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Há exatos 15 dias, o Cais José Estelita, cartão postal localizado no Centro do Recife, se transformou em uma área de reivindicações e atos culturais. Após o início da demolição do espaço, na madrugada do dia 21 de maio, ativistas do Movimento #OcupeEstelita participam de luta a favor da preservação do local e da construção de uma área que possa ter utilizada pelos moradores e pela sociedade.

O movimento, liderado por todos, é composto por um número expressivo de estudantes que explanam suas ideologias e almejam uma sociedade mais justa, menos aristocrata e sem segregação. Foi com olhares desconfiados e palavras comedidas, a princípio, que alguns estudantes concederam entrevista ao Portal LeiaJá. Os universitários Wellthon Leal, Matheus Beltrão e Juliana Carvalho falaram sobre suas expectativas, ideologias, participação do Movimento e como estão conciliando as atividades acadêmicas com o #OcupeEstelita.

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“Integrar o Movimento é fundamental para a reflexão pessoal. Aqui, encontramos uma efervecência de ideias e de pessoas plurais que estão unidas com um único objetivo” 

Essa foi a afirmação do estudante de ciências sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Wellthon Leal, de 24 anos, que está no local desde o início da demolição. Com os braços cruzados e de forma objetiva, ele elencou algumas das características dos jovens que fazem parte do Movimento. “São pessoas que têm coragem social e política para tentar mudar a situação imposta pela sociedade injustamente. São jovens engajados que se preocupam com o próximo e não apenas consigo mesmo”, diz Leal.

Ainda em entrevista ao LeiaJá, Wellthon fala como está conciliando os estudos, o trabalho e o #OcupeEstelita. “Não está sendo fácil administrar o tempo com as atividades da ONG, as aulas e o Ocupe, mas confesso que é bastante ‘frutificante’. Estou tendo uma experiência de vida única, que vou levar para a minha vida pessoal e profissional”, afirma. “Mesmo não sendo o meu objetivo principal, aqui estou vendo, na prática, a teoria da faculdade, convivendo com  moradores locais, ambulantes e pessoas com ideologias distintas”, declara, timidamente.

O aluno do curso de cinema da UFPE, Matheus Beltrão, de 20 anos, relata a importância de pensar na cidade e no espaço como um marco histórico, que pode ser utilizado por toda sociedade. “Eu almejo uma inclusão social. Não concordo que sejam erguidos espigões de luxo utilizados por tão poucos, e que, o local se transforme em uma ilha opressora. O Cais é uma memória afetiva da sociedade e que se deve ser desfrutada por todos os recifenses”, desabafa o universitário.

Beltrão ainda ressalta que a participação no Movimento o fez questionar sobre vários assuntos. Confira no áudio abaixo:

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Já a universitária do curso de edificações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Juliana Carvalho, de 20 anos, lembra que soube da demolição durante viagem ao Rio de Janeiro e diz que veio direto ao Estelita quando desembarcou no Recife. “Todas as minhas atenções estão voltadas para o Movimento. Quando cheguei vim direto acampar e desde então pude acompanhar a pluralidade de ideologias e força do ativistas do Ocupe”, reforça a estudante.

Quanto às atividades acadêmicas ela explica que foram deixadas de lado, porém, a sua interação com grupo despertou outros interesses. “Percebi a importância de aprofundar o conhecimento no âmbito urbanístico e do impacto ambiental.”, concluiu.

 

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De acordo com o cientista social e historiador Daniel Finizola, a ocupação é um grande movimento revolucionário. Além disso, ele ressalta que esse acontecimento diverge dos que já foram liderados em outras épocas "Observamos que o grupo está pautado, existe uma causa em comum, diferente do que aconteceu em junho de 2013, por exemplo, que teve uma participação expressiva de jovens, mas não havia uma exatidão sobre o que as pessoas reivindicavam. Hoje em dia, lembramos apenas do 'Padrão Fifa'", relata. 

O historiador ainda relembra da participação massiva da sociedade na época da Revolução Pernambucana, porém, ele diz que, atualmente, existe mais democracia, ideologia e luta por um bem comum social, que nunca houve anteriormente, inclusive no Brasil e na América Latina. "O interesse é pela cidade! Os jovens desejam que o local seja utilizado por todos de forma plural e igualitária", explica. 

Quanto ao caráter político, o cientista social avalia que o movimento está voltado mais para a questão social. "Não existe uma questão partidária, há grupos com ideologias distintas que articulam e dialogam como foi possível observar na participação da Marcha das Vadias, dos Black Blocs, das bandeiras partidárias e do público GLBTT", finaliza. 

Mesmo com essa posição de Finizola, os estudantes ainda relatam que existem grupos partidários que querem tirar proveito da situação, mas, eles reinteram que a liderança é de todos.

“Queremos transformar o que está acontecendo agora. Temos o desejo de mudar uma coisa que nos incomoda - o Projeto Novo Recife -. Percebemos que ele faz mal pra gente e para a sociedade, por isso ele é repudiado”, conclui Wellthon Leal.

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