Tópicos | Jô Cavalcanti

Apesar deste sábado (13) marcar os 135 anos da abolição da escravidão no país, é fundamental desmistificar a ideia passada nos livros antigos de História, na qual a protagonista era apenas a princesa Isabel, uma mulher branca que em 1888 assinou a Lei Áurea. É importante ressaltar que o Brasil foi o último país da América a acabar com esse sistema exploratório e desigual, depois de anos de uma intensa luta da população negra por sua libertação.

Os esforços da monarquia em definir a princesa e suas ações como fundamentais para os direitos do povo negro tinha razão óbvia e pouco nobre. No final do século 19, a realeza vivia seus últimos momentos em um território já dominado pelos ares republicanos. Sendo assim, associar a monarquia a uma causa tão popular quanto o abolicionismo era uma das últimas esperanças de dar sobrevida ao regime. Na época, os novos padrões civilizatórios, influenciados pelo continente europeu, condenavam a escravidão. O Brasil, pressionado diante o cenário, se viu em uma posição vexatória internacionalmente.

##RECOMENDA##

O ato libertou 700 mil escravizados que ainda existiam, proibindo que pessoas fossem escravizadas futuramente. Porém, o Estado Brasileiro não disponibilizou políticas públicas para absorver os ex-escravizados na sociedade. Os negros não foram indenizados, não tiveram acesso a trabalho ou terra para continuar a vida com dignidade.

Durante todo o processo de abolição alguns personagens do movimento negro exerceram funções muito importantes, como é o caso do abolicionista Luís Gama. Ele usava diversos argumentos para obter a alforria. O principal deles era que os africanos trazidos ao país depois de 1831 tinham sido escravizados ilegalmente. Isso porque naquele ano foi assinado um tratado de proibição do tráfico de escravos.

"As vozes dos abolicionistas têm posto em relevo um fato altamente criminoso e assaz defendido pelas nossas indignas autoridades. A maior parte dos escravos africanos (...) foram importados depois da lei proibitiva do tráfico promulgada em 1831", disse Gama na época.

Esse abril deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) instituiu, em publicação no Diário Oficial da União (DOU), o Prêmio Luiz Gama de Direitos Humanos. No texto, o mandatário revogou a "Ordem do Mérito Princesa Isabel", que havia sido criada pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) no final de 2022. De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos, a homenagem a uma mulher branca, herdeira do trono imperial, transmite uma mensagem equivocada. Portanto, em substituição à medalha que homenageava a princesa, foi instituído o prêmio com o nome do abolicionista negro.

Os debates sobre a falta de auxílio à população negra após a abolição ganham repercussão até hoje, como nas questões ligadas ao acesso à moradia, educação, trabalho e racismo. Apesar da Lei Áurea ser uma cláusula pétrea e irrevogável da nossa Constituição. Esta lei não impede que em 2023 ainda existam denúncias sobre trabalho análogo a escravidão no Brasil. 

Em entrevista ao LeiaJá, a ex-deputada estadual de Pernambuco, Jô Cavalcanti (PSOL), que tem uma atuação muito importante na luta do movimento negro e trabalhador no estado, falou dos desafios da população negra na atualidade.

"Nós, população negra, enxergamos esse processo como uma falsa abolição que se reflete até hoje na falta de políticas públicas de reparação, no extermínio da juventude negra e na vulnerabilidade social que toda essa população está submetida. A abolição foi formal, na letra da lei, mas não se refletiu na vida dos povos escravizados. A sobrevivência da vida e da história do nosso povo só foi possível pela resistência construída antes, durante e após a assinatura da lei Áurea", disse.

Além disso, Jô afirma que a sociedade precisa conhecer os verdadeiros heróis dessa história e que o protagonismo de mulheres negras deve ser reconhecido. "Ainda hoje é reservado para as mulheres negras os piores salários e os piores postos de emprego, a falta de moradia adequada e tantas outras violações. O Estado utiliza suas ferramentas como estratégia de ataque às vidas negras: a legislação criminaliza, o sistema de justiça criminal encarcera e escreve um destino de negação e invizibilizacao para os corpos negros.

Nessa data, nós entoamos a frase "13 de maio não é dia de negro" por entender que a liberdade não é e não foi dada por ninguém, ela é construída e buscada diariamente em cada território, pelos coletivos organizados e na vida de cada um de nós", afirmou.

