Tópicos | movimento antivacina

Com o início da pandemia, o mundo, especificamente os cientistas, entraram em uma constante busca para desenvolver uma vacina eficaz contra a Covid-19. Em menos de 12 meses, algumas vacinas contra a doença começaram a ser desenvolvidas e aprovadas por Agências reguladoras. Com isso, muitas pessoas se mostraram céticas em relação ao imunizante, muitas vezes se organizando no movimento antivacina ou antivax.

Este movimento nada mais é do que um grupo, que pode ou não ser organizado, que reúne críticos das vacinas contra programas de vacinação pública. Porém, em entrevista para o LeiaJá, o biomédico imunologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro, Dr. Jefferson Russo Victor afirmou que as consequências desse movimento são maléficas à saúde individual e pública.

##RECOMENDA##

"De forma geral, as consequências do movimento antivacina são muito ruins. Porque a utilização de vacinas é relativamente barata, e é extremamente eficiente. Quando pensamos em um movimento antivacina, que conduz as pessoas a não se vacinarem, a consequência disso é tornar as pessoas suscetíveis à doença. Isso é um problema de saúde individual, coletiva e problema de custo ao serviço de saúde", afirmou.

Doenças erradicadas

Além dos malefícios citados acima, o especialista também destacou sobre as consequências desse movimento em doenças erradicadas no Brasil, e alertou sobre a Poliomielite.

"Atualmente o maior risco que nós temos  em termos de doenças erradicadas, é relativo a poliomielite que teve seu último caso registrado em 1989 e permitiu que o Brasil adquirisse o certificado de erradicação da doença em 1994. Mas esse tipo de iniciativa, muitas vezes leva as pessoas a não se vacinarem, portanto essas pessoas continuam suscetíveis. No caso da poliomielite, embora tenha sido erradicada do Brasil, ela não foi do mundo, isso significa que ainda existe este vírus circulando no mundo. O que pode levar a contaminação de alguns indivíduos como viajantes, trazendo esse vírus para o Brasil e contaminando pessoas que não se vacinam e ficam suscetíveis a doença".

Sarampo 

Assim como a poliomielite, o Brasil também ganhou o certificado de erradicação do sarampo em 2016, mas em 2018 o país perdeu esse título devido a baixa cobertura vacinal.

Guerra da desinformação 

Por fim o biomédico, destacou que este tipo de movimento tem origem da "guerra de desinformação". "São grandes os malefícios desse tipo de movimento antivacina, e sabemos que esse movimento sempre tem origem do que vivemos hoje que é uma verdadeira guerra da desinformação. Onde pessoas utilizam de informações mentirosas, que tem caráter científico, e usam isso de justificativa para não vacinar pessoas. Não somente contra os vírus que causam pandemia, mas também todo programa de imunização do Brasil, que desde a década de 70 vem se mostrando esficiente", explicou.

As teorias da conspiração, a desconfiança e falta de comunicação promoveram o ceticismo sobre as vacinas anticovid em países africanos, um perigo potencial para futuras campanhas de vacinação.

Essa dinâmica alimentada pelos boatos que proliferam nas redes sociais é semelhante à observada nos países ocidentais. Há mais relutância quando se trata da Covid-19 do que em relação a outras vacinas, explicam vários especialistas à AFP.

"É um alto nível de ceticismo", diz Ayoade Alakija, que lidera na África a estratégia Convince, uma iniciativa para a aceitação da vacinação anticovid.

Entre os fatores, ele cita a impopularidade dos governos e a desinformação. Uma das teorias, por exemplo, defende que as vacinas foram feitas para retardar o crescimento populacional do continente.

Às vezes são os próprios governos que levantam suspeitam. O presidente da Tanzânia, John Magufuli, declarou no final de janeiro que as injeções contra a Covid eram "perigosas para a saúde".

A maioria dos países africanos ainda não começou a vacinar. Muitos não receberam doses, porque os Estados ricos as monopolizam.

