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Em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, o sargento do Exército Luís Marcos Reis, ex-assessor de Jair Bolsonaro, afirmou, nesta quinta-feira (24), que transferiu um total de R$ 70 mil ao ex-ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid. O registro da transferência data do dia 6 de janeiro, dois dias antes da invasão à Praça dos Três Poderes, em Brasília. 

Reis recebia um salário de R$ 13 mil, segundo a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), apesar de o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ter declarado em documento que havia uma movimentação de R$ 3 milhões na conta do militar no intervalo de um ano e meio. Reis explicou na oitiva que as movimentações são relacionadas à aposentadoria da carreira militar, empréstimos pedidos a familiares e a amigos, a venda do carro de Mauro Cid e um consórcio com outros militares. 

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De acordo com a senadora, no extrato da conta do sargento consta a transferência de R$ 70 mil. Questionado sobre a transação, Reis confessou que anunciou na internet a venda de um carro pertencente ao tenente-coronel no valor de R$ 72 mil, justificando a origem do dinheiro. "Ele [Mauro Cid] me falou: 'Passa R$ 70 mil, fica para você o restante pelo seu trabalho'", declarou Luís Marcos dos Reis à CPMI. 

Acompanhe a oitiva ao vivo:

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Sob orientação do seu novo advogado, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), decidiu não responder as perguntas da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), que investiga a invasão da Praça dos Três Poderes por bolsonaristas no dia 8 de janeiro. A estratégia já tinha sido adotada no primeiro depoimento de Cid na CPMI do 8 de Janeiro no Congresso Nacional.

"Por orientação da minha defesa técnica, farei uso do meu direito constitucional de silêncio", informou Mauro Cid nesta quinta-feira (24), no início da sessão da comissão.

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Esse é o primeiro depoimento de Mauro Cid sob a defesa do advogado Cezar Bitencourt. Na última semana, o defensor afirmou que seu cliente confessaria a participação no esquema que desviou joias da Presidência da República e apontaria Bolsonaro como mandante. Bitencourt, no entanto, recuou, conforme revelou o Estadão. Publicamente, o advogado passou a dizer que Cid apenas cumpria ordens de "resolver o problema do Rolex".

"Eu vou dar 20 ou 30 versões, posso dizer o que quiser. A versão da defesa, efetivamente, vai vir nos autos", justificou Bitencourt, em entrevista ao Estadão.

Antes de anunciar que permaneceria em silêncio, Cid leu um breve discurso aos deputados. Afirmou que não foi nomeado ajudante de Ordens de Bolsonaro por motivos políticos. Explicou também que, entre as funções do seu cargo, está a recepção de correspondências recebidas pelo presidente da República. "Não questionávamos o que era tratado nas respectivas agendas e reuniões. não estava na minha esfera analisar propostas de apoiadores", assegurou.

No início da sessão, o presidente da CPI dos Atos Antidemocráticos, deputado Chico Vigilante (PT), discutiu com Bitencourt após Cid anunciar que permaneceria em silêncio. O petista afirmou que o ex-auxiliar de Bolsonaro foi convocado à Comissão na condição de testemunha, após decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes. O defensor negou e afirmou que o militar seria investigado, o que lhe daria direito de não responder as perguntas.

A CPMI do 8 de Janeiro pode votar nesta quinta-feira (24) a reconvocação do ex-ajudante-de-ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, e a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e telemático da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e de pessoas ligadas a ela. A reunião deliberativa está marcada para as 9h e tem 57 requerimentos na pauta.

A reconvocação de Mauro Cid foi sugerida pela relatora da comissão parlamentar mista de inquérito, senadora Eliziane Gama (PSD-MA). O tenente-coronel prestou um primeiro depoimento à CPMI no dia 11 de julho. Depois disso, investigações da Polícia Federal apontaram a participação dele na venda ilegal de presentes recebidos pelo Brasil de autoridades estrangeiras.

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"Requer-se nova inquirição do tenente-coronel Mauro Cid em parte em razão das práticas já apontadas em outras investigações, em parte pelo fato de que suas manifestações em diálogos já divulgados sugerem eventual envolvimento em escala até maior do que a inicialmente apontada", argumenta Eliziane Gama.

Além de Mauro Cid, a comissão pode votar a quebra de sigilos de outros três militares ligados à Ajudância de Ordens da Presidência da República na gestão de Jair Bolsonaro. A relatora quer investigar o possível envolvimento deles no pagamento de despesas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com dinheiro vivo e sem comprovação de origem.

São alvos dos requerimentos o coronel Marcelo de Costa Câmara, o tenente Osmar Crivelatti e sargento Luis Marcos dos Reis, que presta depoimento à CPMI nesta quinta-feira logo após a reunião deliberativa. Eliziane também apresentou um pedido de convocação para o tenente Osmar Crivelatti.

Carla Zambelli

Um lote de requerimentos se refere à deputada Carla Zambelli, além de pessoas ligadas à família e ao gabinete dela. A relatora da CPMI pede a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e telemático da parlamentar para investigar uma denúncia feita à comissão pelo hacker Walter Delgatti Neto. Segundo o depoente, a deputada teria pago R$ 40 mil para que ele tentasse invadir plataformas mantidas pela Justiça na internet.

"Carla Zambelli teria negociado com este (Delgatti), inclusive ofertando-lhe dinheiro em espécie, para que invadisse as urnas eletrônicas e realizasse invasões de dispositivos informáticos, com o fim de questionar a validade do sistema eleitoral brasileiro", justifica Eliziane.

A relatora defende ainda a quebra dos sigilos de três pessoas ligadas à deputada federal. Ela quer investigar se o deputado estadual Bruno Zambelli (PL-SP), irmão da parlamentar, testemunhou um telefonema em que Jair Bolsonaro teria sugerido que Walter Delgatti Neto assumisse a responsabilidade por um grampo ilegal contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Eliziane Gama questiona ainda se o coronel Antonio Aginaldo de Oliveira, marido de Carla Zambelli, e Renan Cesar Silva Goulart, motorista da deputada, fizeram pagamentos ao hacker.

