Tecnologia pode ser aliada no desenvolvimento infantil
Nativos digitais exigem cuidados dos pais e atenção da escola
Não é uma cena incomum vermos crianças utilizando celulares e computadores com mais propriedade que os pais. Os chamados nativos digitais possuem familiaridade com a internet, redes sociais e equipamentos como tablets e smartphones. Por sua vez, os responsáveis ficam na dúvida se devem ou não dar liberdade na utilização desses equipamentos para crianças.
Porém, o contato precoce com itens tecnológicos não é algo exclusivo de nossa realidade atual. Anteriormente muitos pais tinham computadores e seus filhos tinham contato com as máquinas por causa disso. O que temos é uma popularização de equipamentos do tipo, e, claro, uma inovação, fruto do avanço tecnológico na área, com a chegada de tablets e smartphones.
Um bom exemplo de crianças que crescem tendo contato com produtos tecnológicos são os filhos do radialista Adriano Roberto, de 51 anos. Adriano sempre teve interesse em jogos e computadores. Montou o primeiro PC há 17 anos, quando nasceu seu primeiro filho, Matheus. O radialista conta que já teve 8 computadores e atualmente possui 4 notebooks, 2 desktops e 2 tablets. "Os que eu mais gosto são o Macbook Air e meu novo iPad" conta Adriano.
Em relação aos filhos, Matheus de 17 e Paulo Antônio de 3 anos, Adriano fala que sempre se preocupou em eles terem contato com gadgets. " Matheus não vive sem computador. Ele não gosta muito de tablet, mas possui um notebook e um desktop", conta. Já em relação ao pequeno Paulo, o radialista afirma que a criança tem uma familiaridade enorme com o tablet da Apple, o iPad. "Eu deixava o iPad de bobeira e quando o Paulo tinha 7/8 meses notei que ele começava a mexer razoavelmente bem no iPad". Paulo era tão esperto utilizando o iPad, que o pai não resistiu e filmou o desempenho do filho e postou no Youtube. O vídeo você confere abaixo:
Questionado sobre o que percebe de diferente entre a utilização de um desktop como primeiro "instrumento tecnológico" de uma criança e um tablet, Adriano afirma que com o último acha aprendizagem e o domínio, com as devidas proporções, mais rápido e simples. "Mas ainda considero a utilização de desktop fundamental, principalmente para educação", conclui Adriano.
iPad
Utilizar um computador ainda é complicado para uma criança mais nova. A interface gráfica complexa, o mouse e o teclado ainda são estranhos para a maioria, mas o iPad e a maioria dos aparelhos com touchscreen são facilmente utilizados pelos pequenos.
Em relação aos benefícios ou malefícios que o gadget pode trazer às crianças, ainda é muito cedo para se chegar a uma conclusão. Segundo pesquisadores entrevistados pelo Wall Street Journal, em média ainda irá demorar de três a cinco anos para que estudos sejam concluídos.
Pesquisas que mostrem os efeitos do tablet sobre as crianças serão muito úteis para os pais, já que, pelo menos, nos Estados Unidos, 39% das crianças entre 2 e 4 anos e 59% entre 5 e 8 já usaram um iPad.
Escola
Segundo Terezinha Cysneiros, diretora pedagógica do colégio Apoio, a curiosidade é algo inerente às crianças. "Há tempos atrás descobertas se davam de outra forma, sem muita ajuda de tecnologia. Hoje, crianças estão buscando novidades em meios móveis como smartphones e tablets".
A educação é um dos fatores que mais preocupam os pais no que diz respeito ao uso de gadgets pelos filhos. "Será que ajuda no desenvolvimento ou atrapalha a atenção?", se questionam alguns.
É inegável que hoje a internet é um fator fundamental no auxílio de tarefas escolares. Nesse momento os gadgets entram como fator de apoio.
A diretora pedagógica também levanta um questionamento que também é dúvida de alguns pais: o possível sedentarismo e a possível falta de contato com outras crianças inerentes à brincadeiras infantis. "Antes tinha a rua, o contato com outras crianças, algo que ajudava no desenvolvimento. Hoje a curiosidade das crianças a levam ao ambiente virtual", afirma. A educadora também alerta para os cuidados necessários. "É preciso buscar a socialização com atividades lúdicas. Na convivência entre iguais, crianças apreendem conceitos importantes que serão levados na vida como socialização, estratégicas, capacidade de argumentação e regras".
Porém, para a Terezinha Cysneiros as crianças se enriquecem intelectualmente com a utilização de tecnologia na educação. “As crianças se enriquecem com as novas mídias. Mas, os pais devem se preocupar com a equivalência da idade da criança com as ferramentas que a mesma utiliza. Por exemplo, crianças com menos que 13 anos não podem ter perfil no Facebook”, alerta.
A educadora tem experiência na aplicação de novas tecnológicas, o Colégio Apoio, onde trabalha com coordenadora Pedagógica, professores utilizam lousas interativas e há ambiente Wi-Fi disponível para alunos. “Também trabalhamos desde 1998 com robótica, atividade que tem se mostrado importante no desenvolvimento dos alunos”. Inclusive o Apoio é vencedor de diversos prêmios mundial na área de robótica, um ótimo resultado para o investimento.
A coordenadora pedagógica também fala sobre a necessidade das escolas de adaptarem as novas necessidades das crianças juntamente com os pais. “Escolas têm que se preparar para oferecer um ambiente adequado para o desenvolvimento de alunos e professores, principalmente os que já têm familiaridade com itens tecnológicos”, conclui Terezinha.
Hábitos
Crianças estão tendo cada vez mais cedo contato com a internet e a tudo de positivo e negativo que ela oferece. Porém, a supervisão dos pais é extremamente importante para evitar qualquer problema para a criança ou adolescente. A pesquisa TIC Kids Online Brasil, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) realizou 1.580 entrevistas com crianças/adolescentes de 9 a 16 anos e o mesmo número de pais. O resultado mostra que a frequência de uso da internet é elevada na faixa etária de 9 a 16 anos - 47% utilizam a internet quase todos os dias ou todos os dias. E não é apenas em casa que as crianças encontram locais para acessar a web. 42% utilizam na escola, 40% em suas residências, 35% em lan house e 18% através de smartphones ou tablets.
A pesquisa também oferece uma visão do que a criança faz na web. Entre as mencionadas, 82% utilizam a web para fazer trabalhos escolares, 68% para redes sociais, 66% para assistir vídeos no Youtube e 54% para jogar online. As crianças brasileiras são as que ficam mais tempo em frente ao computador conectadas à internet no mundo. Em maio deste ano, os internautas entre dois e 11 anos permaneceram em média 17 horas navegando na web.