E isso num momento em que os países africanos sofrem uma nova onda de infecções. Muito mais forte que a primeira, embora sem comparação com as registradas nos Estados Unidos, América Latina ou Europa.

Moise Shitu, um caminhoneiro de 28 anos de Lagos, capital nigeriana, é contra a vacinação. "Isso é uma farsa do nosso governo", opina. "Dizem que existe coronavírus na Nigéria para ganhar dinheiro".

- Doença de brancos? -

Em Kano, cidade no norte da Nigéria, Zainab Abdullahi, de 41 anos, também não é a favor. "Ouvimos pessoas que foram vacinadas em países ocidentais e que tiveram efeitos colaterais graves. Ainda sim, querem nos vacinar".

Nem todos se opõem. Garçons ouvidos em uma cafeteria em Addis Abeba, capital da Etiópia, dizem que anseiam pela vacinação para não contrair o novo coronavírus.

Mamadou Traoré, assessor de vacinação da organização Médicos Sem Fronteiras, observa que a resistência está aumentando.

"As pessoas pensam que não é uma doença que atinge os negros", diz. "Os governos são os que têm que lutar contra toda essa desinformação".

Existem poucos estudos confiáveis sobre as atitudes em relação às vacinas na África. Pesquisas preliminares sugerem que muitas pessoas estão desconfiadas.

Os Centros Africanos de Controle de Doenças publicaram os resultados de uma investigação conduzida em 18 países em dezembro: apenas um quarto dos consultados acreditava que as vacinas anticovid são seguras.

O estudo não identificou uma frente refratária maciça. 79% afirmaram que aceitariam uma vacina se ela fosse considerada segura.

Richard Mihigo, coordenador de vacinação para a África da Organização Mundial da Saúde (OMS), indica que, historicamente, o grau de aceitação das vacinas é alto no continente. Mas reconhece que os rumores que se "espalharam como incêndio" na internet constituem um "problema real".

- Dar exemplo -

Uma entrevista em que dois cientistas franceses sugeriram em 2020 que as empresas deveriam testar suas vacinas primeiro na África deixou a população com o pé atrás e alimentou os temores de exploração do continente pelos ocidentais.

A polêmica causou "grandes danos", diz Richard Mihigo: "As pessoas diziam: 'Viu? Agora podemos dizer que os africanos são cobaias'".

O Senegal lida com a falta de vacinas, mas também com informações falsas, segundo Ousseynou Badiane, chefe do programa de vacinação do país.

Grande parte da desinformação vem da França, afirma. A ex-potência colonial é um dos países mais reticentes.

As dolorosas memórias do tráfico de escravos e um passado de governos autoritários explicam as dúvidas, segundo Cheikh Ibrahima Niang, professor senegalês de antropologia médica.

De acordo com ele, escândalos como a morte de 11 crianças nigerianas em 1996 após testes de tratamento para meningite da gigante farmacêutica Pfizer deixaram marcas.

Os governos devem convencer, enfatiza. O presidente da Guiné, Alpha Condé, deu o exemplo ao ser vacinado na frente das câmeras.

Mas Ayoade Alakija, da iniciativa Convince, alerta que o apoio da população dependerá da popularidade do governo.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgaram, nesta sexta-feira (23), um alerta sobre os riscos do movimento antivacina que, na avaliação da entidade, está crescendo no País. No comunicado, as associações observam que os relatos de que vacinas trazem elementos tóxicos ou nocivos em sua composição, que são ineficazes e que podem ser substituídas por outros métodos, não possuem base técnica ou científica.

O texto reforça a necessidade de que médicos orientem a população sobre a importância da imunização.

##RECOMENDA##

"Não se vacinar ou impedir que as crianças e os adolescentes o façam pode causar enormes problemas para a saúde pública, como o surgimento de doenças graves ou o retorno de agravos de forma epidêmica, como a poliomielite, o sarampo, a rubéola, entre outros", informam as entidades.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando