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A chinesa State Grid confirmou o favoritismo e venceu a disputa pela linha de transmissão responsável pelo escoamento de energia da hidrelétrica de Belo Monte. A companhia apresentou uma proposta de Receita Anual Permitida (RAP) de R$ 988,030 milhões, o que representa um deságio de 19% em relação ao valor máximo exigido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que era de R$ 1,219 bilhão. O investimento estimado na construção da linha de transmissão é de cerca de R$ 7 bilhões.

A oferta dos chineses superou a proposta apresentada pela espanhola Abengoa, de uma RAP de R$ 1,049 bilhão, o que representava um deságio de 14%. Como a diferença entre as propostas ficou superior ou igual a 5%, a disputa terminou ainda na primeira fase. O consórcio formado por Eletronorte e Furnas, controladas pela Eletrobras, não apresentou proposta.

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O Leilão de Transmissão nº 7/2015, realizado nesta sexta-feira, 17, representa a licitação de um dos projetos de energia mais importantes do País. Serão 2.550 quilômetros de linhas de transmissão que cortarão os Estados de Pará, Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Além da linha, serão construídas duas subestações conversoras com 7.800 MW de capacidade instalada.

A State Grid, favorita da disputa, também é responsável pela construção da primeira linha de transmissão para escoar a energia de Belo Monte. O primeiro projeto foi leiloado no ano passado e enfrenta atrasos. Estimado inicialmente em cerca de R$ 5 bilhões, o projeto terá 2.100 mil km de extensão e capacidade para transmitir 4.000 MW. A proposta do consórcio formado por State Grid, Furnas e Eletronorte estabelecia uma RAP de R$ 434,647 milhões, o que representou um deságio de 38% em relação ao valor máximo de R$ 701 milhões estabelecido pela Aneel.

A chinesa State Grid, empresa que venceu o leilão para construir a principal linha de transmissão de Belo Monte, decidiu pegar um "atalho" para iniciar as obras e evitar atrasos no projeto de R$ 4,5 bilhões. O ‘Estado’ apurou que os chineses negociam com o Ibama uma autorização parcial ao empreendimento para instalar os canteiros de obra ao longo do traçado de 2.087 km de extensão da malha. Essa autorização driblaria a necessidade de conseguir, antes de qualquer tipo de intervenção, a licença de instalação do projeto, documento que efetivamente libera o início das obras.

O recurso foi usado em 2011 no licenciamento da hidrelétrica de Belo Monte, em construção no Rio Xingu, no Pará. O caso está na Justiça, em processo movido pelo Ministério Público Federal (MPF) do Estado, que alega a ilegalidade do instrumento. Apesar da polêmica, a medida é tida como indispensável pelo consórcio Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), formado pela State Grid (51%) e pela Eletrobrás (Furnas e Eletronorte, com 24,5% cada).

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Abertura de canteiros não é uma tarefa trivial em projetos desse porte. Previsto para ter até 15 mil funcionários no pico das obras, o linhão de Belo Monte vai abrir pelo menos nove canteiros, com até 100 mil m² cada um, áreas que incluem alojamento, escritório, refeitório, ambulatório, depósito e estruturas operacionais.

A estratégia foi confirmada pelo vice-presidente de operações e manutenção da State Grid, Ramon Haddad. Em nota, ele declarou que as localizações serão definidas "após a emissão da licença prévia (que atesta apenas a viabilidade ambiental do projeto) e antes da emissão da licença de instalação".

Com início no município de Anapu (PA), a 17 km de distância da hidrelétrica de Belo Monte, a linha da BMTE vai avançar por quatro Estados - Pará, Tocantins, Goiás e Minas Gerais -, até chegar a Estreito, na divisa de Minas e São Paulo. Trata-se da principal rota de escoamento de energia de Belo Monte para a região Sudeste do País.

A antecipação dos canteiros, na avaliação dos chineses, pode reduzir a pressão que eles já começam a sentir sobre o contrato assinado em junho do ano passado. O plano previa que a primeira autorização (licença prévia) do Ibama saísse em abril, para iniciar as obras em junho, quando seria emitida a licença de instalação. As chances dessas autorizações se confirmarem nesses prazos, porém, são pequenas, dada a complexidade do projeto.

A possibilidade de utilização de trabalhadores chineses no empreendimento foi afastada por Ramon Haddad. "Neste projeto a mão de obra será brasileira, com total preferência para os trabalhadores locais, residentes nas proximidades das subestações e ao longo dos 2.100 quilômetros da linha de transmissão", declarou.

