15 anos, Fernanda engravidou do namorado e teve de assumir a filha sozinha. “Meus pais me apoiaram moralmente, mas financeiramente eu tinha que me virar”, relembrou. Para conseguir bancar os custos da filha, ela começou a fazer doces e salgados para vender. Após terminar o ensino médio, a oportunidade que pensou ser mais viável foi estudar licenciatura em letras. “Entrei em uma faculdade privada porque pensei no que me daria mais possibilidades, já que poderia ensinar literatura, gramática e redação. E assim, conseguiria dinheiro com mais facilidade”, explicou.

 Já cursando letras, o empreendimento dos doces teve de aumentar. Ela vendia os quitutes nos corredores da instituição de ensino e conta que muitas vezes era preciso conversar com os professores para ser liberada das aulas e vender os lanches. “Em troca, eu dava aulas para eles em outras turmas. Era a forma que eu achei de ganhar um dinheiro para criar a minha filha”.

 Aos 18 anos, decidiu vir morar na capital pernambucana para lecionar. “Eu dei aulas em muitos colégios pequenos, no início. Mas, enfrentei muitas barreiras e tive muitas portas batidas na cara. Meu currículo era muito ruim, no sentido de não ser professora formada por uma universidade federal, era de uma faculdade particular do Sertão”, lamentou.

 Com a dificuldade de se manter como professora de colégios, Fernanda decidiu que podia dar aula particular nas casas dos alunos a noite para complementar a renda. Também continuava cozinhando para vender os lanches e mandar o dinheiro para casa, já que a filha ainda morava em Arcoverde com os avós. “Matuta, mãe solteira e graduada em uma faculdade particular. Foi assim que tudo começou”.

O primeiro cursinho que ela criou era composto por 13 alunos e funcionava em uma sala alugada. Mas, oito estudantes eram bolsistas. “Eu dava aula particular, em colégio e ainda cozinhava. Decidi fazer desse curso a minha África e ajudava os que não podiam pagar a mensalidade”. A forma como Fernanda passava o conhecimentos para os estudantes dizia muito sobre o amor que tinha pela profissão. “Eu tinha o sonho de ter um curso com a minha cara porque eu não me adaptava ao formato de uma educação tradicional e reguladora que algumas escolas tinham”.

 Sem perder de vista o sonho de ajudar mais pessoas, ela vendeu o único carro que tinha para montar o curso no local atual, dentro da área do Clube Internacional do Recife, no bairro da Madalena. “Cheguei aqui e nada era assim. O prédio era tombado e o local estava caindo aos pedaços. Entrei aqui com R$ 5 mil. Mas eu precisava de algo com a minha cara e eu notava que as pessoas não entendiam o meu sonho. Diziam que eu estava no caminho errado, que era loucura eu vender o carro, apartamento e se endividar em banco. Uma menina achando que vai chegar a algum lugar. Filho de pobre é pobre, pensavam”.

 Ao longo dos anos, o curso foi crescendo, parcerias foram feitas e desfeitas e o aprendizado mais que triplicou. Em 2018, o curso de Fernanda Pessoa completa duas décadas. “Eu sempre empreendi na minha vida. Isso nasceu comigo e meu instinto de sobrevivência era muito grande sempre. Desde as vendas de doces e salgados”. Bem sucedida em seu empreendimento, a professora de português diz que o financeiro não está em primeiro lugar. “A sociedade não entendia que não era o dinheiro. Queria participar da vida das pessoas, ajudar a transformá-las, ser lembrada por elas pelo meu trabalho e foi assim que eu comecei a brincar do que eu faço hoje”.

 Para ela, a educação no Brasil enfrenta graves problemas. “Hoje nós temos um formato de educação do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21. Esse é o grande desafio”. Fernanda esclarece que o trabalho dos professores não é respeitado. “Muitas vezes as pessoas perguntam: ‘‘você só dá aula ou trabalha também”.