O mandato coletivo das Juntas (Psol), assim como outros psolistas e aliados, denunciaram o que entenderam como uma ameaça do deputado estadual Alberto Feitosa (PL-PE) à co-deputada Jô Cavalcanti, durante sessão remota da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na terça-feira (31). À ocasião, o conservador, em tréplica à parlamentar, disse que a sua arma de fogo estava com ele “para ser usada”, caso ele fosse intimidado ou ameaçado. Ao fim da fala, Feitosa pergunta à colega: “entendeu?” e segue falando do tópico armamento, que é divergente entre os dois. 

Primeiramente, o tópico em debate era a política de habitação no Recife e em Pernambuco. Após críticas de Cavalcanti e outros deputados da esquerda à atuação do PSB no estado, Feitosa respondeu com ironia e confrontou os colegas parlamentares sobre o apoio à Frente Popular. O apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou a afirmar que o mandato de Jô votou contra o Marco do Saneamento e colaborou com a atual situação do serviço sanitário à população. 

##RECOMENDA##

A psolista negou ter votado contra a matéria do saneamento especificamente, mas sim, contra a concessão da posse dos serviços à iniciativa privada. O resto do tempo de Alberto Feitosa foi concedido à socialista, que finalizou sua fala criticando o presidente da República. Em seguida, o liberal fez a tréplica, na qual mudou abruptamente de assunto e passou a falar do armamento civil. 

“A arma da senhora está descalibrada, desregulada. Porque vossa excelência atira, mas parece não ter certeza. Um milhão e duzentas mil casas foram entregues; só aqui em Pernambuco, foram 43 mil, mais do que todos os governos de Lula, Dilma e Temer somados. Quem entregou? Jair Messias Bolsonaro”, afirmou inicialmente. 

E continua: “Com relação à arma, ela não está aqui para ser guardada não, viu? A arma está aqui, na minha cintura, para ser usada. Para quem tentar violar a minha integridade física, a da minha família ou tentar invadir a minha residência. A senhora entendeu? Arma foi feita pra isso. Pras pessoas se defenderem. A arma não mata, quem mata são as pessoas”. Confira o trecho inteiro abaixo: 

[@#video#@] 

O LeiaJá tentou entrar em contato diretamente com o coronel Alberto Feitosa, na tentativa de obter um esclarecimento sobre as declarações, mas não houve retorno até o momento desta publicação. O mesmo aconteceu na tentativa de contato com a assessoria das Juntas Co-deputadas. Os espaços seguem abertos. Confira a repercussão dos comentários: 

[@#podcast#@] 

 

Titular do mandato coletivo Juntas (PSOL), a deputada Jô Cavalcanti pediu, na Reunião Plenária dessa segunda (2) na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), esclarecimentos à Polícia Militar sobre atos de censura durante o Carnaval. Ela chamou atenção, principalmente, para casos de policiais que ameaçaram encerrar shows de bandas que tocavam músicas do compositor Chico Science, como noticiou o LeiaJá. A atuação da corporação também foi tema de pronunciamento do deputado Joel da Harpa (PP), que elogiou os profissionais da segurança pública pela redução nos casos de homicídios, roubos e furtos. 

A psolista destacou que, na segunda de Carnaval (24), a polícia fez uma barreira entre o palco e a plateia em show do grupo Janete Saiu Para Beber, no Bairro do Recife, quando foi tocada “Banditismo por uma questão de classe”, de Science. Na ocasião, o vocalista teria sido ameaçado de prisão. No dia seguinte, ao executar a mesma música no polo da Várzea, a banda Devotos foi advertida de que poderia ter o show interrompido. 

##RECOMENDA##

Jô Cavalcanti ainda expôs que a polícia subiu ao palco durante a apresentação do cantor e compositor China, na Lagoa do Araçá, também na segunda (24), ordenando que acabasse o show devido ao horário. E relatou a tensão no desfile do bloco Vaca Profana, em Olinda, em que mulheres desfilam mostrando os seios em protesto contra o machismo e o patriarcado. Por fim, denunciou a agressão de policiais militares contra o músico Artur Delmiro quando tocava pandeiro na Quarta-Feira de Cinzas na Praça do Carmo, naquele município.

“Vimos várias situações no Recife e em Olinda, além de relatos em redes sociais sobre casos de censura, repressão e abuso de autoridade. Quem deu a ordem para proibir música de Chico Science no Carnaval? Desde quando a Polícia tem essa atribuição? Em que lei está escrito que mulheres não podem mostrar seios durante os blocos de Carnaval? O que justifica a abordagem violenta como a que sofreu o Artur nas mãos da polícia?”, questionou. 

A deputada disse que buscará dialogar com a Corregedoria da Polícia Militar para apurar as situações e acompanhar a adoção de medidas cabíveis. “Práticas de censura são expressamente proibidas pela Constituição brasileira. Esperamos que o governador Paulo Câmara também tome providências”, emendou.

Elogios

Ao discursar, Joel da Harpa registrou que o Carnaval de 2020 teve o menor índice de crimes violentos letais intencionais para o período desde 2004. Foram 34 homicídios, contra 62 em 2019. O deputado do PP também assinalou que, nos últimos sete anos, esse foi o Carnaval com menos roubos. “Policiais e bombeiros atuaram com muito profissionalismo e dedicação e baixaram de forma gigantesca os índices de criminalidade. Vimos a Polícia na rua tranquilizando a população, defendendo a sociedade nos polos e nos bairros e garantindo a segurança dos foliões”, disse. 

Na avaliação do parlamentar, os excessos cometidos são “irrisórios” quando comparados ao contingente de policiais que atuou durante a festa. Ele defendeu que o bom trabalho dos agentes de segurança pública, em vez de críticas, seja colocado em primeiro plano. “Associo-me ao discurso e parabenizo todos os policiais, militares e civis, e a Secretaria de Defesa Social. Não só os números foram reduzidos, mas a sensação de segurança ficou bastante marcada”, endossou o deputado Fabrizio Ferraz (PHS). 

Em outro pronunciamento, João Paulo (PCdoB) atribuiu casos de agressões de policiais a foliões em Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) ao clima de anormalidade vivido pelo País. Ele considerou os fatos ocorridos em Pernambuco como “casos isolados de abusos”. “Ninguém aqui questionou o papel da Polícia Militar e sua importância em garantir um bom Carnaval. Mas poderia ter sido ainda melhor se não houvesse excessos”, agregou, em aparte ao discurso de Joel  da Harpa.

*Do site da Alepe

A deputada Jô Cavalcanti, do mandato coletivo Juntas (PSOL), convidou a população a participar de ações que serão realizadas nesta sexta-feira (13), no Recife, para marcar os 51 anos da edição do Ato Institucional n° 5 (AI-5). O anúncio foi feito em discurso na Reunião Plenária desta quinta (12), quando a parlamentar registrou a necessidade de se posicionar, continuamente, contra posturas autoritárias, especialmente no atual momento político.

“Vamos realizar, em conjunto com diversas organizações da sociedade civil, a fixação de placas em homenagem aos perseguidos e mortos durante o período da ditadura militar no Brasil”, disse, informando que os painéis estarão dispostos em frente ao Memorial Tortura Nunca Mais, na Rua da Aurora.

##RECOMENDA##

Para a parlamentar, o AI-5 é “o símbolo maior da violação dos direitos humanos no País”. “É inadmissível que, pouco mais de 50 anos após o ato, o presidente da República, seus filhos e alguns ministros venham a público exaltar essa medida ou apresentá-la como alternativa para o Brasil”, concluiu.

*Do site da Alepe 

O lançamento de um edital para pequenos projetos em favor das “lutas contra as desigualdades e pelo bem-viver” foi anunciado pelas Juntas (PSOL), na Reunião Plenária desta quinta (10). Iniciativas de até R$ 5 mil para mobilizações socioecopolítico-culturais serão apoiadas com recursos de doações voluntárias das coordenadoras que compõem a equipe do mandato.

“Queremos colaborar na luta contra o racismo, a LGBTfobia e todo tipo de opressão”, salientou a deputada Jô Cavalcanti, titular do mandato, na tribuna. O edital, batizado de “Estamos Juntas”, é voltado a projetos no campo de direitos humanos, comunicação, artes, economia sustentável e solidária, moradia, educação, agroecologia, trabalho, mobilidade, pesquisa, cultura tradicional e popular e aperfeiçoamento da democracia.

##RECOMENDA##

“Podem ser contemplados projetos que já existem ou que aguardam apoio para virar realidade. É um edital acessível para várias entidades que vêm discutindo política horizontalmente com o nosso mandato, trazendo pautas que muitas vezes são invisibilizadas”, explicou Jô. As inscrições começam hoje e vão até 9 de novembro de 2019, no site das Juntas, ou podem ser feitas presencialmente, entre 1º e 8 de novembro.

*Da Alepe 

A participação das quatro codeputadas do mandato coletivo Juntas (PSOL) nas comissões da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) está sendo questionada por demais parlamentares. A indisposição foi exposta pela deputada Jô Cavalcanti, legalmente titular do grupo psolista, ao afirmar que na última terça-feira (24), a codeputada Robeyoncé Lima, foi convidada a se retirar da reunião da Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ). 

“A colega foi convidada a se retirar de uma reunião de colegiado por não ser considerada deputada pelos demais parlamentares”, explicou. Segundo Jô, Robeyoncé foi “vetada” do encontro do colegiado e “coagida a se retirar”.

##RECOMENDA##

A psolista destacou que apesar de ser, oficialmente, a titular, as demais componentes do mandato precisam ser respeitadas na Casa. Além de integrante das Juntas, Robeyoncé é servidora pública da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e está, no momento, à disposição da Alepe.

O deputado Alberto Feitosa (PL) reagiu à fala de Jô, negou a coação e disse que perguntou a Robeyoncé se ela era deputada para estar lá. 

“Decidimos fazer um encontro só com os deputados e pedi a ela que saísse, porque, inclusive, faltavam cadeiras para todos no espaço. Respeito a divisão de mandato, mas, na minha opinião, essa é uma situação que contraria as regras desta Casa”, justificou, pontuando desconhecer, no Regimento Interno da Alepe, qualquer denominação de codeputada e suas funções.

“Se as pessoas não lhe dizem vou dizer a senhora: Foi unânime entre os presentes na comissão a posição de desconforto que estão vivendo com essa insistência em ocupar um lugar que não é de vocês. Não pode. Só a senhora foi eleita”, reiterou Feitosa. 

O deputado sugeriu que a Procuradoria da Assembleia apresente um parecer sobre a questão. E o deputado João Paulo (PCdoB), observando que o mandato coletivo é uma situação nova, a Casa tem de saber como se comportar em relação a ela. 

“Há uma necessidade de modificar o Regimento Interno para que a modalidade seja especificada. Porém, enquanto isso, a Mesa Diretora deveria se pronunciar a respeito para evitar novos constrangimentos”, acredita.

Mandato fala em transfobia

A postura das Juntas foi corroborada, pouco depois da sessão dessa quarta, em nota publicada por elas nas redes sociais. No texto, o grupo psolista observa que entende “a dificuldade de alguns parlamentares em acompanhar os avanços sociais positivos e transformadores de realidades”, mas a atitude de Alberto Feitosa “foi constrangedora e desmedida, com fortes doses de racismo, classismo e transfobia”.

“A grandeza da ruptura que representamos pode ser medida pelo incômodo que causamos a quem deseja que o mundo e a política permaneçam como sempre foram, para seletos. E foi exatamente sobre incômodo que o deputado Feitosa falou quando subiu à tribuna para rebater nossa denúncia”, diz o comunicado.

“Sentimos sim toda essa violência explícita e velada que tenta nos expulsar da Casa do Povo. Ela é cotidiana, tal qual a nossa luta. Aqui, porém, estamos legitimadas pela vontade popular e é importante reafirmar que o tamanho da cadeira do deputado Feitosa é do mesmo tamanho da nossa, só que a nossa é compartilhada entre cinco mulheres, apoiadas por uma talentosa equipe, por diversos movimento sociais e também por parlamentares que respeitam a mandata e compreendem a nossa coletividade”, acrescenta.

Além de Jô Cavalcanti, que pelas regras eleitorais foi a pessoa eleita e pode atuar como deputada, Robeyoncé Lima, Carol Vergolino, Kátia Cunha e Joelma Carla também dividem a atuação parlamentar, mesmo que sem assinar projetos de lei ou ter direito à voto ou discursos no plenário.

[@#video#@]

As integrantes do mandato coletivo Juntas (PSOL) anunciaram, em nota divulgada à imprensa, que vão adotar uma postura de independência na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). As codeputadas Carol Vergolino, Robeyoncé Lima, Joelma Carla, Jô Cavalcanti e Kátia Cunha disseram que não estarão alinhadas nem ao governo nem à oposição.

“Por princípio, coerência ideológica e conexão com a prática política que nos move, tomaremos a posição de independência das bancadas de oposição e de governo. Nossa postura independente será pautada pela crítica dialogada com as bancadas, numa atuação voltada para a conquista e salvaguarda dos direitos dos nossos públicos prioritários: mulheres, população negra, população LGBTQ+, juventudes, povos tradicionais e pessoas com deficiência”, detalha o quinteto, no texto.

##RECOMENDA##

Além disso, a nota também reforça o desejo das Juntas, já adiantado pelo LeiaJá, de presidir a Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Alepe. O comando dos colegiados específicos deve ser fechado nesta terça-feira (5), a partir de um acordo firmado entre as lideranças partidárias e o presidente da Casa, Eriberto Medeiros (PP).

“Por nosso DNA e pelas pautas que abarcamos, reivindicamos firmemente a presidência da Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Alepe, entendendo nossa presença como ponte importante para o necessário diálogo entre a casa legislativa e a sociedade, processo constitutivo da democracia, mas raramente concretizado… Para nós, a vida só será boa se for boa para todas as pessoas viventes”, observam, pontuando a existência de uma carta-manifesto com a assinatura de mais de 140 movimentos endossando o pleito.

As integrantes do coletivo Juntas (PSOL), que tomam posse na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) na tarde desta sexta-feira (1º), querem presidir a Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Casa. Nos últimos anos, o PSOL comandou o colegiado com o ex-deputado Edilson Silva e de acordo com uma das co-deputadas, a produtora audiovisual Carol Vergolino, elas já estão se articulando para manter o protagonismo do partido na comissão.

“A gente tem uma carta já circulando [entre os movimentos populares] com várias assinaturas que a gente vai lançar, já na segunda-feira (4),  da nossa posição de articular isso com os movimentos para pressionar [e buscar a presidência da] Comissão. Vem um retrocesso muito grande por aí, e que já está se refletindo na Alepe, pois já temos mandatos bem retrógrados”, observou Carol, pouco antes de iniciar o ‘arrastão popular’, no Centro do Recife, que antecedeu a cerimônia de posse na Alepe.

##RECOMENDA##

O desejo expresso por Carol Vergolino também é comungado pelas outras componentes do Juntas: Robeyoncé Lima, advogada trans; Joelma Carla, estudante; Jô Cavalcanti, ambulante; e Kátia Cunha, professora. As presidências das comissões devem ser definidas até o fim da próxima semana. Ainda segundo Carol, todos os parlamentares com quem elas já conversaram foram informados do desejo.

--> Com de 51% renovação, Alepe empossa deputados nesta sexta

Primeiro mandato coletivo da Alepe       

Esta é a primeira vez que a Alepe terá entre seus 49 deputados um mandato coletivo. Em outubro, na corrida por uma cadeira na Casa, elas pretendiam reproduzir no Estado uma iniciativa do PSOL que deu certo na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte e conquistaram êxito. Elas foram eleitas com quase 40 mil votos.  

Em entrevista ao LeiaJá, Jô Cavalcanti, que representará o coletivo nas votações em plenário, disse que na Alepe a pretensão do Juntas é “priorizar o povo” nas pautas que contemplem a defesa da mulher, moradia, direito a cidade, cultura, educação e políticas LGBT.

Em 183 anos de história, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) teve apenas 29 deputadas, número que sequer forma uma legislatura completa [com 49 assentos parlamentares]. A cada eleição, contudo, reforça-se a expectativa de ampliar o espaço feminino na Casa e, neste ano, algumas candidaturas que se destacam buscam imprimir um novo formato para a bancada feminina a partir de 2019. 

Estreando na política, a advogada Liana Cirne concorre a uma vaga na Alepe pelo PT e disse que quer pautar o mandato, caso seja eleita, a partir de uma construção popular. A proposta dela é de ter uma atuação feminista na Casa e para a definição das prioridades pretende realizar encontros bimestrais com a população das diversas regiões do Estado. 

##RECOMENDA##

“Queremos um mandato que tenha como metodologia a transparência e a participação popular, não é um mandato que vamos construir sozinhas, dentro do gabinete. Queremos estar o tempo todo dialogando com a sociedade civil, não para prestar contas do que está sendo feito, mas para que possamos discutir como dar viabilidade aos projetos e lei e saber das prioridades do povo”, explicou a petista. 

Na lista das prioridades, Liana destacou que pretende discutir segurança pública na perspectiva de gênero, uma vez que o índice de feminicídios, estupros e violência doméstica, na ótica dela, “são alarmantes”. Além disso, a candidata também frisou que a educação é um dos focos dela. 

“O Estado, em razão da legislação em vigor, não assume compromissos em relação a creches, mas temos vários precedentes de Estados que assumem isso de forma subsidiária aos municípios, e Pernambuco não assume. Nossa proposta é de uma política estadual complementar subsidiária a municipal”, argumentou Liana. 

“A defesa dos direitos da mulher é articulada com outros assuntos e temos que articular a defesa do direito da mulher com a questão da educação. É urgente a gente aprovar a lei da escola sem violência para professores e professoras, alunos e alunas. Sem violência de gênero, com uma educação voltada para os direitos humanos”, complementou, registrando ainda que outra proposta dela combate a cultura do estupro no aspecto da publicidade no Estado, “sem objetificar o corpo da mulher, empoderando e sem distribuir a cultura que favorece a violência”.

Das 209 candidatas à deputada estadual, Liana não é a única que prevê uma atuação mais popular na Alepe. Entre elas, há quem aposte em mais que isso, em um mandato coletivo, como é o caso do projeto “Juntas”, do PSOL, que resolveu inovar e unir quatro mulheres e uma trans para a disputa. 

A candidata registrada no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) é a ambulante Jô Cavalcanti, mas ao lado dela vem as postulantes a codeputadas [como se autointitulam]: Carol Vergolino, que é produtora audiovisual; Robeyoncé Lima, advogada trans; Joelma Carla, estudante; e  Kátia Cunha, professora. Na corrida por uma cadeira na Casa, elas pretendem reproduzir no Estado uma iniciativa do PSOL que deu certo na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte com o projeto “Gabinetona”, como chamam o mandato coletivo de Cida Falabella e Áurea Carolina. 

Na Alepe, segundo Jô Cavalcanti, a pretensão do “Juntas” é “priorizar o povo” nas pautas que contemplem a defesa da mulher, moradia, direito a cidade, cultura, educação e políticas LGBT. “Como deputadas seremos trabalhadoras da sociedade. Não seria mais um projeto de ganha ganha, por isso que o nosso projeto vai ser aberto, vamos estar lá trabalhando, o gabinete não vai ficar sem deputada nunca, pois seremos cinco dividindo coletivamente o mandato. É muito poder para uma pessoa só, por isso que nosso modelo é diferente”, salientou Jô.

Itens como a criação de um centro de acolhimento para animais de grande porte no Estado, a ampliação do sistema que ofereça cuidados para a saúde da mulher e a implantação de um centro de acolhimento para as mulheres vítimas de violência fazem parte da agenda de propostas da candidatura “Juntas”. 

Com o mote “lugar de mulher é onde ela quiser”, quem também tem se destacado durante a campanha para deputada estadual é a delegada Gleide  Ângelo (PSB). A pessebista ganhou notoriedade em Pernambuco por assumir casos de grande repercussão e solucionar, principalmente, assuntos que diziam respeito à violência contra a mulher.

Como candidata, Gleide tem pregado nas redes sociais que a violência contra mulher deve ser combatida por meio do Legislativo com leis e políticas públicas que protejam o gênero e já se colocou à disposição para atuar na Casa com essa bandeira. 

“Sinto que chegou o meu momento de trabalhar para que a mulher não seja morta, porque mesmo com o assassino preso, os filhos já ficaram órfãos. Os movimentos sociais lutam muito, mas sem as Leis, não há muito o que avançar”, chegou a afirmar a delegada ao anunciar sua filiação ao PSB.

De um outro campo político e partindo mais para o Agreste de Pernambuco, quem se destaca é a candidata Lucielle Laurentino (DEM), de Bezerros. Aluna de escola pública, Lucielle é um dos quadros do projeto RenovaBR a disputar uma vaga na Alepe e vem ponderando o fato da necessidade das mulheres não serem “candidatas laranjas” dos partidos. 

“Lugar de mulher é em qualquer lugar, se ela se interessar por política vai fazer bem todas as pautas, até as fiscais, de economia e segurança que são apontadas como prioritárias para homens”, ressaltou Lucielle. 

Questionada sobre como pretende pautar o mandato ela disse que “influenciada por algumas linhas de frente” dividiu a defesa do mandato “pelo que era urgente, prioritário e importante”. 

“No primeiro item apontamos dois temas: a primeira infância e a segurança pública. A ideia é apoiar os municípios na abertura e no fortalecimento das creches para que não estejamos no futuro focados na prisão e no encarceramento. É prioritário defender temas de mulheres, acessibilidade delas na Alepe, pautas que são desconsideradas trazer a discussão com a visão de quem é mulher. Uma legislação que visa cuidar mais das mulheres na saúde e segurança. E o importante são todos os temas que a gente vive no Estado, aí atuaremos como fiscalização”, descreveu a candidata. 

Da atual para uma nova bancada

A primeira mulher eleita deputada estadual em Pernambuco foi Adalgisa Cavalcanti (PCB), eleita em 1945. De lá para cá, outras 28 conquistaram o posto e hoje a bancada feminina na Alepe tem seis políticas: Laura Gomes (PSB), Priscila Krause (DEM), Roberta Arraes (PP), Simone Santana (PSB), Socorro Pimentel (PTB) e Teresa Leitão (PT). Todas elas concorrem à reeleição e assim como as quatro candidatas citadas na matéria, terão que percorrer um longo caminho em busca do voto e da eleição no dia 7 de outubro. 

A forma como elas atuam na Casa também foi avaliada pelas postulantes que conversaram com o LeiaJá. Para Liana Cirne, por exemplo, na atual bancada feminina “existem mulheres que não ficam a sombra dos homens na Assembleia e a tendência é que de fato isso cresça [com as eleições deste ano] e que possamos falar em igualdade em breve”. 

Também do "Juntas", Carol Vergolino disse que o colegiado feminino é "muito pequeno". "Seis mulheres das 49 cadeiras, mas sabemos da dificuldade para estas mulheres estarem ali. Sabemos que sentar na Alepe é vencer uma série de violências de gênero. [...] Queremos uma bancada feminista, que por conceito e ação seja contra as opressões, lute pelo direito das mulheres por uma vida livre, digna, autônoma. Que entenda que só o enfrentamento às desigualdades estruturais permite mudar concretamente as realidades. Sem alterar as condições de privilégios mantem-se uma vida de luxo para pouquíssimas pessoas, em detrimento da exploração, indignidade e ausência de direitos para a esmagadora maioria", ponderou, citando que das seis deputadas cinco "estão em partidos alinhados à direita e que em muitas maneiras respaldam as sucessivas decisões locais e nacionais que retiram direitos das trabalhadoras".

Outro desafio também salientado pelas candidatas é por fim ao estereótipo de que ser filha ou esposa de político é o um fator dominante para o fato de ocuparem o cargo na Alepe. No atual colegiado feminino, apenas Teresa Leitão não tem o DNA conjugal ou sanguíneo enraizado na política. 

"Essa é uma mudança estrutural que exige uma transformação social e de diversos outros elementos presentes na nossa cultura política. Nossa candidatura [o Juntas] já é um movimento de mudança desse modelo. Não somos esposas ou filhas, não temos padrinhos políticos, muito menos uma campanha com muitos recursos. Fazer uma política diferente, que altere inclusive o fisiologismo é o que nos move. Não aguentamos mais viver num sistema de representação que não nos representa em nada", criticou Carol.

Em contrapartida, Lucielle Laurentino considerou que na atual bancada, apesar do DNA político, existem mulheres que combatem o estereótipo com uma atuação contundente. “Nossa pauta de renovação é por pessoa, políticas e pautas. Não demonizo políticos que sejam filhos ou esposos de fulaninho. Não é um cargo comissionado, mas é a população que vota. Isso atrapalha a renovação política, mas temos bons nomes como Priscila Krause na bancada feminina dando exemplo de que a representatividade vai além do DNA”, frisou. 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando