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“Eu amo o meu país, amo ser nordestina, mas não me adapto mais ao Brasil. Os problemas me afastam cada vez mais do meu país”. Esse é o sentimento de Tamiris Mendonça, de 27 anos, recifense que vive há 12 anos na Alemanha. Assim como ela, a vontade de ir embora e construir uma vida no exterior faz parte do desejo de mais de 39% dos brasileiros, conforme uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa UNINASSAU.

Dois motivos que têm afastado os brasileiros da sua nação são a corrupção e a insegurança, representadas por 32,1% e 17,7%, conforme indica a pesquisa. Os políticos aparecem como terceiro quesito, com 14,9% das opiniões.

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Esses dados são retratados no depoimento de quem já não vive mais no país. “Eu ia para o Brasil com a intenção de ficar, mas a falta de segurança não fazia mais parte do meu cotidiano. Aqui se anda pelas ruas a qualquer hora sem problemas, ando com o celular no bolso sem medo de ser roubada”, detalha Tamiris. Ela ainda explica que, “a corrupção é algo que se passa através de gerações e, sendo assim, a tendência é piorar. Não se tem educação, as pessoas não pensam umas nas outras e acabam prejudicando a vida dos outros”, conta desesperançosa. 

Esta visão também é tida por quem ainda está no Brasil, mas possuem o desejo de irem em busca de novas experiências. Movido pela curiosidade de ser mais que um turista em terras estrangeiras, o desenvolvedor de software, Luca Bezerra, detalha um dos principais motivos para querer viver em outro país. “A situação atual do Brasil que faz com que você pense que teria uma qualidade de vida muito melhor em outro lugar, por mais que existam dificuldades. A falta de segurança e de confiança na política e o que isso traz são justamente o que causam a sensação de insegurança. Não há investimento, a gente trabalha muito para ter muito do nosso salário tomado pelo governo, mas não se tem o retorno em forma de serviços e benefícios”. 

Tamiris ratifica a idea de melhor qualidade de vida fora do país, na Alemanha, assim como almeja Luca conquistar no Canadá. “Aqui o cidadão pode ter tudo sem precisar ser rico. As coisas que eu posso ter aqui, eu não conseguiria ter no Brasil. Por exemplo, o meu carro custa 30 mil euros, o equivalente a 120 mil reais. Eu não poderia nunca ter um automóvel desse valor morando e trabalhando no Brasil”, explica. 

Assim como eles, 92,6% dos entrevistados apontam que o país tem muitos problemas, mas, apesar da visão negativa, 66,8% acreditam que o país tem jeito. “Creio que tudo se resolve, mas precisa de muita vontade política e, especialmente, muita mobilização popular para poder cobrar desses governantes. Têm como melhorar muitas coisas, talvez levasse uns 30 anos pra chegar a patamar de Europa, mas é preciso mais gente honesta trabalhando pra representar a gente e, não somente, os próprios bolsos”, ressalta Luca.

Apesar da expectativa de ir embora, o amor pelo país continua sendo estampado a partir da esperança que se tem de melhoria em alguns aspectos, afinal, conforme o estudo, 69% dos entrevistados têm orgulho de serem brasileiros. 

A liberdade de não ter que se subordinar ao comando de chefes e ser dono dos lucros obtidos com o próprio trabalho cria em muitos recifenses o desejo de empreender. No entanto, para cidadãos das classes C e D entre 16 e 64 anos, a "ausência de verba" é o principal fator que impede a abertura de negócios. A informação é do mais recente estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU, promovido em parceria entre o LeiaJá e o Jornal do Commercio. A análise, trabalhada de maneira qualitativa, contou com entrevistados de vários bairros do Recife.

O desejo de ter o próprio negócio é notado principalmente entre os recifenses considerados maduros. Entre os possíveis empreendimentos, estão principalmente venda de batata frita, comércio de roupas ou mercadinho. Integrante do grupo das pessoas que almejam empreender, mas param na falta de recursos financeiros, Luciane Maria Neves, que tem 43 anos e atualmente trabalha como empregada doméstica, pensa em ter um negócio. Como também faz artesanato, a recifense do bairro de Casa Amarela, Zona Norte da cidade, vislumbra uma empresa para vender suas produções artesanais. “A questão financeira me impede, porque é caro abrir um negócio, o valor para comprar tudo que você precisa para começar é alto e existe o risco de não dar certo”, diz Luciane.

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Também moradora da Zona Norte do Recife, Ranna Ivani tem 21 anos e diz que gostaria de ter a oportunidade de abrir uma academia. “Tenho vontade de ter um negócio, mas para a gente investir tem que ter oportunidade de levantar algum dinheiro. No momento, eu gostaria de abrir uma academia”, relata. “O lucro da pessoa que trabalha para si é mais vantajoso”, complementa a jovem recifense.

Ainda de acordo com a pesquisa, os entrevistados também apontam os impostos cobrados pelo poder público como barreiras para a abertura de empreendimentos, além da falta de certeza sobre se o negócio terá ou não sucesso. No geral, segundo o estudo, "empreender traz incerteza" para vários moradores do Recife.

Essa incerteza faz com que o público mais jovem e uma boa parcela dos recifenses maduros prefiram a segurança de ter uma renda fixa. Para isso, a aprovação em concursos públicos é o ideal, segundo relatos dos entrevistados. "Eles mostram o desejo de ser funcionários públicos. Segundo parte deles, trabalhar para o Estado possibilita que todo o mês, o 'certo entre na conta'. Portanto, empreender traz incerteza, é inseguro. Ser funcionário público traz o 'certo'. Eles desejam e elogiam a estabilidade do emprego público. Contudo, reconhecem que é muito difícil passar num concurso público”, diz o estudo do Instituto de Pesquisas UNINASSAU.

Para o coordenador da pesquisa e cientista político, Adriano Oliveira, o estudo mostra claramente que o desejo do recifense das classes C e D de ter o próprio negócio, caminha ao lado da busca por estabilidade financeira e profissional. "Os eleitores têm vontade de ser empreendedores. Tal desejo é observado entre os eleitores maduros. Entretanto, eles reconhecem que impostos e ausência de capital para abrir um negócio os impedem de empreender. Concorre ao desejo de ser empreendedor, o desejo da estabilidade, do certo. Jovens e maduros revelam opção pela segurança, estabilidade. Por isto, elogiam o emprego estatal e mostram desejo de conquistarem emprego público", analisa Oliveira.

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Em um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas UNINASSAU no Recife, 93% dos entrevistados disseram respeitar homossexuais. Um número semelhante, 92%, disse também respeitar transexuais.

Apesar de grande parte se considerar respeitosa com relação à questão de gênero, algumas opiniões emitidas vão de encontro às demandas dos grupos LGBT. Por exemplo, quando perguntados sobre qual banheiro a pessoa transexual deveria usar, 49% disseram pra usar aquele do sexo que nasceu contra 37% que disse que transexuais deveriam utilizar o banheiro do sexo pelo qual ele se reconhece.

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Além disso, 61% dos pesquisados concordaram com a afirmação de que o casamento deve existir apenas entre homem e mulher.  A pesquisa ainda questionou o que a pessoa faria caso descobrisse que seu filho homem estaria namorando outro homem. A maioria (33,6%) alegou que aceitaria o relacionamento, mas parcelas expressivas disseram que dariam conselhos “do que é certo” (11,9%), não aceitariam (11,3%), colocariam para fora de casa (6,8%) e bateriam no filho (2,9%).

Opinião: 93% dizem respeitar os homossexuais

Thiago Rocha, representante gay na coordenadoria do Fórum LGBT de Pernambuco: "o contexto de respeitar ou não é muito amplo. Se for dividir isso em vários outros tópicos, a gente vai ver que de fato não é tão real essa porcentagem alta. Por exemplo, se perguntar a alguém próximo da família, irmãos, pais, primos, se respeitam, vão dizer que sim, que até têm parente gay. Mas o que é respeitar? É quando a gente priva o outro de ser ele mesmo? 'Eu aceito você com sua orientação, mas...'. Tem sempre um 'mas', a gente tem que saber se portar, não andar de mãos dadas com o namorado no shopping, não trocar carinhos com meu namorado e não ter direitos como o de me casar".

Opinião: 92% dizem respeitar os transexuais

Robeyoncé Lima, advogada, primeira trans aprovada no exame da OAB em Pernambuco: "Acho que esse número é um tanto forçado. No meu caso especifico, como eu vejo que não estou tão exposta como trans e travestis que fazem programa, que vivem na noite, percebo que existe uma descriminação meio que velada. Talvez o fato de ter sido aprovada na OAB e ter atualmente status de advoga, você se impõe para as pessoas, que passam a te ver com certa respeitabilidade. Mas acredito que esses números sejam bem contraditórios realmente. A gente tem a questão da descriminação institucional, nome social, forma de tratamento... Na própria Câmara Municipal, onde trabalho, a gente sabia que tinham muitas pessoas lá contra eu utilizar meu nome social. Mas quando a gente estava no plenário, elas ficaram caladas, eu só via os cochichados de alguns vereadores".

STF – Na última quinta-feira (20), o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar se transexuais podem mudar seu gênero no registro civil sem ter realizado a cirurgia de mudança de sexo. A decisão, entretanto, foi adiada.

Durante a sessão, subiram à tribuna advogados do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis) e da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). O julgamento foi suspenso porque os ministros optaram por julgar o caso em conjunto com outra ação sobre o mesmo tema que está sob a relatoria do ministro Marco Aurélio. Não há data para a discussão ser retomada. 

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Em novo estudo, o Instituto de Pesquisas Uninassau mostra que, mesmo sendo réu da Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é cotado pelos recifenses para assumir a Presidência da República. O petista comandou o país de janeiro de 2003 a dezembro de 2010.

Ao responderem à pergunta "Se a eleição para presidente da República fosse hoje, você votaria em quem?", 34,9% dos entrevistados disseram que votariam em Lula. Marina Silva foi indicada por 12,2%. Jair Bolsonaro foi o terceiro mais citado, tendo a preferência de 7,5% dos recifenses. Ciro Gomes e Aécio Neves seriam a opção de 2,4% cada um. Geraldo Alckmin e Álvaro Dias também foram mencionados por 0,6% e 0,5% das pessoas que participaram da pesquisa, respectivamente.

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Neste ano, a força-tarefa da Lava Jato afirmou que o ex-presidente é considerado o “comandante máximo do esquema de corrupção da Lava Jato”, tendo três fins: governabilidade corrompida, perpetuação criminosa do poder e enriquecimento ilícito. Em setembro, ele se tornou réu sob as acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que ele recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio - de um valor de R$ 87 milhões de corrupção - da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012.

A pesquisa do Instituto Uninassau, divulgada nesta segunda-feira (26), foi realizada nos dias 13 e 14 de dezembro, no Recife. O nível estimado de confiança é de 95%, com margem de erro de quatro pontos percentuais.

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