Habilidades além do currículo fazem profissionais híbridos

Pessoas que desenvolvem interesses em funções além das apresentadas no currículo são vistas como peças valiosas em processos seletivos

por Lorena Barros seg, 15/10/2018 - 09:29
Pixabay / Creative Commons Em alguns casos, intimidade de graduandos da área de administração com programação foi ponto crucial na hora da contratação Pixabay / Creative Commons

Na era dos “nativos digitais”, ser multifuncional é uma exigência irrestrita às tarefas básicas do dia a dia. Hoje, quem tem atribuições além das formalizadas no currículo pode ser estrategicamente selecionado por empresas em busca de profissionais diferenciados, popularmente conhecidos como profissionais híbridos. A lógica é simples: quanto mais diversificado for o funcionário, maior a troca de experiências entre ele e a marca.

Em alguns casos, o perfil de um profissional plural é procurado desde cedo. "Quando pensamos em estágio aqui, avaliamos muito mais o potencial das pessoas, o que elas já sabem, do que o diploma", explica Robertson Novelino, Head of Product da Vinta Software. Levando em consideração esse potencial, a empresa de tecnologia aderiu à equipe duas estagiárias oriundas do curso de administração, tradicionalmente “distante” do mundo dos códigos de computador. "A noção de programação delas foi mais interessante do que o fato de fazerem administração. Para a gente não é interessante que o estagiário entre, faça o trabalho e saia. A gente quer contratar ele depois", explica Robertson.

O processo seletivo que terminou na contratação das novas funcionárias foi feito por meio de uma conversa e uma equiparação de perfis. Um período de ambientação também foi necessário para a definição de cada função. “Hoje eu diria que meu trabalho é 90% de programação e 10% de consultoria”, conta Amanda Savluchinske, uma das selecionadas. A estudante conta que o curso de ciência da computação chegou a ser considerado como uma opção por ela na época do vestibular, mas foi logo substituído pela carreira seguida pelos pais. O desejo de programação, porém, nunca foi adormecido. “Antes de entrar na faculdade, o meu primeiro contato com a programação foi com html e css no tumblr. Quando vi que tinha uma empresa júnior de tecnologia na [universidade] federal não tive muita dúvida e entrei. Ali que tive mais contato com a programação”, relembra Amanda. 

As empresas juniores, associações formadas por estudantes do ensino superior ou técnico, podem ser apontadas como um dos berços para o nascimento de profissionais híbridos ainda no período de graduação. Seu organograma funcional varia de acordo com a instituição, mas, em geral, apresenta divisões que podem fazer o futuro formando ter intimidade com gerência de equipes, marketing e controle financeiro.

No exemplo do CITi, empresa na qual Amanda se tornou ainda mais íntima da programação, a divisão é feita em quatro pilares. “Temos a área de negócios, que cuida da aquisição de novos clientes, a área de projetos, que executa os projetos de software, a área de operações, que se liga com o desenvolvimento de pessoas e o financeiro e a presidência, que nos representa diante dos nossos parceiros e da UFPE”, explica Rafael Veiga, diretor de projetos da empresa, com processo seletivo aberto para mais de dez áreas da universidade. Todas as funções são exercidas por estudantes da instituição, submetidos a um processo seletivo rigoroso e uma rotina de treinamentos multidisciplinares intensa.

“Hoje a gente tem tanto aluno de administração trabalhando com desenvolvimento de software como aluno de engenharia na área de operações cuidando do financeiro, do marketing e do atendimento ao cliente”, conta Rafael. No intuito de instruir, a empresa segue a mesma lógica de nomes já consolidados no mercado, analisando o candidato acima do currículo apresentado por ele. “A gente sempre fala que a competência técnica não é prioridade. O mais importante é mostrar a evolução. Mostrar que você está apto a aprender”, diz.

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