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O ano de 2021 deixará marcas profundas naqueles que amam o Carnaval. A não realização da festa, em virtude da pandemia do coronavírus, deixou triste os foliões que aguardam vários meses para curtir a folia e causou impactos severos naqueles que dependem do ciclo carnavalesco para sobreviver. Para os profissionais que se dedicam à manutenção de agremiações da cultura popular, a falta do Carnaval provocou muito mais que apenas lágrimas, causando baixas financeiras em seus cofres e, também, comprometendo a continuidade de saberes e tradições muitas vezes seculares. Com a possibilidade da repetição desse quadro em 2022, algumas agremiações pernambucanas temem o risco de fecharem em definitivo as portas e não voltarem mais às ruas. 

No mundo do samba, poucas são as escolas promovendo ensaios regulares para esquentarem suas baterias e desfilantes. Em entrevista ao LeiaJá, Rafael Nunes, presidente da Liga Nordeste das Escolas de Samba e da Escola Pérola do Samba, além de vice-presidente da Federação Nacional das Escolas de Samba (Fenasamba), revelou que muitas agremiações do segmento  preferiram aguardar pela definição do Governo do Estado de Pernambuco quanto à realização do Carnaval em 2022 antes de promoverem qualquer atividade.

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A espera apertou o cronograma para as escolas, que necessitam de bastante tempo, mão de obra e recursos financeiros para produzirem um desfile. Somando isso ao prejuízo acumulado durante o ano de 2021, a viabilidade de um espetáculo totalmente novo para 2022 fica cada vez menor. “Não há tempo de se fazer fantasias e carros alegóricos até fevereiro. Na minha opinião, como cidadão, acredito que não vai ter Carnaval oficial. Carnaval vai ter porque o povo faz de qualquer jeito, mas bancado pelo poder público acredito que não terá”. 

Nunes conta, também, que muitas escolas da Região Metropolitana do Recife estão com as contas apertadas, sofrendo corte de energia por falta de pagamento e até correndo o risco de fecharem de fato. Para tentar reverter o quadro, a Federação propôs à Prefeitura do Recife que, em caso de realização do Carnaval, fossem realizados desfiles simbólicos, com número reduzido de componentes e sem a disputa do tradicional concurso de Carnaval para que todas pudessem garantir suas subvenções e terem os valores dos prêmios divididos de forma igual. “Se não fizermos isso, vai ser mais um ano sem ganhar novamente. Sofremos um forte impacto e para se recuperar, para o concurso, as escolas vão precisar de muito mais que um ano”.

As escolas de samba pernambucanas estão aguardando a definição do Governo do Estado quanto à uma possível realização do Carnaval em 2022. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

Já para os afoxés o ritmo de retomada tem sido um pouco diferente. Segundo Fabiano Santos, presidente da União dos Afoxés de Pernambuco (UAPE) e do Afoxé Alafin Oyó, todas as agremiações já estão desenvolvendo atividades, sobretudo as religiosas. A expectativa é de que haja alguma “celebração” do Carnaval 2022, ainda que seja de forma reduzida, em clubes ou espaços fechados, ou até mesmo de maneira híbrida ou remota. 

Fabiano lamenta que, após um ano sem Carnaval e sem a renda que ele proporciona às agremiações, “as pessoas estão quebradas,  tentando literalmente sobreviver” e afirma que o auxílio emergencial ofertado pela Prefeitura do Recife e ainda a  Lei Aldir Blanc, no último ciclo, não foram suficientes para suprir as demandas de todos. “O auxílio do Carnaval 2021 foi a maior balela. As pessoas se iludiram com essa  possibilidade, mas não conseguiu atender a cadeia produtiva geral. Como foi dividido por porcentagem, tiveram entidades que ganharam o que se tinha almejado, mas que também não serve pra nada, se você pensar em toda a cadeia produtiva, cantores, dançarinos, costureiras, você não consegue fazer a distribuição. Houve entidades que receberam R$ 980. Nas linhas miúdas do auxilio, não só os afoxés mas maracatu e outras entidades se prejudicaram muito”.

Para o presidente da UAPE, um segundo ano consecutivo sem a realização do Carnaval representa o risco de fragilizar ainda mais essas agremiações, muitas delas correndo o risco de encerrarem suas atividades em definitivo. Fabiano acredita que o momento servirá para  consolidar uma já existente “relação inferiorizada” da cultura popular com o poder público e que muitas entidades do segmento acabarão caindo novamente “na indução do erro de aceitar qualquer coisa” como remuneração, ou auxílio.

“A gente vive uma disputa de classe a qual nós permanecemos ainda nesse lugar do prestador de serviço, de mão de obra barata, inclusive fazendo a releitura da própria escravidão. A escravidão tinha essa mão de obra em valor tranquilo para estabelecer lucro, é o que temos hoje. A cultura popular é essa mão de obra que permanece na mesma relação trazendo lucro para o estado. A gente recebe muito menos do que deveria ou o velho pão para se alimentar e estar mantendo esse ciclo vicioso de que os coronéis ganham, é a escravidão paga”, disse o presidente da Uape. 

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Outra organização que cuida de um dos maiores símbolos da cultura tradicional pernambucana, o maracatu de baque virado, também teme passar mais um ano sem atividades. Fábio Sotero, presidente da Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe) e da Nação Aurora Africana, diz que no meio, todos estão bastante preocupados com o surgimento da nova variante do coronavírus, a ômicron; e com a possibilidade de passar mais um ano sem ir às ruas, “poucos maracatus estão realizando algum tipo de atividade”. 

No lugar do sonho com mais um ano de brilho e muito batuque, a realidade das nações é a perspectiva de mais um período amargando prejuízo. “Já estão acontecendo diversos eventos como se estivesse tudo normalizado mas as agremiações ainda estão sofrendo com a  pandemia porque elas vão ser as últimas a terem alguma coisa, enquanto os eventos estão acontecendo a todo vapor, as agremiações estão ainda a ver navios sem perspectiva de nada”. 

Sotero também criticou a aplicação da Lei Aldir Blanc para os fazedores de cultura popular. Para ele, o auxílio foi mesmo “um balde de água fria” com poucos contemplados, ao passo que "artistas grandes, já consagrados” acabaram levando uma fatia maior do bolo. “As agremiações ficaram ao relento, ou com apenas alguma migalha”. No último mês de outubro, a Amanpe chegou a promover um protesto em frente à Prefeitura do Recife exigindo melhorias nas subvenções pagas às nações e outras medidas que dariam maior suporte a elas, no entanto, até o momento não houve, segundo o presidente, nenhuma definição quanto às pautas apresentadas. 

Para Fábio, passar mais um ano sem colocar os batuques nas ruas causará impactos quase irreparáveis. Com as nações ‘no vermelho’ e muitos maracatuzeiros que tiveram que parar sua dedicação ao ‘brinquedo’ para conseguirem gerar renda através de outros ofícios, as consequências e prejuízos precisarão de muito tempo e apoio para serem revertidas. Algumas, talvez, não conseguirão ser solucionadas.

“Algumas manifestações vão deixar de existir porque tem gente que não vai dar continuidade. Se o próximo Carnaval for no mesmo formato deste de 2021, no qual a prefeitura inventou um auxílio emergencial para calar a boca que foi uma vergonha, uma migalha, então mais uma vez a gente vai ter perdas de extrema importância, uma perda irreparável. Não foi fácil, não está sendo fácil e vai ser pior ainda caso isso se repetir. A gente vai tentar negociar uma possível apresentação virtual ou alguma coisa nesse sentido que não seja apenas aquele auxílio emergencial vergonhoso”, finalizou o presidente da Amanpe. 

