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No auge da Lava Jato, acordos de leniência eram tratados nas empreiteiras alvo da operação como o único caminho para a sobrevivência. Agora, a expressão usada nas empresas para se referir aos contratos é outra: "bomba relógio". Sob argumento de que estão em sérias dificuldades financeiras, empreiteiras que concordaram em pagar bilhões ao erário pelos desvios confessados tentam repactuar os débitos - seja em relação ao valor ou às condições de pagamento.

Segundo o Estadão apurou, Novonor (antiga Odebrecht), Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e UTC estão neste grupo. Segundo delatores da Lava Jato, ao lado da OAS, este grupo de empreiteiras formava uma espécie de "clube vip", que se associava para fraudar licitações e superfaturar contratos.

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As cinco concordaram em celebrar acordos de leniência bilionários com as autoridades públicas. Os acordos de natureza administrativa são uma espécie de delação premiada das pessoas jurídicas.

"O que posso assegurar, como um observador privilegiado, seja pela condição de advogado ou docente, é que existe mais do que interesse, existe uma necessidade vital das empresas. Se não houver essa redefinição de valores estaremos assegurando o fim do instituto do acordo de leniência", afirmou o advogado Sebastião Tojal, que foi responsável pelo acordo da Andrade Gutierrez e da UTC. Ele não quis comentar casos concretos.

As cinco leniências firmadas com a União somam R$ 8 bilhões, dos quais cerca de R$ 1 bilhão foi pago até hoje, segundo informações disponíveis no site da Controladoria-Geral da União (CGU).

Durante as apurações, os investigadores apostaram no estabelecimento de um valor alto, mas com pagamento prolongado. Em julho de 2018, a Odebrecht concordou em pagar R$ 2,72 bilhões pelos desvios confessados pela empresa e seus executivos. O montante foi parcelado em 22 prestações anuais. O modelo se repete com as demais empreiteiras, podendo chegar a 28 anos, no caso da OAS.

Argumentos

As empresas listam argumentos para defender a revisão dos acordos. Entre eles, a dificuldade em voltar a contratar com o poder público, somada à crise econômica agravada pela pandemia, que faz com que elas não tenham o fluxo de caixa imaginado quando fecharam os acordos. Ponderam ainda que o fim das grandes obras públicas e a recessão econômica no País derrubaram o investimento público e privado em infraestrutura desde 2014, quando chegou a R$ 188,5 bilhões. Em 2020, o valor foi de R$ 124,8 milhões, de acordo com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). A história das empreiteiras nos últimos oito anos acumula casos de venda de ativos, recuperação judicial, demissões e dívidas bilionárias - incluindo as derivadas das multas e indenizações estabelecidas na Lava Jato.

Na visão das empresas, os acordos não resultaram na tranquilidade operacional esperada. Uma das principais queixas é em relação ao descompasso de ações de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU), CGU e Ministério Público Federal (MPF). Medidas desencontradas, segundo as empreiteiras, causaram mais insegurança e dificuldade de contratação com o poder público. Para o advogado de umas das construtoras, a empresa não pode assumir "uma obrigação que seja um suicídio".

"Esses acordos buscam, de um lado, indenização. De outro, compromissos de integridade e, finalmente, informações a partir das quais a autoridade possa promover investigação", observou Tojal.

"A indenização acabou por prevalecer sobre os demais objetivos. Salvar a instituição 'acordo de leniência' significa redefinir valores que possam ser pagos sob pena de a empresa não conseguir indenizar e deixar de cumprir as outras funções." O advogado defende que haja uma definição política sobre a questão. A demora da via judicial, segundo ele, será fatal para as empresas.

Conforme advogados, o debate sobre a repactuação dos acordos ganhou força nos escritórios que negociam em nome das empresas conforme as condições econômicas de cada uma delas se deterioram e o risco da inadimplência aumenta. A Lei Anticorrupção, que fundamenta os acordos de leniência, entrou em vigor no início de 2014. Desbaratada no mesmo ano, a Operação Lava Jato foi o primeiro e maior teste para o instrumento desde então.

A série de derrotas sofridas pela Lava Jato no ano passado contribui para a insatisfação das empresas com a multa acordada. "Muitos desses acordos consideraram fatos ilícitos à época de sua celebração, que foram considerados lícitos ou de menor gravidade posteriormente em processos penais. A empresa assumiu pagar uma reparação por algo que depois não foi considerado um dano ou foi considerado um dano menor", disse o advogado Walfrido Warde, presidente do Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IRREE).

Prazos

Algumas empresas buscam mudar a forma de pagamento e esticar prazos. Outras tentam diminuir o valor acordado, um caminho considerado mais difícil, conforme a maior parte dos advogados ouvidos pelo Estadão. Segundo pessoas que acompanham o caso da Odebrecht, o pedido da empresa é para conseguir um alívio nas prestações devidas até 2025. A partir daí, assumiria valores mais altos para honrar o montante total acordado. O ano de 2025 é também o compreendido no plano de recuperação judicial do grupo, que tinha quase R$ 100 bilhões em dívidas.

As manifestações de empresas com pedido para alterar as condições da leniência correm em sigilo. Advogados tentam negociar diretamente na CGU, que passou a centralizar a atuação sobre leniência. Tojal, único dos advogados de empreiteiras consultados que aceitou falar publicamente sobre o tema, nega que a diminuição de valores signifique que o Estado não será ressarcido por danos causados por corrupção.

 

Delatores querem anular tratos firmados na Justiça

Em meio à série de derrotas impostas pelo Supremo Tribunal Federal à Operação Lava Jato, como a soltura de réus, delatores também tentam anular acordos.

Como mostrou o Estadão em abril, colaboradores questionam os tratos firmados na Justiça. Em caso de êxito, há brecha para devolução de multas já pagas, segundo especialistas em direito penal. Para os delatores, a sensação é de eles são os únicos punidos enquanto réus delatados ficam livres de sanções.

Na lista de insatisfeitos estão executivos da Odebrecht, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, o ex-presidente da UTC Ricardo Pessoa e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Ministério Público Federal (MPF) no Paraná pediu à Justiça, na noite dessa segunda-feira (8), a condenação do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil - Governo Lula) por lavagem de dinheiro em um processo aberto na esteira da Operação Lava Jato. Na ação, ele é acusado de receber R$ 2,4 milhões em propinas das empreiteiras Engevix e UTC.

Nas alegações finais do processo encaminhadas ao juiz Luiz Antônio Bonat, da 13ª Vara Federal de Curitiba, os procuradores também pediram a condenação de Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão do ex-ministro, e do ex-diretor da Engevix Gerson Almada, ambos réus no mesmo processo.

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A denúncia foi aceita pelo então juiz Sérgio Moro em fevereiro de 2018, quando o petista já havia sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em outros dois processos da operação. De acordo com a investigação do caso, Dirceu teria recebido os valores durante e depois do julgamento do mensalão. As propinas teriam sido pagas em acertos de corrupção envolvendo contratos da Petrobras.

Além das condenações, os procuradores pediram o bloqueio de R$ 2,4 milhões dos réus, pagamento de multas e cumprimento de penas em regime inicial fechado.

O ex-ministro, que chegou a ser preso em mais de uma ocasião, deixou a prisão em novembro de 2019, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) revogar a prisão após condenação em segunda instância.

A reportagem entrou em contato com o advogado Roberto Podval, que defende o ex-ministro, e aguarda resposta. Quando a denúncia foi recebida pela Justiça, em 2018, a defesa afirmou ver "desnecessidade" da ação contra José Dirceu.

O Tribunal de Contas da União (TCU) investiga se multas aplicadas a empreiteiras pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) foram mais baixas do que determina a legislação. Foi aberto processo para apurar irregularidades especialmente em acordos firmados com empresas investigadas na Lava Jato, como Odebrecht, OAS, Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez. Conselheiros do órgão apontam que as vantagens obtidas pelas companhias com atos ilícitos foram muito maiores do que as punições sofridas.

Em despacho ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso, o ministro do TCU Augusto Sherman acolhe pedido do Ministério Público de Contas da União e determina a realização de uma diligência no Cade. Há uma semana, foi enviado ofício dando 15 dias para o conselho mandar informações ao TCU.

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Na representação, o procurador do MP da União Júlio Marcelo de Oliveira alega que, ao firmar acordos que encerram as investigações contra as empresas, chamados de Termo de Compromisso de Cessação (TCC), o Cade estaria "estipulando contribuições pecuniárias em valor aquém ao da vantagem auferida, prática que daria margem à subpunição" das companhias.

