O papa Francisco convocou neste sábado sacerdotes de todo o mundo a trabalhar nas "favelas e comunidades carentes", enquanto centenas de milhares de jovens católicos peregrinavam do centro do Rio de Janeiro em direção à praia de Copacabana, onde celebrarão uma vigília embalada pelas ondas do mar.
"Devemos ser muito orgulhosos de nossa vocação, já que ela nos dá a oportunidade de servir a Cristo nos pobres. É nas favelas, nas comunidades carentes (...) onde é preciso ir buscar e servir a Cristo", disse em espanhol o Papa argentino, de 76 anos, em uma missa na Catedral Metropolitana do Rio.
"Não podemos ficar enclausurados na paróquia, em nossa comunidade, quando tantas pessoas estão esperando o Evangelho", afirmou diante de milhares de cardeais, bispos, sacerdotes e seminaristas de 170 países que participam da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
O primeiro Papa latino-americano também condenou fortemente a atual "cultura da exclusão" e do descarte, onde "não há lugar para o idoso, nem para o filho não desejado", e onde as relações humanas são reguladas para alguns pela "eficiência e pelo pragmatismo". "Tenham o valor de ir contra esta corrente de eficiência, desta cultura do descarte", onde a solidariedade "é quase uma palavra ruim", pediu aos religiosos.
--- Evangelhos na praia ---
A praia de Copacabana, que recebe normalmente cariocas de corpos esculturais em pequenos trajes de banho, se tornou neste sábado cinza e frio o destino de uma peregrinação de centenas de milhares de jovens católicos que acamparão na areia depois de ouvir uma oração do Papa às 19h30 (horário de Brasília).
Francisco busca revitalizar a fé dos peregrinos num momento em que a Igreja perde fiéis, sobretudo jovens, que engrossam as fileiras de evangélicos ou se afastam das religiões.
Com um rosário de madeira nas mãos e a bandeira argentina como capa, Diego Vera, um advogado de Santa Fé de 26 anos, marchava do centro em direção à praia junto a milhares de peregrinos carregando colchonetes e barracas, cantando e dançando. "Esta peregrinação é a reunião de toda a Igreja jovem do mundo em direção à figura do Papa; representa o sacrifício, mas é preciso vivê-la com alegria", explicou à AFP o jovem.
"É tão próximo, é tão estranho escutar o Papa e sentir que é como ouvir seu pároco. Fala conosco de igual para igual, sem linguagem rebuscada e, sobretudo, pediu para que façamos bagunça, que levemos a Igreja para a rua", afirmou. "Esta é a juventude do Papa!", gritava uma freira veterana que acompanha a peregrinação, agitando um guarda-chuva fechado em direção ao céu, carregado de nuvens.
--- Conservar a fé ---
Durante seus seis dias de viagem ao Brasil, Francisco pediu para que os jovens conservem a fé na Igreja, apesar dos maus sacerdotes, e nas instituições políticas, apesar da corrupção, depois que grandes manifestações protagonizadas por jovens sacudiram o Brasil nas últimas semanas. O Papa, que assumiu o trono de Pedro em março substituindo Bento XVI, enfrenta o desafio de renovar uma Igreja em crise após escândalos de corrupção e pedofilia.
Também precisa seguir conquistando fiéis, embora a Igreja mantenha dogmas, desafiados às vezes pelos jovens, como a oposição ao uso do preservativo, ao divórcio, à homossexualidade, ao aborto até mesmo em casos de estupro e a defesa da virgindade até o casamento.
Devido às chuvas torrenciais que inundaram o Campo da Fé de Guaratiba - onde deveria culminar a peregrinação e ser celebrada a vigília e a missa final da JMJ - os três eventos foram transferidos para a praia de Copacabana. O assunto constrangeu as autoridades do Rio de Janeiro, que fizeram uma incomum 'mea culpa'. A organização da JMJ é considerada um teste antes do Mundial de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
Francisco também se reúne neste sábado com políticos, representantes da sociedade civil e da cultura no Teatro Municipal. Depois almoçará com cardeais e bispos brasileiros e passeará de papamóvel pela cidade, em mais uma demonstração da proximidade que busca com os fiéis.