As nações de maracatu também estão em situação de fragilidade. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

Auxílio do poder público

O LeiaJá procurou as prefeituras do Recife e de Olinda para questionar sobre as tratativas para um possível Carnaval em 2022. Através de sua assessoria de imprensa, a gestão recifense afirmou estar discutindo o assunto com a ajuda de um comitê formado por cidades que realizam grandes carnavais, como Rio de Janeiro e São Paulo, e que a decisão levará em conta as orientações das autoridades sanitárias.

Sobre as subvenções pagas às agremiações, eventuais auxílios financeiros aos grupos da cultura popular e artistas, ou outras estratégias de apoio a esses profissionais, a Prefeitura do Recife não emitiu resposta. “As tratativas sobre o Carnaval 2022, neste momento, no Recife, são conduzidas pela comissão formada em setembro, da qual faz parte a Secretaria de Saúde, realizando o monitoramento permanente do quadro sanitário e das recomendações”, diz a nota. 

A gestão de Olinda também afirmou, através de sua assessoria, estar trabalhando “com três hipóteses: não realização; que a festa aconteça com controle de acesso; realização do Carnaval em um cenário epidemiológico de 90% da população brasileira totalmente imunizada”. Além disso, colocou que a decisão será tomada “conjuntamente com outros municípios”. A respeito de possíveis auxílios financeiros à artistas e agremiações também não houve resposta. 

Na última quarta (1º), o secretário de saúde do estado de Pernambuco, André Logo, estipulou um prazo para a definição sobre a realização do Carnaval do próximo ano em terras pernambucanas. Durante reunião da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), o secretário afirmou que até o dia 15 de janeiro de 2022 a pauta será decidida.

 

Após ato realizado na última terça (5), em frente à Prefeitura do Recife, lideranças e integrantes de diversas nações de maracatu de baque virado conquistaram uma primeira vitória: serem ouvidos pela gestão municipal. Sete representantes da categoria tiveram uma reunião com o Secretário de Governo e Participação Social, Carlos Muniz, e o Secretário de Cultura, Ricardo Mello, para apresentarem suas demandas. Entre elas, o aumento da subvenção paga à categoria no Carnaval e a abertura da Casa do Maracatu. Como resposta, os maracatuzeiros receberam uma data limite para o início de um diálogo mais aprofundado dessas e de outras questões. 

Ao final da reunião, o presidente da Associação de Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe), Fábio Sotero, falou sobre o acordado entre maracatuzeiros e a gestão. Em entrevista ao LeiaJá, Fábio se mostrou confiante com o prazo dado pelo secretariado da prefeitura para que ações concretas comecem a ser realizadas em prol dos maracatus. “Todas as pautas da gente ficaram pra eles começarem a nos dar respostas até o próximo dia 14. Entre elas, a Casa do Maracatu. Eles estão reformando uma casa no Pátio de São Pedro para ser a Casa dos Patrimônios. A gente já tinha solicitado isso e dissemos que tínhamos o interesse em dividir o espaço com outros patrimônios, mas sob nossa administração”, disse.

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O presidente da Amanpe afirmou, ainda, ter dado uma espécie de ultimato à gestão quanto aos valores da subvenção, um auxílio pago pela Prefeitura do Recife para auxiliar nos custeios da produção do Carnaval das agremiações. “Deixei muito claro que se não houver aumento para o Carnaval 2022, nenhuma nação de maracatu vai pra rua”.  

Em ato realizado na última terça (5), representantes das nações de maracatu pediram para serem ouvidos pela gestão. Foto: Júlio Gomes/LeiaJàImagens

Procurada pelo LeiaJá, a Prefeitura do Recife informou, através de sua assessoria de imprensa, estar desenvolvendo ações pelo fomento não só do maracatu, como também de outras manifestações tombadas como patrimônio, e elencou alguns dos auxílios criados durante a pandemia em funçao dos trabalhadores da cultura, entre eles o “AME - auxílio municipal emergencial, voltado para os ciclos carnavalesco e junino".

Além disso, a gestão afirma que “a Comissão do Carnaval, criada pelo executivo municipal, sob coordenação das secretarias de Cultura e de Governo, que receberam a Associação de Maracatus ontem (também recebida em outras oportunidades na Prefeitura), segue trabalhando para organização do evento em 2022, desde que liberado pelas autoridades da saúde”. 

Confira a nota na íntegra.

A Prefeitura do Recife participa da elaboração do Plano de Salvaguarda do Maracatu Nação, que visa pactuar ações conjuntas entre o poder público nas suas diversas esferas e a sociedade civil. Mais do que isso, está em atividade um comitê criado pela administração municipal, envolvendo diversos órgãos como Iphan, Fundarpe e universidades, dedicado ao debate sobre os patrimônios culturais imateriais do Recife, com vistas a definir diretrizes para preservação e fortalecimento dessas expressões. 

Neste ano de 2021, a Prefeitura do Recife realizou o AME - auxílio municipal emergencial, voltado para os ciclos carnavalesco e junino, dando amparo às cadeias produtivas destes eventos, alcançando assim as mais diversas representações da cultura popular. Também foi com olhar para este segmento, que o Recife passou a ter a Lei do Registro do Patrimônio Vivo, outra proposta da gestão municipal aprovada na Câmara e já sancionada pelo prefeito. 

O processo de diálogo com as mais diversas manifestações da cultura recifense vem acontecendo desde o início do ano, por meio do Chama Cultura. Com o MOVE Cultura, outra ação local, a Prefeitura já reabriu a Casa do Carnaval, espaço de pesquisa, formação e memória, com exposição sobre a ciranda, novo patrimônio cultural imaterial do país. Também no Pátio de São Pedro, a prefeitura irá instalar a Casa dos Patrimônios - Centro de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. 

Outra ação pontual que vem ao encontro de todas essas articulações de salvaguarda a longo prazo foi o Edital Sevy Caminha Prêmio de Trajetória, lançado pela Prefeitura do Recife, dentro da programação da nova etapa recifense da Lei Aldir Blanc. O edital premiará mestres e mestras, reconhecendo o mérito cultural de atividades artísticas e culturais ligadas aos saberes tradicionais da cultura popular. As inscrições estão abertas até o próximo dia 18 de outubro. Edital e calendário completo podem ser acessados no site: www.culturarecife.com.br

Somam-se a isto duas linhas específicas para ações nas áreas de Patrimônio Cultural e Cultura Popular no Sistema de Incentivo à Cultura (SIC 2020-2021), retomado este ano. Sobre as demandas relativas aos valores das subvenções, vem acontecendo uma discussão interna, avaliando o cenário em busca de encaminhamentos possíveis, mas o diálogo permanece aberto.

A Comissão do Carnaval, criada pelo executivo municipal, sob coordenação das secretarias de Cultura e de Governo, que receberam a Associação de Maracatus ontem (também recebida em outras oportunidades na Prefeitura), segue trabalhando para organização do evento em 2022, desde que liberado pelas autoridades da saúde. Todas as medidas administrativas serão adotadas. E o diálogo mantido.

No final do mês de julho, a vereadora Michele Collins (PP) apresentou um requerimento solicitando o cancelamento do Carnaval no Recife, no ano de 2021, em decorrência do novo coronavírus. Após pouco mais de quatro meses de pandemia, em meio a um plano de convivência com a Covid-19, a medida gerou polêmica e críticas nas redes sociais. Agora, parte da classe artística pernambucana e muitos profissionais diretamente ligadas à maior festa popular do Estado, pede calma e sugere um diálogo para que tal decisão seja tomada da melhor maneira possível. 

Para Michele, o cancelamento da festa - prevista para acontecer entre os dias 12 e 16 de fevereiro de 2021 -, é uma questão de saúde. "Não podemos colocar a população em risco. Ainda não temos uma vacina comprovada e não é momento para festejos, seja ele qual for", disse em suas redes sociais. Em contrapartida, outros membros da Câmara de Vereadores do Recife se opõem ao requerimento de número 4075/2020, proposto por Collins, alegando ser precoce optar pela não realização do Carnaval.

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Os vereadores Samuel Salazar (MDB) e Ivan Moraes Filho (PSol) acreditam ser muito cedo para se falar em cancelamento. Esse último, inclusive, apresentou um pedido de vistas ao requerimento da vereadora, na última terça (4). Também através de suas redes sociais, Moraes Filho explicou sua posição propondo um diálogo: "Precisamos ouvir as pessoas que constroem e participam do Carnaval. Entre o cancelamento e o adiamento, e entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021, existe muito debate e planejamento. Muita gente vive dos recursos gerados no período carnavalesco". 

Em 2020, o Carnaval gerou um faturamento de R$ 1,5 milhão para a cidade do Recife. Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Mesma opinião apresentou parte da classe artística pernambucana, através do Acorde Pela Música PE. Na página oficial do movimento, apoiado por nomes como Flaira Ferro, Siba, Isaar, Fábio Trummer, Roger de Renor, Juliano Holanda, Jr. Black, Karina Buhr e Rogério Rogerman, entre outros, uma carta aberta sugerindo um debate com o poder público foi publicada na última quarta (5). Nela, os artistas falam da necessidade de se pensar alternativas antes que seja tomada qualquer tipo de decisão: "Essa discussão poderá ser iniciada nos próximos meses, quando teremos uma visão mais definitiva sobre a realidade da pandemia para o início de 2021. O Carnaval deve ser compreendido não apenas como um evento, mas como uma experiência fundamental para nossa cultura e fonte de renda para milhares de famílias".  

Trabalhadores do Carnaval

Em meio à polêmica, os fazedores de cultura popular em Pernambuco - trabalhadores que têm no Carnaval o momento de vivenciar as manifestações culturais locais em sua plenitude além de tirar do evento parte de sua renda -, também estão cautelosos. A chegada do segundo semestre do ano costuma representar o início da preparação para o Carnaval seguinte, no entanto, em 2020, a pandemia do novo coronavírus alterou o cronograma das agremiações trazendo-lhes preocupação. 

Na escola de Samba Galeria do Ritmo, atual campeã do Carnaval do Recife, pequenos grupos de integrantes dedicam-se à parte dos preparativos para um possível desfile.  Para o presidente da agremiação, Mizael Correia de Souza Filho, ainda não é hora para determinar um possível cancelamento da festa. "É muito cedo. Até porque (nosso) Carnaval começaria em dezembro. Eu já comecei a fazer os trabalhos para 2021, independente de qualquer coisa", disse em entrevista ao LeiaJá

Parados desde março deste ano, os integrantes e diretores da agremiação se vêem preocupados com a manutenção da escola. A falta de eventos, proibidos por conta das restrições contra o coronavírus, resultou em dificuldades financeiras para o grupo que não suportaria enfrentar a mesma dificuldade por mais um ano. "O prejuízo (de não fazer o Carnaval 2021) seria muito grande. Estamos parados, (dinheiro) tudo saindo do bolso da gente, para pagar telefone, água. Seria para acabar... As escolas de Recife não têm suporte para passar mais um ano paradas", lamenta Souza. 

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Já para o presidente da União dos Afoxés de Pernambuco (UAPE) Fabiano Santos, o pedido de cancelamento da festa vai um pouco além da preocupação com a saúde pública. "(Existe) um movimento que já antecede a pandemia que é vontade literal de justificar a utilização do recurso investido nas culturas populares, no Carnaval, em outros equipamentos que já têm seu recurso lotado. Existe uma ala que tenta influenciar esse tipo de substituição, já pré-existe essa vontade. E agora com a relação da pandemia, me parece que essa vontade começa a ser externada com a justificativa da própria pandemia".