O procurador cita o julgamento de 16 TCCs relacionados à Lava Jato em novembro de 2018, quando os acordos levaram ao pagamento de um total de R$ 897,9 milhões. No julgamento, foi definido que a Odebrecht pagaria R$ 578,1 milhões, em seis processos. A OAS propôs o pagamento de R$ 175,1 milhões, a Andrade Gutierrez, R$ 75 milhões, e a Carioca Engenharia, R$ 68,9 milhões.

Como mostrou o Estadão/Broadcast na época, dois conselheiros do Cade criticaram o valor das multas. O então conselheiro João Paulo Rezende afirmou que as quatro construtoras ganharam R$ 25 bilhões com as obras superfaturadas e que o valor pago deveria ter sido pelo menos três vezes maior. A então conselheira Cristiane Alkmin disse na ocasião que as multas deveriam ser de cerca de R$ 4 bilhões.

O Cade é uma autarquia, vinculada ao Ministério da Justiça, responsável por coibir a formação de cartéis e estimular a concorrência entre empresas. As punições aplicadas pelo conselho têm caráter administrativo.

'Vantagem'

A lei da concorrência prevê que a multa aplicada pelo Cade seja de até 20% do faturamento da empresa e que nunca pode ser "inferior à vantagem auferida, quando for possível sua estimação". No entanto, há discussão de como calcular a vantagem que a empresa obteve com a formação de um cartel, por exemplo, o que ocorreu no julgamento dos casos da Lava Jato citados pelo procurador.

O Ministério Público de Contas afirma ainda na representação que o Cade "recorre extensivamente ao uso de TCCs para concluir investigações". Nenhum caso relacionado à Lava Jato, que teve início em 2014, foi a julgamento até hoje no conselho. Todos os encerrados até agora foram por acordo de leniência e TCCs. "Há desvantagens para o uso extensivo de TCCs. Existe o potencial de se ter um efeito negativo à prevenção, uma vez que os descontos fornecidos são generosos e as empresas sabem que podem celebrar acordos até o momento anterior à decisão do tribunal", afirma o procurador.

O Cade afirmou que a representação do procurador é "falha tecnicamente, baseada em jurisprudência vencida, e denota pouco conhecimento da legislação concorrencial". Afirmou que apresentará todas as informações solicitadas pelo TCU, que a metodologia para a definição de multas é "baseada em jurisprudência do órgão" e que, nos últimos cinco anos, aplicou um total de R$ 1,7 bilhão em multas e R$ 3,6 bilhões em contribuições pecuniárias, pagas em acordos. "Na Lava Jato, o Cade homologou acordos que totalizam R$ 1,205 bilhão."

O TCU informou que o processo que apura "possíveis irregularidades na atuação do Cade" está em andamento e não tem deliberações sobre o caso. 

Empreiteira que pagou imóveis atribuídos a Collor tem 'contratos vultosos' em Alagoas, diz PGR. Em representação por buscas contra senador na Operação Arremate, ex-procuradora-geral ressalta que a CCB Engenharia fez transferências milionárias a assessor que fez aquisições como suposto laranja.

Ao pedir buscas e apreensões contra o senador Fernando Collor (PROS), a Procuradoria-Geral da República ressaltou o papel de empreiteiras com 'contratos vultosos' no estado de Alagoas em aquisições de imóveis milionários em nome de um suposto laranja do parlamentar. A Operação Arremate, deflagrada nesta sexta (11), mira suposta lavagem de R$ 6 milhões em compras feitas em leilões públicos.

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Os 16 mandados de buscas autorizados pelo ministro Luiz Edson Fachin em 26 de setembro foram requeridos no dia 9 do mesmo mês pela então procuradora-geral, Raquel Dodge, sucedida por Augusto Aras, escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro. O ministro proibiu que a PF fizesse excessiva exposição midiática da ação.

Um dos pivôs da investigação é Tarso de Lima Sarmento, assessor parlamentar júnior, que ganha R$ 4,6 mil mensais líquidos do Senado, e fez as aquisições dos imóveis. Ele mesmo admitiu em depoimento que parte do dinheiro usado para as compras foi transferida pela empresa CCB Engenharia.

Em depoimento, Tarso afirmou 'ter realizado acerto, em 27/09/2010, para venda, pelo valor de R$ 2.065.000,00, do bem arrematado à pessoa juridica CCB e que os pagamentos foram feitos por meio de cheques e que estes teriam fundos, pois a pessoa jurídica teria realizado transferência de R$ 425.000,00, em 27/09/2010, para pagamento da caução e da comissão do leiloeiro'.

Segundo o assessor, 'para pagamento do restante, em 07/10/2010, foram transferidos R$ 1.000.000,00 da CCB; em 15/10/2010, foram transferidos mais R$ 50.000,00, em duas operações (uma de R$ 20.000,00 e outra de R$ 30.000,00 - fl. 44)'.

"Por fim, os R$ 210.000,00 que faltavam para completar o total de R$ 1.700.000,00 teriam sido pagos por Tarso Sarmento, que - recebeu o valor, parceladamente, da CCB até o registro da carta de arrematação", consta na representação de Raquel, com base no depoimento de Tarso. O dinheiro se refere a um dos imóveis arrematados.

A Procuradoria aponta elos entre a empreiteira e o assessor. Com base em seu quadro societário, a empreiteira tem como sócios pais e um irmão da mulher de Tarso. O assessor também teria feito arremates com o uso das empresas América Locações, em nome de seu pai. No endereço da CCB, os agentes encontraram somente referências à empresa Plataforma, mas identificaram que ambas as empresas funcionam no mesmo local.

A ex-procuradora-geral ressaltou a Fachin que 'há menção nos autos de que as pessoas jurídicas CCB, América e Plataforma possuem contratos vultosos com o Governo do Estado de Alagoas'. "Tal fato, em princípio, não tipifica qualquer ilegalidade. ,Contudo, considerando o contexto descrito anteriormente, chama a atenção pessoas jurídicas com as características descritas acima possuírem vínculos contratuais com o Estado, ainda mais em valores vultosos".

"Além disso, como já mencionado, pessoas jurídicas funcionam, aparentemente, no mesmo endereço com diferenciação, em alguns casos, apenas da sala", anota.

COM A PALAVRA, FERNANDO COLLOR

"Repulsa a uma trama sórdida"

Com relação à violência sofrida no dia de ontem, quando vitimado por busca e apreensão em minha residência, após inteirar-me dos fatos pela imprensa, já que não fornecido, até então, o inteiro teor da acusação pelos Órgãos Oficiais, venho, indignado e perplexo, apresentar o meu mais veemente repúdio ao ato em questão.

Envolto na historieta criada pelo malicioso engenho mental de integrantes da Polícia Federal e setores do Ministério Público, sustentados por supostos e inverossímeis relatos de fontes humanas não identificadas, fui figura central de uma busca e apreensão residencial baseada, não em indícios veementes - aptos a afastar o direito a inviolabilidade do lar - , mas em mera e irreal suposição de inquisidores destituídos de bom senso, prudência e responsabilidade funcional, porém, movidos por manifesta má-fé e espírito emulativo.

A inclusão do meu nome nessa abusiva, absurda e sórdida trama somente se justifica por pretendido e ilustrativo glamour a ser dado em publicidade autopromocional, por aqueles que, desprovidos de competência para auferir aplausos curriculares por méritos intelectuais, buscam o brilho fácil e fugaz dos holofotes midiáticos, a qualquer custo e por qualquer meio.

Como senhor da minha consciência e dos meus atos, sei do meu mais absoluto distanciamento dos fatos versados na desastrada acusação. Até as pedras em Alagoas testemunham a inexistência de qualquer envolvimento de minha parte em tudo o quanto ali narrado. Aliás, de tão manifesta a ausência de ilícitos a mim vinculados, a Procuradoria da República em Alagoas, mais próxima da realidade local, responsavelmente, já havia requerido o arquivamento dos autos por ausência de conduta criminal típica.

Vítima de retaliações pelos procedimentos abusivos e arbítrios já denunciados, em estado policialesco, continuarei firme na intransigente busca da defesa e da retomada das liberdades fundamentais de todo cidadão, garantidas em um Estado Democrático de Direito e pilar da sociedade livre.

Fernando Collor de Mello

Senador da República

Após reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelar a suspensão do processo em que quatro empreiteiras envolvidas na Lava Jato haviam sido impedidas de contratar com a União, o ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgou nota afirmando que não foi responsável pela suspensão da punição. Ele disse que a punição estava suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

"(...) tal suspensão decorreu do procedimento recursal estabelecido regimentalmente no âmbito do Tribunal de Contas da União e ratificado pelo Supremo Tribunal Federal." A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, no entanto, não afirmou que o ministro suspendeu a punição, e sim a análise dos recursos, etapa necessária para ser efetivada a sanção. A decisão do Supremo citada pelo ministro do TCU, no entanto, não impede o andamento do processo e o julgamento do recurso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Em um procedimento inédito e sigiloso, o ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), suspendeu um processo em que quatro empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato haviam sido impedidas de firmar contratos com a União. A justificativa é discutir com as empresas algum tipo de cooperação formal, apesar de o órgão nem sequer poder fechar acordos de leniência, espécie de delação premiada feita por pessoas jurídicas.

Enquanto isso não ocorre, as empreiteiras Queiroz Galvão, UTC Engenharia, Techint Engenharia e Empresa Brasileira de Engenharia e Comércio (Ebec) continuam aptas a participar de licitações com entes públicos.

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A Queiroz Galvão, inclusive, venceu no fim de fevereiro uma licitação no valor de R$ 430 milhões para um trecho de obras no Metrô de Salvador. Se as sanções estivessem valendo, a empresa poderia ser impedida de assumir o contrato.

A punição às empreiteiras foi decidida pelo plenário do TCU em março de 2017. O processo está relacionado a fraudes em licitação na usina nuclear de Angra 3, no Rio. O caso também rendeu sanções na esfera criminal.

Ao suspender o processo - e, por consequência, manter a idoneidade das empreiteiras -, Nardes contrariou a posição de auditores do próprio TCU, que se manifestaram em junho do ano passado pela rejeição de recurso e início da punição.

Pela sanção aplicada anteriormente pelo tribunal, as empreiteiras deveriam ficar cinco anos impedidas de contratar com a administração pública.

Em vez de enviar os recursos para julgamento, Nardes consultou a procuradora-geral do Ministério Público no TCU, Cristina Machado, sobre a possibilidade de empresas cooperarem no processo. A procuradora foi favorável. A proposta foi levada pela Queiroz Galvão e pela Techint para o ministro.

Nardes, então, incumbiu Cristina Machado de analisar em que bases esse acordo com as empresas se daria no TCU, além de quais benefícios poderiam ser concedidos. Não há prazo para que a procuradora-geral se manifeste.

Nas regras do tribunal de contas, no entanto, não existe a possibilidade deste tipo de cooperação. Pela legislação, apenas a Controladoria-Geral da União (CGU) pode firmar acordos de leniência. O Ministério Público Federal, por sua vez, também negocia colaborações de empresas com aval da Justiça.

Comparação

A conduta de aguardar uma possível colaboração antes de punir as empresas já foi criticada pelo TCU. Em 2017, o tribunal determinou que a CGU retomasse processos contra empresas implicadas na Lava Jato que negociavam acordos de leniência.

Para ministros do TCU ouvidos reservadamente pelo Estado, a corte de contas acaba de repetir o que reprovou na conduta da controladoria, com o agravante de já ter punido as empresas há dois anos.

Esses ministros argumentam que a decisão não poderia ser tomada individualmente por Nardes. Também afirmam que deveria ter sido fixado prazo para a suspensão da inidoneidade.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, já há um parecer da área técnica do tribunal que desaconselha qualquer tipo de acordo sem a confissão prévia de irregularidades pelas empresas. Conforme o documento, a colaboração só poderia existir se contribuir para o ressarcimento dos danos.

Antes de retomar o julgamento sobre a punição às empreiteiras, o plenário do TCU terá de decidir sobre a possibilidade de cooperação, o que ainda depende do parecer da procuradora-geral do Ministério Público na corte de contas.

Alvo

Nardes é investigado na Operação Zelotes, em um inquérito no qual seu sobrinho já foi denunciado na primeira instância. Como tem foro no Supremo Tribunal Federal, cabe à Procuradoria-Geral da República decidir se arquiva ou se apresenta acusação formal.

O ministro do TCU é alvo também de delações em desdobramentos da Lava Jato fluminense, como a do ex-subsecretário de Transportes do Rio de Janeiro Luiz Carlos Velloso e a do ex-presidente da Fecomércio do Rio Orlando Diniz. Nardes nega participação em qualquer tipo de irregularidade.

Licitações

 

A Construtora Queiroz Galvão disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que "exerce o legítimo direito de apresentar os recursos cabíveis" nos processos de inidoneidade. Em relação ao Metrô de Salvador, a companhia disse que atendeu a todos os requisitos estabelecidos no edital de licitação que venceu. Ainda de acordo com a empresa, não há conexão entre a licitação e a sanção de inidoneidade do Tribunal de Contas da União (TCU), porque o tipo de financiamento não atrai a fiscalização da Corte.

Também por meio de sua assessoria, a UTC Engenharia afirmou que "sempre colaborou, colabora e continuará a colaborar com as autoridades responsáveis pelas investigações, processos administrativos e judiciais relacionados às licitações com empresas públicas". A empresa diz ter sido a primeira empresa do Brasil a celebrar com o Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União e Advocacia-Geral da União (AGU), em meados de julho de 2017, um acordo de leniência.

As assessorias da Techint e da Empresa Brasileira de Engenharia e Comércio (Ebec) não foram localizadas para comentar.

À reportagem, a procuradora-geral do TCU Cristina Machado disse que pretende concluir o parecer nas próximas semanas. Ela justificou a análise de uma possibilidade de cooperação como forma de ressarcir todos os danos ao erário.

A reportagem também procurou o ministro Augusto Nardes, do TCU, para falar sobre sua decisão, mas a assessoria de imprensa do tribunal disse que ele não daria entrevista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, pagou durante sua gestão como prefeito de São Paulo R$ 245 milhões a empreiteiras envolvidas na Lava Jato, por obras incluídas nos mesmos contratos do túnel que, hoje, ele diz ter suspendido há cinco anos por "indícios de superfaturamento". Os negócios também são investigados por suspeita de cartel, admitido no ano passado pela Odebrecht ao Ministério Público paulista.

Dados da Prefeitura obtidos pelo Estado mostram que os valores foram repassados pela gestão petista (2013-2016) para os quatro consórcios encarregados de executar o prolongamento da Avenida Roberto Marinho, na zona sul da capital. Os lotes são liderados pelas empresas OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão.

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Os contratos foram assinados em 2011 pelo ex-prefeito e atual ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), com valor original de R$ 1,98 bilhão. A construção do túnel de 2,4 km até a Rodovia dos Imigrantes está distribuída nos quatro lotes, junto com outras obras viárias, como viadutos, quatro mil moradias populares e trechos de um parque linear.

Em fevereiro de 2013, segundo mês de mandato, Haddad decidiu suspender a execução do túnel e manter as demais obras. À época, alegou falta de recursos e inversão de prioridade em uma nota pública de esclarecimento. Não mencionou nenhuma suspeita de irregularidade na obra suspensa e disse que pretendia retomar o projeto. Naquele momento, a Lava Jato ainda não havia sido deflagrada.

"Ao invés do túnel, vamos priorizar todas essas obras e, quando vendermos mais Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção), sobretudo na região do Jabaquara, você pode retomar a ideia de fazer o túnel, que já está licitado e licenciado. Não está havendo um cancelamento, apenas uma inversão de prioridade", disse Haddad na ocasião.

De fato, o túnel nunca saiu do papel, mas as demais obras previstas nos mesmos contratos foram tocadas adiante pela gestão do petista - depois pela administração João Doria e agora pela gestão Bruno Covas, ambos do PSDB. Entre as obras concluídas estão o viaduto da Avenida Lino Moraes Leme, entregue em março deste ano, e 430 habitações de interesse social.

A maior parte das obras foi executada pelo consórcio liderado pela OAS, que recebeu R$ 221,9 milhões nos quatro anos da gestão Haddad. Odebrecht e Andrade Gutierrez, que têm a maioria dos seus contratos vinculados ao túnel suspenso, receberam R$ 5 milhões e R$ 5,4 milhões, respectivamente. Já o consórcio da Queiroz Galvão recebeu R$ 12,4 milhões.

Nova versão

Foi somente após as acusações de caixa dois para a campanha de 2012 feitas por delatores da Odebrecht e da UTC - parceiras no contrato do túnel da Roberto Marinho - que o presidenciável petista mudou publicamente o discurso sobre a obra. Primeiro, em sua defesa, começou a dizer que estava sofrendo "retaliações" dos executivos porque "contrariou os principais interesses das empresas" ao suspender a construção do túnel, item mais caro.

Depois, já durante a campanha ao Palácio do Planalto e após ser alvo de duas ações (civil e eleitoral) e uma denúncia criminal pelo suposto recebimento de R$ 2,6 milhões de caixa 2 da UTC, Haddad passou a afirmar que suspendeu a obra do túnel por "indícios de superfaturamento" que teriam sido repassados a ele por um secretário. Apesar da afirmação, o petista não solicitou nenhuma investigação ao Ministério Público nem à Controladoria-Geral do Município (CGM), criada por ele em 2013 para combater corrupção na Prefeitura.

"A Odebrecht e a UTC tiveram o túnel da Roberto Marinho suspenso no meu segundo mês de mandato. Eu tinha exatos 44 dias à frente da Prefeitura de São Paulo quando suspendi uma obra por indícios de superfaturamento. Essas duas empresas resolveram me retaliar e, sem apresentar nenhuma prova, foram ao Ministério Público denunciar o que seria um pagamento de despesas de campanha que não provaram até agora", afirmou o petista ao ser entrevistado no Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 14 de setembro.

Cartel

No fim do ano passado, a Odebrecht assinou o primeiro de uma série de acordos de colaboração com o Ministério Público de São Paulo no qual afirmou que todos os contratos de obras do chamado Sistema Viário Metropolitano, incluindo os lotes do túnel da Roberto Marinho, foram alvo de cartel das empreiteiras, que combinaram os preços previamente.

Segundo a Promotoria, o esquema foi coordenado pelo engenheiro Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa (2007-2010), e também teve participação do ex-secretário municipal de Infraestrutura e braço direito de Kassab no ministério, Elton Santa Fé Zacarias. Ambos teriam cobrado 5% de propina sobre o valor dos contratos. Assim como Kassab, eles são alvo de ação de improbidade por enriquecimento ilícito, mas negam as acusações.

'Apenas túnel tinha indício de desvio'

O ex-prefeito de São Paulo e candidato a presidente pelo PT, Fernando Haddad, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "as suspeitas de superfaturamento se aplicavam apenas ao túnel" previsto nos contratos de prolongamento da Avenida Roberto Marinho e que, por isso, deu sequência às demais obras do projeto.

"As suspeitas de superfaturamento se aplicavam apenas ao túnel. As outras obras foram analisadas e não havia indício de superfaturamento. É sabido que o superfaturamento se dá em obras de arte (túnel e viaduto), cujo custo é de difícil aferição", diz nota divulgada pela assessoria do candidato.

Haddad afirma que quem o alertou sobre os indícios de sobrepreço na obra do túnel foi o então secretário municipal de Obras, Osvaldo Spuri, que já havia trabalhado na Dersa, empresa do governo do Estado que iria executar as obras do Sistema Viário Metropolitano de São Paulo. Mas como as obras da Roberto Marinho seriam executadas com dinheiro da Operação Urbana Água Espraiada, que é municipal, o projeto foi repassado para a Prefeitura em 2011, ainda na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD).

"Antes de suspender as obras do túnel da Avenida Roberto Marinho, o prefeito (Haddad) foi alertado pelo seu secretário de Obras, Osvaldo Spuri, quadro técnico, apartidário, funcionário da Dersa, que os custos apresentados estavam 30 a 40% acima dos valores que ele julgava adequados", afirma o presidenciável. A reportagem não conseguiu contato com Spuri.

Questionado sobre o motivo de ter omitido os indícios de superfaturamento em 2013, quando suspendeu a obra, e não ter comunicado o fato aos órgãos de investigação, como Ministério Público e Controladoria-Geral do Município, Haddad afirmou que não havia provas na época e que "protegeu a cidade com as informações que tinha" ao suspender a execução.

"O prefeito louvou-se nos relatórios da Secretaria de Obras e encaminhou-os à Controladoria-Geral do Município. Como a obra do túnel havia sido licitada na gestão anterior, sob liderança do Paulo Preto (Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa acusado de organizar o cartel das empreiteiras), ligado ao PSDB, a suspensão e o posterior cancelamento foram consideradas ações suficientes para preservar o município."

Ainda segundo a assessoria do presidenciável petista, "as provas do cartel só apareceram depois que o prefeito deixou a Prefeitura, em acordo de leniência da própria Odebrecht".

No termo celebrado com o Ministério Público, a empreiteira admite a prática de cartel, pagamento de propina e caixa 2 a Souza, Kassab, mas não fala sobre superfaturamento nos preços dos contratos. Até deixar o cargo, em 2012, Kassab já havia pagado R$ 105 milhões às empreiteiras. Ele nega ter cometido irregularidades nas contratações.

Procuradas pela reportagem, as empresas Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, que lideram os consórcios contratos pela Prefeitura, não quiseram se manifestar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As seis maiores empreiteiras brasileiras, que já dominaram os megaprojetos de infraestrutura do País, perderam R$ 55 bilhões em faturamento desde 2015. Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Mendes Júnior e Constran (da UTC) tiveram suas receitas reduzidas a um quarto nesse período - de R$ 77 bilhões para R$ 22 bilhões. A rápida deterioração financeira dessas construtoras é reflexo da crise econômica do País e do envolvimento delas na Operação Lava Jato.

De 2015 para cá, as empresas tiveram de enxugar suas estruturas e reduzir o quadro de funcionários. O levantamento feito pelo Estado com as seis maiores construtoras mostra que o corte no número de trabalhadores beira os 200 mil em três anos. Toda a indústria da construção perdeu 500 mil postos de trabalho no período, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

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Com essa nova estrutura e num cenário econômico de escassez de obras, cada empreiteira tem adotado uma estratégia para se recuperar. Algumas criaram novas empresas para se desvincular da Lava Jato e começar vida nova; outras apostam em descontos elevados para vencer licitações e renovar a carteira de obras; e há ainda quem aposte no mercado internacional para dar a volta por cima. Mas, por ora, os resultados ainda estão apenas no papel. As poucas obras conquistadas recentemente ainda são insuficientes para dar fôlego a essas empresas.

Nos últimos anos, a maioria delas teve de se concentrar para resolver pendências jurídicas e financeiras, deixando de lado a carteira de obras. Sem dinheiro em caixa, as empreiteiras tiveram de correr atrás de crédito novo para cobrir empréstimos - e para capital de giro - que estavam vencendo. Por causa dos crimes cometidos na Lava Jato, o crédito para essas empresas praticamente secou.

A Andrade deixou de pagar US$ 500 milhões a credores internacionais e ainda não chegou a um acordo; a Queiroz negocia com bancos uma reestruturação da dívida de R$ 10 bilhões; a Mendes Júnior está enrolada com seu plano de recuperação judicial, requerida no início de 2016; e a Odebrecht, que ainda é a maior empreiteira do Brasil, só conseguiu um financiamento para pagar dívidas e fortalecer os negócios depois de quatro meses de intensas negociações.

Desde que seu presidente Marcelo Odebrecht foi preso em junho de 2015, a construtora entrou numa espiral de más notícias que só foram interrompidas em maio deste ano, com o acordo de financiamento com os bancos e, na semana passada, com a assinatura do acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União (CGU) e Advocacia-Geral da União (AGU).

"Depois do acordo com o Ministério Público, a assinatura com CGU e AGU representa o marco mais importante para a empreiteira", diz o presidente da construtora, Fabio Januário. A empresa, cujo faturamento caiu de R$ 57,9 bilhões, em 2015, para R$ 11 bilhões em 2017, começa a mapear obras potenciais no Brasil e no mundo. "Entre 2018 e 2020, temos planos de disputar projetos da ordem de US$ 490 bilhões (70% desse montante no exterior)."

Nos últimos três anos, a empreiteira demitiu 100 mil pessoas e fez um grande ajuste nas estruturas gerais e administrativa. "Assumimos nossos erros e fizemos o dever de casa com um amplo programa de conformidade. Agora precisamos virar a página." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O procurador Athayde Ribeiro Costa, membro da força-tarefa da Operação Lava Jato, disse nesta sexta-feira (9) que o ex-ministro da Fazenda e ex-deputado federal Antonio Palocci foi o porta-voz do governo federal no recebimento de propinas, destinadas ao PT e ao MDB, de construtoras que atuaram na obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, construída a partir de 2011.

De acordo com o procurador, Palocci foi quem direcionou ao ex-ministro da Fazenda e ex-deputado federal, Antônio Delfim Netto, 10% da propina, ou R$ 15 milhões, paga pelas empreiteiras. Segundo as investigações do Ministério Público Federal, Delfim chegou a receber R$ 4 milhões do montante.

