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Acostumado a se reunir diante de uma mesa para construir histórias, interpretar diferentes personagens e ter um mestre para administrar as narrativas, um grupo de amigos levou a paixão pelo Role-Playing Games (RPG) a sério e decidiu criar suas próprias aventuras com o jogo "Arcânia - Terra Plana".

Desenvolvido pelo professor de artes marciais e yoga Marconi Costa, 35 anos, e pelo jornalista Thiago Croft, 34 anos, ambos do Rio de Janeiro, "Arcânia" traz referências dos games e animes dos anos 1980 e 1990, e também da literatura, com o universo mitológico de J. R. R. Tolkien (1892-1973). Os criadores fazem parte de um grupo que iniciou projetos no ensino médio, época em que jogavam "Dungeons & Dragons" e "Reinos de Ferro", entre outros.

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Na história de "Arcânia", que segundo os criadores nada tem a ver com a teoria terraplanista, os heróis aventuram-se por terrenos perigosos e enfrentam criaturas místicas em um cenário em que magos voam pelos céus e travam perigosos combates. Diante desses conflitos, a sociedade briga por poder, cercados de luxúria, traição e em alguns momentos, honra. O jogador deve gerenciar o personagem que se encontra ao redor dessa disputa.

O jogo dispõe de 13 raças, 20 classes, diversas habilidades, magias e monstros, e descrição de mundo. "Apesar de ser um cenário de aventura fantástica, buscamos um mínimo de veracidade e realismo ficcional. Então podem esperar batalhas sangrentas e mortais, magias poderosas e dons psíquicos tão avassaladores, senão mais", afirma Croft.

Os criadores do RPG "Arcânia", Marconi Costa (à esq.) e Thiago Croft | Foto: Arquivo Pessoal

Assim como diversos seguimentos culturais, os autores de livros RPGs também enfrentam desafios para lançar esse tipo de produto no Brasil, a começar pelo preço de custo e oferta ao consumidor final, que são cada vez mais elevados. Isso contribui para a pirataria, que também é difícil de ser combatida. "Em um grupo de RPG no WhatsApp estou sempre divulgando o livro, e chegou ao ponto de ser chamado no privado para saber se eu tinha o PDF para passar. A pessoa ficou claramente sem graça quando eu disse ser um dos autores e ter passado o link para compra do mesmo", lembra Croft.

Outro problema é o baixo hábito de leitura dos brasileiros, que é essencial para jogadores de RPG de mesa. "Participo ativamente de grupos e fóruns de RPG e vejo jogadores perguntando se precisa ler, se tem resumo, se tem vídeo. Fazemos parte de um nicho que ainda lê, mas pouco a pouco este hábito vem diminuindo", relata o jornalista. Segundo ele, a preferência do brasileiro pelo material internacional e o preconceito pelas obras nacionais faz muitos julgarem o conteúdo sem ao menos avaliá-lo.

Para o futuro, o grupo planeja mais conteúdo para "Arcânia", que virá em um livro focado no mundo, diferentes reinos, clima, características das pessoas que compõem aquele universo, aspectos culturais, possibilidades de novas aventuras e novas raças. "Paralelo a isso, estamos separando todo um material voltado para os jogadores, com novos caminhos para as classes que de 20 pulará para 80. Além de talentos de prestígio, novas utilizações de perícias e novas magias", descreve Croft. O material também adicionará novos grupos de monstros e criaturas para aumentar as possibilidades de mestres e jogadores.

O guia básico do "Arcânia - Terra Plana" é distribuído pela Editora Kimera, e o projeto também conta com a colaboração de Raphael de Oliveira e Osmar Freitas, nas artes e cores da capa. Nas artes internas, além da participação dos autores, também contribuíram Marcello Buzon, Oliveira e Victor Vieira, que também ficou responsável pelo design de fichas.

A partir da próxima segunda-feira (19),  das 10h até o dia 23 de outubro, será realizada a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, evento que busca integrar o País inteiro em atividades de popularização da ciência.

Em Pernambuco, o Espaço Ciência - Museu Interativo de Ciência/SECTI-PE coordena as ações da semana, auxiliando polos de atividades (instituições de ensino, prefeituras e Gerências Regionais de Educação) que têm programações próprias, mas participarão de ações integradas. Em uma delas, os participantes vão reproduzir o experimento realizado pelo grego Eratóstenes para medir a circunferência da Terra 2 mil anos atrás, provando que o planeta não é plano. Há mais de 2 mil anos, Eratóstenes percebeu que, no solstício de verão, na cidade de Siena (Itália), o sol estava exatamente em seu ponto mais alto e uma pessoa em pé não projetava sombra. Mas na cidade de Alexandria, nessa mesma data e horário, havia sombra, o que só é possível pois o planeta Terra é esférico. 

