Veja sinais de que o trabalho está te causando mal
Para especialistas, em casos de insatisfação e desmotivação no trabalho, mudanças de emprego podem gerar benefícios para a carreira e mente dos profissionais
Não há como negar que a pandemia do novo coronavírus mudou o mercado de trabalho. Em um cenário atípico, aconteceram mudanças nas relações entre empregadores e profissionais, e o alto número de desempregados chegou a um patamar crítico: 14 milhões de pessoas sem emprego, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Diante da crise econômica e da baixa nas contratações, deixar uma função se mostra uma atitude quase que impensável para um trabalhador, uma vez que, hoje, manter-se em um emprego é um privilégio. No entanto, quando o profissional está insatisfeito e desmotivado em um determinado cargo, tomar essa decisão pode ser, muitas vezes, a melhor escolha tanto para a carreira quanto para a saúde mental do indivíduo. É o caso, por exemplo, de Geraldo José dos Santos Barros, morador de Salvador, Bahia.
"Eu entrei em uma empresa varejista e tinha o objetivo de chegar a um patamar que eu almejava, mas vi que a organização não estava dando essa oportunidade. Nos últimos três anos, estava muito puxada a jornada de trabalho para mim, porque o departamento tinha deficiência de recursos e de pessoas, as demandas eram todas urgentes, não tinha uma demanda de planejamento para compras e, a partir disso, eu e outros funcionários ficaram sobrecarregados. Isso desencadeou em mim um processo de ansiedade e estresse. Então, comecei a conversar com a empresa que eu não tinha mais interesse em permanecer nela”, relata.
Foi então que surgiu uma nova oportunidade para o especialista em compras. Um diretor que trabalhava com ele na antiga organização abriu uma empresa do ramo de supermercados, o 'Atacadão Centro Sul'. “Outro colega que trabalhou comigo na antiga empresa me falou que o ex-diretor estava com interesse de me levar para trabalhar lá. Mantive contato com ele, fiz todo o processo seletivo e passei. Acabei saindo da outra empresa. Eu já estava querendo sair de lá, já tinha colocado isso para o meu coordenador há uns dois anos", explica. "Hoje é um trabalho que eu faço com maior prazer”, conta o profissional formado em administração de empresas.
Assim como Geraldo, outros profissionais já pensaram em trocar de emprego ou até mesmo de profissão por diversos motivos. Um estudo do Instituto Locomotiva aponta que 56% dos trabalhadores formais estão insatisfeitos com o trabalho. Mas, quando sair de um emprego pode trazer benefícios para a carreira e para a mente? A resposta, para a professora de Recursos Humanos do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Carol Ramalho, é: "Quando a pessoa estiver infeliz, não estiver realizada profissionalmente, estagnada, quando não se sente reconhecida, quando não está se desenvolvendo, quando deixa de aprender algo novo, entre outros motivos".
Para o psicólogo organizacional Cleyson Monteiro, mudar de emprego pode trazer benefícios para a saúde mental quando o trabalho gera sofrimento no profissional. “Por exemplo, pessoas que estão apresentando um quadro de estresse por causa de uma cobrança muito intensa, que acordam de manhã e não tem ânimo para ir ao trabalho, como também os indivíduos que vão para o emprego, mas já vão triste, chateados, cansados, independente de sua remuneração”, pontua.
De acordo com a professora Carol Ramalho, sair do emprego pode enriquecer a carreira do profissional, “mas é uma decisão que precisa ser muito bem pensada”. “Essa mudança tem que ser com muita responsabilidade, tem que analisar se esta mudança vai de acordo com o que você planeja para sua carreira, se essa mudança vai ser benéfica para a questão profissional e como isso vai impactar também sua família e seu lado pessoal”, explica.
Ela ainda alerta: “Por mais que às vezes a gente tende a ficar no mesmo emprego por questão de hábito, a gente também não pode cair na armadilha do comodismo, porque muitas vezes essa comodidade vai afastando as pessoas do seu objetivo profissional. O ideal é ter um plano de carreira, que você trace seus objetivos, destrinche em metas e trilhe esse caminho”.
Encontrar um equilíbrio entre trabalhar com mais eficiência e ter qualidade de vida é fundamental para o bem-estar dos profissionais, aponta o psicólogo Cleyson Monteiro. Ele, porém, alerta: "É óbvio que em determinados momentos vão haver estresses, não existe emprego que não tenha estresse, mas quando o profissional está bem, ele consegue reagir de forma positiva e, inclusive, sendo eficiente na tomada de decisões”.
Cleyson Monteiro complementa: “Quando você está satisfeito, fazendo o que gosta, quando você está sendo reconhecido, isso é um indicador que você está motivado e que está equilibrado emocionalmente. Já quando acontece o inverso, ou seja, quando você não tem o reconhecimento, quando a empresa assedia você moralmente, quando o nível de estresse e insatisfação é tão grande que caracteriza insônia, pensamentos acelerados, discordância de ações nas organizações, alteração de humor, é sinal de que seu equilíbrio psíquico não está bem e que essa empresa é tóxica para você. O ideal é buscar outras oportunidades”, concluiu o psicólogo.