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“Antonio Palocci foi o porta-voz do governo federal, então deputado federal, para direcionar os pedidos de propina, parte ao PT e parte ao MDB [então PMDB]. Em um segundo momento, Palocci pediu para que 10% do valor de 1% do contrato fosse direcionado a Antônio Delfim Netto, que corresponderia a quantia aproximada de R$ 15 milhões”, disse Athayde em entrevista coletiva.

Delfim Netto foi alvo hoje da Operação Buona Fortuna, na 49ª fase da Lava Jato, que cumpriu dez mandados de busca e apreensão no estado de São Paulo e Paraná. O empresário Luiz Appolonio Neto, sobrinho do ex-ministro, também foi alvo da ação. O MPF apontou que pagamentos também eram feitos em dinheiro vivo e em depósitos a empresas de Appolonio Neto.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Delfim Netto seria destinatário de R$ 15 milhões do Consórcio Norte Energia (formado pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e J. Malucelli), por meio de contratos fictícios de consultoria. Além dos 10% remetidos a Delfim, o consórcio teria enviado propina aos partidos PMDB e PT. De acordo com o MPF, cada um dos partidos recebeu 45% dos valores.

O grupo de empresas pode ter sido favorecido no leilão de concessão de Belo Monte por agentes do governo federal. O Ministério Público usou informações obtidas pelos acordos de leniência firmados com a Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht, além da quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico. No caso da Odebrecht, os pagamentos direcionados a Delfim Netto vinham com o codinome professor.

A defesa de Delfim Netto, representada pelos advogados Ricardo Tosto e Jorge Nemr, sócios do escritório Leite, Tosto e Barros Advogados, informou em nota que o cliente não ocupa cargo público desde 2006 e não cometeu nenhum ato ilícito em qualquer tempo. "Os valores que [Delfim Netto] recebeu foram honorários por consultoria prestada”.

Já a defesa de Luiz Appolonio Neto, representada pelo advogado Fernando Araneo, do mesmo escritório que representa Delfim, refuta "veementemente" as acusações e esclarece que a vida profissional do cliente "sempre foi pautada pela legalidade".

A defesa de Antonio Palocci foi procurada, mas não se manifestou até o momento.

Após 14 meses de negociações, o processo de reestruturação das dívidas do grupo Queiroz Galvão, que somam R$ 10 bilhões, está entrando na reta final. Até o fim desta sexta-feira, 23, a empresa deverá entregar aos credores uma série de documentos assinados com todas as condicionantes negociadas nos últimos meses, com prazos, taxas e cronograma de venda de ativos.

O Estado apurou que as condições gerais já estão pré-aprovadas pelos credores e agora precisam do aval do departamento de crédito de cada instituição. A expectativa é que a reestruturação seja fechada em breve, mas ainda podem surgir divergências até a assinatura final do acordo.

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A Queiroz Galvão é dona de uma das maiores construtoras do Brasil, que responde por mais da metade das receitas do grupo. Com o envolvimento na Operação Lava Jato e a crise econômica, que derrubou o volume de obras no País, o faturamento da empreiteira despencou e o pagamento das dívidas foi comprometido. No ano passado, a construtora deixou de pagar R$ 1,1 bilhão de empréstimos e títulos vencidos.

Mas, pela estrutura de endividamento do grupo, foi necessário fazer uma ampla renegociação, afirmou o analista da agência de classificação de risco Fitch Ratings, Alexandre Garcia. Segundo fontes, como 70% das dívidas do grupo tinham algum tipo de aval da holding ou da construtora, não adiantava reestruturar apenas a dívida da empreiteira, pois o default (calote) de qualquer outro negócio levaria à execução de todo o grupo.

A reestruturação inclui a dívida da construtora, da área imobiliária, do setor elétrico, da siderurgia, do braço de alimentos e do estaleiro. Ficaram de fora a empresa de exploração e produção, a de óleo e gás e a Vital, de coleta de lixo. Além da construtora, todas as companhias do grupo, dentro da reestruturação, estão com dívidas vencidas. Mas, devido ao montante de dinheiro envolvido, nenhuma instituição fez a execução dos vencimentos. Se isso ocorresse, a empresa entraria em colapso e ninguém receberia.

Blocos

No total, a renegociação envolve 14 instituições, entre bancos nacionais e estrangeiros e fundos de investimentos. Segundo fontes próximas à reestruturação, a proposta delineada entre as partes prevê três grandes blocos de taxas e prazos. O acordo da maior parte da dívida, que envolve a construtora, determina um prazo de carência de dois anos e pagamento da dívida em oito anos.

Outro bloco terá carência de dois anos e prazo de 18 anos para a quitação dos valores e o terceiro, que inclui a divisão imobiliária, terá quatro anos de carência e pagamento no fim deste período, sendo possível uma nova renegociação. Em relação ao cronograma de venda de ativos, a empresa terá até cinco anos para se desfazer de negócios na área de energia e de participações minoritárias em concessões. Boa parte desses ativos já está à venda há algum tempo.

Inidônea

As discussões em torno da reestruturação foram tensas, especialmente depois que a construtora foi considerada inidônea pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A empresa já recorreu, mas o risco permanece. A medida pesou bastante entre os credores. Isso porque, se a decisão persistir, a construtora - principal geradora de caixa do grupo - não poderá participar de licitação pública e terá dificuldade de pagar as dívidas.

Antes mesmo da decisão do TCU, a empreiteira já havia pedido dois terços da sua receita e demitido metade do quadro de funcionários. As poucas obras que a empresa conquistou no ano passado ainda estão longe de recompor a carteira de projetos de quatro anos atrás.

A empresa e os principais bancos envolvidos na negociação - Bradesco, Itaú e Santander - não quiseram se pronunciar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Tribunal de Contas da União (TCU) bloqueou bens de oito empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato. O objetivo é cobrir prejuízos de R$ 544 milhões nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A decisão foi tomada nessa quarta-feira (5). O valor corresponde ao superfaturamento apurado em quatro contratos, conforme antecipou o jornal O Estado de S. Paulo no dia 29 de março.

A medida do TCU, oficializada à noite, atinge Galvão Engenharia, Alusa, Promon, Engevix, Iesa Óleo e Gás, Queiroz Galvão, Techint e Skanska Brasil. As quatro últimas empresas citadas foram declaradas inidôneas pelo tribunal ou o governo, e estão proibidas de participar de licitações para contratos bancados com recursos federais.

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A indisponibilidade patrimonial foi decretada por um ano e deve alcançar os ativos necessários para assegurar o ressarcimento das perdas.

Leniência

A sanção não foi aplicada à Andrade Gutierrez, também apontada como responsável pelos prejuízos nas obras do Comperj, porque a empreiteira firmou acordo de leniência (espécie de delação de pessoa jurídica) com a Lava Jato, comprometendo-se a pagar R$ 1 bilhão. O entendimento da corte, já firmado em julgamento anterior, referente às obras da usina de Angra 3, é o de conceder uma "vantagem comparativa" às empresas que aceitam colaborar com as investigações.

Defesas

"A Skanska trabalha com alto nível de integridade em suas operações e tem uma política de tolerância zero com relação a desvios éticos", disse a companhia por meio de nota. A reportagem não conseguiu contato com as outras empresas citadas. O espaço está aberto para as manifestações.

O Tribunal de Contas da União (TCU) declarou a inidoneidade de quatro empreiteiras envolvidas no cartel da usina de Angra 3, esquema descoberto pela Lava Jato.

UTC, Queiroz Galvão, Techint e Empresa Brasileira de Engenharia ficarão impedidas, por cinco anos, de participar de licitações e firmar contratos bancados por recursos do governo federal. O acórdão foi aprovado por unanimidade pelo plenário de ministros. É a primeira vez que a corte aplica essa sanção a pessoas jurídicas alvo da Lava Jato.

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As construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, que firmaram acordos de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) para colaborar com as investigações, tiveram o processo de punição suspenso pelo TCU, e as penalidades não foram aplicadas de imediato. A solução foi acordada com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, como forma de evitar que aplicação da pena desestimule colaborações com o Ministério Público Federal (MPF) e outros órgãos.

Relator do processo, o ministro Bruno Dantas decidiu paralisar o caso para que o MPF e o Ministério Público de Contas se manifestem nos próximos 60 dias sobre as três companhias. Neste período, elas terão de assinar termos aditivos aos acordos de leniência, comprometendo-se a fornecer documentos e informações para que o tribunal, em duas auditorias, chegue à conta final do dano ao erário causado pelo esquema em Angra 3. Além disso, terão de assumir o compromisso de ressarcir os prejuízos com celeridade e abrir mão de recorrer em processos da corte.

O TCU voltará a avaliar o caso das três empreiteiras ao fim desse prazo. Se entender que elas não colaboraram efetivamente com suas fiscalizações, elas poderão ser declaradas inidôneas por cinco anos. Na hipótese contrária, poderão ter as penalidades atenuadas.

"As empresas colaboradoras devem experimentar alguma vantagem comparativa que as distinga das que optaram por não colaborar, sob pena de frustrar o mecanismo premial", justificou, em seu voto, o ministro Bruno Dantas.

As três empreiteiras receberam do governo mais de R$ 2,6 bilhões nos últimos três anos.

A decisão desta quarta-feira, 22, é considerada um paradigma pelo TCU, pois deve lançar precedentes para outros processos relacionados à Lava Jato.

O contrato de Angra 3 já consumiu R$ 7,1 bilhões em dinheiro público. O tribunal estima que o dano ao erário causado pelo esquema é de R$ 400 milhões. Se considerados correção monetária, juros e multa, o valor alcançaria R$ 1,5 bilhão.

Empresas

A defesa da Queiroz Galvão informou, no plenário, que o relatório da área técnica do TCU ficou pronto no domingo e não houve tempo para as empreiteiras conhecerem e apresentarem o contraditório.

Os advogados de Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Correa afirmaram que, como as empresas colaboraram, não cabe a aplicação da pena de inidoneidade a eles. A reportagem não conseguiu contato nesta quarta com as outras envolvidas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU) altere os processos de negociação de acordos de leniência para corrigir irregularidades e impedir o que considera favorecimento a empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato. Conforme antecipou o jornal O Estado de S. Paulo, a corte detectou que a pasta concedeu benefícios indevidos às empresas, suspeitas de fraudar licitações, superfaturar contratos e pagar propinas no governo federal.

Após três anos de Lava Jato, o Executivo ainda não firmou com as construtoras envolvidas no esquema de desvios de recursos da Petrobras nenhum acordo de leniência - espécie de delação premiada de pessoa jurídica. A leniência permitiria às investigadas evitar punições administrativas, como a proibição de participar de licitações, em troca de ressarcir os cofres públicos pelos desvios.

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Por ora, as empresas chegaram a entendimentos com outras instituições, como o Ministério Público Federal (MPF) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), evitando apenas as penalidades que cabem a esses órgãos.

A decisão do TCU, aprovada em sessão sigilosa na quarta-feira, proíbe o Ministério da Transparência de suspender os processos de investigação abertos contra as empreiteiras quando elas manifestam o interesse em fazer os acordos de leniência. Para os ministros do Tribunal, a prática contraria a Lei Anticorrupção, que prevê os acordos, e contribui para que os ilícitos atribuídos às empresas prescrevam sem que haja a apuração adequada.

O TCU também determinou que, ao contrário do que vinha ocorrendo, a pasta agora verifique se a empresa que propôs o acordo foi a primeira a confessar o ato lesivo. Trata-se de um pré-requisito, previsto na lei, para que o processo seja possível.

'Interesses'

O ministério terá ainda de excluir dos memorandos de entendimento firmados com as empreiteiras cláusulas que, no entendimento do TCU, "atestam a possibilidade" de "obter crédito e subsídios" de bancos e outros órgãos federais, mesmo tendo desviado recursos públicos.

"A impressão que se colhe, ainda que de forma precária, é de certo açodamento tendente a favorecer os interesses da pessoa jurídica em seus negócios com o Estado. Não há no esquadro normativo da LAC (Lei Anticorrupção) qualquer orientação nesse sentido, uma vez que o memorando visa a estabelecer as condições necessárias à celebração do futuro acordo de leniência, com o objetivo de ampliar o leque investigatório, apurar atos ilícitos e quantificar o dano causado aos cofres públicos federais", escreveu no voto apresentado ao plenário o ministro Walton Alencar, relator do processo.

Os ministros do TCU impuseram várias outras restrições. A colaboração das empresas, ao propor um acordo, não poderá mais ter limite de dois anos. A Transparência também não poderá considerar sanadas ilegalidades e prejuízos à administração pública que nem sequer apurou.

O TCU detectou indícios de que foi o próprio governo que procurou as empresas da Lava Jato para tratar de acordos de leniência, e não o contrário. A corte abriu na quarta-feira um processo específico para apurar as responsabilidades pelas falhas, no qual serão ouvidos o ex-ministro interino e ex-secretário executivo da CGU Carlos Higino Ribeiro de Alencar e o ex-secretário-geral de Consultoria da Advocacia-Geral da União (AGU), Fernando Luiz Albuquerque Faria. Eles exerceram os cargos no governo da petista Dilma Rousseff.

Se o tribunal entender que os dois cometeram irregularidades, poderá aplicar multas e até inabilitá-los para o exercício de cargos em comissão e funções de confiança. Alguns ministros da corte sustentam que a atual gestão, iniciada em maio do ano passado, deveria ter corrigido as supostas irregularidades ao assumir e não descartam, eventualmente, convocar autoridades que estão no comando da Transparência atualmente para se explicar.

As determinações foram feitas em processo que analisou o caso da OAS. Como mostrou o Estado, na semana passada, a proposta de acordo feita pela empresa foi rejeitada pelo governo após um ano e meio, sob o argumento de que a empreiteira não colaborou efetivamente.

O Ministério da Transparência informou que não comentaria a decisão, que cabe recurso na própria corte. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta quinta-feira, 10, que o pacote de medidas de combate à corrupção só será votado no plenário da Casa após ser aprovado na comissão especial que debate a matéria.

"Não terá urgência para que a matéria seja votada antes", afirmou Maia em entrevista coletiva. Nesta quarta-feira, 9, o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ), disse que há uma articulação para aprovar requerimento para que o pacote seja votado diretamente no plenário, sem ser analisado pela comissão.

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De acordo com Molon, a articulação teria o objetivo de aprovar o pacote - que pode possibilitar uma anistia retroativa para quem cometeu caixa 2 - antes da divulgação da delação premiada da construtora Odebrecht, que deve citar muitos políticos.

"Não posso cuidar dos sonhos dos deputados. Porque eu sempre disse que a gente vai votar primeiro na comissão antes de votar no plenário", afirmou Rodrigo Maia na entrevista. "Antes da comissão não será votado", disse o deputado do DEM.

A Queiroz Galvão ajuizou um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal solicitando que seus bens sejam desbloqueados. Em 21 de setembro, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou o bloqueio de R$ 960 milhões da empreiteira e da Iesa - as duas são suspeitas de terem se beneficiado de superfaturamento em obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

Para a construtora, a decisão do TCU não apresentou "quaisquer indícios ou riscos de dilapidação do patrimônio por parte da impetrante ou qualquer outra ação tendente a inviabilizar eventual ressarcimento ao erário ou a gerar lesão irreparável". "O suposto sobrepreço está em apuração pelo TCU há cerca de seis anos, sem contraditório e ampla defesa até o momento. Oportuno lembrar que a própria Operação Lava Jato se iniciou há mais de dois anos. Então, realmente, não há urgência", afirma a construtora.

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"O que se espera é que o contexto em que os fatos sob apuração no TCU se inserem não sirva de pretexto para a prática de atos estatais que extrapolem os limites da Constituição da República e da legislação infraconstitucional, nem tampouco excepcione a garantia do devido processo legal", diz a defesa.

Outras

No mês passado, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, concedeu liminar (provisória) à OAS e suspendeu decisão do TCU que determinou a indisponibilidade dos bens da empreiteira no valor de até R$ 2,1 bilhões referentes a contrato relativo à Abreu e Lima. Marco Aurélio já havia tomado decisão semelhante em relação à Odebrecht, que também estava com valores bloqueados. As duas empreiteiras também são investigadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A força-tarefa de procuradores da Operação Lava Jato denunciou nesta terça-feira (13) oito pessoas ligadas às empreiteiras Queiroz Galvão e Iesa Óleo e Gás pelos crimes de cartel e fraude em licitação. É a primeira denúncia envolvendo integrantes do cartel de empresas que fraudava licitações na estatal.

Na ação, o Ministério Público Federal pede ressarcimento pelos desvios no valor de R$ 105 milhões e US$ 12 milhões para os denunciados ligados à Queiroz Galvão e de R$ 47 milhões, além de US$ 2 milhões, no caso dos envolvidos da Iesa.