“Hoje nós temos um formato de educação do século 19, professores do século 20 e alunos do século 21". Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

 O expediente de Fernanda tem início às 8h e as aulas seguem até as 22h. “Nos intervalos eu atendo os alunos. É exaustivo sair daqui todos os dias de madrugada. A gente, professor de verdade, não se preocupa muito com a auto promoção, não fazemos para aparecer. Eu não faço propaganda minha, só divulgo meu resultado quando saem os resultados dos vestibulares nas redes sociais. Nós temos hoje no Nordeste o maior curso de português em quantidade de aluno e resultado em aprovação do país”.

 A professora percebe também que ao longo dos anos, o acesso à universidade tem se tornado mais democrático no país. “Sei que antigamente filho de pobre não tinha espaço em faculdade. Eu noto que essa democratização aumentou absurdamente e vejo uma parte positiva nisso. Mas, me preocupo muito em saber se os alunos estão sorteando as notas deles em cursos que nunca quiseram para entrar em qualquer instituição”.

 Sobre o futuro do curso, o alto número de estudantes e de aprovações, Fernanda é taxativa. “Eu não me preocupo com o tamanho e o quantitativo. Me preocupo com a intensidade. Hoje o curso tem uma quantidade grande de alunos para que eu consiga beneficiar pessoas que não podem pagar. Atualmente, temos 600 alunos que estudam de graça. Então, tenho que trabalhar mais para que a conta se pague. Nós temos um setor de assistência social e selecionamos por renda e não por nota. Acho que ajudar aluno bom é muito fácil, mas ajudar o que não tem oportunidade é mais complicado”.

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Dos palcos do teatro às salas de aula, Bené é um dos criadores do curso “Os caras de pau”

Trabalhar com o público sempre fez parte dos anseios profissionais do pernambucano Benedito Serafim, 28. Aos 13 anos, ele atuava em peças teatrais e espetáculos como ator profissional. Dois anos depois, começou a dar aulas de teatro em Organizações não Governamentais nas periferias recifenses e em áreas de risco. Ele acreditava que a arte e o acesso à educação poderia mudar a vida de muitas pessoas.

 Morador de comunidade carente e com dificuldade financeira na família, Benedito, conhecido popularmente como Bené, teve a oportunidade de se inscrever em um curso técnico de Química Industrial. “Eu não gostava, tudo era monocromático e branco dentro do laboratório. Eu odiava aquilo demais”, relembrou. Anos depois, ele teve a oportunidade de prestar vestibular e escolheu licenciatura em geografia. Foi aprovado na Universidade de Pernambuco (UPE).

Aos 18 anos, Bené se tornou professor e no início da carreira dava aulas em colégios públicos e em alguns cursinhos menores. “Se tornar professor, para mim, foi mais fácil do que para outras pessoas. Eu já tinha uma metodologia com o público que funcionava. O conteúdo aprendi com a faculdade e com a vida”.

A estratégia do empreendimento 'Os Caras de Pau do Vestibular' era fundar algo a preço popular para que o foco fosse para alunos de colégios públicos e estudantes de baixa renda. - Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

 Em 2010, após assistir ao filme chamado ‘The Blues Brothers’, na tradução: “Os Irmãos Caras de Pau do Blues”, Bené e outros professores decidiram criar aulas interativas e com apresentações. “No filme, era a história de dois homens que tentam salvar um orfanato através do blues. Usamos a mesma lógica para os aulões e tínhamos a intenção de salvar a geografia. A gente alugava teatros e os alunos adoravam”, explicou.

 O espaço ‘Os Caras de Pau’, localizado atualmente no bairro da Boa Vista, área central do Recife, surge como ‘Os Caras de Pau da Geografia’, inicialmente. “A gente começou a fazer uns aulões em um cursinho de pré-vestibular público que trabalhávamos na época. Fazíamos paródias nos aulões para os alunos da instituição e dava super certo. Todo mundo gostava muito dos roteiros e pediam que o grupo criasse um cursinho nesses mesmos moldes. Por isso, arriscamos em montar nosso próprio estabelecimento”, afirmou Bené.

 Por três anos, Bené e os sócios permaneceram realizando os aulões de geografia. “Como deu certo no início, decidimos abrir para outras disciplinas. Eu era ator, eu escrevia roteiros, montava cenografia e os professores se tornavam personagens dentro da história. Os aulões eram ótimos na união da música, interpretação e conteúdo. Esse era o nosso diferencial. Tudo era pensado. As atuações estavam no boca a boca da cidade e os alunos continuam a cobrar a criação de um cursinho. Mas, é preciso ter coragem para empreender porque um cursinho seria uma responsabilidade muito maior”, pontuou.

 Em 2013, o professor Bené e os sócios decidiram abrir o cursinho com um conceito diferente do que era feito na época. Recife vivia o império das matérias isoladas e os valores eram praticamente impossíveis de serem pagos por pessoas mais pobres. “Eu cresci em comunidade carente, estudamos muito e somos filhos desse crescimento econômico dos anos 2000 e por isso queríamos dar acesso às pessoas que não tinham essa oportunidade. Percebemos que no mercado havia essa brecha porque as isoladas e os cursos eram muito caros”.

“Eu tenho muito orgulho de ver negros, periféricos entrarem nos cursos de direito e medicina e presenciar a população mais pobre ter esse acesso também". - Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

A estratégia do empreendimento era fundar algo a preço popular para que o foco fosse para alunos de colégios públicos e estudantes de baixa renda. “Para manter o curso, a gente precisaria de muitos alunos. Enquanto um pré-vestibular cobrava R$ 200 em uma disciplina, a gente cobrava R$ 100 em todas as matérias. Fomos de 300 alunos a 5 mil alunos. Após um tempo, a sociedade se separou e perdemos um pouco de estudantes. Hoje temos um pouco mais de 2 mil”, calculou. No vestibular de 2018, de 1.500 alunos matriculados, foram aprovados quase 600.

Há dois anos, quando a crise começou a dar indícios mais fortes no país, o grupo de professores precisou contratar profissionais para além da educação. “A gente sentiu um pouco na pele de não ter o manejo administrativo. Já éramos professores, empreendedores e nos unimos a um administrador para que ele pudesse nos ajudar a embalar o negócio”. Atualmente, além dos 2 mil alunos, a empresa tem mais de 40 professores e 15 funcionários administrativos. “Hoje eu costumo falar que eu não tenho um trabalho, mas tenho um emprego porque não faço por obrigação, faço porque gosto”.

Para ele, o grande crescimento do curso e a fama que ganhou se deve ao fato de dar mais oportunidades aos que mais precisam. “Eu tenho muito orgulho de ver negros, periféricos entrarem nos cursos de direito e medicina e presenciar a população mais pobre ter esse acesso também. Todos pagam impostos e a universidade é um local de aprendizagem para todos”.

Antes mesmo da divulgação oficial de seu edital, a edição 2017 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem mexido com estudantes e professores. Diante das declarações do ministro da Educação Mendonça Filho, em que a reforma do ensino médio possibilita o aluno escolher quais áreas quer estudar e que a prova do Enem pode ser realizada em único dia, o público começa a apostar em mudanças para a aplicação do Exame. No Recife, cursinhos já alteraram seus programas de aula e docentes apostam no fortalecimento de uma avaliação mais ‘conteudista’ e consequentemente mais específica.

Representante do preparatório Squadrão Aula Show, o professor de química Berg Figueiredo acredita que o Enem terá questões específicas. Justamente pelas mudanças previstas no Exame deste ano, o docente montou um plano de aula com níveis mais difíceis, no que diz respeito às resoluções. “O preparo está sendo feito com uma abordagem em questões de níveis mais elevados e com temáticas específicas. Acredito que o aluno que se prepara com um nível mais alto terá vantagem, pois existe uma tendência para que a prova do Enem se torne mais difícil”, explica o professor, em entrevista ao LeiaJá.

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Para o educador, caso o Enem recue e mantenha questões mais cotidianas, os estudantes que optarem por uma preparação mais específica ainda assim podem ter bons resultados. “Tenho uma concepção que o estudante preparado num nível mais elevado consegue se sair muito bem em aulas e resoluções de questões com níveis mais baixos. É aquela história de quem pula um muro de dois metros tem grande chance de pular um muro de 1 metro”, opina.

Outra sugestão do Ministério da Educação (MEC) é a realização do Enem em apenas um dia. Caso isso aconteça, é provável que o número que questões seja reduzido. “Prova em um dia causará menos desgaste nos candidatos, sem falar que o emocional conta bastante pelo tempo extenso. Porém, a desvantagem é que você terá uma avaliação menor”, analisa Berg. Atualmente, o Exame é realizado em dois dias, somando 180 quesitos. 

Professor do curso Conexão Isoladas, Marconi Sousa, da área de matemática, também optou por aumentar o nível de questões do seu cronograma de aula. O educador espera um Enem mais específico e vislumbra o retorno de assuntos não abordados nas últimas edições.

“Quando fazemos um planejamento nós procuramos contemplar todos os assuntos de matemática que seguem a cartilha das competências e habilidades do Enem, evidenciando assuntos que sempre são mais frequentes. O que pode acontecer, em meu ver, é que o Enem pode acrescentar alguns assuntos que foram excluídos, fazendo com que o professor adapte seu planejamento a esses novos assuntos, mas sempre procurando se adequar às competências e habilidades”, explana o professor. Segundo Marconi, alguns dos assuntos que podem aparecer são matrizes, determinantes, polinômios e números complexos.  

A equipe do CN 1000 Vestibulares também preparou um plano de aula com questões de nível elevado. De acordo com a professora de biologia Juliana Duarte, a depender do edital do Enem 2017, o planejamento do preparatório pode, novamente, passar por alterações. Quem compartilha da ideia é o docente de química Bruno Ramos. Confira o vídeo a seguir com depoimentos dos educadores:

O edital do Enem 2017 será publicado em fevereiro, segundo o MEC. Para ajudar na composição do documento, o Ministério abriu uma consulta pública para colher opiniões da população

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Estudantes que desejam se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2016 e demais vestibulares do Estado já podem se inscrever no processo seletivo para o pré-vestibular Projeto Integração, ligado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O curso é destinado a estudantes oriundos de escolas públicas e bolsistas integrais de instituições privadas.

Os interessados nas 80 vagas disponíveis podem se inscrever das 9h às 12h e das 14h às 17h, até a próxima segunda-feira (21), na sala B2 do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), no Campus Recife da UFPE. A taxa de participação custa R$ 10 e, no momento da inscrição, os candidatos devem apresentar cópia de RG e da Ficha 19. Os estudantes bolsistas devem apresentar declaração para comprovar a condição. Segundo a coordenação do curso, até o início da tarde desta segunda-feira (18), três pessoas se inscreveram. 

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A prova para selecionar os futuros alunos será realizada dia 14 de fevereiro, das 13h às 17h. Outras informações podem ser obtidas na página virtual do projeto. O Campus Recife da UFPE está localizado na Avenida Professor Moraes Rego, 1235, no bairro da Cidade Universitária, Zona Oeste da cidade.

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Na reta final para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segue acelerado o ritmo de estudo de alunos no Pará. Nos cursos preparatórios de Belém, o momento é de resolução de questões de provas anteriores e revisão de conteúdos. Aos exames serão aplicados neste sábado (24) e domingo (25).

Às vésperas do exame, conter o nervosismo e calcular como usar o tempo de prova da melhor forma são os principais desafios. O Enem é obrigatório para o ingresso nas duas maiores universidades públicas do Estado, a UFPA e Uepa.

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Para Lucas Lopes, de 19 anos, o fator tempo é um dos principais obstáculos para os estudante: “A maior dificuldade, sem dúvida, é o tempo, sobretudo no segundo dia do exame, por conta da prova de matemática, que é muito trabalhosa”.

Lucas, que se prepara em um cursinho particular da capital, se concentra para tentar fazer uma leitura rápida e precisa das questões e sair na frente na luta por uma vaga no curso de medicina da UFPA. “Deixo para o final as questões mais difíceis, porque a prioridade é acertar as questões de nível médio e as fáceis, devido à Teoria de Resposta ao Item". 

Nos dois dias de prova, os alunos têm, no total, dez horas para resolver 180 questões de múltipla escolha e ainda fazer uma redação - a etapa mais temida do Enem. Ler bastante sobre assuntos atuais, filosofia, sociologia e direitos humanos é o que se recomenda dentro das salas de aula.

Avaliação - O professor Rafael Barreto diz que o Enem é, também, um exame que avalia a agilidade dos alunos. Ele acredita que ser ágil não é sinônimo de ser rápido. “Tem que ser calmo e atencioso. Prestar bastante atenção no comando das questões e entender o que realmente ele está pedindo”.

Sobre a redação, o professor afirma que elaborar um bom texto e ainda economizar tempo é mais um desafio para os estudantes. Trabalho difícil, mas não impossível. “Se o aluno treinou bastante ao longo do ano, ele vai conseguir desenvolver uma boa redação, independente do tema”. 

A notícia de que o Governo Federal decidiu proibir a realização de concursos públicos em 2016 pegou muita gente de surpresa, principalmente os concurseiros. A medida pretende reduzir gastos no orçamento do próximo ano. De acordo com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, a não realização de certames fará os cofres públicos economizarem R$ 1,5 bilhão. Para os cursinhos preparatórios, em um primeiro momento, a informação é muito negativa.

Segundo o vice-diretor do Nuce Concursos, preparatório de forte atuação no Recife, Cícero Roseno, “a notícia é péssima, de imediato”. “Gera um impacto negativo. Quem não conhece concurso público de fato vai se distanciar e essa notícia pode diminuir o interesse desse público”, complementou Roseno. Já em relação às pessoas que estão se preparando para os certames, o vice-diretor do Nuce acredita que existem outras opções para o ingresso em vagas públicas.

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Para Cícero Roseno, processos seletivos menores, como os de origem municipal, são boas alternativas de ingresso em detrimento da falta dos concursos públicos federais. Porém, levando em consideração o cenário de Pernambuco, ele admite que as condições de aprovação no estado não são boas. “Aqui em Pernambuco está complicado. Temos um governador que suspendeu as nomeações. Mas a comunidade concurseira tem que saber que existem outras alternativas”, disse Roseno.

O vice-diretor do Nuce preferiu não se alongar nas possíveis dificuldades que podem atingir o mercado de preparatórios. Segundo ele, como a notícia é muito recente, é preciso analisar mais a fundo como será a não realização dos certames. Porém, ele lembra que existem alguns concursos já autorizados e que ainda devem ser realizados pelo Governo Federal. A necessidade, segundo Roseno, pode ocasionar a concretização das seleções autorizadas. “O concurso do INSS é um que já está autorizado e deve acontecer pela necessidade. A instituição, que está passando por uma greve, precisa de servidores e ainda existe um quadro de exonerações”, finalizou.   

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Quem vai enfrentar provas de vestibulares e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) precisa estudar muito. Com a concorrência aumentando a cada ano e o tempo escasso, os jovens buscam os pré-vestibulares para se aprofundar mais nos assuntos abordados e pedidos de acordo com as matérias. O conteúdo precisa ficar o tempo todo na ponta da língua. Esse tipo de preparatório ganhou destaque pela proximidade e a grande bagagem que podem proporcionar aos estudantes. É normal perceber que quando as épocas de vestibular se iniciam na fase final do ensino médio, os candidatos começam a procurar os cursinhos mais famosos, aqueles que tem um número maior de indicações e aprovações. Essa é a maneira que facilita o aprendizado que foi esquecido ou perdeu qualidade no decorrer dos anos de estudo.

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Mas isso não é tão simples para estudantes das redes públicas ou de baixa renda. Muitos não têm condições financeiras para pagar um cursinho preparatório e aprofundar seus assuntos. Foi por esse motivo que várias instituições criaram os pré-vestibulares voltados para esses alunos.  O Projeto Interação e o Pré-Vestibular da Universidade de Pernambuco (Prevupe) são alguns dos “cursinhos comunitários” voltados, principalmente, para aqueles que desejam ser aprovados em uma boa universidade, mas que dispõem de poucos recursos para tornar seu sonho realidade.

O Interação é um projeto de extensão da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que está vinculado com a Pro Reitoria de Extensão (PROEXT) com o intuito de facilitar a entrada de alunos da rede pública nas instituições públicas de nível superior, como a própria UFPE, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade de Pernambuco (UPE) e o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), entre outros.

Todos os que lecionam no Interação são voluntários, alunos de diversas graduações e instituições do Estado, que se juntam para ensinas os alunos.  O responsável pelo projeto, Jônatas Lins, declara que a margem de aprovação é entre 184 e 198 alunos por ano, mas o número de matriculas vem diminuindo. “ Acredito pelo fato do Enem ser a nova porta de acesso ao ensino superior no Brasil, algumas pessoas não o veem com seriedade, por causa de todas as falhas que ocorreram em anos anteriores. Também é visível que a universidade publica não é algo que chame a atenção mais de todos que querem o ensino superior por causa da abertura das vagas em faculdades particulares”, afirma.

O Prevupe  já atendeu cerca de 20 mil pessoas. O projeto, que é realizado em 34 municípios de Pernambuco, consegue atender a um grande número de estudantes porque recebe recursos do Governo do Estado. As aulas, feitas nos finais de semana, são gratuitas e exclusivas para estudantes que cursaram ou que estão cursando o 3º ano do ensino médio em instituição pública. O coordenador geral do projeto, Carlos Roberto da Silva, relata que a iniciativa é bem sucedida e cresce a cada ano. “ O Prevupe existe a mais de 15 anos e só no ano passado atendeu mais de 8 mil alunos da rede pública”, afirma. Em 2013, mais de 2 mil alunos conseguiram passar nas principais universidades do estado e cerca de 5.400 alunos foram classificados através do sistema de cotas da UPE E UFPE.

As dificuldades de fazer um bom trabalho

O projeto Interação, por ser feito de forma gratuita e voluntária, sofre com a falta de apoio de organizações. Jônatas Lins relata que apesar da Federal ajudar, ainda não é suficiente para suprir todas as necessidades. “É um trabalho duro para que possamos lecionar com melhor qualidade, pois todos os nossos professores são voluntários e a maioria é de estudantes de graduação. Esse projeto é uma via de mão dupla, não é apenas ensinar e sim aprender com eles na sala de aula”, conta.

Outro ponto que é posto em conta é que uma das dificuldades é a falta de visibilidade e melhores condições para se lecionar as aulas. “Espaços para melhor atender os alunos e aos nossos professores, uma sala para a coordenação que daria suportes técnicos, uma biblioteca para atender melhor a todos. É bem difícil, porque sabemos que nem todos os livros são baratos. Desse jeito nós talvez conseguíssemos diminuir a evasão e ter uma aprovação maior nos vestibulares desses alunos”, declara.

 

Não há mais o que contestar. Com a adesão pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), os estudantes que pretendem ingressar na instituição devem se preparar, mais do que nunca, para prestar um bom Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No Sisu, candidatos de todo o Brasil podem concorrer a uma vaga nas unidades de ensino parceiras, com o Enem como único método avaliativo. Segundo dados do Ministério da Educação, 50 dos 59 centros universitários federais utilizam o Sisu como forma de ingresso.

