Revolucionário, Paulo Freire é o patrono da Educação no Brasil. Suas ideias inspiraram e inspiram ainda hoje pedagogias de ensino que têm vieses libertadores. Um de seus livros mais conhecidos, chamado Pedagogia do Oprimido, é uma obra que sintetiza todo seu pensamento político educacional. Freire assume a posição idealista de que a educação deveria ser o meio de despertar a consciência crítica dos estudantes, porém observa que o que acontece é que o professor utiliza de seu papel autoritário para oprimir.
Nesta quarta-feira (23), o Portal LeiaJá dá prosseguimento à série sobre pedagogias alternativas de ensino. A Pedagogia do Oprimido é uma forma de ensino que difere das demais já abordadas por não ser declaradamente adotada em instituições, segundo pedagogos consultados pela nossa reportagem. O que acontece é uma inspiração nos ideais de Freire sobre os métodos educacionais.
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Paulo Freire, que morreu há 18 anos, foi um dos mais influentes educadores do Brasil. Para o pensador, o principal objetivo da educação é levar, às parcelas mais desfavorecidas da sociedade, conscientização. O estudioso afirmou, porém, que o sistema educacional é opressor e o professor não instiga o pensamento crítico, mas sim deposita o conhecimento em um aluno receptível.
Opressor x oprimido
Segundo Paulo Freire, a condição de opressor coloca o ser humano em um status logicamente elevado na sociedade. Nele, a pessoa que oprime tende a continuar o mesmo patamar de opressão e todo o método de “não pensar”, muito debatido por Freire, é planejado pelos que estão no poder.
Já quem se encontra na situação de oprimido se condiciona naquele ambiente. A pessoa que sofre a opressão não consegue ver-se subjulgada por alguém, já que a forma educacional reforça essa ação. A pedagogia de Freire busca, então, conscientizar o docente para que ele se torne um instigador de pensamentos e não um opressor.
Especialistas
A pedagoga Maria Auxiliadora Diniz, professora da Faculdade Franssinetti do Recife (Fafire), explicou que a pedagogia de Paulo Freire é um sinônimo de revolução, mas que não existe método perfeito. “Cada criança, cada família, se adéqua a um modo de pedagogia. O que Paulo Freire diz é muito importante e deve ser aplica, porém não são todos os que vão se adequar”, explica.
Já a pedagoga da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau, Bárbara Almeida, explica que tal fundamentação pedagógica é uma forma de libertar o aluno. “O que Freire prega é uma forma em que o opressor vai sair de sua condição de opressão e vai para o mundo do oprimido”, afirma.
Bárbara Almeida também exemplifica isso em sala. “Com esse tipo de pedagogia, uma criança que é introvertida, sai do processo de exclusão e volta seu pensamento para a sociedade. O professor também tem papel fundamental nisso, quando instiga o conhecimento aos alunos, não apenas os ensina de forma unilateral”, disse.
A especialista também diz que tal tática trabalha mais que o pensamento, como também os âmbitos motores e sociais. “Quando uma criança sai da condição de oprimida, ela também apresenta desenvoltura corporal, como também reduz sua timidez, entre outros tipos de benefícios”, conta Bárbara.
Esse tipo de pedagogia se assemelha a outros exemplos, como os métodos Waldorf e Construtivista. Neles, a criança aprende com vivências do dia a dia. A Pedagogia do Oprimido também explora essa função. “A criança passa a ver o mundo e o que ela aprende como uma coisa conjunta. O que ela vê em sala de aula faz sentido, justamente porque o que o professor trabalha não é uma fórmula pronta, mas de acordo com o dia a dia de cada um”, complementa a pedagoga Bárbara Almeida.
Tal pedagogia é aplicada nas instituições de ensino, segundo Bárbara. “De certa forma [a Pedagogia do Oprimido] é utilizada, embora pouco. Estamos vendo uma mudança cada vez mais crescente e significativa nesse método de ensino tradicional”, finaliza.
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