Bloqueios em rodovias

Outro conjunto de requerimentos se refere à participação de servidores públicos no planejamento e na execução de bloqueios em rodovias no dia do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, especialmente na região Nordeste. São alvos dos pedidos de quebra de sigilo:

Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça;

André Saul do Nascimento, gestor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Santa Catarina;

Luís Carlos Reischak Júnior, ex-superintendente da PRF no Rio Grande do Sul;

Marcelo de Ávila, servidor da PRF; e

Djairlon Henrique Moura, servidor da PRF.

A CPMI pode votar ainda requerimentos para apurar o financiamento de caravanas de manifestantes a Brasília (DF) nas vésperas dos atentados de 8 de janeiro. Segundo relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), houve "grande pulverização dos contratantes de fretados", o que pode indicar que pessoas envolvidas no aluguel dos ônibus possivelmente foram "utilizadas como laranjas com o objetivo de ocultar os verdadeiros financiadores das caravanas e dos manifestantes".

Outras convocações

A comissão também pode votar a convocação de dois integrantes da Polícia Militar do Distrito Federal: o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues e o subtenente Beroaldo José de Freitas Júnior. O objetivo é identificar quem determinou a abertura da Esplanada dos Ministérios a manifestantes antes do dia 8 de janeiro e analisar as tentativas para dissuadir a perturbação da ordem pública.

*Da Agência Senado

O ex-ministro da Secretaria de Governo, general da reserva do Exército Carlos Alberto Santos Cruz, avaliou, em uma entrevista ao portal UOL, que é "muito difícil" que o ex-ajudante de ordens Mauro Cid tenha vendido as joias destinadas ao acervo da Presidência da República sem o conhecimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo Santos Cruz, Cid não teria omitido e revendido as peças preciosas sem ter ao menos uma "sensação" de que estaria sendo aprovado pelo ex-chefe do Executivo.

"Eu vejo que é muito difícil se imaginar um subordinado tomar determinadas iniciativas sem o conhecimento ou sem a sensação de que está sendo aprovado pelo chefe. Eu acho que ele não sente essa liberdade para tomar certas medidas como a gente está assistindo", disse o ex-ministro.

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Segundo o general Santos Cruz, que foi ministro de Bolsonaro entre janeiro e junho de 2019, o ex-presidente deveria assumir a responsabilidade sobre os crimes cometidos no esquema de revenda de joias entregues por comitivas estrangeiras. "Nessa hora, o chefe tem que assumir a sua responsabilidade e não proteger coisas erradas que os subordinados fizeram, mas ele tem que assumir a parcela dele que é extremamente importante por que ela tem consequências muito fortes em toda a escala hierárquica", disse.

Mauro Cid teria vendido joias no exterior

No último dia 11 de agosto, a Polícia Federal deflagrou a Operação Lucas 12:2, que teve como alvo auxiliares de Bolsonaro. Segundo as investigações, eles teriam vendido joias e outros objetos de valor recebidos em viagens oficiais da Presidência da República fora do País. Os itens de luxo deveriam ser incorporadas ao acervo da União, mas foram omitidos do conhecimento dos órgãos públicos, negociados para fins de enriquecimento ilícito e entregues em dinheiro vivo para o ex-chefe do Executivo, conforme a PF.

Mauro Cid teria vendido, também com o auxílio do pai dele, o general Mauro Lourena Cid, joias no exterior. De acordo com a PF, uma das peças comercializadas pelo ex-ajudante de ordens foi um relógio da marca Rolex, estimado em R$ 300 mil e recebido por Bolsonaro em uma

As tentativas de vender as joias só foram paralisadas após o Estadão revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit composto por colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo saudita para o então presidente e Michelle Bolsonaro.

Advogado de Cid disse que ele iria confessar crime, mas depois recuou

Na quinta-feira, 17, o advogado de Mauro Cid, Cezar Roberto Bitencourt, disse à revista Veja! que Cid iria confessar a sua participação no esquema de venda de joias e declarou que o seu cliente havia agido a mando de Bolsonaro. Menos de 24 horas depois, em mensagens enviadas à reportagem de Estadão, Bitencourt recuou e disse que não iria "dedurar" o ex-presidente e indicou que a confissão, por ora, não iria ocorrer.

Em outra entrevista ao Estadão, neste domingo, 20, Bitencourt afirmou que dará "20, 30 versões" e que "pode dizer o que quiser". Em outra fala, o advogado admitiu que Cid fará de tudo para livrar o pai de uma eventual prisão e condenação, mesmo que isso atinja Bolsonaro. "Vou fazer o trabalho de defesa do meu cliente, se respingar nele [Bolsonaro], não vou deixar de usar", disse.

Bolsonaro disse que Cid tinha autonomia

Em uma entrevista exclusiva concedida ao Estadão na última sexta-feira, 18, Bolsonaro negou que tenha mandado o seu ex-ajudante de ordens vender o relógio Rolex no exterior, e disse que Mauro Cid tinha autonomia para vender ilegalmente a peça. O ex-presidente afirmou também que não recebeu nenhum dinheiro proveniente do esquema.

O advogado de Mauro Cid alega que seu cliente vendeu o relógio Rolex e entregou o dinheiro a Bolsonaro. As tratativas sobre a suposta venda da peça estão presentes nos relatórios da PF que coletou trechos de conversas entre Mauro Cid e Marcelo Câmara, assessor especial da Presidência. Em um áudio, Cid afirmou que iria entregar 25 mil dólares que, possivelmente, pertenciam ao ex-presidente em "cash".

"Tem vinte e cinco mil do´lares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em 'cash' ai´. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. (...) E ai´ ele poderia levar. Entregaria em ma~os. Mas tambe´m pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentac¸a~o em conta, melhor, né?", afirma Mauro Cid..