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De acordo com a denúncia, ex-executivos das empresas fraudaram licitações da Petrobras entre 2006 e 2014. Segundo os procuradores, as apurações mostraram que houve oferecimento e pagamento de propina para ex-diretores da Petrobras que se comprometeram a manter o funcionamento do cartel.

A Agência Brasil entrou em contato com as empresas e aguarda retorno.

O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou superfaturamento de R$ 960,9 milhões na instalação de tubulações na Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Relatório de auditores da corte que será julgado na quarta-feira (14) propõe o bloqueio de bens do consórcio responsável pelas obras, formado pelas empreiteiras Queiroz Galvão e Iesa, além de Paulo Roberto Costa e Renato Duque, ex-diretores da Petrobras alvos da Operação Lava Jato.

O tribunal tem adotado a indisponibilidade patrimonial de empresas envolvidas no petrolão como forma de assegurar ressarcimento de prejuízos à estatal no futuro. No mês passado, medida semelhante imobilizou R$ 2,1 bilhões da Odebrecht e da OAS. No entanto, nesse caso, liminares do Supremo Tribunal Federal (STF) reverteram a decisão. O ministro Marco Aurélio Mello entendeu que a corte de contas, um órgão administrativo, não pode bloquear bens de particulares.

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Na mais recente auditoria, o TCU fez uma revisão dos custos das obras para a instalação de tubovias (60 mil toneladas de tubos), a cargo do consórcio Ipojuca, formado pelas duas empreiteiras. O valor inicial do contrato, de R$ 2,6 bilhões, saltou para R$ 3,5 bilhões após 29 aditivos contratuais.

Em 2010, a corte de contas havia identificado um sobrepreço de R$ 316 milhões nas obras, ao analisar estimativas de custos da Petrobras. Após a Lava Jato, os auditores tiveram acesso a mais dados dos contratos, incluindo notas fiscais, o que permitiu comparar quanto as construtoras cobravam da estatal com quanto realmente pagavam por materiais e serviços no mercado.

A conclusão foi que, em valores de 2009, as perdas foram de R$ 682 milhões - R$ 960,9 milhões, com correção e juros.

Numa outra reavaliação, que também será julgada na quarta-feira, o TCU detectou superfaturamento de R$ 544 milhões em quatro contratos do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Os auditores propõem, nesse caso, a abertura de quatro novas investigações para aprofundar o cálculo dos prejuízos e identificar responsáveis.

No relatório sobre Abreu e Lima os auditores concluíram que o consórcio formado por Queiroz Galvão e Iesa agiu em conluio e pagou propina a agentes públicos para que a licitação para as obras ficasse restrita a poucas empresas e fosse direcionada, de forma a inflar os valores do contrato.

O técnicos entenderam que Paulo Roberto Costa, delator da Lava Jato, e Renato Duque, que está preso em Curitiba, praticaram "atos de gestão" ou omitiram-se nos seus poderes-deveres "de agir para impedir a ação delituosa contra as licitações da Petrobras, mediante pagamento de vantagem indevida, em favor das empresas cartelizadas".

Tanto Costa quanto Duque já estão com o patrimônio indisponível em função de processos do TCU que apuram dano ao erário na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. A medida também foi imposta a Duque por perdas em outras obras de Abreu e Lima.

O relatório também propõe que todos os envolvidos nas irregularidades sejam ouvidos. Embora não sejam alvos de indisponibilidade patrimonial, os ex-gerentes executivos da Petrobras Venina Velosa e Pedro Barusco (delator da Lava Jato) serão convocados às audiências para explicar seus atos.

Defesas

Por meio de nota, a Queiroz Galvão alegou que não se pronuncia sobre "processos em andamento". A defesa de Paulo Roberto Costa não retornou o contato feito pela reportagem - que não conseguiu localizar representantes da Iesa e de Renato Duque.

Os R$ 5 bilhões que separam o faturamento da gigante Andrade Gutierrez e da gaúcha Toniolo, Busnello são o retrato de uma concentração que sempre dominou o setor. Hoje, no entanto, a diferença nos números não é parâmetro para traduzir a realidade de cada empresa. Nos últimos dois anos, enquanto o império da Andrade, uma das líderes do setor, encolhia dia após dia por causa da Operação Lava Jato, a empreiteira do Sul ganhava mercado e crescia em ritmo chinês.

Em 2015, as receitas da empresa tiveram aumento de 18% e alcançaram R$ 720 milhões - montante que rendeu nove posições no ranking da construção. Fundada em 1945, a empreiteira chegou a 21ª posição no ano passado (ou 14ª se for considerada apenas a construção pesada). "Vivemos um momento de grandes oportunidades num setor que deve ficar menos concentrado nos próximos anos", avalia o diretor da construtora, Humberto Cesar Busnello, filho de um dos fundadores da companhia.

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As apostas do executivo estão ancoradas no enfraquecimento das construtoras envolvidas na Lava Jato. Das 15 maiores empreiteiras do País em 2014, nove companhias - até então responsáveis pelos principais projetos e concessões brasileiras - estavam envolvidas no escândalo de corrupção. De lá pra cá, muitas delas entraram em recuperação judicial, abandonaram obras e estão sem condição - financeira e moral - de entrar numa nova empreitada.

Para se ter ideia, em 2013, antes da Lava Jato, o faturamento das 15 maiores construtoras do País somava R$ 51,1 bilhões, segundo o ranking da revista O Empreiteiro. No ano passado, esse montante caiu para R$ 30,4 bilhões. Odebrecht, líder absoluta na última década, e OAS, em recuperação judicial, não quiseram entrar no levantamento.

Com as grandes companhias fora de combate, as construtoras do chamado "grupo intermediário" começam a ocupar um espaço estratégico e podem ditar uma nova configuração do setor de construção. "As grandes construtoras vão continuar no mercado, mas com uma representatividade muito menor", afirma o sócio da KPMG, Mauricio Endo, especialista nas áreas de governo e infraestrutura.

Não faltam candidatas para ocupar esse vácuo deixado pelas gigantes do setor de construção. Na lista, estão nomes desconhecidos da maioria da população, mas que já alcançaram faturamento bilionário a exemplo de Serveng-Cilvisan e ARG. Essa última, no entanto, já teve o nome citado no escândalo do Mensalão. Outras empresas também já passaram por investigações no passado por suposto envolvimento em doações e pagamento de propina, como a Arteleste - segunda maior recebedora de recursos do governo federal neste ano na construção de viadutos e pontes. A empresa não se pronunciou.

Potencial

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, conta que, a pedido de uma instituição financeira, selecionou 30 construtoras com capacidade de tocar obras importantes no País. A Paulitec estava entre elas. No ano passado, a empresa faturou R$ 249 milhões e ganhou 17 posições no ranking de construtores - de 77.º lugar para 60.º, em 2015.

"Estamos ganhando obras maiores que antes ficavam nas mãos das grandes empreiteiras", afirma Márcio Paulikevis dos Santos, diretor-presidente da Paulitec. Quase 100% da carteira da empresa é formada por obras públicas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Quase dois anos e meio após o início da Operação Lava Jato, o governo federal ainda não responsabilizou a maioria das empresas envolvidas em cartel, superfaturamento e pagamento de propinas na Petrobras. Dos 30 processos abertos para apurar a participação de fornecedoras da estatal no esquema, com vistas à aplicação de eventuais penalidades ou à assinatura de acordos de leniência, só cinco chegaram ao fim até agora. O Ministério da Transparência (extinta Controladoria-Geral da União) puniu duas construtoras.

Enquanto não se chega a um desfecho, a maioria das empresas implicadas continua autorizada a firmar contratos e a receber recursos do governo. No período de investigação, elas já obtiveram R$ 2,3 bilhões só de órgãos da administração direta (exclui estatais). A Petrobras suspendeu provisoriamente a assinatura de novos contratos com as fornecedoras, mas continua pagando por serviços já pactuados e em execução. A companhia, no entanto, se nega a informar o total repassado.

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Os 30 processos foram abertos pelo Ministério da Transparência entre novembro e dezembro de 2014 e entre março e abril de 2015, após a Lava Jato descobrir o envolvimento de grandes empreiteiras nos desvios. Conforme advogados de empresas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, há processos sem diligências há sete meses.

Até agora, o órgão declarou inidôneas as construtoras Mendes Júnior e Skanska, proibindo-as de fazer novos negócios com o poder público. Outros dois casos, das empresas Egesa e NM, foram arquivados sem confirmação de irregularidade.

