Professores respondem: qual o futuro do Enem?
Diante das mudanças anunciadas pelo Ministério da Educação, o LeiaJá entrevistou três professores sobre suas perspectivas sobre o novo Enem
A última semana foi de muitas novidades sobre os rumos que tomarão as próximas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A "pedra cantada" pela presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, em entrevista a um veículo de comunicação, foi reafirmada pelo atual ministro da educação Rossieli Soares: em breve, o exame passará a ter duas fases, uma mais geral e outra específica.
A mudança se torna a grande reformulação da prova, que desde 2010 deixou de ser um exame meramente avaliativo e integrou o sistema de seleção de alunos para o acesso ao ensino superior. Atualmente, o Enem é realizado em uma única etapa, com provas das áreas de ciências humanas, ciências da natureza, matemática, linguagens e uma redação. A nova versão, prevista para começar a ser aplicada em 2021, segundo Fini, ainda não tem modelo exato.
Mesmo assim, é possível imaginar como a prova deve ficar. “Seria ideal uma prova, sim, mais geral, e o aluno depois faria algo mais específico, com conteúdos de matemática e física para quem deseja fazer engenharia e de biologia e química para quem busca entrar em medicina, por exemplo”, opina o professor de matemática Alexandre Beltrão. O docente ainda aponta para a necessidade dessa reformulação. “O que acontece é o efeito cascata, onde o aluno que queria medicina e não tem nota, entra em enfermagem; o que queria enfermagem entra em ciências biológicas, e assim por diante, o que torna os alunos infelizes”, explica o docente.
Quem partilha da mesma opinião é o professor de biologia Fernando Beltrão. O docente ainda aponta para o fato de que o sistema de seleção é falho. “O Enem deixou de ser avaliativo para ser um sistema de seleção, cada ano com uma prova ainda mais conteudista, pois só assim as universidades o aceitavam; mas, ainda assim, não é um bom selecionador. O Enem se tornou um objeto político em que as instituições de ensino superior eram pressionadas a tê-lo como sistema de seleção dos alunos”, alfineta.
Já o professor de geopolítica Benedito Serafim, critica a mudança. “Essa nova mudança do Enem é burocratizar o ensino superior porque o cara que vai pagar o cursinho vai conseguir ter uma base para fazer a fase específica, mas e quem não tem como pagar? Quem mora no interior onde a escola não recebe verba, não tem professor, nem porta?”, aponta o docente. Por outro lado, ele reconhece que uma mudança é necessária pois o acesso ao ensino superior estava “bagunçado”. “O cara que não passa em medicina vai lá e entra em enfermagem. Não gosta do curso e saí depois de seis meses, tirando a vaga de quem queria”, salienta.
Embora toda a polêmica, os docentes alertam para a prorrogação dessa mudança. “Primeiro deve haver a reformulação do ensino médio, com base na proposta da BNCC, e só assim o Enem vai poder realmente mudar”, explica Alexandre Beltrão. Com isso, os professores estimam que as modificações sejam iniciadas no prazo além do sugerido pelo Ministério da Educação (MEC), em 2022. “Provavelmente não vai ser em 2020, nem no ano seguinte nem no próximo porque agora é que está chegando o fim de uma era política que vai mudar o ciclo educacional”, pontua Fernando Beltrão.
Confira abaixo mais detalhes das entrevistas com os professores sobre a mudança do Enem: