"Virginiano é muito organizado e pragmático", "capricorniano é teimoso", "câncer é um signo muito sensível" e "geminiano é impulsivo e bipolar". Nas redes sociais, expressões prontas sobre os doze signos do zodíaco e diferentes memes acerca do assunto ganharam espaço no gosto popular e atraem principalmente os mais jovens. Mesmo que o conteúdo de divulgação seja feito de forma lúdica na maioria dos casos, a astrologia, apesar de milenar, desperta um interesse mais sério pelo universo astrológico no século 21. Em busca de entender o recente aumento do interesse pela astrologia e as consequências do tema ter viralizado, o LeiaJá entrevistou especialistas e entusiastas da temática.
Há milênios, o homem mantém uma relação com o cosmos e os ciclos celestes eram tidos como fortes influentes dos acontecimentos terrestres. O imaginário, o sagrado e o céu eram pilares que norteavam a vida humana, desde os povos mais antigos, como sumérios, babilônios, caldeus, egípcios, assírios e gregos. Relatos de cerca de 4.200 a.C documentam que os primeiros escritos da astrologia e astronomia foram realizados no Egito. A primeira é uma ciência que estuda os movimentos dos astros, já a segunda é a explicação de como os astros influenciam os acontecimentos da Terra.
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No século 17, houve uma separação das duas formas de estudo. A astronomia ganhou força com o embasamento científico e as narrativas da astrologia foram rejeitadas por muitos anos, tanto pela ciência como pela religião. Nesse cenário, a astrologia de “previsões” passa a ser mais marginalizada e perde espaço. Por outro lado, após três séculos, a influência do estudioso Carl Gustav Jung em estudos astrológicos torna-se uma das formas de buscar sentido nas ações humanas. Os astrólogos, então, focam menos no que vai acontecer e mais nas qualidades, pontos fortes e fracos e a percepção da personalidade das pessoas.
O autoconhecimento e a astrologia
Atualmente, o crescente interesse das pessoas pela influência dos signos é apontado pela astróloga Eliane Caldas como uma consequência do aumento do acesso à internet pelas gerações mais novas e também pela passagem da "Era de Peixes" para a "Era de Aquário*". “A temática dos signos se destaca cada vez mais porque o conhecimento de tudo de uma maneira geral está sendo mais acessível e compartilhado nas redes. Além disso, a Era de Aquário propicia um entendimento do tempo de forma diferente”, explicou.
O psicólogo Alexandre Freitas, pesquisador do fenômeno da astrologia do ponto de vista da psicologia, pontua que o interesse pelos astros e signos cresceu com o advento das redes sociais e suas linguagens. Para ele, os memes, vídeos explicativos e as novas plataformas online de divulgação são pilares responsáveis por despertar a curiosidade, principalmente dos jovens. Mas, não só isso. O estudioso diz que tem crescido uma necessidade da humanidade de buscar respostas para questões fundamentais do autoconhecimento e do mundo.
“Quem eu sou? E quais aspectos me influenciam?”. Alexandre diz que essa busca pode ser encontrada nas possibilidades dos signos. “Acho que astrologia traz respostas prontas para essas questões existenciais. São pontos que todo mundo em algum momento se coloca”, disse. Para ele, a astrologia pode servir como um instrumento complementar e não como definição. "Ela toca nos pontos que psicologicamente atraem todos nós, que é descobrir um pouco mais de nós e a nossa essência", diz.
Seja em sites de paquera online, encontro de amigos, um flerte numa festa, o tema "signo" quase sempre está presente nas conversas. Leigos e pessoas que não acreditam na astrologia às vezes são encaradas como "não descoladas" porque não se interessam tanto pelo tema.
Para o estudante Paulo Correia, de 26 anos, que se considera um grande entusiasta da astrologia, o assunto se faz presente desde a infância. “O primeiro contato que eu tive com astrologia foi quando era criança e assistia aos Cavaleiros do Zodíaco. Mas por ser de família cristã sempre fui ensinado que essas coisas eram mentira”, relembra. Mais de dez anos depois, Paulo diz que o interesse pelo tema voltou com o acesso às redes sociais, como Twitter e Facebook. “Amigos me explicaram sobre mapa astral e o que significava alguns pontos. Quando cheguei em casa fiz o meu em um site e pesquisei bastante sobre. Fiquei muito surpreso”, conta.
A banalização da astrologia com os 'estereótipos'
Na internet, existem várias páginas no Facebook para tratar do tema e diversos sites para realizar o mapa astral, uma espécie de cartografia da posição dos astros e dos signos do zodíaco em relação à Terra no exato momento do nascimento de uma pessoa. No Recife, assunto não está só na web. O espaço Recanto do Ser, na Zona Norte, promove palestras mensais sobre os signos de cada mês. A casa também oferece atividades como yoga, meditação, psicoterapia, leitura de aura, Reiki, entre outros. Kamilla Rogge, palestrante do centro, também é diretora do documentário pernambucano "Qual é o teu signo? - Astrologia e Autoconhecimento".
Ela conta que passou a perceber o aumento do interesse das pessoas pelos signos em rodas de conversa, vídeos no YouTube e em outras plataformas. “No documentário, eu quis retratar um pouco a questão dos estereótipos com o aumento desse assunto. Porque sempre era uma forma de encaixar as pessoas em um rótulo. Quis trazer um pouco do motivo que a astrologia estava sendo utilizada como uma forma de estereotipar as pessoas”, explica.
Kamilla comenta que esses rótulos já estabelecidos de cada signo podem ser prejudiciais na busca pelo autoconhecimento, em alguns casos. “Algumas pessoas acabam se descobrindo e desconstruindo muitas outras ideias. Já outras, buscam se enquadrar no que já era dito e aí está o problema da banalização do tema”, diz.
De acordo com Alexandre Freitas, a astrologia caiu no gosto popular. Mas, para ele, o aumento da busca por respostas rápidas no zodíaco fez com que o assunto sofresse um processo de banalização, atualmente. “Hoje em dia, esse fenômeno não é olhado com cuidado. A partir do momento que as pessoas consultam previsões e textos genéricos de cada signo ou até do mapa astral, a complexidade do assunto acaba se perdendo, assim como a riqueza e as possibilidades desses instrumentos de análise”, lamenta.
O psicólogo Luiz Carlos Filho também enxerga a falta de cuidado com o tema, mas diz que apesar dos pontos ruins com a ausência de profundidade, a divulgação indevida serviu para disseminar ainda mais o assunto e isso foi algo positivo. Para ele, muitas pessoas puderam ter acesso ao assunto e conhecer um pouco mais sobre a história milenar da astrologia. “Hoje em dia, sem dúvida, se fala mais sobre astrologia do que antigamente. Talvez com o uso dos estereótipos, mas de certa forma, se fala mais do tema que já foi discriminado durante muito tempo”, garante.
Relacionar apenas o signo solar, referente ao dia do nascimento, a certo tipo de personalidade é um erro, na visão do psicólogo Luiz Carlos. “Acho perigoso a 'estereotipização'. É um caminho psicológico que acontece. A gente precisa colocar o outro em uma definição. Quando eu conheço uma pessoa, vou lá buscar na minha mente o arquivo que tenho sobre alguma característica dela. Mas, eu não posso estereotipar uma pessoa baseada no signo, isso é um erro. Ela não é só o signo solar, tem todo o mapa astral que pode dizer melhor quem ela é”, conclui.
Era de Aquário:
De acordo com a astrologia, os movimentos recentes que têm surgido, como os de desescolarização, consumo consciente, apoio ao empreendedorismo, à colaboração, à busca e realização de sonhos é responsabilidade da Era de Aquário.
A cada 2160 anos, o sol nasce na frente da constelação de um signo. Durante esse período, o planeta passa a ser regido pelas características de tal signo (o que caracteriza a sua era). Agora é a vez de Aquário.
Além desta “troca de era”, o mundo atravessa o período de encerramento de um ciclo de eras (já existiram eras de todos os signos). Isso só ocorre a cada 26 mil anos. As datas de início exato de cada variam de acordo com diferentes linhas de pensamento. A Era de Peixes começou em 498 D.C. e só termina em 2658 D.C., início da Era de Aquário.