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Para calcular a circunferência terrestre, ele mediu a distância entre Siena e Alexandria e realizou alguns cálculos geométricos. Durante a SNCT, ao meio-dia, haverá pessoas medindo a altura da sombra projetada por uma haste em diversos pontos para cruzar os dados obtidos, fazer cálculos matemáticos e comparações entre locais situados no mesmo meridiano, chegando a medidas bem precisas. As atividades serão remotas.

Outras atividades

Além do experimento de Erastótenes, haverá uma atividade unificada de monitoramento da poluição luminosa e criação de painéis. As constelações de Pégasu ou Grou serão observadas a partir de diferentes regiões do Estado, com registro de suas condições de visibilidade em formulário. Com esse mapeamento, será possível ter um cenário da poluição luminosa em Pernambuco que poderá ser utilizado para elaborar políticas públicas. 

Cada polo de atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia também criará painéis inspirados na obra “A Escola de Atenas”, de Rafael Sanzio. A ideia é identificar e valorizar as personalidades que fazem a diferença em cada cidade, como artistas, cientistas, educadores e ativistas. 

A pintura original de Sanzio é um afresco de 7,70m de base e 5,70m de altura com 56 personagens de grande importância na história do conhecimento Ocidental, a exemplo de Platão, Aristóteles, Sócrates, Pitágoras, Euclides, Heráclito, Zoroastro, Ptolomeu. Os participantes da SNCT terão liberdade de escolher o número de homenageados que desejar e a maneira de compor o trabalho artístico. Todas elas serão compartilhadas no site e redes sociais do Espaço Ciência durante o evento.

“Com as criações de cada polo, conseguiremos montar um painel unificado que valoriza e homenageia aqueles que fazem a diferença em nosso estado”, afirma o diretor do Espaço Ciência Antonio Carlos Pavão.

"A minha única certeza é que eu vou morrer e que a Terra é plana", diz Ricardo, entrevistado em seu restaurante em São Paulo com mesas e cadeiras azuis "como o céu" onde se reúnem os "terraplanistas". 

O homem sexagenário não quer revelar seu nome completo e prefere soltar um riso forçado para abrir suas explicações. "Hahaha!... esta risada é a primeira reação que as pessoas têm quando você fala que é Terraplanista!", afirmou.

"Ficou polêmico demais, porque é verdade e há pressões... Porque tem um fundo de verdade, e isso desperta as pessoas", explicou.

Aqueles que estão convencidos de que a Terra é plana tendem a viver nas sombras, um tanto perseguidos, quase paranoicos. Eles se comunicam em grupos fechados do WhatsApp, no Facebook e especialmente no Youtube, onde seus canais são seguidos por dezenas milhares de pessoas.

Nesse inter-ser digital, o "terraplanista" pode compartilhar sua crença, divulgar suas experiências em física, ou óptica: a Terra é estacionária e plana - e isso está escrito em Gênesis.

"Nosso movimento cresceu muito a partir dos anos de 2016/2017. Hoje, no Brasil, estamos falando de mais de 11 milhões de pessoas que já entendem que a Terra é plana", diz Anderson Neves, um empresário de 50 anos presente no restaurante de Ricardo.

Esse é o número apresentado pelo instituto Datafolha, ou seja, 7% dos brasileiros. Uma comunidade, cujos membros são principalmente homens, em geral crentes - católicos e evangélicos -, e relativamente sem instrução.

Um movimento que tem como pano de fundo o conspiracionismo dessa era pós-verdade onde cresce sem complexos, e especialmente dos centros de poder em Brasília, um discurso anti-intelectual, anticientífico e negacionista em relação ao clima.

Anderson Neves exibe um panfleto contra os três grandes "mistificadores" Newton, Darwin e Copérnico. Ao seu lado, uma maquete de uma Terra plana como um disco, coberta por uma cúpula transparente incluindo o Sol e a Lua, de tamanhos iguais.

- Os gregos já sabiam há 2.000 anos -

"Quando olhamos para o horizonte, quando vamos para uma montanha e tiramos fotos, vemos que (a Terra) é sempre plana e nunca curva como os livros científicos afirmam", continua Neves, segurando um instrumento de nivelação.

Para os "terraplanistas", se a Terra estivesse em movimento, sua rotação de 1.700 km/h para o Equador faria com que tudo voasse para longe. Se fosse esférica, veríamos sua curvatura de um avião.

