A partir desta terça-feira (28), cerca de 400 jovens de todo o mundo se reúnem em Milão, capital econômica da Itália, para o primeiro grande evento preparatório da cúpula climática das Nações Unidas dedicado às novas gerações.
Idealizado pela Itália, o encontro "Youth4Climate: Driving Ambition" ("Juventude pelo Clima: Estimulando a Ambição", em tradução livre) acontece até o dia 30 e discutirá propostas ambientais que serão levadas aos ministros participantes da pré-COP26, que também ocorre em Milão, mas de 30 de setembro até 2 de outubro.
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Os dois eventos são um preparativo para a 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP26, marcada para 1º a 12 de novembro, em Glasgow, Reino Unido.
Além da sueca Greta Thunberg, a lista de 400 jovens selecionados pelo Youth4Climate inclui três ativistas brasileiros: Eduarda Zoghbi, Eric Marky e Paloma Costa, que levarão à capital da Lombardia propostas sobre educação ambiental, acesso à informação e espaços de participação.
"Nossa principal bandeira será relativa à educação climática, que é fundamental para estruturar a participação, mas não faz parte do currículo escolar", diz Costa, 29 anos, integrante de um conselho de jovens sobre as mudanças climáticas criado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.
Além disso, a delegação brasileira deve abordar a preservação dos biomas e a importância dos povos nativos para a defesa das florestas, enquanto o país aguarda o julgamento do "marco temporal", que pode restringir a demarcação de terras indígenas, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para o jornalista e músico Eric Marky, indígena do povo Terena, o Y4C é uma "oportunidade" para os jovens preocupados com a crise climática. "A juventude nunca foi chamada a dialogar com o governo [brasileiro], principalmente as populações indígenas. O governo italiano avançou muito no entendimento de que não se fala de futuro sem o envolvimento dos jovens", afirma.
Aos 28 anos, ele diz estar no limite da juventude. "Na minha etnia, só se vira adulto quando se é pai", brinca Marky, que ainda não tem filhos. Como músico, ele já se apresentou em conferências da ONU; e como jornalista, ajudou a fundar o coletivo Mídia Índia, que cobre assuntos ligados aos povos nativos do Brasil.
No Y4C, Marky pretende focar nos debates sobre meios de pensar a reeducação ambiental através das redes e nos territórios ameaçados. "Os livros didáticos ainda ensinam a proteção ambiental como era na época jurássica, sendo que hoje estamos falando de sustentabilidade, novas tecnologias, energia limpa, só que dentro da própria escola não tem essa conscientização", explica.
Cada participante do Y4C fará parte de grupos de trabalho específicos com delegações do governo italiano, responsável pelo intercâmbio com os ministros da pré-COP26. No último dia 21, o embaixador da Itália em Brasília, Francesco Azzarello, já teve uma reunião com Zoghbi, Marky e Costa para discutir a pauta ambiental.
"Estou muito ansiosa para trazer resultados da Itália", afirma Costa.
Segundo ela, o Y4C será um momento "muito importante para articular demandas conjuntas e experiências de sucesso de várias partes do mundo".
"A gente espera poder voltar para casa com o compromisso de que nossas demandas vão ser implantadas", diz.
Esperanças - Cúpulas climáticas globais são, na maioria das vezes, marcadas por impasses nas negociações e pela falta de soluções efetivas para a grande crise da humanidade neste século.
A COP21, em Paris, conseguiu a assinatura de um histórico acordo para manter o aumento médio da temperatura do planeta "bem abaixo" dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, com o compromisso de tentar limitar esse crescimento a 1,5ºC, mas já são vários os relatórios que mostram que o mundo não está fazendo o suficiente para cumprir essa meta.
Já a última cúpula climática da ONU, a COP25, em Madri, fracassou em regulamentar o mercado global de créditos de carbono. Em 2021, será a primeira vez que os jovens participam oficialmente das discussões no âmbito da COP.
"Vai ser uma grande vergonha se esse evento não tiver resultado", declara Costa. Para os brasileiros, o risco é ainda maior, já que o governo de Jair Bolsonaro é notório e cobrado mundialmente por ignorar pautas ecológicas, além de não dialogar com ambientalistas.
"A esperança é a última que morre, mas o Brasil está em dívida: aumentou desmatamentos, queimadas, regrediu no Acordo de Paris.
Quando o governo italiano nos convida a participar, nossa responsabilidade é ainda maior", ressalta Marky, acrescentando que a juventude terá de cobrar resultados efetivos do encontro de Milão. "Não estamos nos iludindo", diz.
O documento final do Y4C será apresentado no dia 30 de setembro para o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e para o primeiro-ministro Mario Draghi.
Da Ansa