Pela primeira vez desde o dia 6 deste mês, quando começaram as manifestações pela redução da tarifa de ônibus na capital, manifestantes e acadêmicos dividiram as ruas como palanque. Convocados pelo Movimento Passe Livre (MPL), o filósofo e professor aposentado da USP Paulo Arantes e o ex-secretário de Transportes da gestão Luiza Erundina (PT) Lúcio Gregori deram "aulas livres" para cerca de 300 pessoas sobre a tarifa zero na frente da Prefeitura, no fim da tarde desta quinta.
Os "alunos", a maioria jovens na faixa dos 20 e poucos anos, sentaram na calçada para ouvir os pensadores. O primeiro a falar foi Gregori, um dos idealizadores das discussões sobre tarifa zero nos anos 1990. Ele comparou o ônibus a outros serviços municipais já fornecidos com tarifa zero, como a iluminação pública. "Imagine se cada vez que alguém passasse embaixo de um poste tivesse de pagar?", perguntou.
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Gregori explicou que para viabilizar o serviço de ônibus a custo zero é fundamental incrementar a arrecadação da Prefeitura, sem aumentar a quantidade de impostos, mas otimizando os existentes - o IPTU progressivo para quem tem mais imóveis, por exemplo, seria uma saída.
"Dizer que com ônibus grátis as pessoas iriam ficar o dia inteiro andando de ônibus ou que os mendigos não sairiam de dentro dos ônibus é um insulto à inteligência. Como se as pessoas não tivessem mais o que fazer." Ele defendeu um modelo em que os ônibus fossem alugados pela Prefeitura, em vez de o pagamento aos donos dos coletivos ocorrer por passageiro transportado.
O ex-secretário citou cidades como Manchester, na Inglaterra, e Sidney, na Austrália, que tem zonas onde o ônibus é gratuito. A medida serve para estimular o transporte público. Na capital, segundo ele, isso poderia ser feito nos corredores de ônibus, que deveriam circular igual ao metrô, por sentido, de um terminal a outro.
História
Já Paulo Arantes teve mais dificuldade para falar. O filósofo chegou a dar parte da aula usando um megafone - concorria com o som da festa da Copa das Confederações, que começou pouco depois das 18h30 no Vale do Anhangabaú.
Arantes falou sobre como se articulavam, em tempos pré-Facebook, os movimentos sociais do passado - como o por direitos civis nos EUA e as manifestações por abertura política da Alemanha dividida. "O que importavam eram os vínculos fortes de companheirismo em torno de uma causa real. É preciso que todos corram o mesmo risco."
Antes da aula, Arantes conversou com qualquer um que se aproximava. "Não dou entrevistas", disse, de um jeito simpático, antes de elogiar o ex-aluno Fernando Haddad mas, principalmente, o MPL, que passou pelo "quintal" do filósofo na USP. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.