O advogado Cezar Bittencourt, que assumiu a defesa de Mauro Cid no caso das joias, deu mais uma entrevista nesta segunda-feira (21). À CNN, ele afirmou que seu cliente vai confessar os crimes em novo depoimento à Polícia Federal.

“É uma confissão. Vai admitir. As provas estão aí”, disse Bittencourt, reafirmando várias vezes que Cid havia “resolvido o problema do chefe”, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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Cezar Bittecourt disse ainda que o “resultado da venda”, ou seja, o dinheiro apurado com a venda do Rolex cravejado de diamantes, foi entregue para "quem determinou a venda”.

O advogado não detalhou quando será o novo depoimento, mas deve ir na tarde desta segunda-feira (21) ao Supremo Tribunal Federal, onde agendará audiência com o ministro Alexandre de Moraes.

Acordo com a defesa de Bolsonaro

Bittencourt também foi questionado sobre um encontro que teria acontecido entre ele e a defesa do ex-presidente. Ele admitiu a conversa, mas negou que haja alguma estratégia conjunta de defesa.

“Não sou inimigo (do advogado de defesa de Bolsonaro). Somos rivais no processo. Não tem nenhuma dificuldade (de conversar). É apenas mais um trabalho”, afirmou, antes de negar qualquer pressão que tenha recebido para que Cid não envolvesse Bolsonaro no esquema de venda ilegal dos presentes oficiais. “Não recebi pressão e não vai adiantar pressionar. Sou experiente. Vou fazer meu trabalho como sempre faço para defender meu cliente”, disse.

A CPMI do 8 de Janeiro se reúne na próxima quinta-feira (24) para ouvir o depoimento de Luis Marcos dos Reis, sargento do Exército que integrava a equipe da Ajudância de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Reis é apontado como responsável por movimentação atípica de recursos financeiros que tiveram como destinatário o coronel Mauro Cesar Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.

As informações estão em relatório de inteligência financeira (RIF) produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e enviado à CPMI no último dia 11. O documento é sigiloso, mas partes de seu conteúdo foram divulgadas pela imprensa.

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No requerimento em que pede a convocação de Reis, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA),  identifica o sargento como “servidor responsável por atender demandas de Mauro Cid”, e afirma que o seu depoimento é “fundamental”. Outros seis parlamentares pediram a convocação. Todos os requerimentos foram apresentados antes de a comissão ter acesso ao RIF, portanto não citam as movimentações financeiras como justificativa para a convocação. O assunto poderá ser abordado pelos parlamentares mesmo assim.

Os requerimentos se debruçam principalmente sobre as ligações de Reis com a organização dos atos de 8 de janeiro. O senador Fabiano Contarato (PT-ES), por exemplo, explica que as investigações policiais envolvendo a equipe de auxiliares do ex-presidente Bolsonaro apontam premeditação e envolvimento dos servidores. “Tais documentos que comprovariam a tentativa de golpe de estado foram encontrados em mensagens trocadas entre o coronel Mauro Cid e o sargento Luis Marcos dos Reis”, diz o senador.

Luis Marcos dos Reis será ouvido na condição de testemunha. Em maio, ele foi preso durante as investigações de um esquema de falsificação do cartão de vacinação de Jair Bolsonaro.

*Da Agência Senado

O general Mauro Lourena Cid não pode mais visitar o filho, o tenente-coronel Mauro Cid, na prisão. Eles estão proibidos de manter contato porque passaram a ser investigados no esquema de venda e recompra de joias dadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro por autoridades estrangeiras.

A decisão que impede as visitas é do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito. É comum que investigados sejam obrigados por ordem judicial a cortar contato para evitar uma eventual tentativa de combinar versões ou obstruir o trabalho de investigação.

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Mauro Cid foi preso preventivamente em uma outra investigação, sobre a falsificação de dados de vacinação da covid-19, por isso não havia impedimento para as visitas do pai. O cenário mudou quando o general foi implicado no novo inquérito, sobre a negociação ilegal de presentes diplomáticos. Os dois são investigados inclusive por organização criminosa.

A Polícia Federal afirma que o tenente-coronel negociou joias e relógios nos Estados Unidos com a ajuda do pai. As contas do general teriam sido usadas para repassar o dinheiro que entrou com a venda dos presentes.

"Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?", afirma Mauro Cid em uma das conversas obtidas pela PF.

O pai do ex-ajudante de ordens também aparece no reflexo da caixa de escultura enquanto fazia foto para anunciar o objeto. Ele teria visitado pessoalmente lojas especializadas no comércio e leilão de artigos em luxo em Miami, indicadas por Mauro Cid. A nova linha de defesa do tenente-coronel deve ser tentar proteger tanto o ex-presidente Jair Bolsonaro quanto o pai.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nesta sexta-feira (18), que não recebeu nenhum valor da venda de joias - presentes de autoridades da Arábia Saudita. Uma investigação da Polícia Federal apura a venda ilegal desses itens. O repasse teria sido articulado pelo ex-ajudante de ordem, Mauro Cid.

Em entrevista ao Estadão, Bolsonaro também ressaltou a autonomia de Mauro Cid e destacou o desejo de que tudo seja esclarecido o mais rápido possível.

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“Não recebi nada... Ele tinha autonomia”, ressaltou o ex-presidente, oscilando claramente de humor entre as respostas. Argumentando que joias são presentes de categoria personalíssima, Bolsonaro fez questão de lembrar uma portaria assinada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) que aponta os itens da categoria como pertencentes ao detentor do cargo. A portaria foi revogada em 2021.

“Joia é tido como personalíssimo, pertence ao presidente, até 2021. Se eu tivesse outras intenções não teria revogado. A portaria é do governo Michel Temer. Eu entendo que a portaria é legal. A partir de 22 não está definido o que é personalíssimo. Fica no ar, em dúvida tem quem beneficie o seu lado”, afirmou. Bolsonaro ainda contou ter 9 mil itens que recebeu de presente, entre eles camisetas e bonés.

Sigilo

Nessa quinta-feira (17), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, autorizou a quebra do sigilo do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Questionado sobre o assunto, Bolsonaro disse estar incomodado, mas “sem problemas”.

“Sem problema nenhum. Lógico que tudo incomoda, mas sem problemas”, frisou. “Estou pressionado desde antes de assumir à Presidência. Foram quatro anos difíceis, estou há 8 meses aqui e parece que continuo pautando a mídia”, emendou.

Menos de 24 horas depois de confirmar a veículos de imprensa que o tenente-coronel Mauro Cid iria apontar Jair Bolsonaro (PL) como mandante de um esquema que desviou presentes milionários recebidos pela Presidência da República, o advogado Cezar Bitencourt recuou e afirmou não ter falado sobre as transações envolvendo as joias recebidas pelo ex-presidente por delegações estrangeiras.

Em mensagem enviada ao Estadão na madrugada desta sexta-feira (18), Bitencourt disse: "Não tem nada a ver com joias! Isso foi erro da Veja não se falou em joias [sic]".

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Citada pelo advogado, a revista Veja publicou na noite dessa quinta-feira (17), que o Mauro Cid decidiu confessar que vendeu joias nos Estados Unidos a mando de Bolsonaro. Ainda segundo a reportagem, o ex-ajudante de ordens da Presidência da República vai dizer que o dinheiro arrecadado foi enviado ao ex-presidente, o que pode configurar peculato e lavagem de dinheiro.

Além da Veja, o advogado também reiterou o teor da nova linha da defesa a outros veículos. "A questão é que isso pode ser caracterizado também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro", afirmou o defensor, de acordo com a publicação. "Mas o dinheiro era do Bolsonaro", prosseguiu ele.

Bitencourt assumiu a defesa de Cid na terça-feira (15). Um dia depois, ele deu indícios de que a linha de defesa seria mostrar que o tenente-coronel apenas cumpria ordens, mesmo "ilegais e injustas".

"Essa obediência hierárquica para um militar é muito séria e muito grave. Exatamente essa obediência a um superior militar é o que há de afastar a culpabilidade dele. Ordem ilegal, militar cumpre também. Ordem injusta, cumpre. Acho que não pode cumprir é ordem criminosa", disse o advogado, em uma entrevista concedida à GloboNews.

A Polícia Federal cumpriu na sexta-feira da semana passada (11), mandados de busca e apreensão no caso das joias. Entre os alvos da operação estava Mauro Cid, hoje preso por um outro esquema ilegal de falsificação de cartões de vacina.

Também estão envolvidos no desvio das joias o pai do tenente-coronel, o general da Reserva Mauro César Lourena Cid, o segundo tenente Osmar Crivelatti e o advogado Frederick Wassef. A corporação estima que o esquema tenha rendido R$ 1 milhão.

O ex-presidente Jair Bolsonaro chamou de "camicase" a estratégia de seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid de confessar a participação na venda de presentes recebidos pela comitiva presidencial - e de dizer que estava cumprindo determinações do ex-chefe do Executivo. As declarações foram dadas ao jornalista Túlio Amâncio, da Band.

Túlio relatou, nas redes sociais, ter conversado por telefone com Bolsonaro logo após o advogado de Cid revelar a estratégia da confissão à revista Veja. Na conversa, segundo ele, o ex-presidente disse que Cid está preso há muito tempo e, por isso, seria capaz de falar qualquer coisa para sair da cadeia.

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O jornalista afirmou ainda que o presidente negou ter recebido dinheiro em espécie de Mauro Cid e também negou ter sido o responsável pela ordem para a venda dos bens recebidos por comitivas em visitas ao Oriente Médio.

Bolsonaro também teria, segundo o jornalista, afirmado que não falou nem com Mauro Cid nem com o pai do ex-ajudante de ordens, o general Mauro Lourena Cid, depois da operação da Polícia Federal realizada na semana passada, para não ser acusado de interferência.

Confissão confirmada por advogado

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Bolsonaro, vai confessar que vendeu as joias recebidas pelo ex-chefe em agendas oficiais, transferiu o dinheiro para o Brasil e entregou os valores em espécie para Bolsonaro. A informação foi dada pelo advogado criminalista Cezar Bitencourt para a revista Veja e confirmada ao Estadão. Durante a semana, o advogado, que acabou de assumir a causa, deu sinalizações nesse sentido.

"A gente conseguiu contornar uma coisa que era quase impossível", afirmou ao jornal a advogada Vânia Bitencourt, que é sócia do marido no escritório que defende o militar.

As tentativas de vender as joias só foram paralisadas após o Estadão revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit com colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo da Arábia Saudita para o então presidente e Michelle Bolsonaro.

O advogado Cezar Roberto Bitencourt assumiu nesta terça-feira (15) a defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência no governo Jair Bolsonaro.

O contrato foi fechado à noite. O criminalista confirmou a informação ao Estadão e adiantou que ainda não se inteirou do inquérito. Ele espera começar a ler o caso amanhã.

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Bitencourt é professor de Direito Penal e um advogado experiente. Ele defendeu, em 2017, o então deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o "homem da mala", acusado de intermediar o repasse de R$ 500 mil em propina da JBS ao ex-presidente Michel Temer.

É a segunda troca na defesa do tenente-coronel desde que ele entrou na mira de investigações da Polícia Federal. Inicialmente, o advogado de Mauro Cid era Rodrigo Roca, que defendeu o senador Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas e é próximo da família do ex-presidente.

Roca foi substituído pelo criminalista Bernardo Fenelon, que deixou investigações na semana passada alegando que, por razões de "foro íntimo", precisou se afastar do caso.

A equipe do escritório de Bernardo Fenelon defendia também a mulher do ex-ajudante de ordens, Gabriela Cid, que assim como o marido é investigada no inquérito sobre a falsificação de dados da vacina da covid-19. Em depoimento à PF em maio, ela confessou ter usado um cartão falso para entrar nos Estados Unidos, mas atribuiu as fraudes ao marido, indicando que ele poderia assumir a culpa pelos crimes. Com a mudança de advogado, é incerto se a estratégia será mantida.

Cezar Roberto Bitencourt já deu declarações públicas e escreveu artigos contra o instrumento da delação premiada. Em texto publicado em 2017 no portal Consultor Jurídico, intitulado Delação premiada é favor legal, mas antiético, o advogado chamou as colaborações de "figura esdrúxula". "Não se pode admitir, eticamente, sem qualquer questionamento, a premiação de um delinquente que, para obter determinada vantagem, 'dedure' seu parceiro", escreveu.

O sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, que atuava na equipe dos ajudantes de ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), movimentou em suas contas R$ 3,34 milhões entre 1.º fevereiro do ano passado e 8 de maio deste ano. Com salário de R$ 13,3 mil, ele recebeu dezenas de depósitos e repassou parte dos recursos para o tenente-coronel Mauro Cid, seu chefe e principal auxiliar de Bolsonaro.

Juntos, os dois militares movimentaram cerca de R$ 7 milhões. Os dados são do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e foram enviados à CPMI do 8 de Janeiro após requerimento do senador Jorge Kajuru (PSB-GO). Segundo o Coaf, os repasses de recursos de Reis para Cid, incompatíveis com a renda do militar, foram considerados como indícios de possível lavagem de dinheiro.

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Reis foi preso pela Polícia Federal em maio na operação sobre fraude em cartões de vacinação, incluindo o de Bolsonaro. Cid também foi detido nessa ação da PF. O Coaf já tinha apontado que Cid movimentou, entre 26 de julho do ano passado e 6 de maio deste ano, R$ 3,75 milhões. Antes de ser preso, o sargento Reis chegou a participar dos atos em Brasília que depredaram as sedes do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) em 8 de janeiro.

Ele foi um dos alvos da PF na Operação Venire, sob suspeita de participar de um esquema que emitiu comprovantes falsos de vacinação contra a covid-19. O sargento teria acionado seu sobrinho, o médico Farley Vinicius Alcântara, para preencher e carimbar um dos cartões falsos emitidos em nome da mulher de Cid.

Na ação da PF a partir da investigação de fraude nos cartões de vacinação também foram detidos outros assessores do ex-presidente: Max Guilherme e Sergio Cordeiro. Além deles, foram presos o secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos Brecha, e o advogado Ailton Gonçalves Moraes Barros - que foi candidato a deputado estadual no Rio pelo PL em 2022.

'Lavagem de dinheiro'

Dados do Coaf em relação à movimentação do tenente-coronel Mauro Cid já haviam indicado que o sargento Reis tinha repassado no intervalo de três meses R$ 82 mil ao seu superior. O relatório registra que o salário mensal do sargento era de R$ 13,3 mil, incompatível para justificar os repasses que ele fez.

"Considerando a movimentação atípica, sem clara justificativa, e as citações desabonadoras em mídia, tanto do analisado quanto do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem de dinheiro", diz o relatório do Coaf. O Estadão não havia localizado a defesa do sargento até a noite de ontem.

Apuração da PF indica que Cid e pessoas próximas montaram esquema para vender no exterior joias e relógios que Bolsonaro recebera como presidente e que deveriam ter sido destinados ao acervo da União.

A PF descobriu que os presentes foram colocados em leilão nos Estados Unidos. Conversas trocadas por meio de WhatsApp revelaram ainda que Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid, atuaram para trazer do exterior dinheiro a ser entregue pessoalmente a Bolsonaro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Com a renúncia do advogado Bernardo Fenelon, a estratégia de defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência no governo Jair Bolsonaro, está em xeque.

O criminalista deixou o caso nesta semana alegando que, por razões de "foro íntimo", precisou se afastar do caso. A saída deixa Mauro Cid vulnerável em um dos momentos de maior pressão nos inquéritos.

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É a segunda troca na defesa do tenente-coronel desde que ele entrou na mira de investigações da Polícia Federal. Inicialmente, o advogado de Mauro Cid era Rodrigo Roca, que defendeu o senador Flávio Bolsonaro no caso das rachadinhas e é próximo da família do ex-presidente.

O tenente-coronel está preso preventivamente por suspeita de falsificar dados de vacinação da covid-19 para burlar exigências sanitárias na pandemia.

A equipe do escritório de Bernardo Fenelon defendia também a mulher do ex-ajudante de ordens, Gabriela Cid, que é investigada no mesmo inquérito. Em depoimento à PF em maio, ela confessou ter usado um cartão falso para entrar nos Estados Unidos, mas atribuiu as fraudes ao marido, indicando que ele poderia assumir a culpa pelos crimes. Com a mudança de advogado, é incerto se a estratégia será mantida.

A situação jurídica de Mauro Cid se complicou depois que a Polícia Federal apreendeu seu celular, na investigação sobre as fraudes em informações da vacina, e encontrou mensagens sobre o que parece ser um esquema de apropriação e venda de presentes diplomáticos, como joias e esculturas, que Bolsonaro deveria ser devolvido ao acervo da União.

A PF fez buscas na semana passada em endereços ligados a aliados do ex-presidente, na Operação Lucas 12:2, e as novas provas colhidas ainda estão sendo analisadas pelos investigadores.

Mesmo com recibo do Rolex em seu nome, o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, diz nunca ter visto o relógio de luxo que o ex-presidente recebeu em excursão ao Oriente Médio. A Polícia Federal avalia provas contundentes do seu envolvimento na venda ilegal e investiga sua viagem aos Estados Unidos, onde a peça foi vendida. 

"Nada. Nunca vi esse relógio. Nunca vi joia nenhuma [...] nunca na minha vida. Desafio a provarem isso. Falo e garanto", afirmou ao blog de Valdo Cruz. 

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O relógio avaliado em cerca de R$ 300 mil foi recebido de presente em 2019 e vendido nos Estados Unidos em junho de 2022, pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid. 

