O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, faz nesta terça-feira (17) uma visita a Istambul centrada na "liberdade religiosa", mas sem qualquer reunião prevista com as autoridades turcas, às quais, no entanto, afirma que deseja "convencer" a interromper ações que considera "muito agressivas".
Pompeo iniciou a visita, que teve a agenda criticada pelo governo de Ancara, com um encontro com o patriarca Bartolomeu de Constantinopla, líder espiritual da Igreja Ortodoxa, na sede do patriarcado, antes de uma visita guiada à mesquita de Rustem Pacha.
O secretário de Estado pretende debater sobre temas religiosos na Turquia e na região e consolidar a firme posição dos Estados Unidos sobre os assuntos, que Pompeo considera prioritários em termos de direitos humanos.
"Há muitas coisas sobre as quais podemos falar na Turquia a respeito da liberdade religiosa", disse uma fonte do Departamento de Estado americano, o que abre margem para críticas à situação na Turquia.
O país recebeu muitas críticas no mundo cristão em julho ao transformar em mesquita a ex-basílica de Santa Sofia, patrimônio mundial da humanidade, com a revogação do estatuto de museu do local.
Alguns manifestantes, convocados por uma associação nacionalista, protestaram perto do patriarcado contra a visita de Pompeo, aos gritos de "Yankee, go home".
A diplomacia turca já expressou irritação com a agenda de Pompeo e afirmou que a liberdade religiosa está "protegida" no país.
"Seria mais apropriado para os Estados Unidos olhar no espelho e preocupar-se com o racismo, a islamofobia e os crimes de ódio em seu país", afirmou o governo de Ancara.
Washington corre o risco de abrir novas frentes de conflito com o governo turco.
A viagem de Mike Pompeo também resultou em um verdadeiro desencontro diplomático.
O secretário de Estado queria viajar apenas a Istambul para encontrar o patriarca. Ele estava disposto a uma reunião com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e com o chefe da diplomacia Mevlüt Cavusoglu apenas se eles fossem a seu encontro, o que evitaria o deslocamento até a capital Ancara.
Após intensas negociações, uma reunião parecia possível, mas as conversações terminaram em fracasso.
É difícil saber se a eleição nos Estados Unidos de Joe Biden - que foi parabenizado por Recep Tayyip Erdogan, apesar do presidente turco ser considerado "amigo" de Donald Trump - teve um papel no enredo.
O fato é que Mike Pompeo não poderá abordar com as autoridades turcas as muitas divergências que ele mesmo enumerou na segunda-feira, após um encontro em Paris com o presidente francês Emmanuel Macron.
"O presidente Macron e eu passamos muito tempo conversando sobre as recentes ações da Turquia e concordamos que eram muito agressivas", declarou ao jornal francês Le Figaro.
Ele citou o "apoio" da Turquia ao Azerbaijão no conflito em Nagorno Karabakh e também recordou que o país "implantou forças sírias nesta região.
"Também falamos de sua ação na Líbia, onde inseriram forças de terceiros países, ou suas ações no Mediterrâneo oriental, e eu poderia continuar com a lista", completou.