Ensino cívico-militar: escola escolhida não se voluntariou
Uma votação para decidir se alunos, pais e professores querem que o colégio tenha militares na gestão escolar foi marcada para esta quarta-feira (18)
Única unidade no Estado de São Paulo selecionada para o programa de escolas cívico-militares do Ministério da Educação (MEC), a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Odila Maia Rocha Brito, em Campinas, não se voluntariou para integrar o modelo. Uma votação para decidir se alunos, pais e professores querem que o colégio tenha militares na gestão escolar foi marcada para esta quarta-feira (18).
Como a unidade já está em período de férias escolares, o Centro Acadêmico XI de Agosto, dos estudantes de Direito da USP, ingressou com um mandato de segurança pedindo para que a votação fosse adiada e remarcada para a volta às aulas. O MEC planeja iniciar o programa já no próximo ano letivo.
Promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro, o programa selecionou 54 escolas em todo o País para receber o modelo. A portaria do programa colocava como critério de adesão a aprovação da comunidade escolar por meio de consulta pública - o que não foi feito no colégio de Campinas.
Questionado, o MEC não informou porque selecionou uma escola na qual a comunidade não foi consultada.
A direção da escola só soube da seleção há pouco mais de duas semanas e foi informada de que preenchia os critérios de seleção. Além da exigência de aprovação da comunidade, a portaria dizia que seriam selecionadas escolas com alunos em situação de vulnerabilidade social, desempenho abaixo da média estadual no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que tenham turmas dos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e/ou ensino médio e entre 500 e mil alunos.
Com cerca de 800 alunos, a Emef Odila Brito fica na região do Campo Belo, uma área de baixo índice socioeconômico em Campinas e marcada por várias ocupações. A escola oferta os anos iniciais do fundamental (do 1º ao 5º ano), onde tem nota de 5,5 no Ideb (abaixo da média do Estado, de 6,5), e os anos finais, com nota de 4,7 (a média paulista é de 4,9). A unidade tem também turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no período noturno.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), enviou ao MEC carta manifestando interesse na adesão ao programa. A escolha da unidade foi feita pelo ministério, sem que o município a tivesse indicado.
"A escola fica em uma área vulnerável, mas não apresenta problemas de indisciplina ou violência. Muitos outros colégios da região têm problemas maiores, não entendemos o motivo da escolha", disse Larissa Cavalcanti, de 21 anos, ex-aluna da unidade. Funcionários disseram que a escola é referência no bairro e tem fila de espera para matrícula nos anos iniciais.
Assim que a adesão ao programa foi comunicada à escola, professores e alunos levantaram dúvidas sobre as mudanças que ocorreriam na instituição de ensino. Por isso, a Secretaria de Educação de Campinas marcou uma votação para esta quarta-feira para consultar a comunidade. Só podem votar alunos com mais de 16 anos, pais e responsáveis dos estudantes e funcionários. Em nota, a pasta disse que a decisão "caberá à população" e o que for decidido será acatado pelo município.
Além de pedir o adiamento da votação para o período letivo, o Centro Acadêmico pede na ação que todos os alunos do 6º ao 9º ano possam votar. "A restrição aos estudantes menores de 16 anos mostra-se decisão antidemocrática, dado que trata-se de uma escola de ensino fundamental (...) pleiteia-se que os alunos, que serão afetados pelo programa, tenham direito a voto", diz o pedido.