Três ex-chefes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) cujo paradeiro era desconhecido anunciaram nesta quinta-feira, 29, o retorno à luta armada junto com outros chefes rebeldes que se distanciaram do acordo de paz na Colômbia desde a posse do presidente Iván Duque.
Iván Márquez, ex-número dois da guerrilha, Jesús Santrich, que fugiu da Colômbia em julho e Hernán Darío Velásquez, conhecido como El Paisa, reapareceram em um vídeo divulgado no YouTube, vestidos com indumentária militar e cercados de homens armados. No discurso, Márquez prometeu se aproximar do Exército de Libertação Nacional (ELN) - última guerreira ativa da Colômbia, que tem operado na fronteira com a Venezuela.
##RECOMENDA##Os três líderes já tinham se distanciado do acordo de paz de 2017, do qual Márquez foi um dos principais negociadores, e levou ao desarmamento de 7 mil homens e mulheres.
Ex-negociador vê traição de Duque a acordo de paz
"A continuação da luta de guerrilha é uma resposta à traição do Estado aos acordos de paz de Havana", disse Márquez no vídeo divulgado no YouTube.
"A armadilha, a traição e a deslealdade, a modificação unilateral do texto do acordo, a violação dos compromissos por parte do Estado, as assembleias judiciais e a insegurança jurídica nos forçaram a voltar para a montanha", acrescentou o dissidente. "Nunca fomos vencidos, ou derrotados ideologicamente. É por isso que a luta continua."
Há mais de um ano, Márquez decidiu se afastar do pacto de paz, alegando as mesmas violações do Estado que usou para justificar o retorno à luta armada.
Santrich, por sua vez, é um fugitivo processado por tráfico de drogas. Também é acusado pelos Estados Unidos de conspirar para enviar cocaína depois de assinar a paz no final de 2016. Ele fugiu da Colômbia em julho e há relatos de que teria buscado refúgio na Venezuela. O governo da Colômbia oferece US$ 1 milhão por seu paradeiro.
El Paisa - um temido chefe militar nos tempos da antiga guerrilha - também tem um mandado de captura, emitido após os compromissos assinados com o governo do ex-presidente e Nobel da Paz Juan Manuel Santos (2010-2018).
Dissidência atua no narcotráfico
Embora a maior parte das Farc tenha se desmobilizado, cerca de 2,3 mil combatentes distribuídos em vários grupos compõem o chamado dissenso e estão envolvidos, principalmente, com o tráfico de drogas e a mineração ilegal, de acordo com informações militares.
Já o ELN é considerado o último grupo guerrilheiro ativo na Colômbia, também com cerca de 2.300 membros e com uma forte influência na fronteira com a Venezuela.
No momento, o governo de Duque - que tentou, sem sucesso, modificar o que foi acertado em desacordo com o que considera concessões ao ex-guerrilheiro - ainda não se posicionou sobre o anúncio explosivo de Márquez.
Partido das Farc condena 'golpe baixo'
O partido Força Revolucionária Alternativa Comum (Farc), criado após o acordo, e ex-negociadores de paz lamentaram o retorno às armas de Márquez e de seus companheiros, mas insistiram em defender o acordo que permitia o desarmamento de milhares de outros combatentes.
Também conhecido como Timochenko e presidente do partido, Rodrigo Londoño considerou um "golpe baixo" e uma "notícia infeliz" o anúncio de seus antigos camaradas, embora tenha dito que, de agora em diante, acaba a "ambiguidade" que existia em relação aos chefes rebeldes que não reconheciam o pacto.
"A grande maioria das pessoas que se mantiveram no processo continua nele porque acredita nisso, está convencida, tem preocupações, mas essa mensagem pode penetrar em alguns colegas indecisos, pode nos causar algum dano", acrescentou o ex-comandante da guerrilha em entrevistas de rádio.
Santos pede manutenção do acordo
O ex-presidente Juan Manuel Santos também reagiu. No Twitter, escreveu que "90% das Farc seguem em processo de paz. É preciso continuar cumprindo. Os desertores devem ser reprimidos com toda força. A batalha pela paz não para!".
Entre os oponentes ao acordo de paz, o ex-presidente e senador Álvaro Uribe criticou o anúncio. "O país deve estar ciente de que não houve processo de paz, mas o perdão para algumas pessoas responsáveis por crimes hediondos a um alto custo institucional", escreveu ele no Twitter. (com agências internacionais)