A tão sonhada promoção pode virar pesadelo
Especialistas em Recursos Humanos alertam que a mudança de cargo, quando não é entendida da maneira correta, pode gerar inúmeros problemas
A busca por uma promoção no ambiente de trabalho é um dos maiores desejos de profissionais em diversas empresas. A ascensão de carreira, muitas vezes, proporciona uma melhor remuneração mensal. Mesmo assim, funcionários quando conquistam a nova função podem encarar uma realidade que leva a uma situação diferente da esperada. O estresse das obrigações, responsabilidade, novos requisitos técnicos e de liderança atribuídas ao novo cargo podem levar ao esgotamento físico e emocional.
Francisco* é um exemplo em que subir de cargo na empresa pode ser uma experiência frustrante, quando não bem avaliada. O jovem de 22 anos, depois de almejar a mudança de cargo, viu que as atividades e a rotina de trabalho da nova função modificaram a sua percepção do sonho.
“Depois de dez meses como operador, tive duas promoções, a primeira para exercer a função de treinador e a segunda como supervisor. Essa última foi a mais desgastante de todo o processo. A minha rotina mudou completamente, quando antes tinha tempo para estudar e me dedicar a outras ações, com o novo cargo eu desenvolvi um quadro de estresse físico e psicológico muito forte”, explica. Trabalhando em uma empresa de telemarketing, ele pontua que a pressão colocada era muito maior do que pensava, mesmo tendo experiência parecida no treinamento.
Ainda de acordo com o jovem, o dia a dia não contribuia para uma boa relação entre familiares e amigos. “Eu estava sempre ligado às atividades da empresa. Era uma responsabilidade enorme liderar pessoas - eram cerca de 50 -. Mesmo tendo oito horas de trabalho diário, as obrigações passavam esse tempo e tinha que gerenciar a equipe mesmo fora da empresa, quando era solicitado via grupo de WhatsApp e afins. Esse quadro contribuiu para um distanciamento do meu vínculo social e da minha formação acadêmica”, conclui. Ele ainda destaca que graças às atribuições do novo cargo, desenvolveu ansiedade que, também, gerou o seu afastamento da empresa. Hoje, ele trabalha em uma entidade pública e se dedica à aprovação em um novo vestibular.
A experiência frustrada de Francisco abre uma discussão sobre a relação entre a promoção e as suas consequências. A sócia da Ágius RH, Georgina Santos, alerta para esse processo.
“Nem sempre a mudança de cargo é algo necessário. O profissional deve entender que existem outros caminhos para a uma boa posição na empresa, nem sempre subir é a solução. Mas quando acontecer, é primordial, antes de tudo, entender os riscos dessa mudança e, como consequência, visualizar a dinâmica da nova função e quais são as atribuições ligadas à ela”, pontua. Ainda de acordo com a especialista, é comum esses profissionais irem com "muita sede ao pote".
Quando receber a oportunidade, o funcionário deverá entender a função como um novo caminho profissional. Contudo, a promoção pode não ter volta, como alerta Georgina: “Antes de iniciar é primordial ter uma conversa com seu supervisor para repassar as atividades, entender a dinâmica e responsabilidades do cargo. Sem essa conversa, podem acontecer problemas no futuro”, pontua. Ela destaca que se houver o fracasso, a consequência maior vem para o profissional promovido.
Havendo fracasso, a promoção poderá virar um pesadelo e o dia a dia no trabalho terá um profissional desmotivado, pela carga de novas atividades ou por causa da frustração da nova função. A diretora da JBV Soluções em Recursos Humanos, Vanci Magalhães, salienta que essa problemática reflete em todo sistema organizacional do ambiente de trabalho. “Quando esse funcionário está insatisfeito, ele não atenderá às expectativas da empresa e nem dele próprio, quando questionará a sua posição e provocando prejuízos a todo sistema”, explica.
A insatisfação poderá levar a medidas extremas, como a solicitação de desligamento, que poderá ocorrer da empresa ou até mesmo do profissional. Para contornar essa possível atitude, além compreender a nova função antes de aceitar a oferta, o funcionário deverá se dedicar, buscando alternativas para driblar os problemas e se adequar à nova dinâmica.
Vanci ainda reforça que é imprescindível estabelecer o diálogo com os supervisores, mostrar-se claro nas intenções e não aceitar as decisões no impulso. Tudo deverá ser bem pensado para evitar um desligamento e problemas de saúde e emocional.
*Nome fictício utilizado para preservar a identidade da fonte
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