Veja histórias de quem perdeu o emprego durante a pandemia

Especialista analisa o cenário e dá dicas de recolocação

por Alex Dinarte qui, 07/05/2020 - 14:49
Divulgação Da esq. à dir.: Natalia Beatriz, Midori Saito e Ulisses Frutuoso encaram nova realidade na pandemia Divulgação

Além dos prejuízos na saúde, os impactos causados pelo surto do novo coronavírus (Covid-19) também atingem o mercado de trabalho. Segundo especialistas, a estimativa é de que o número de pessoas sem emprego formal no país alcance os 20 milhões. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já havia registrado 12 milhões de desempregados. Já no cenário dos informais, o número levantado pelo órgão é de 38 milhões.

Uma das vítimas do corte de funcionários devido à pandemia foi a técnica em publicidade Midori Saito, 51 anos. Há mais de cinco anos em uma multinacional japonesa de fast-food, ela conta que ficou surpresa com a demissão. "Havia muitos planos de expandir a empresa para o interior, então me pegaram de surpresa mesmo", diz. De acordo com Midori, a rede não descartou a possibilidade de crescer no Brasil, mas isso não a tranquilizou. "Eles querem me recontratar depois de um ano, mas eu não pretendo esperar tanto tempo. Na minha idade e sem formação superior fica ainda mais difícil encontrar um outro emprego", complementa.

A técnica em publicidade Midori Saito não pretende aguardar um ano para ser recontratada pela empresa que a demitiu | Foto: arquivo pessoal

Já a jornalista Natalia Beatriz, 25 anos, estava no comando das redes sociais de uma indústria de cosméticos após ficar dois anos sem emprego. Ela fez parte do quadro de funcionários da empresa por apenas dois meses. "Eles dependem muito do comércio para se sustentar e, como tudo está fechado, o lucro caiu muito", considera. Assim, Natalia tem usado o tempo livre para investir na sequência da carreira e ficar com a família, mas confessa que sente falta da rotina de serviço. "Não há nada melhor do que estar no ambiente de trabalho com os colegas, poder sair de casa e, mesmo tendo que enfrentar o transporte público lotado, já sinto falta dessa rotina cansativa".

A jornalista Natalia Beatriz ficou pouco mais de 60 dias no novo emprego após dois anos sem trabalho | Foto: arquivo pessoal

Com o isolamento social, a recomendação de manter bares e restaurantes sem a presença de frequentadores também prejudicou os atendentes dos estabelecimentos. O garçom Ulisses Frutuoso, 43 anos, foi demitido após o bar em que trabalhava desde 2016 anunciar uma reestruturação devido à pandemia. "No começo, não achava absurdo ser demitido, mas o dono disse que o jeito era ficar em casa, recebendo metade do salário. Dias depois, fui surpreendido com a notícia. Nem deu tempo de entender direito", lembra ele, que estava registrado como funcionário há oito meses.

O garçom Ulisses Frutuoso trabalhava em um bar e foi desligado do emprego durante a pandemia | Foto: arquivo pessoal

Segundo o garçom, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e as parcelas do Seguro Desemprego se tornaram as únicas rendas para ajudar a mãe de 86 anos nas despesas da casa. "O fato de não pagar aluguel, não ter filho e ter uma reserva com os direitos trabalhistas dão uma segurança por um período nesses novos tempos", pondera. "Não tem lado bom numa pandemia que devasta principalmente o trabalhador pobre assalariado e os informais", complementa.

O que diz a especialista

Para a analista e consultora de Recursos Humanos Priscila Barrera Siciliano, é fundamental que o profissional saiba que seus direitos como trabalhador estão assegurados mesmo em tempos de pandemia. "Os direitos trabalhistas são adquiridos e firmados para serem seguidos em sua totalidade, independente da situação", aponta. Além disso, a especialista considera importante que o profissional não desanime, confie no próprio potencial e avise amigos e familiares que está disponível para o mercado de trabalho. "O positivismo é um grande aliado de uma mente saudável e ajuda muito na busca pela recolocação", destaca.

Para Priscila, até mesmo a própria empresa que realizou o desligamento do funcionário pode, no cenário atual, incentivá-lo no processo de retomada. "O profissional de recursos humanos deve motivar seu ex-colaborador, ajudando a enxergar novos horizontes, pois, ele, no momento da ruptura, não conseguirá visualizar boas perspectivas", orienta.

A mudança que afeta quase todos os segmentos, deve alterar o processo de contratação. Além de dispor as aptidões de modo objetivo no currículo, é necessário que o trabalhador cite as atividades da nova era. "A habilidade com trabalho home-office, em utilizar ferramentas de conference-call, serão um coringa. Inclua as informações no currículo e coloque em prática, pois elas são confrontadas na entrevista e observadas no cotidiano de uma empresa".

Os trabalhadores devem se manter atentos às vagas disponíveis no ambiente virtual e estarem preparados para entrevistas de emprego, inclusive, por meio de videoconferência. "Esteja logado no horário combinado, com trajes devidamente apropriados para a ocasião de uma entrevista, em um local mais reservado com o menor ruído possível e nada de estar em um ambiente bagunçado", explica a analista.

COMENTÁRIOS dos leitores