Entre os pontos positivos levantados está a humanização do profissional, que vai ser avaliado em mais matérias do que apenas as específicas de seu curso. Por outro lado, o Sisu aumenta a concorrência, além de o Enem ainda sofrer com algumas falhas em sua aplicação. Para o curso de medicina, tradicionalmente um dos mais concorridos do Brasil, a novidade na federal pernambucana tirou o sono de muitos estudantes. O que vai mudar na forma de estudar? 

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A principal mudança na forma de estudar para o Enem é a interdisciplinaridade. Além de estudar todas as matérias, o estudante precisa relacionar o conteúdo aos principais assuntos do dia a dia. “O aluno tem que ser incentivado a ler jornal todo dia, os professores são estimulados a trazer coisas novas para a aula. É preciso ficar por dentro do que acontece, porque isso é cobrado na prova”, conta Berta Biondi, diretora pedagógica do Colégio Núcleo.

Para o professor Fernando Brandão, do curso Fernandinho & Cia, referência na preparação de alunos para o vestibular de medicina, a alteração no processo seletivo da Federal não foi uma surpresa. “Já vínhamos antecipando a mudança. Muitos cursos já vêm focando no Enem. Foi apenas uma consolidação do que vinha sendo feito”, comenta. No curso de Fernandinho, os alunos já recebiam uma preparação de matérias integradas, com a preocupação de relacionar os conteúdos, da mesma forma que é explorada no exame nacional. Logo após o anúncio da adesão, o curso aplicou 54 simulados com 45 questões cada, ao modelo do Enem. “Queremos que nosso aluno se adapte ao exame”, comenta Fernando. 

A preocupação dos estudantes com a mudança é grande, mas há uma confiança quanto à consolidação do Enem como método avaliativo. “Quem não é bom aluno não entra em medicina pelo Enem”, comenta Vitória Albuquerque, 17 anos, que atualmente cursa o terceiro ano do ensino médio no Colégio Núcleo. “O vestibular tradicional da UFPE cortava quem não sabia os mínimos detalhes. Já o Enem tem uma visão mais geral”, comenta a estudante. 

 

TRADICIONAL X ENEM

Apesar de atualmente o foco da maioria dos estudantes e instituições de ensino ser o Enem, os vestibulares da Universidade de Pernambuco (UPE) e das faculdades de medicina privadas continuam com o modelo tradicional. “A dificuldade pra gente agora vai ser se dividir. Estudar para a visão tradicional da UPE e para a do Enem ao mesmo tempo”, conta Giovanna Brito, 17, estudante do Colégio Núcleo que também quer uma vaga no curso de medicina. 

Maria Carolina Mota, de 19 anos, passou no curso de medicina da UPE em 2014. Segundo ela, a adesão ao Sisu vai ser positiva também para os alunos que desejam ingressar na UPE. “O vestibular da UPE tenta se aproximar do Enem, o tipo de prova é parecido. A avaliação da UFPE que era muito tradicional. Agora, os estudantes podem se preparar para o Enem e, ainda assim, ter um bom resultado na UPE”, diz Carolina. 

Apesar de toda a mudança de foco, a preparação e o empenho dos estudantes não devem sofrer grandes alterações. “O estudante que pretende cursar medicina deve ter uma grade de estudos bastante variada. Ele deve estar sempre preparado para tudo. O bom estudante tem domínio de todas as matérias”, explica Fernando Beltrão.

Estudar para o vestibular exige uma série de escolhas como o cursinho ideal e até o melhor local para revisar a matéria. No Recife, há vários cursos pré-universitários com diferentes preços e formas de ingresso. O importante é o foco nas provas do vestibular e do Exame Nacional do Ensino médio (Enem). Mas, é preciso prestar atenção nas aulas e a saber a melhor maneira de estudar.