A SBM Offshore, multinacional holandesa que aluga plataformas e confessou o pagamento de suborno na Petrobras, foi a única a fechar um acordo de leniência, pelo qual se comprometeu a pagar R$ 1,1 bilhão para continuar firmando contratos com a estatal. O acordo, no entanto, está sob risco de ser suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que alega não ter dado aval prévio aos termos pactuados. A corte decidirá a respeito em breve.

As investigações do governo sobre as maiores empresas envolvidas ainda estão em fase inicial, de coleta de provas e depoimentos, ou foram suspensas para a negociação de acordos. Esse grupo inclui Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, UTC/Constran, Galvão Engenharia, Camargo Correa e Queiroz Galvão. Nos casos de tentativa de acordos, cabe à empresa colaborar com as apurações para que, eventualmente, obtenha a redução de penas.

Trâmite

O Ministério da Transparência informou que os processos de natureza punitiva são complexos e têm de obedecer ao "devido processo legal", o que implica percorrer diversas etapas, entre elas a coleta de provas (instrução), indiciamento, defesa escrita, relatório final, análise jurídica e julgamento.

"Esse trâmite demanda tempo, especialmente durante a fase de instrução, em que são coletadas provas documentais, realizadas diligências, ouvidas testemunhas e interrogados acusados, aos quais devem ser garantidos os direitos à ampla defesa e ao contraditório em todos os momentos do processo", informou, em nota.

Conforme a pasta, "há razão" de o processo que conduz ser, por vezes, "aparentemente mais demorado do que deveria", pois se deve conciliar as datas de depoimentos de testemunhas com os procedimentos em curso em Curitiba, "os quais têm prioridade".

O ministério argumentou também que, embora o compartilhamento dos processos da Lava Jato tenha sido autorizado pelo juiz Sérgio Moro, há a necessidade de providências próprias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Ministério Público do Tocantins solicitou à Justiça do Estado que mantenha o bloqueio de imóveis das empresas Emsa e Rivoli, acusadas de fraude na construção das ‘Pontes Fantasmas’. O pedido da Promotoria foi feito no âmbito de recurso das empresas Rivoli SPA e Empresa Sul Americana de Montagens (Emsa) que deve ser julgado nesta quarta-feira, 11, pela 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça.

As empreiteiras recorrem da decisão que determinou o bloqueio de bens no valor de R$ 11,6 milhões sobre imóveis das duas empresas. O Ministério Público Estadual se manifestou contrário ao recurso, requerendo a manutenção do bloqueio ‘pela prática de superfaturamento e sobrepreço na construção de pontes no Estado’.

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As obras foram executadas como parte do Contrato nº 403/1998, firmado entre a Secretaria da Infraestrutura e o consórcio de empresas liderado pela Emsa. Uma força-tarefa instituída pelo MPE investiga mais de 100 obras de pontes e as apurações motivaram o ajuizamento, até o momento, de mais de 50 ações por ato de improbidade administrativa e de 20 ações de ressarcimento dos danos causados ao erário, em face de diferentes requeridos.

A Promotoria argumenta que as pontes, objeto da ação de improbidade, não constavam da relação de obras do edital de concorrência, sendo feitas, portanto, sem licitação. Sustenta, ainda, que o Tribunal de Contas do Estado (TCE), em tomada de contas especial do ano de 2010, ao analisar os contornos do contrato nº 403/98, apontou que houve pagamentos ilegítimos e antieconômicos, com prejuízo aos cofres públicos apurado em R$ 458.159.919,69.

O Ministério Público do Estado afirma também que laudos periciais oficiais apontam sobrepreço, medição de serviços em duplicidade, superfaturamento de quantitativos e superdimensionamento das obras das pontes.

O contrato, assinado em 7 de dezembro de 1998, tinha valor inicial de R$ 411.645.172,21. À época, seu valor era superfaturado em 57,09%, segundo o Ministério Público do Tocantins. O contrato sofreu nove aditivos, entre 2001 e 2007 - com atualizações feitas ilegalmente, de acordo com a Promotoria, em dólar, chegando a R$ 1.416.914.271,14.

Novas ações

O Ministério Público do Tocantins ajuizou 10 novas ações civis públicas no caso das ‘Pontes Fantasmas’ do Estado contra o governador Marcelo Miranda (PMDB), quatro outros investigados - entre os quais três ex-secretários de Estado - e o consórcio das empreiteiras Construsan, Emsa e Rivoli. A força-tarefa criada para investigar fraudes e irregularidades na construção de pontes no Estado do Tocantins pede bloqueio de mais R$ 35 milhões, valor dos pedidos de indisponibilidade de bens nas ações de ressarcimento do erário.

Além do governador do Tocantins, em todas as 10 novas ações, também são acusados o ex-secretário da Infraestrutura Brito Miranda, o ex-subsecretário da pasta Sérgio Leão, o ex-presidente do Dertins Manoel José Pedreira, o ex-secretário de infraestrutura e ex-diretor-geral do Dertins Ataíde de Oliveira, além do consórcio formado pelas empresas Construsan, Emsa e Rivoli.

As ações também incluem outros servidores das secretarias da Infraestrutura e do Dertins, como membros de ‘um esquema de fraudes voltado ao desvio de dinheiro público por meio de despesas ilícitas e lesivas ao erário’.

O ex-governador Siqueira Campos (PSDB) também está entre os requeridos em três das 10 ações propostas.

A Promotoria do Tocantins identificou irregularidades nas pontes sobre o Rio da Prata (Marianópolis), Rio João Aires (Palmeirante), Rio Chato (Araguaçu), Rio Corda (Riachinho/Wanderlândia), Rio Balsas Mineiro (Ponta Alta/Pindorama), Rio Garrafa (Goianorte), Rio Mangues, Rio São José (Paraíso do Tocantins), Rio Pau Seco (Colinas) e Córrego Brejo Grande (Lagoa do Tocantins).

"As ações civis públicas ajuizadas resultam de mais de dois anos de um trabalho inédito do Ministério Público do Estado: uma força-tarefa formada em abril de 2010 por deliberação do Colégio de Procuradores de Justiça, integrada por cinco Promotores de Justiça designados pelo Procurador-Geral, que está investigando irregularidades na execução do Contrato 403/98, firmado entre o Governo do Estado e o consórcio de empresas, para a execução de obras de infraestrutura (terraplanagem, pavimentação asfáltica e construção de pontes)", aponta a Promotoria.

A reportagem procurou a assessoria do governador Marcelo Miranda e as empreiteiras Construsan, Emsa e Rivoli. O espaço está aberto para manifestação.

Não foram localizados Brito Miranda, Sérgio Leão, Manoel José Pedreira e Ataíde de Oliveira.

O ex-governador José Wilson Siqueira Campos discorda de sua inclusão na ação pelo Ministério Público, sobretudo pela sua condição de não ser o gestor ou ordenador de despesas das referidas obras, fatos que o impedem de entrar no mérito da sua execução. Há farta jurisprudência sobre o tema nas Cortes superiores.

Através de sua advogada, Dra Juliana Bezerra de Melo Pereira, o ex-governador sustenta que as acusações são equivocadas, pois o MPE questiona um procedimento licitatório aprovado pelo Tribunal de Contas, com ampla publicidade e respeito à lei de concorrência internacional, datada do ano de 1998, que deu origem ao Contrato nº 403/98.

Quanto ao suposto pagamento em dólar, alegado como via de superfaturamento, também se engana o Ministério Público, posto que, à época, houve a necessidade de se realizar financiamento internacional para o custeio das obras, tudo submetido às mais rígidas exigências legais.

A Assembleia Legislativa do Tocantins editou a Lei nº 1.074/99, autorizando o financiamento. Houve também o aval da Secretaria de Assuntos Internacionais-SEAIN do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, através da Comissão de Financiamentos Externos - COFIEX que o autorizou em função das análises do seu Grupo Técnico-GTEC.

Para a contratação dessa operação de financiamento, há a necessidade de expressa anuência do Senado Federal, o que se deu com as Resoluções: nº 32 de 13 de Dezembro de 2001 e nº 22 de 04 de Julho de 2006.

O ex-governador Siqueira Campos não foi responsável pela execução Contrato nº 403/98, apenas acompanhou seu início, estando certo de que nenhum pagamento feito por ele, foi realizado de forma indevida, uma vez que todas as medições e atos que precedem qualquer pagamento são realizados pela Secretaria de infraestrutura e o seu corpo técnico.

Sua defesa demonstrará a improcedência dos requerimentos do Ministério Público em relação ao seu nome, bem como o seu constante compromisso com o desenvolvimento do Estado do Tocantins.

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