"Para perceber a curvatura, seria necessário o dobro da altitude de um voo comercial, a 20.000 metros", explicou à AFP Roberto Costa, astrônomo da Universidade de São Paulo (USP).

"Sabe-se que a Terra não é plana, seguramente, desde Galileu, desde o começo do século XVII, mas os gregos já sabiam isso há mais de 2.000 anos", acrescenta o cientista.

"Os argumentos invocados para argumentar que a Terra é plana são muito fracos", ressalta. "O pêndulo de Foucault, o nascer do Sol e da Lua são evidências da rotação da Terra", completou.

Para os cientistas, o terraplanismo" é mais "uma brincadeira, nos parece muito mais uma questão a ser tratada por psicólogos e por sociólogos, porque, para os astrônomos, a forma da Terra não é um problema científico", conclui.

- Torre Eiffel pendida -

No entanto, a teoria da Terra plana penetrou nos portões do poder, onde o influente guru do presidente Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho, um ex-astrólogo, tuitou: "Só assisti a uns vídeos de experimentos que mostram a planicidade das superfícies aquáticas, e não consegui encontrar, até agora, nada que os refute".

Igualmente exilado nos Estados Unidos, onde os "terraplanistas" são numerosos e onde um deles morreu no domingo ao tentar voar num foguete caseiro, Afonso de Vasconcelos é um caso único de um doutor em geofísica da prestigiada Universidade de São Paulo a acreditar em uma Terra plana.

Seu canal no YouTube "Ciência da Verdade" possui 345.000 inscritos. Também faz sucesso no YouTube Siddhartha Chaibub, um dos organizadores da convenção que reuniu várias centenas de "terraplanistas" brasileiros, a primeira do gênero, em novembro de 2019 em São Paulo.

Principal alvo desses conspiracionistas: a Nasa. Para eles, a agência espacial americana manipula suas imagens de satélite. "O homem nunca chegou na Lua, foi uma montagem", assegura Ricardo em seu restaurante. E "você já viu a Torre Eiffel de lado em imagens de satélite?".

Com seu instrumento de nivelação ainda em mãos, Anderson Neves conclui: "os terraplanistas são os mais inteligentes. Pode escrever!".

Michael 'Mad Mike' Hughes, de 64 anos, morreu nesse sábado (2) depois do lançamento do foguete que ele próprio fabricou. A queda da plataforma aconteceu na Califórnia, nos Estados Unidos. O americano era conhecido por defender que a Terra é plana. Ele prometia provar sua teoria por meio do foguete a vapor construído em um jardim com o auxílio de um amigo.

Segundo informações da imprensa internacional, o homem foi alçado a uma altura de mais de 1,5 km, porém, o paraquedas de segurança teria falhado. A emissora pertencente ao grupo Discovery Channel, que pretendia acompanhar o lançamento, confirmou o acidente em sua conta no Twitter.   

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“Michael 'Mad Mike' Hughes faleceu tragicamente hoje, durante uma tentativa de lançar seu foguete caseiro. Nossos pensamentos e orações vão para sua família e amigos durante este período difícil. Sempre foi o sonho dele fazer este lançamento e o Science Channel estava lá para narrar sua jornada”, informou a empresa de comunicação em seu Twitter.

O americano chegou argumentar à imprensa que almejava fazer com que seu foguete subisse 1,5 km acima do nível do mar, em uma tentativa para provar que a Terra não é redonda. Ele acreditava que o planeta possui um formato de disco voador.

O Brasil deve ter a sua primeira Convenção Nacional da Terra Plana. O evento está marcado para o dia 23 de novembro, no Auditório Pinheiros, em São Paulo, e reunirá 12 palestras com os homens terraplanistas.

O jornalista Jean Ricardo, terraplanista desde 2015, é o organizador do evento. "Percebi a necessidade de se criar um encontro entre todos aqueles que acreditam viver numa Terra plana. A ideia veio amadurecendo ao longo dos anos e, após alguns eventos serem realizados em outros países, vi que esse era o momento do nosso país sediar sua primeira convenção sobre o assuto", conta.

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Segundo Ricardo, todos que buscam provar a teoria são pesquisadores independentes das áreas da engenharia, química, direito, comunicação e da geofísica. "A Terra plana já foi comprovada por meio de diversos testes empíricos realizados pelos palestrantes. Esse conteúdo pode ser encontrado em seus respectivos canais de vídeos [na internet]. Temos mais de 200 provas que a Terra é plana", afirma.

Mais informações obre o evento na página Terra Plana Brasil no Facebook.

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