LeiaJá também: Rosto do pai de Cid é visto em foto para vender relógio

Com a exigência da devolução do Rolex ao acervo da União, em março de 2023, Wassef viajou aos Estados Unidos com a missão de reavê-lo. Ele nega envolvimento, mas seu nome aparece no recibo de recompra. 

"Uma coisa é a viagem que fiz para os EUA. Outra coisa é me acusar de organização criminosa e esquema de joia. É uma armação", defende-se.   

Conversas dele com Cid aumentam ainda mais os indícios da participação no esquema criminoso. Um mês seguinte da ida aos EUA, o advogado volta para São Paulo, onde teria entregado o relógio a Mauro Cid. Dois dias depois, a peça é devolvida à União. 

Wassef diz não ter qualquer relação ou amizade com Mauro Cid, limitando as interações trocadas em poucos contatos. "Nunca tomei choppinho. Zero. Era absolutamente formal. Conto na mão as vezes que falei com ele [...] zero de qualquer outro tema ou assunto”, complementou. 

Ao requerer a abertura da Operação Lucas 12:2 na manhã desta sexta-feira, 11, a Polícia Federal apontou indícios de que o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid e outros dois assessores do ex-chefe do Executivo 'atuaram para desviar presentes de alto valor recebidos em razão do cargo pelo ex-Presidente para posteriormente serem vendidos no exterior'.

Segundo a corporação, os dados analisados no bojo do inquérito indicam a possibilidade de o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência - responsável pela análise e definição do destino (acervo público ou privado) de presentes oferecidos por autoridade estrangeira ao Presidente - 'ter sido utilizado para desviar, para o acervo privado, presentes de alto valor, mediante determinação' de Bolsonaro.

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Os investigadores implicaram diretamente o ex-presidente nas duas hipóteses criminais no centro das apurações. A primeira levanta suspeitas de que o esquema teria ocorrido durante quase toda a gestão de Bolsonaro, entre 2019 e dezembro de 22, com o desvio de presentes recebidos pelo ex-presidente e sua remessa, de forma oculta, para os Estados Unidos, com o avião presencial.

A PF indica que, naquele País, os presentes foram encaminhados para lojas especializadas nos estados da Flórida, Nova Iorque e Pensilvânia, 'para serem avaliados e submetidos à alienação, por meio de leilões e/ou venda direta'.

Já a segunda hipótese criminal da PF é a de que o mesmo grupo teria ocultado a 'origem, localização e propriedade dos recursos financeiros decorrentes da alienação dos bens desviados do acervo público brasileiro'.

"Tais recursos ficaram acautelados e sob responsabilidade do general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid, e posteriormente transferidos, em dinheiro espécie, para a posse de Jair Messias Bolsonaro", apontaram os investigadores ao representarem pela abertura da fase ostensiva da investigação.

A PF suspeita que os valores obtidos das vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de laranjas e sem utilizar o sistema bancário formal, 'com o objetivo de ocultar a origem localização e propriedade dos valores'.

Em um trecho da representação, a PF cita uma mensagem em que, na avaliação dos investigadores, Mauro Cid 'deixa evidenciado o receio de utilizar o sistema bancário para repassar o dinheiro ao ex-presidente e então sugere entregar os recursos em espécie, por meio de seu pai'.

"Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em 'cash' aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor ne? (...)'", afirmou Cid em texto enviado a um outro assessor do ex-presidente em janeiro de 2023.

'Enriquecimento inadimissível'

A PF narra que, na gestão Bolsonaro, o Gabinete de Documentação História ' atribuiu presentes de altíssimo valor, dados por autoridades estrangeiras, ao acervo privado do Presidente da República, adotando uma interpretação que contraria os princípios que regem a Administração Pública'.

"O referido entendimento firmado pela GADH, na gestão do ex-presidente, além de chancelar um enriquecimento inadmissível pelo Presidente da República, pelo simples fato de exercer uma função pública, proporciona a possibilidade de cooptação do chefe de Estado brasileiro, por nações estrangeiras, mediante o recebimento de bens de vultosos valores", argumentaram os investigadores.

"Os elementos de prova colhidos demonstraram que na gestão do ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro, foi criada uma estrutura para desviar os bens de alto valor presenteados por autoridades estrangeiras ao ex-Presidente da República, para serem posteriormente evadidos do Brasil, por meio de aeronaves da Força Aérea brasileira e vendidos nos Estados Unidos, fatos que, além de ilícitos criminais, demonstram total desprezo pelo patrimônio histórico brasileiro e desrespeito ao Estado estrangeiro, cujos presentes ofertados, em cerimonias diplomáticas, podem retratam aspectos de suas culturas e representa um gesto de cortesia e hospitalidade ao Brasil, representado naquele momento pelo Presidente da República", ressaltou a PF.

COM A PALAVRA, A DEFESA DO EX-PRESIDENTE

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com a defesa de Jair Bolsonaro, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

Auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disseram que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro "sumiu" com joias recebidas pelo então chefe do Executivo. Em mensagens para discutir se os kits de itens preciosos poderiam ser vendidos, o assessor especial Marcelo Câmara relatou ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid sobre o "desparecimento" de objetos. "Porque já sumiu um que foi com a dona Michelle."

"As mensagens revelam que, apesar das restrições, possivelmente, outros presentes recebidos pelo ex-Presidente Jair Bolsonaro podem ter sido desviados e vendidos sem respeitar as restrições legais, ressaltando inclusive que 'sumiu um que foi com a dona Michelle'", afirma a Polícia Federal (PF). Não há descrição do que "sumiu" com a ex-primeira-dama.

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O trecho da investigação está na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou a Operação Lucas 12:2, realizada nesta sexta-feira, 11. O objetivo é investigar suposto grupo que teria vendido bens entregues a autoridades brasileiras em missões oficiais.

Na troca de mensagens em áudio, Mauro Cid e Marcelo Câmara debatem sobre a legalidade da venda de joias recebidas em compromissos oficiais do ex-presidente. Esses objetos de alto valor são considerados bens públicos e devem ser enviados para o acervo da Presidência da República.

A discussão é sobre um conjunto de joias da marca suíça da Chopard, que o grupo tentou leiloar em 8 de fevereiro de 2023. O anúncio de um conjunto composto por relógio, abotoaduras, anel, caneta e um rosário árabe (masbaha) em ouro rosé e cravejados de diamantes por US$ 120 mil estava em um site americano especializado em leilões de objetos de luxo.

O kit não foi vendido, e Câmara alertou a Cid, em 9 de fevereiro, que havia um documento do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência, datado de novembro de 2022, que atestava a existência das joias no acervo.

Em 13 de fevereiro, Cid pediu para Câmara procurar Marcello da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República, para checar sobre a legalidade da venda dos objetos. "Mas, liga pra ele. Ele tinha me falado, ele me garantiu que poderia, que o presidente poderia fazer o que quisesse porque isso são itens personalíssimos."

Câmara respondeu, então, que já havia conversado com o ex-chefe do gabinete de documentação histórica, se referindo à possibilidade de vender objetos que teriam sido destinados ao acervo privado de Bolsonaro. "Eu falei com ele sobre isso, Cid. Aí ele me falou que tem esse entendimento sim. Mas que o pessoal questiona porque ele pode dar, pode fazer o que ele quiser. Mas tem que lançar na comissão, memória, entendeu?"

Na sequência, Câmara afirmou: "O que já foi, já foi. Mas se esse aqui tiver ainda a gente certinho pra não dar problema. Porque já sumiu um que foi com a dona Michelle; então pra não ter problema". Não foi citado nas mensagens de qual item falavam ao relacionar o nome da ex-primeira-dama.

Mauro Cid disse que havia mandado recuperar o conjunto Chopard. "Eu já mandei voltar, eu já mandei voltar!" Câmara afirmou ainda que poderiam tentar vender o kit de novo "em uma próxima oportunidade", avisando ao governo federal sobre a comercialização.

"Só dá pena pq estamos falando de 120 mil dólares", disse Mauro Cid. Marcelo Câmara concordou: "O problema é depois justificar e para onde foi. De eu informar para a comissão da verdade. Rapidamente vai vazar".

O conjunto de joias Chopard chegou ao Brasil pelas mãos da comitiva do então ministro de Minas e Energia (MME), Bento Albuquerque, em outubro de 2021, e entrou ilegalmente no País, burlando a Receita Federal, como relevou o Estadão em abril deste ano.

O reflexo do rosto do general Mauro Lourena Cid foi identificado pela Polícia Federal (PF) como o que aparece em uma imagem usada para negociação, nos Estados Unidos, de uma escultura que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu de presente. Mauro Lourena é o pai do tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Os dois foram alvos da operação Lucas 12:2, da PF, nesta sexta-feira (11).

A imagem foi um dos elementos que embasou o pedido de buscas na casa do general. É possível ver ele segurando o celular na horizontal, com as duas mãos, para fazer o registro. Dentro da caixa fotografada, havia uma escultura de um coqueiro de ouro.

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De acordo com a PF, uma troca de mensagens entre o pai e o filho aponta que o general chegou a pedir orientações ao tenente-coronel sobre onde levar o item para que fosse avaliado, além de outras joias. A escultura teria sido um dos presentes recebidos por Bolsonaro nos Emirados Árabes, em novembro de 2022, quando participou o encerramento do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

Ainda segundo as investigações, Mauro Lourena Cid foi quem vendeu nos Estados Unidos o relógio rolex, recomprado depois pelo advogado Frederick Wassef para ser devolvido ao Tribunal de Contas da União (TCU), que iniciou uma investigação sobre o desvio dos presentes. As joias e outros itens recebidos enquanto o presidente está no cargo são posse do governo federal e não pessoais. O rolex e um outro relógio de luxo foram vendidos por Mauro Lourena Cid por US$ 68 mil.

Um dos nomes em maior evidência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do 8 de Janeiro é o do tenente-coronel Mauro Cid, peça-chave do Governo Bolsonaro e antigo ajudante de ordem do ex-presidente da República. A aproximação dos dois aconteceu através do general Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel e também colega de turma de Jair durante desde a década de 70.

Junto ao filho, Lourena se tornou, nesta sexta-feira (11), alvo de um mandado de busca e apreensão obtido pela Polícia Federal (PF). O objetivo é encontrar provas no caso de desvio dos bens patrimoniais do Brasil, em um esquema montado por aliados de Jair Bolsonaro (PL) e encabeçado pelos Cid. Na façanha, o general seria responsável por encontrar clientes e negociar as joias nos Estados Unidos, onde atuava.

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Entenda quem são os Mauro Cid - pai e filho - e a participação deles em supostos crimes investigados durante o último governo. 

Mauro Cesar Lourena Cid, o pai e general

O general Lourena é um oficial do Exército Brasileiro, formado na Academia Militar dos Agulhas Negras (Aman). Foi na academia que ele conheceu Jair Bolsonaro, ainda na década de 70, e eles se tornaram amigos de turma. Atualmente, Lourena é general da reserva, mas atuou no Governo Bolsonaro. Após a indicação do ex-presidente, assumiu a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), nos Estados Unidos, entre 2019 e 2023. 

Em 2015, assumiu o posto de Comandante Militar do Sudeste, comando enquadrante da 2ª Região Militar e da 2ª Divisão de Exército, até 2017. Depois, o general fez parte do Departamento de Educação do Exército. O pai de Lourena Cid, Antônio Carlos Cid, chegou a trabalhar na Casa Militar de José Sarney, onde fica a ajudância de ordens.

General está no cerne de escândalo de corrupção

Lourena e o filho Mauro Cid são alvos de uma operação da Polícia Federal que investiga a tentativa de vender, de forma ilegal, presentes entregues ao ex-presidente Jair Bolsonaro por delegações estrangeiras. Pai e filho tiveram mais de R$ 5,6 milhões em “transações atípicas” em um pouco mais de um ano, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Nesta sexta-feira (11), a PF cumpriu mandados de busca e apreensão no endereço dos investigados, sendo adicionado ao grupo de suspeitos, também, Frederick Wassef, ex-advogado da Família Bolsonaro.

O filho e tenente-coronel, Mauro Cid

Mauro Cesar Barbosa Cid é natural de Niterói, no Rio de Janeiro, tem 44 anos e integra o Exército Brasileiro desde 1996. Ele é filho do coronel Mauro (Lourena) Cid, que está nas Forças Armadas há cinco décadas. Já integrou o Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro (Coter) e foi coordenador da ajudância de ordens do Governo Bolsonaro, entre 2018 e 2022. Em quatro anos, Cid fez 144 viagens a serviço da Presidência, segundo o Portal da Transparência do governo federal. 

Outras investigações contra o tenente-coronel

1. Fraude ao Conecte SUS 

Cid foi preso preventivamente pela PF no dia 3 de maio por suspeita de fraude em cartões de vacinação contra a covid-19. A polícia aponta que ele adulterou os registros de imunização de Laura e Jair Bolsonaro para uma viagem aos Estados Unidos, que exige a vacinação para ingressar no país. Os dados do cartão vacinal de Cid e de sua esposa, Gabriela Ribeiro, também foram fraudados. 

Gabriela viajou três vezes aos EUA com o cartão de vacinação fraudado. A PF cumpriu um mandado de busca e apreensão na casa de Mauro Cid, onde foram apreendidos US$ 35 mil e R$ 16 mil em dinheiro vivo. Além disso, seu celular foi periciado e foram encontradas movimentações bancárias em uma conta nos Estados Unidos. 

Além disso, Mauro Cid foi apontado como integrante das milícias digitais em investigação da Polícia Federal sobre a live de Bolsonaro, onde o presidente relacionou as vacinas contra COVID-19 com o HIV. Ele também seria o responsável pela divulgação de dados sobre o ataque hacker ao Supremo Tribunal Federal. 

2. Tentativa de golpe de Estado 

Cid é suspeito de articular uma intervenção militar contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após as eleições de 2022. Uma perícia da PF encontrou no celular de Cid trocas de mensagens com outros militares, entre abril e maio, tratando de ações que configurariam um golpe de Estado. As mensagens foram reveladas pela imprensa e depois tornadas públicas pela Justiça. Entre os documentos obtidos pela polícia, está uma minuta de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e tratativas para a decretação de um Estado de Defesa. 

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O relógio de luxo rolex que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu de presente de autoridades da Arábia Saudita foi vendido nos Estados Unidos e, depois, recomprado para ser entregue o Tribunal de Contas da União (TCU). A informação foi divulgada pelo g1, após acessar documentos da Polícia Federal (PF) que basearam a Operação Lucas 12:2, deflagrada nesta sexta-feira (11). 

A ação policial cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do advogado Frederick Wassef, que representou o ex-presidente perante a Justiça, o general Mauro César Lourena Cid - pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens Jair Bolsonaro, e do próprio Cid. 

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Segundo o blog de Valdo Cruz do g1, o rolex e um outro relógio de luxo foram vendidos por Mauro Lourena Cid por US$ 68 mil. Com o início da apuração sobre os presentes recebidos por Bolsonaro no exercício do cargo, pertencendo assim à União, houve uma orientação para a recompra do rolex e, em seguida, a devolução do bem ao Tribunal de Contas da União, que já estava de posse de outras joias vindas da Arábia Saudita. 

Ainda de acordo com o g1, os advogados Fabio Wajngarten e Frederick Wassef protagonizaram o retorno da peça. Fabio teria orientado a compra do rolex de volta e Wassef, segundo a PF, embarcado para os EUA dia 11 de março com o objetivo de conseguir comprar de volta o relógio.

Caminho de corrupção

Com os detalhes da operação Lucas 12:2 vindo à tona e sem citar nomes, o ministro da Justiça, Flávio Dino, usou as redes sociais para falar sobre venda de joias como caminho clássico da corrupção

“Há muitos estudos que mostram que compra e venda de joias é um caminho clássico de corrupção e lavagem de dinheiro. Muitos veem como um crime “seguro”, que ficará escondido para sempre. Por isso, é essencial sempre investigar o assunto, quando há indícios de ilegalidades”, escreveu. 

Sem citar nomes, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), comentou, em suas redes sociais, sobre a investigação contra o ex-integrante do Governo Bolsonaro Mauro Cid e seu pai, alvos de uma investigação da Polícia Federal sobre a venda de joias que pertenceriam ao patrimônio nacional. O titular da pasta disse que a compra e a venda de joias são caminhos clássicos de corrupção e lavagem de dinheiro. 

“Há muitos estudos que mostram que compra e venda de joias é um caminho clássico de corrupção e lavagem de dinheiro. Muitos veem como um crime “seguro”, que ficará escondido para sempre. Por isso, é essencial sempre investigar o assunto, quando há indícios de ilegalidades”, escreveu. 

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Na manhã desta sexta-feira (11), a Polícia Federal (PF) cumpre mandados de busca e apreensão contra o general Mauro César Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), em Brasília. O militar e outros integrantes da Gestão Bolsonaro são suspeitos de utilizar do cargo para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues de presente por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens em países do exterior. 

Os valores obtidos pelas transações ilegais ainda não foram revelados, mas a investigação aponta que tudo foi convertido em dinheiro em espécie, que posteriormente foi transferido para o patrimônio pessoal dos suspeitos. Um dos conjuntos no rol de joias vendidas, da grife Chopard, foi avaliado em R$ 5,6 milhões. 

Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do 8 de Janeiro, parlamentares revelaram documentos que transcrevem e-mails de Mauro Cid. As mensagens revelam que a Ajudância de Ordens da Presidência da República teve acesso aos certificados de joias entregues pelo governo da Arábia Saudita ao Brasil. Os registros revelam também as tentativas de retirada do primeiro conjunto de joias, apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos. 

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