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“O que torna um artista relevante nos tempos atuais?” O questionamento é levantado pelo rapper paulista Kamau, que nesta sexta (21), lança nas principais plataformas digitais o primeiro EP de sua parceria com o MC e produtor Slim Rimografia, ‘Isso’. Batizada de SKiT, a dupla condensou cerca de um ano de trabalho, e outros tantos de colaboração mútua, em sete faixas que contaram, ainda, com as participações de DJ Gio Marx; Lay, da banda Tuyo; e KL Jay. 

Nesses tempos em que o sucesso tem se baseado em números de views e likes, o ‘corre’ para garantir a viabilização do trabalho artístico vem sendo submetido a um novo ritmo, cada vez mais acelerado. Mas foi em um momento de ‘pausa’, durante a pandemia do coronavírus, que ‘Isso’ ganhou forma. As sete músicas do EP trazem temas muito presentes no cotidiano, mas que ainda assim se apresentam bem urgentes, e acabam formando uma linha de raciocínio que interliga uma à outra.

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Segundo Kamau, o trabalho surgiu de forma espontânea, durante o último ano de 2021, e “por afinidade” entre os artistas. “A arte nos ajudou a nos manter sãos e vivos num mesmo lugar nos tempos em que vivemos. Quando pudemos ficar no estúdio direto, (isso) fez com que os fluidos criativos circulassem melhor”, disse em entrevista exclusiva ao LeiaJá. 

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Essa circulação foi condensada em ‘Isso’, primeiro EP da dupla que ganha o mundo nesta sexta (21), através das plataformas digitais, com pretensão de cair literalmente ‘na rua’ assim que possível, como revela Kamau. "Queremos sim apresentar 'Isso' ao vivo da melhor forma. Temos uma sintonia muito boa de amizade, de trampo, de arte e também no palco e já pudemos testar isso uma vez em Campo Grande (MS) com o DJ Gio Marx nos toca-discos. E a ideia é que esse seja o formato que levaremos aos palcos. Esperamos que em breve e em boas e seguras condições para todos”. 

Neste trabalho, a dupla parece seguir pela contramão da lógica e da pressa exigidas por números e algoritmos e chega discutindo temas como a dureza do dia a dia, racismo, preconceito, e a busca por perspectiva e respeito. “A maioria das músicas surgiu a partir da inspiração do beat, então não listamos os assuntos que gostaríamos de abordar. Mas, como disse Nina Simone: ‘É dever do artista refletir o tempo em que vive’. Talvez tenhamos feito isso não por dever, mas por absorver e canalizar naturalmente essas energias, cada um à sua maneira”, diz Kamau.

Kamau e Slim Rimografia formam a dupla 'SKiT'. A capa do primeiro EP do duo é assinada por Flávio Samelo.

Juntos, os amigos Mcs e produtores somam cerca de meio século de experiência e de serviços prestados à cultura Hip Hop. Após atravessarem diferentes momentos no cenário musical independente nacional, Kamau e Slim acabaram se esbarrando nos bastidores do Atelier Studios, no centro de São Paulo, local onde sua parceria floresceu e ganhou forma.

Para Kamau, a dupla chega em um “momento favorável para o Hip Hop”, com a inclusão do breaking nos Jogos Olímpicos de Paris (2024) e “alguns anúncios de rappers na Times Square (Nova Iorque)”, porém, há ressalvas: “O Brasil tem o único DJ multicampeão mundial na América Latina (DJ Erick Jay) que só se torna assunto quando diz que vendeu equipamento pra se manter durante a pandemia. E isso é só um dos exemplos de talentos que são ignorados pelo contexto geral. Temos uma repetição de padrões que acontecem há muito tempo e mudam a nomenclatura e o meio apenas. Valorizar a arte e as forças humanas que a exercem é o que poderia estar melhor. Muito além de números e algoritmos”. 

Juntos, Rimografia (esq.) e Kamau (dir.) têm cerca de meio século de trabalho dedicado ao Hip Hop. Foto: Tiago Rocha

O músico reforça, ainda, que percebe o quanto o rap vem se "adaptando" para ser mais aceito no mercado e na sociedade, porém, frisa a importância de se refletir acerca deste lugar, movimento que também norteia o seu trabalho e o do amigo Slim. “A posição parece favorável por levar o rótulo de rap. Mas não reflete uma maioria que faz, escuta e consome há décadas. E nem falamos isso como alguém que se vê preso a valores e conceitos antigos. Falamos como ouvintes que sempre buscam coisa atual e nova que renove o amor pelo que nos move e que, por acaso, também é o que fazemos”.

A maturidade de quem conhece bem o caminho das pedras certamente pode ser contabilizada como um elemento a mais na produção de SKiT. Um trabalho que chega na contramão da lógica mercadológica mas, claramente orientado pelo desejo de fazer e disseminar arte, como dizem os próprios versos de ‘É Isso Mesmo’, faixa que encerra o EP: “Clássicos levam tempo, não pressa”. 

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