O que levou Pernambuco a liderar o índice de desemprego?

Secretário de Emprego, Trabalho e Qualificação do Estado, Alberes Lopes aponta como razões, por exemplo, o fechamento do comércio e a demora na imunização da população. Gestor faz críticas ao Governo Federal

por Rachel Andrade qui, 03/06/2021 - 10:30
Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo Homem usa cartaz em busca de trabalho no Recife Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou, no dia 27 de maio, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). Segundo os resultados apresentados, as taxas de desemprego no Brasil estão em uma média de 14%. Pernambuco apareceu em primeiro lugar no ranking de desempregados, empatado com a Bahia, com uma taxa de 21,3% no índice de pessoas a partir dos 14 anos de idade sem uma ocupação remunerada.

O secretário de Emprego, Trabalho e Qualificação do Estado (Seteq), Alberes Lopes, em entrevista ao LeiaJá, avalia a situação do Estado por diferentes ângulos, levando em consideração, por exemplo, a demora na imunização da população contra a Covid-19 e a falta de suporte do Governo Federal em questões específicas. “O fechamento do comércio contribuiu bastante. Tivemos também algumas situações como o estaleiro, que desempregou muita gente quando o Governo Federal mudou o foco do investimento para o exterior, tirando a capacidade que nós tínhamos em Suape de fazer navios; o nível de desemprego ficou muito alto", avalia Alberes.

O presidente Jair Bolsonaro defende a abertura do comércio em todo o País. Especialistas em saúde e a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam a manutenção do distanciamento social e o isolamento como estratégias fundamentais contra a proliferação da Covid-19. O Governo de Pernambuco mantém proibidas atividades não essenciais nos fins de semana, com o objetivo de evitar aglomerações nos pontos comerciais.

"Assim como também houve um aprofundamento [da situação] quando o Governo Federal tirou o auxílio emergencial, e o impacto foi muito forte. E é importante citar também a vacinação. Tudo isso está acontecendo por falta de vacinação. O Governo do Estado vem cobrando, e inclusive, tentou comprar diretamente a vacina, mas foi impedido pelo Governo Federal", acrescenta o secretário.

Alberes segue o seu argumento culpando a demora da vacina, como justificativa para Pernambuco liderar a lista dos Estados com mais desempregados. "Infelizmente, por falta de agilizar a compra da vacina quando foi oferecida, a economia brasileira vem se prejudicando, e isso interfere diretamente na nossa economia”, ele observa.

No entanto, apesar dos índices não promissores, Lopes ainda enxerga oportunidades de crescimento para o Estado, com o recebimento de investimentos de empresas de diversos setores espalhadas pelos municípios. “O Governo do Estado trabalha para investimentos, e isso tem sido fundamental para a geração de empregos. Nós atraímos, durante a pandemia, mais de 120 empresas, que têm sido importantes para a geração de empregos, como a Amazon que está vindo para o Cabo de Santo Agostinho, várias empresas que estão em Igarassu e Goiana. Temos a Azza, que está vindo para Bonito, que vai gerar mais empregos. O Outlet Recife que está gerando mais de 2 mil empregos, a Santana Têxtil, em Bezerros. Isso vem crescendo, apesar dessas medidas do Governo Federal, com as quais fomos muito prejudicados, porque Pernambuco tem o diferencial de ter mercado informal, no Agreste com a indústria têxtil, a cana de açúcar também, então tudo isso foi muito prejudicado nesse momento que estamos passando. O cenário se mantém estável, a PNAD mostra isso porque nós tivemos um aumento de investimentos, se não fosse isso, a queda teria sido muito maior”, ele ressalta.

Lopes vê a importância de qualificar a população como uma forma de gerar empregos no futuro.“Nós temos vários projetos de qualificação, ao todo são 14. Agora nós investimos em cursos on-line durante a pandemia, formamos mais de 16 mil alunos. Nós temos uma parceria com o Instituto Êxito, que tem mais de 500 cursos à disposição no nosso site. E também criamos, durante a pandemia, um e-commerce, um site de vendas de produtos de todos os segmentos no nosso Estado, que ajuda o pequeno empreendedor a poder comercializar, como também cursos que ajudam eles a aprender a formatar preços, enfim, ajudá-los nesses momentos difíceis”, ele finaliza.

Mas apesar do olhar positivo do governo estadual, a realidade se mostra ainda distante do crescimento esperado. O economista Ademilson Saraiva, da assessoria econômica da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio PE), vê que o quadro ainda é preocupante devido às incertezas causadas pela pandemia. “O empresariado tem olhado muito atento, principalmente este ano, a essa questão do agravamento. E com essa ameaça da terceira onda, com novas variantes ameaçando adentrar o país, sempre fica essa incerteza, insegurança", explica o especialista.

"Em diversos setores, em especial serviço, que exigem mais uma presença do cliente, e aquele que está prestando o trabalho, sempre fica essa quebra de braço, o empresariado que se diz preparado seguindo os protocolos, e o governo que, apesar de saber o quanto o empresariado realmente pode estar preparado para receber os clientes, a gente sabe que a população ainda tem dificuldade para cumprir os protocolos de distanciamento, higienização. E isso acaba impactando nesses decretos que têm sido renovados constantemente desde a segunda quinzena de março”, compementa o especialista.

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