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O som das buzinas se distancia, o vento começa a circular com mais liberdade e o aspecto cinzento de concreto dá lugar ao verde vivo e fluido. Após pouco menos de uma hora trafegando, o caos urbano perde espaço para a natureza e a poluição visual é quase nula. Saindo do Recife e seguindo pela BR-408, na altura do quilômetro 80 da rodovia, no município de Paudalho, na Mata Norte de Pernambuco, fica localizada o condomínio “Vilaverde Turmalina”, ainda em fase de construção.

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A vila pretende se tornar uma experiência concreta inédita no Brasil e uma das poucas em atividade no mundo. "Queremos ser uma comunidade vivendo numa cidade utópica, imaginada coletivamente por anos, aliando responsabilidade, tecnologia limpa e sustentabilidade. Ambicionamos viver o 'bom' dos 'velhos tempos' agora", diz a propaganda. A 40 quilômetros do Recife, o projeto de moradias sustentáveis promete soluções urbanísticas e tecnologias em benefício do coletivo, sem abrir mão da consciência ambiental.

Ao todo, o terreno do condomínio ocupa uma área de hectares, onde serão construídas as residências, apartamentos para aluguel, áreas de lazer e espaços de convivência, centro de formação, pólos clínico/médico e de comércio e serviços, acomodações temporárias (albergues/pousada), produção de alimentos própria, priorizando práticas orgânicas e biodinâmicas. Inicialmente, eram cerca de 300 lotes disponíveis para venda, mas restaram 190. Cada lote tem em média 600m². O preço do m² é do terreno é de R$ 280.

Salas de aula da Waldorf Rural, dentro do condomínio Vilaverde Turmalina. Foto: Paulo Uchôa/LeiaJáImagens

A ideia do condomínio nasceu através de familiares e amigos da comunidade escolar Waldorf Recife, instituição de ensino que propõe que vivência deve preceder a teoria, tendo o conteúdo curricular ajustado para que haja uma identidade entre o que o aluno vive e o que deve aprender. O Vilaverde Turmalina foi a consequência de uma busca por um espaço que pudesse alocar a estrutura de uma escola rural que preza pela pedagogia do fazer em que os alunos pudessem ter contato com a natureza.

"Queríamos uma Waldorf Rural. A ideia era a aquisição de um novo terreno em que a gente não pagasse aluguel. O Recife passou por um boom imobiliário e fomos obrigados a nos afastar do raio principal das pessoas. Procuramos imóveis em Paulista, Olinda e até São Lourenço da Mata. Mas, apenas em 2015, chegamos a esse terreno em Paudalho. Percebemos que era um local muito propício para desenvolver o que a gente gostaria. Seriam dois hectares para doar a escola plena. Essa era a nossa meta, mas a gente se adequou aos espaços que encontramos em nossa busca", conta Jane Matsui, uma das gestoras e idealizadoras da vila.

Imagem aérea de parte do terreno da vila e um mapa projetado para mostrar a divisão das áreas do condomínio. Foto: Divulgação

Em 2015, ao localizar o terreno em Paudalho, o grupo de gestores da Waldorf percebeu que 93 hectares era um número muito maior do que o esperado, já que com apenas dois a escola poderia sair do papel. Mas, Jane conta que o condomínio passou a ser pensado para ocupar o restante do espaço já que o potencial, para eles, era enorme. "Com o apoio de parcerias e financiadores, conseguimos arrecadar o valor necessário para pagar as primeiras parcelas do terreno e negociamos o restante para que fosse pago com a venda dos lotes", explicou Matsui, que também é mãe de dois filhos da Waldorf Rural.

A vila é cortada por um riacho, possui três açudes, vegetação rica, hortas, animais no pasto, sistema de tratamento de esgoto próprio, aproveitamento e reuso de água, racionalização do descarte do lixo tecnologias sustentáveis de energia e uma série de ambições para se tornar um modelo a ser seguido pela sociedade. De acordo com os idealizadores, o projeto arquitetônico da vila foi aprovado pela Prefeitura de Paudalho e Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) em novembro de 2016.

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"Os sistemas serão integrados ao paisagismo, conferindo ao Vilaverde Turmalina não só conforto e qualidade de vida, mas sustentabilidade ambiental, além de pioneirismo nessa forma de pensar a ocupação da terra. O condomínio residencial é uma das muitas iniciativas possíveis de coexistir nesse espaço privilegiado, formando um 'ecossistema', cujo maior desafio é equilibrar autossuficiência e interação com seu entorno", diz um trecho do projeto.

A comum troca do campo pela cidade em busca de mais oportunidades de trabalho sempre foi uma opção comum no Brasil. Mas, nos últimos anos, famílias cansadas da desgastante rotina da cidade grande têm feito o caminho inverso, buscando mais qualidade de vida e contato com a natureza.

Apesar de mais de 80% dos brasileiros morarem na zona urbana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o êxodo rural para a cidade diminuiu nas últimas décadas. Entre 2000 e 2010, apenas cerca de 2 milhões de pessoas deixaram a zona rural, metade da quantidade da década anterior.

É o caso da família de Rosângela Barbosa, que migrou da capital pernambucana para Paudalho e foram os primeiros moradores do Vilaverde Turmalina. Ela, o marido Rinaldo, policial aposentado e a filha Renata agora ocupam uma casa provisória logo na entrada da vila, enquanto não constróem no terreno que compraram. O casal explica que qualidade de vida foi um ponto chave na decisão e que passaram por vários bairros no Recife antes de rumar à Mata Norte de Pernambuco.

Os problemas constantes com trânsito, violência, falta de tempo por causa da dinâmico da metrópole são lembranças dos quais Rosângela quer distância. Morando há mais de um ano na vila, sua filha que estuda na escola Waldorf, e o marido dizem respirar um ar mais puro e voltar à cidade é uma pergunta com resposta óbvia. “Não”, diz a moradora. Para ela, não há comparação. Ela planta, colhe, cuida da casa e vende sacolés aos alunos para ajudar na renda.

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