Para o coordenador pedagógico do pré-vestibular Interação, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jônata Lins, a metodologia de ensino deve ter o foco nas disciplinas obrigatórias do ensino médio, aplicadas ao cotidiano do aluno. O mesmo explica que um lugar tranquilo é ideal para revisar a matéria. “O lugar tem que ser tranquilo e livre de interferências, como pessoas passando e barulho”, disse Jonatas. "Uma biblioteca pode ser um lugar ideal para estudo."

Já o professor de matemática, Bruno Cavalcante,  informou que aparelhos eletrônicos atrapalham os estudos e que a iluminação é fundamental para afastar o sono. “Eu indicaria um bom tempo de estudo antes de ir dormi, pois durante o sono é que o conteúdo visto durante o dia é fixado na memoria. Nada de musica, TV ou outros fatores que possam desviar a atenção. O ideal é ter um local iluminado para estudos uma mesa com uma cadeira bem confortável e nada de estudar deitado, dá sono”, enfatizou Bruno.







Seja em aulas presenciais durante a semana ou duas vezes na semana em matérias isoladas, o importante é escolher a melhor forma para revisar o conteúdo para se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e para os vestibulares das universidades públicas. Concentração e traquilidade são tão fundamentais quanto um local tranquilo para estudar.



 











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Ingressar em uma faculdade e fazer carreira de sucesso na vida é o sonho de muitos estudantes. Mas eles sabem que entrar no listão dos aprovados das universidades federais custa caro e exige muita dedicação. Mas o fera não precisa ficar preocupado: uma das opções é recorrer a um cursinho pré-vestibular.

Os cursinhos variam entre 200 e 800 reais por mês. Mas para quem não tem uma boa renda, ou não quer trazer mais um gasto para seus responsáveis, tem como opções alguns cursinhos gratuitos, como o Projeto Interação, realizado por alunos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

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O coordenador do Projeto, Jônatas Lins, comenta sobre o potencial do curso. “O Interação oferece 80 vagas no início do ano para alunos que comprovem não ter renda suficiente para pagar um pré-vestibular. Durante o ano, algumas pessoas desistem, mas das que ficam, 80% passa no vestibular da UFPE”, afirma.

De acordo com Jônatas, o único gasto que o estudante tem são os 5 reais da inscrição, no qual a metade é revertida para as cópias das provas do processo seletivo e a outra metade é direcionada para o material didático oferecido aos alunos durante o ano letivo. “O princípio do Interação é atender a quem não tem condições de pagar os cursos particulares, e essa solidariedade acaba entrando dentro da sala de aula e fazendo com que os alunos sejam solidários uns com os outros”, afirma Ritcchelle Araújo, formado em letras pela UFPE e ex-aluno do projeto.

Mas não é só o cursinho Interação que oferece essa oportunidade. Jéssica Ramos, 16 anos, é aluna do Cursinho Cidadão, também por alunos da instituição. “O projeto Cidadão foi uma boa oportunidade, fiz a inscrição por apenas 10 reais. Tenho aulas todos os dias, os professores são pontuais e o curso é bastante puxado”, afirma a estudante.

O professor Marcelo Menezes esclarece que nenhuma alternativa adianta se o aluno não se dedicar. “O que faz o aluno entrar em uma universidade pública é o desempenho dele nos estudos. O curso mais caro ou o mais barato realmente só funciona com a dedicação do aluno”.

Os professores dos cursos são voluntários e variam entre estudantes da própria universidade e pós-graduados. Segundo Jônatas, ainda existe uma dificuldade de encontrar professores de língua estrangeira, quem quiser se voluntariar (com direito a certificado de monitoria), pode entrar em contato com o coordenador, através do blog do projeto ou do telefone 81 9413-7319.

As aulas são de 13h às 18h20 de segunda a sexta e de 8h às 16h no sábado. O processo seletivo desse ano já foi encerrado, mas o remanejamento permanece durante todo o ano. As divulgações do curso acontecem sempre entre os meses de janeiro e fevereiro. 

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