Fabiano que também preside o Afoxé Alafin Oyó, teme pelo futuro dos grupos de cultura popular caso não haja a festa. "Não sei se é exagero, mas o não realizar do Carnaval vai trazer o findar de algumas agremiações, não só pelo retrocapital econômico que a gente garante, com os recursos angariados do carnaval antecedente, mas sim nesse novo olhar de sobrevivência porque as pessoas que tocam, cantam, que dançam numa agremiação, elas são trabalhadoras da cultura e recebem por isso. Não atendendo a essa possibilidade, você condiciona o indivíduo a pensar em outro formato de subsistência que não vai ser mais a cultura". 

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Segundo o presidente da UAPE, os grupos de afoxé do Estado estão inseguros em relação a 2021 e optaram por não investir na preparação para possíveis apresentações carnavalescas por medo de não poderem reaver esse dinheiro. Fabiano propõe novos modelos para que a festa aconteça sem prejuízo à saúde de quem a faz e de quem a curte. "Por não vislumbrar a possibilidade de uma vacinação coletiva, a gente pensou muito no construir de uma programação com filmagens, com lives, que podem ser feitas em dezembro e janeiro; realizando os quatro dias de Carnaval com mostras e canais no YouTube, Facebook. Se a gente consegue trazer isso de forma total, segura e feliz acho que a gente consegue inclusive dar uma avançada para novas perspectivas".  

 

O Recife vai sediar, neste mês de novembro, a primeira edição do Congresso Nacional de Maracatu Nação. O evento vai reunir maracatuzeiros, pesquisadores e brincantes de Pernambuco e de todo o país para debater e promover vivências sobre essa manifestação popular tombada como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. As atividades começam na próxima segunda-feira (11) e encerra com um grande encontro de batuqueiros no dia 17 de novembro.

Nesta primeira edição, o congresso pretende discutir sobre o Plano de Salvaguarda do Maracatu, pendente de elaboração desde o tombamento da manifestação como patrimônio nacional. Para isso, o evento promove apresentação de trabalhos acadêmicos, rodas de diálogos, sessões de educação patrimonial e vivências com pesquisadores, mestres e batuqueiros. As atividades acontecem em diversos locais da Região Metropolitana do Recife e são gratuitas. 

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O congresso é realizado pela Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe), com apoio  da FUNDARPE e Prefeitura do Recife, além do Departamento de Preservação do Patrimômio Cultural - DPPC, do IPHAN - PE. Segundo o presidente da Amanpe, Fábio Sotero, o evento pretende não apenas discutir o planejamento do plano de salvaguarda do maracatu de baque virado como, também, "discutir as necessidades das nações" e chamar a atenção para a importância da presença dos maracatus para além do período carnavalesco. "A gente tem uma diversidade muito grande nas nações, elas são muito diferentes umas das outras. A gente quer melhorar a situação dos maracatus de Pernambuco", afirma. 

As atividades do congresso começam na próxima segunda (11), com a exibição do Vídeo Documentário do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) - Maracatu Nação, à partir das 14h, no Teatro Arraial Ariano Suassuna e, em seguida, será feita uma homenagem aos mestres e mestras de algumas nações. Encerrando o evento, no dia 17 de novembro, às 15h, haverá um grande encontro de batuqueiros, de diversas nações de maracatu de baque virado e grupos percussivos de todo o país, no Bairro do Recife. “Vai ser uma grande ‘maracatuzada’ lá no Recife Antigo”, diz Sotero. Os batuqueiros sairão de diversas partes do bairro, com culminância do encontro na Av. Rio Branco. A programação completa pode ser vista na página oficial do congresso. 

Serviço

1º Congresso Nacional de Maracatu Nação

11 de novembro a 17 de novembro

Gratuito

 

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