Tópicos | Rombo no orçamento

A equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), coordenada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), avaliou que o governo Bolsonaro (PL) deixará um rombo de pelo menos R$ 400 bilhões no orçamento para o petista.Um dos presentes de grego deixados por Bolsonaro é o orçamento destinado à política de inclusão social, o Auxílio Brasil, que voltará a ser o Bolsa Família, que não foi incluído na Lei Orçamentária Anual para 2023 (LOA) pelo atual presidente. 

A equipe de transição de Lula estuda incluir uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para aumentar os gastos programados colocados como prioridades de gestão de Lula. De acordo com Alckmin, a PEC é “o caminho mais provável” a ser feito. A PEC da Transição deve ser apresentada na quarta-feira (16), após o feriado da Proclamação da República. 

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Para a professora e coordenadora do curso de ciências econômicas da Unicap, a Dra Ana Cristina Guimarães, a suspensão do benefício social neste momento poderia trazer problemas maiores. “No entanto, a distribuição de renda é um problema que requer uma solução definitiva, à luz da ‘renda básica universal’. Mas, por hora, a PEC deve resolver”.

Além disso, o presidente eleito também defende uma “revisão” da reforma trabalhista e da Previdência, antes, assegurada por ele como uma “revogação” da mesma. O petista defende a “revisão” com o objetivo de “adequar aos tempos atuais sem que trabalhadores voltem a ser escravos”. A restituição do salário está entre as propostas. O tema é classificado pela professora Ana Cristina como um assunto “delicado”. 

“Há um avanço de tecnologia, plataformas digitais que, por um lado, garantem produtividade, e por outro, aumentam a precarização do emprego”, alertou. Segundo ela, há a urgente necessidade de políticas públicas que trabalhem na proteção e na geração de emprego. 

O rombo no orçamento do governo federal foi previsto pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, de ser equivalente a R$ 150 bilhões que é, na verdade, de cerca de R$ 400 bilhões, segundo o ex-ministro da Fazenda do governo Lula, Henrique Meirelles. A coordenadora do curso de ciências econômicas acredita que a excessiva preocupação com o teto de gastos parece “encobrir outros problemas mais graves com relação ao orçamento”.

Ela também defendeu uma reforma tributária. “Sem ela [a reforma] vamos ficar preocupados em equilíbrio e vamos continuar estrangulando gastos discricionários e investimentos, em nome de uma despesa obrigatória que, nem sempre, é pautada na produtividade e no desenvolvimento social e econômico”, alertou.

O cenário para a expectativa de um possível crescimento econômico é um “tiro no escuro”, de acordo com Ana Cristina Guimarães. “Com o baixo crescimento, inflação e desemprego, a única coisa que dá para dizer, com certeza, é que os primeiros anos serão difíceis. Se somarmos o cenário internacional, com guerra e recessão eminentes, prever crescimento acelerado seria de um otimismo ingênuo. Mas, por enquanto, nessa fase de transição, parece que o novo governo vai assumir uma agenda adequada para recolocar a economia nos trilhos”, explicou.

Em uma sessão que durou mais de 16 horas, o Congresso Nacional aprovou nesta quarta-feira (25), em votação simbólica, o projeto com a revisão da meta fiscal para 2016. O texto autoriza o governo federal a fechar o ano com um déficit primário de até R$ 170,5 bilhões nas contas públicas.

“A aprovação da meta resulta em ajuste de receitas de forma real porque a receita que previa superávit de R$ 30 bilhões, que era o texto do governo anterior, era algo extremamente irreal. Estamos ajustando as receitas, ajustando as despesas e estamos retomando investimentos estratégicos para o país”, disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR).

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Os parlamentares aprovaram o relatório do deputado Dagoberto (PDT-MS), que invocou o “momento excepcional” ao pedir a aprovação do texto. “Não podemos ignorar as dificuldades financeiras que o país vem enfrentando. O momento politico requer grande esforço de todos em prol da retomada do crescimento”, disse.

A meta fiscal, economia que o governo promete fazer para pagar a dívida pública, gira em torno da expectativa da receita arrecadada e também dos gastos. A nova meta com o déficit foi anunciada na sexta-feira (20) pelo então ministro do Planejamento, Romero Jucá, e pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Dificuldades

Apesar de o texto não detalhar os cortes, do total de R$ 170,5 bilhões, R$ 163,9 bilhões dizem respeito ao déficit para o setor público não financeiro para o Governo Central, dos quais R$ 114 bilhões referem-se ao déficit fiscal, acompanhado de R$ 21,2 bilhões de descontigenciamento de receitas; R$ 9 bilhões para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); R$ 3,5 bilhões para o Ministério da Defesa; R$ 3 bilhões para a Saúde; R$ 13,3 bilhões para renegociação de dívidas dos estados e outras despesas. Também entram no cálculo RS 6,554 bilhões para os estados e municípios.

O governo interino justificou o resultado alegando dificuldades diante da crise econômica e queda nas receitas com um recuo do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,8%. Também contribuiu o fato de que, caso a meta não fosse revista até o dia 30 de maio, o governo ficaria “paralisado”, uma vez que, na prática, teria que cortar mais despesas para cumprir a meta enviada por Dilma, com previsão de superávit de R$ 24 bilhões.

O valor, fixado na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2016, passava para R$ 30,5 bilhões, considerado todo o setor público (estados e municípios também). Contudo, já em março, o governo da presidenta afastada Dilma Rousseff disse que teria como cumpri-la e apresentou proposta de revisão com déficit de R$ 96,6 bilhões nas contas públicas.

Embate e reclamações

A sessão do Congresso destinada a apreciar os 24 vetos presidenciais antes da votação da meta fiscal começou às 11h de ontem (24) e seguiu com governistas e oposcionistas travando uma batalha política em torno do tema. Liderados pelo PT, partidos contrários ao processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, como o PCdoB, PDT, PSOL e Rede, esforçaram-se ao máximo para obstruir os trabalhos e prolongar a votação dos vetos. O objetivo era fazer com que a sessão acabasse sendo encerrada por falta de quórum e sem votar a meta fiscal.

Os parlamentares se revezavam criticando a proposta de revisão da meta de R$ 170,5 bilhões. “Não é possível ampliar o déficit para R$ 170 bilhões prevendo frustração de receita futura. Isso é o paradigma da irresponsabilidade fiscal. É outro golpe! Foi golpe contra a democracia, foi golpe contra a aposentadoria, a política de salário mínimo, o Minha Casa, Minha Vida e, agora, é um golpe contra a estabilidade fiscal do país, no mesmo dia em que o ministro da Fazenda apresenta uma previsão de pedalada fiscal”, disse o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA).

A meta proposta também foi criticada pelo deputado Silvio Costa (PTdoB-PE). Segundo ele, a aprovação do valor proposto seria passar um cheque em branco para o novo governo.

Outra crítica dos parlamentares de oposição foi a condução dos trabalhos para a votação da meta fiscal. Segundo eles, Renan Calheiros “atropelou” o regimento para conseguir a aprovação do texto. “O presidente do Congresso [Renan] adotou algumas posturas diferentes das que adotava quando a oposição não era governista”, reclamou o senador Humberto Costa (PT-PE), referindo-se ao fato de Calheiros ter feito a votação sem deixar que os partidos orientassem suas bancadas.

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