Operadoras e bancos unidos para fortalecer pagamento móvel
Cada vez mais, o celular ganha importância no cenário nacional. Hoje, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), já são 247,2 milhões de aparelhos ativos no País, mais de 126,45 dispositivos por cem habitantes. Agora, a promessa é que ele ganhe destaque na realização de pagamentos.
Na última semana, o governo sinalizou o desejo de implementar um sistema em que o celular funcione como cartão de débito para pequenas compras e deverá usar as mensagens de texto para realizar a operação. Uma lei será proposta para definir a modalidade de pagamentos pelo celular e ampliará o número de brasileiros com conta bancária, especialmente os de baixa renda, e vai ainda incrementar o uso de dispositivos móveis.
De acordo com pesquisa global realizada pela consultoria KPMG International, o mobile payment será o sistema mais utilizado no momento da compra em até quatro anos. De olho nesse quadro, operadoras e bancos nacionais estão-se movimentando e estabelecendo alianças para mergulhar nesse mundo.
Em setembro do ano passado, o Banco do Brasil e a Oi uniram-se para oferecer o cartão de crédito Oi, que pode ser utilizado como cartão tradicional ou via celular. A funcionalidade usa máquinas da Cielo e a plataforma da Paggo.
Segundo Gabriel Ferreira, diretor de produtos financeiros da Oi, os serviços começaram a ser ofertados em Pernambuco e já estão presentes, hoje, em todo o Nordeste. A partir de abril deste ano, chegará ao Sudeste e ao final do terceiro trimestre, em todo o Brasil. O executivo não revela os números da ação, mas afirma que a demanda pelo produto está 20% acima do planejado pela operadora e que cerca de 1,2 milhão de máquinas da Cielo aceitam a forma de pagamento.
“Também está no forno um segundo produto semelhante que terá a função plástico, tradicional, e cartão pré-pago. Será possível, por exemplo, fazer transferência entre celulares via texto para pagar contas, fazer recarga de aparelhos com o dinheiro ou sacar o valor enviado no Banco do Brasil”, explica Ferreira. Ele diz que esse tipo de tecnologia é mais segura do que os cartões com chip e tem potencial de expansão.
Rogerio Signorini, diretor de Inovação da Cielo, adianta que esse serviço será lançado ao final deste mês e estará disponível nos terminais já habilitados para uso do serviço anterior. “É o tipo de produto adequado para vendedores de porta em porta ou profissionais liberais, porque eles vão permitir mais uma forma de pagamento para os clientes. Como resultado, vão melhorar as vendas”, observa.
Os executivos da Cielo e da Oi afirmam que as empresas já têm projetos de Near Field Communication (NFC), tecnologia que permite que o usuário aproxime o celular em um dispositivo, que funciona como máquina de cartão de crédito. “A plataforma tem seu tempo de maturação. Acredito que daqui cinco anos será comum esse tipo de pagamento”, opina o diretor de produtos financeiros da Oi.
A Oi, por exemplo, faz parte de um grupo de estudos, liderado pela GSMA [entidade que representa os interesses das operadoras de comunicações móveis em todo o mundo] que tem o objetivo de padronizar soluções e estimular o lançamento de operações comerciais do NFC no Brasil. “Estamos de olho no futuro”, sintetiza Ferreira.
Signorini aponta que a empresa fez testes com a plataforma há dois anos e está pronta para atuar no setor quando o mercado estiver avançado. “Trata-se de uma questão de acesso à tecnologia e ainda tem a questão cultural”, opina. “Entendemos que o celular vai estar no centro de convergência de tudo. O futuro do pagamento é interligado e queremos estar à frente”, completa. Sobre a regulamentação da modalidade, ele acredita que será benéfica para o segmento e que a formalização traz inúmeros benefícios e pode impulsionar o modelo.
Ferreira concorda e vai além ao dizer que para viabilizar a entrada da população de baixa renda no setor é preciso estabelecer normas e padrões para garantir a precificação adequada e ainda criar mecanismos para assegurar a proteção, evitando, por exemplo, a lavagem de dinheiro.
Mobile payment também vai entrar na estratégia da Claro. A operadora informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que estuda modelos de negócios para oferecer, de forma segura, simplificada e convergente os serviços de pagamento móvel ao usuário de celular. Além disso, a empresa acredita na popularização desse serviço e que isso será possível quando ganhar escala no mercado nacional.
Segundo nota enviada pela assessoria, atualmente a operadora relaciona-se com vários segmentos de mercado como instituições financeiras, operadoras de cartões de crédito e fabricantes de aparelhos para viabilizar projetos na área de meios de pagamento pelo celular. Desde outubro de 2009, a Claro disponibiliza, em parceria com a Wappa Táxi, empresa de pagamentos e gerenciamento de despesas por meio do celular, solução para pagamento de despesas corporativas com táxi, instalado diretamente no chip do aparelho celular do usuário.
A TIM afirma também que está acompanhando as discussões da regulamentação do mobile payment e irá colaborar com o Ministério das Comunicações para que o serviço seja implementado no Brasil o quanto antes, com regras justas e que beneficiem clientes, operadoras e instituições bancárias.
Ao que tudo indica, mobile payment ainda tem um longo caminho a percorrer para fisgar o mercado nacional e tornar-se referência assim como o Japão, que utiliza a tecnologia catracas de trens e metrôs, máquinas de refrigerantes, tickets de lazer, pagamentos de restaurantes e lojas de conveniência. Mas os primeiros passos foram dados.