Para o procurador do MPF no Pará, Felício Pontes, caso o Ibama autorize a instalação dos canteiros antes da licença de instalação, o empreendimento pode ser alvo de um processo judicial. "Essa licença parcial não existe no direito ambiental. Não podemos nos omitir diante de uma ilegalidade tão grande", comentou. No processo movido contra a hidrelétrica de Belo Monte por conta da mesma estratégia, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região chegou a deferir a ação do MPF, mas o presidente do TRF suspendeu os efeitos da decisão, até que seja julgado o mérito do caso, o que ainda não ocorreu, segundo o MPF.

Espanhóis. Bem mais preocupante que o projeto dos chineses é o empreendimento da espanhola Abengoa. Dona do chamado "linhão pré-Belo Monte", rede que vai distribuir energia da usina pelo Nordeste, a Abengoa assumiu o compromisso de entregar uma rede de 1.854 km de extensão em fevereiro do ano que vem, mas as obras ainda não começaram.

Terceira maior companhia da China e maior elétrica do mundo, a State Grid tem planos ambiciosos para crescer no Brasil. Em entrevista exclusiva ao 'Broadcast', serviço em tempo real da 'Agência Estado', o presidente da estatal chinesa no Brasil, Cai Hongxian, revelou a meta de investir US$ 10 bilhões no setor elétrico brasileiro até 2015. "É uma meta agressiva", reconheceu. Além de consolidar sua base de ativos no segmento de transmissão, a estratégia inclui crescer em geração e distribuição de energia, com aquisição de ativos e desenvolvimento de novos empreendimentos.

Os chineses não estão dispostos, no entanto, a fazer qualquer tipo de negócio no Brasil. Segundo Hongxian, as oportunidades de investimento identificadas aqui são levadas para apreciação da diretoria na China e competem com projetos ao redor do mundo. "Não somos malucos e nem investimos sem nos preocupar com o retorno dos projetos", afirmou o executivo, negando a influência do governo chinês na estratégia no Brasil.

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A expansão no Brasil integra um plano maior, de crescimento internacional. Até agora, a chinesa investiu em torno de US$ 16 bilhões em ativos no exterior, adquirindo participações em empresas de países como Portugal e Austrália. Na China, a companhia fornece energia para 1,1 bilhão de pessoas e teve faturamento de US$ 307,9 bilhões em 2012.

Hoje, o Brasil é a maior operação internacional da empresa, com receita de R$ 632 milhões e ativos avaliados em R$ 6,88 bilhões ao final de 2012. A State Grid detém 12 concessões de transmissão e está presente em outras quatro, com 51% de participação. A companhia surpreendeu especialistas logo que entrou no País, comprando sete linhas de transmissão da espanhola Plena Transmissora, no fim de 2010. Hoje, administra uma rede de 6,7 mil quilômetros e está construindo mais 3,9 mil km arrematados em leilões.

Para crescer no Brasil, a companhia considera tanto adquirir ativos em operação como disputar leilões de geração e transmissão. Em geração, Hongxian revelou o interesse em investir em projetos hidrelétricos e eólicos. "Não queremos empreendimentos de pequeno porte", disse. Nesse contexto, a companhia tem planos de disputar as concessões das hidrelétricas São Manoel e Itaocara, que o governo pretende licitar no leilão de energia nova marcado para dezembro.

A State Grid também já está preparada para disputar o leilão da transmissão de Belo Monte (PA). "São projetos como esse que nos fazem estar aqui", disse. O governo federal ainda não definiu uma data, mas planeja licitar o primeiro tronco do sistema de transmissão de Belo Monte ainda no início de 2014. Segundo Hongxian, a State Grid tem experiência na transferência de grandes blocos de energia entre regiões distantes.

A companhia é líder mundial em linhas de transmissão em ultratensão em longas distâncias e desenvolve projetos com essa tecnologia há mais de cinco anos, o que a credencia para a disputa da transmissão de Belo Monte. Na China, os principais negócios da companhia são justamente os setores de transmissão e distribuição de energia elétrica.

A expectativa do mercado é de que o próximo grande negócio no setor de distribuição no Brasil seja uma possível venda das distribuidoras federalizadas sob a gestão da Eletrobrás. Hongxian sinalizou o interesse da State Grid pelos ativos, mas ponderou que se trata de uma oportunidade de investimento complexa. "Essa é uma decisão muito difícil. Se para a Eletrobras já é difícil gerenciar esses ativos, diria que seria muito difícil para uma companhia chinesa lidar com isso."

Parcerias. Embora tenha capacidade financeira para tocar projetos sozinha, a State Grid planeja firmar parcerias com empresas brasileiras. Nos leilões de transmissão que venceu, a companhia teve como parceiras Copel e Furnas. Essa aproximação tem como objetivo compartilhar tecnologias e facilitar a resolução de questões locais, como licenciamento ambiental. Nem a morosidade do processo decisório das estatais no País diminuiu o apetite da empresa. "Somos uma estatal na China e sabemos como isso funciona", brincou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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